16 | me fale sobre seu pai
O pronunciamento de Jack causou espanto a todos os Assustadores. O que haveria por trás do seu desejo de ajudar aqueles dois irmãos? Jack Esqueletos não deu mais um pio sobre aquilo, no entanto, deixando novamente uma grande onda de dúvidas e incertezas pairando no ar. E ele encarou o prefeito, esperando por uma resposta, mas havia apenas o silêncio ali. E pensativo, o prefeito colocou a mão no queixo.
— Fui com a sua cara desde que chegou aqui, rapaz. Vi em você algo promissor, não quero desperdiçar isso. Você infringiu uma lei, uma lei grave que poderia prejudicar não apenas a nós, como também, poderia interferir em todo o ciclo natural. – o prefeito explicava — Poderia interferir na ordem natural que existe entre a vida e a morte.
— Sei que o que fiz foi grave e talvez eu não mereça perdão. Mas confie em mim, Sr. Prefeito, posso reverter isso tudo! Apenas me deixe retornar ao Mundo dos Vivos para que eu traga aquelas crianças para cá. Prometo que não irei ao Outro Lado de novo a menos que não seja Halloween. – propôs Jack, esperançoso.
O prefeito pareceu pensar no assunto e, de fato, ele pensou muito, mas não soube o que dizer com exatidão. Sem ideias, ele pediu a opinião dos lobisomens e dos vampiros, que ficaram cochichando entre si até que por fim, pareceram ter conseguido clarear a mente do prefeito.
— Você tem até o final da noite para fazer o que pretende. Caso não consiga, iremos buscá-lo e você ficará preso até o próximo Halloween.
— Obrigado, Sr. Prefeito! – Jack comemorou — Não vai se arrepender.
— Senhor prefeito! – gritou uma criança de olhos costurados — Veja o que eu achei! – e quando todos se viraram, tiveram uma surpresa.
A criança – que era um garoto esguio e alto – segurava Victor, que assustado, nada dizia. E bom, é verdade que todos entraram em pânico e começaram a correr de um lado para o outro em total desespero pois os vivos não podem saber o que existe depois da morte. “Essa não…”, Jack sussurrou, preocupado.
— Pelo Deus do Halloween, o que é isso?! – perguntou o prefeito, desesperado — Ele está vivo, isso é um desastre! Como isso aconteceu?! – e então, ele olhou para Jack, nervoso — Esqueleto...
— Sr. Prefeito, eu posso explicar! Não era para isso ter acontecido, não foi minha intenção! Não fazia parte do plano que ele viesse para cá, mas se me permitir, posso levá-lo de volta para outro lado! – Jack tentou convencê-lo de algum jeito enquanto se aproximava.
— Assustadores! Levem o Esqueleto para a prisão! E levem esse menino com ele! Perdeu sua única chance, Jack, não sairá de lá até o próximo Halloween!
— Senhor, por favor! Ele não pode ficar aqui. Se ficar, vai morrer! — Jack tentou uma última vez.
E com frieza, o prefeito olhou para ambos, um de cada vez: — Pois que seja.
E assim, Jack deixou-se ser levado pelos Assustadores. Pensando em como tudo tinha dado errado, ali estava um Jack totalmente desesperançoso banhado em melancólico. Não pôde ajudar as duas crianças, não pôde ajudar Victor e agora, Emily estava sozinha e seria difícil voltar para casa. Ao seu lado, entristecido, Victor também olhava para a parede escura cheia de lodo.
— Ouça, Victor, me desculpe. Nunca teria permitido que viesse para cá se eu o tivesse visto. Este lugar pertence aos mortos. Se ficar aqui até o próximo Halloween… se perderá para sempre.
— Jack, a culpa é minha. Eu não devia ter saído da sua casa.
— E por que saiu?
— Pensei que pudesse fazer alguma coisa por você. Não sei, gosto de você. Sabe, eu sinto uma coisa... boa vinda de você, entende? Você me faz lembrar do meu pai.
Surpreso, Jack arregalou os olhos.
— Hm... Então vamos, me fale sobre o seu pai. Confesso que fiquei curioso. – pediu Jack, se aproximando. E então, ele esperou ansioso por uma breve história.
— Meu pai não era muito corajoso, sabe, mas mesmo assim eu gostava dele. Ele me ensinou muitas coisas, tipo... a fazer fogo com pedras. Pode parecer inútil, mas eu achei muito útil. Ele me contava histórias sobre aquela floresta onde eu te conheci. É uma história um pouco maluca, mas esse tipo de coisa era bem a cara dele.
— Quais histórias ele contava?
— Há uma muito engraçada. Ele me disse que tinha medo de se casar, mas não porque tinha medo da noiva. Ele tinha medo de não ser bom o suficiente. Sabia que ele meio que ateou fogo na minha avó? – Jack deu risada com a confissão — Bom, ele chegou mesmo a fazer isso, disse que entrou em pânico.
— Seu pai era desastrado.
— Ele era mesmo muito desastrado, mas era um bom homem. Eu não gostaria que outra pessoa tivesse sido meu pai. Você me lembra ele porque você é gentil e curioso, igual a ele. – Victor completou — Ele tinha essa coisa... Talvez não parecesse, mas ele gostava de aventuras, mas era um pouco medroso demais para isso. Minha mãe é corajosa, contudo. Enfrentou os próprios pais para que pudesse se casar com o meu. Eles foram casados por… quase dez anos, eu acho.
— Imagino que sua ainda goste muito do seu pai. Bom, como não poderia, não é? Sente falta dele, certamente. – Jack dobrou os joelhos enquanto sentado — Infelizmente não me lembro de quem eu era quando estava vivo e este é o motivo da minha agonia diária desde que caí neste lugar. Quero saber um dia, desvendar esse mistério. E não sei, sempre acho que estou cada vez mais perto. – e já exausto de lamúrias e lamentos, Jack levantou-se e pareceu pensar por um instante. Houve primeiro o silêncio e então, um estalo de dedos — Há alto que possamos fazer.
Com o peito cheio de esperança dentro do seu coração frio, Jack correu depressa até a grade da cela e olhou em volta com atenção, tentando a todo custo encontrar as chaves em algum lugar daquele cômodo e céus, foi mais fácil do que procurar uma agulha em um palheiro. Por Deus, como puderam deixar aquele molho de chaves em um lugar tão óbvio assim, como se fosse de propósito? Claro que Jack fez questão de arrancar o seu próprio braço do corpo para servir de cobaia, o que certamente deixou Victor assustado. “Vamos, tire meu outro braço”, Jack ordenou.
— O quê?!
— Tire meu outro braço!
De olhos fechados, Victor fez o que lhe foi ordenado. “Meu Deus…”, sussurrou o menino, impressionado. Bom, ele se esqueceu que Jack não sentia dor alguma.
— Agora, pegue os meus braços e tente pegar aquela chave bem ali. Vamos, não podes ficar aqui mais tempo aqui do que já ficou, não quero que morra. Não quero que fique na Cidade do Halloween quando chegar sua hora. Quero que seja levado para a Terra dos Mortos ou até mesmo… para um lugar melhor.
A felicidade mergulhou quente no coração de Victor, lhe trazendo, inclusive, um pouco mais de coragem. Com cuidado, enquanto um braço segurava o outro, Victor enfim pegara as chaves. Com uma rápida comemoração perante sua vitória, rapidamente, Jack tratou de colocar os seus braços de volta no lugar e abrir a fechadura. Era hora de sair dali.
Jack sabia que teria problemas depois que tudo voltasse ao normal, mas a única coisa que importava naquele momento era levar Victor de volta para casa.
— O que vai acontecer com você? — perguntou o garoto.
— Será um grande problema a ser resolvido, mas creio que isso não seja importante agora. Vamos, vamos, temos que avisar Emily sobre o que faremos. Está escurecendo, não vão nos ver, mas teremos de ser rápidos.
Na calada da noite, de ponta de pé, os dois fugitivos deixaram a prisão da Cidade do Halloween. Para sua sorte, os lobisomens, que deveriam cuidar da vigia, estavam, na verdade, ocupados demais dormindo. E quando eles (Emily e Victor) saíram da porta para fora, tiveram uma surpresa: — Meu Deus! – exclamou Jack ao ver Emily.
— Que bom que estão bem! – disse a noiva, contente.
— E o que está fazendo aqui? É perigoso!
— Vamos, Jack. Sei como tirar Victor daqui. Teremos que ir até o cemitério, e depressa!
E eles correndo pela Cidade do Halloween com cuidado para que não fossem vistos, o trio (que na verdade era um quinteto, porque a Larva e a Viúva Negra faziam parte da equipe), se aventuraram no escuro da cidade, e ninguém notara sua partida, pois eles caminhavam de mansinho pela floresta. Aliás, o nariz piscante de Zero os guiava, e os guiou até a entrada do cemitério, onde puderam observar a lua se escondendo atrás daquela colina com a ponta virada para baixo bem ali.
— Não entendi, Emily. Onde está a saída? – questionou Jack.
— É necessário entrar no túmulo, naquele ali, onde abrem as duas portas. – ela explicou — Durante o tempo em que vocês estiveram presos lá dentro, procurei por algum lugar que pudesse nos servir de saída, então encontrei esse túmulo. É da cidade em que Victor mora. Veja o fundo dele.
Impressionados, Victor e Jack fizeram um grande "O" com a boca enquanto observavam a forma estranha como o fundo colorido só caixão se movia lá dentro. Sem mais delongas, partiram, enfim, para o Outro Lado, mas não sem deixar de ouvir um grito distante. Algo como: "Ele fugiu!".
Em meio a sua busca incessante, Victoria havia adormecido em sua casa sem sequer perceber. Quando ela abriu os olhos, admitiu que estava se sentindo bem, mesmo tendo dormido naquele sofá antigo. Depois de esticar o corpo, em um pulo, ela arregalou os olhos ao se dar conta do que tinha acontecido na outra noite, e seria mentira de minha dizer que seu grito não pôde ser ouvido de lá da floresta.
— Deus! Ontem à noite eu falei com dois fantasmas...! E um deles me conhecia! Jesus, só posso estar ficando louca, não pode ser real! – e ela arregalou os olhos mais ainda quando percebeu que fora real — Não foi coisa da minha cabeça!
— Não foi mesmo. – disse uma voz atrás dela.
Victoria se virou rapidamente, assustada. Era ele, Benjamim. Ele era uma criança séria.
— É você... Benjamim Hoult. – ela concluiu, se ajoelhando na terra fria — Agora me lembro do seu rosto. Há alguns anos eu encontrei jornais velhos nas coisas da minha avó, que falava sobre a morte de dois irmãos. Eu sinto muito por você.
— Não sinta. Me lembro que você costumava vir aqui. Por que parou?
— Porque eu cresci. Senhoras e senhoritas crescidas não podem desbravando casas abandonadas tentando se comunicar com espíritos.
— Mas há dez anos você viu muito mais do que alguns espíritos. Aquele dia na igreja... Eu vi tudo. Vi aquela noiva. A noiva cadáver.
Victoria teria respondido algo se não tivesse se assustado com a porta se abrindo com violência bem na sua frente. O que era aquilo se escondendo atrás das sombras? Aquela silhueta alta e magra a fez se lembrar de alguém que ela conhecia muito bem. Havia uma menor, também, e uma que usava um vestido, e quando a luz os atingiu, Victoria se viu surpresa. Não só ela, como todos ali.
23/08/23
Ps: a vida adulta pode ser um pouco difícil, corrida e cansativa, mas o primeiro passo para qualquer coisa é o mais difícil, mas também, o mais importante. Talvez eu volte a postar aqui... Quem sabe? Essa história não termina aqui. Esperem. 🙏🏻❤️
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