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▫️▪️OITO▪️▫️

Para onde vai quando não sabe o que fazer? Talvez, seja preciso mergulhar na imensidão das perspectivas.

— Sofia... Sofia... — ouço o chamado, porém não encontro quem me chama.

Uma ventania crescente me atinge em cheio, os fios escuros e revoltos dos meus cabelos se embolam em minha tentativa de correr na direção contrária. Aonde estou indo? Questiono para mim mesma, no entanto sigo em meu capítulo de indagações sem resultados.

Avisto o mundo em tons de gris, o alto da colina parece me abrigar e me impedir de descer. Os raios atingem as árvores, no entanto não faz o menor efeito. A chuva deságua sobre nós e encharca nossos pés descalços. Ele está lá, entretanto sigo invisível diante dos seus olhos. Admiro, acompanhando tudo mais uma vez, sem poder fazer nada para impedir.

Não...

Nós somos os seus pais, Sofia, ainda procuramos por você... — ouço mais uma vez, entre a confusão de cenas que se misturam de forma homogênea.

Uma sensação de perda se torna tão presente que o meu único desejo era receber o abraço da minha mãe.

Mas eu lembro que fugi… porque o papai não me amava.

Precisa acordar, Sofia.

Desperto em um sobressalto, recordo de imediato onde estou e o porquê. Analu está perdida. Ergo-me depressa, sentindo abaixo de mim um colchão confortável e macio. Percebo que estou sozinha, entre flores e paredes, quadros antigos e móveis velhos, porém é tudo bem conservado.

Sinto-me distante, a mente leve em demasia, os membros superiores em movimentos lerdos. Provavelmente, estou sob efeito de ervas alucinógenas.

— Vejo que ouviu o meu chamado — diz Elérgia, no entanto não sei exatamente qual foi o seu. Na verdade, não recordo nada de minutos atrás. — Disse que já era hora de acordar — conclui, percebendo a minha lentidão e o vinco que surgiu em minha tez.

— O que tenho que fazer agora? Por que me fez dormir? — indago em uma confusão que se encontra a minha mente.

Tudo parece moroso e o meu raciocínio segue um caminho similar.

— Compreendi que estava agitada em excesso, nas próximas cidades não terá guarida, será você e você mesma. Sem repouso, sem possibilidade de descanso, como já estava. Uma hora sua carga física e mental não suportaria toda a adrenalina, e seria irresponsável deixá-la seguir desse modo. Venha, deixei seu banho preparado — assegura e me sinto um pouco menos em meio a desordem.

Permito que Elérgia me auxilie e me guie em direção a pequena sala de banho, um lugar confortável e que deixa aparente a sensação de relaxamento e descanso. As roupas que foram criadas por Valon se desfazem, assim que o aroma das rosas inundam os meus sentidos. A senhora me leva até a banheira e adentro recebendo o conforto da água morna. Fecho os olhos, assim que meu corpo está submerso. Ainda sinto-me sonolenta, como se em nenhum instante estivesse dormindo de fato. Analu… Não posso me esquecer da minha menina. Abro os olhos e encontro os amarelos de Elérgia, reconheço que ela espera por algo, porém não consigo compreender ou saber do que se trata.

— O que me deu? — questiono me sentindo menos zonza.

— Não acho que seja necessário saber — responde e adentro o campo de defensivas.

— Claro que não! Não foi a senhora que ingeriu alguma droga sem saber, não é!? — vocifero rispidamente, no entanto o esforço de falar alto me faz sentir tontura.

A minha cabeça pende para o lado oposto ao qual Elérgia está e reconheço a sua mão trazê-la e encostá-la na borda arredondada.

— Lhe dei apenas uma pequena infusão da raiz da planta datura suaveolens — declara e meneio a cabeça em negativa, buscando no fundo da memória os efeitos da planta.

Recordo de uma voz feminina, bem longínqua da realidade, aconselhando que não era bom chegar próximo de suas flores, visto que seus efeitos poderiam ser fatais.

— O quê? Mas ela é uma plana tóxica, alucinógena e poderia me fazer perder a memória! — tento conseguir forças para argumentar e me defender. Tudo é um misto de noite e ventania, sinto-me com os efeitos de um forte resfriado.

— Dei apenas o suficiente para descansar e sonhar. Aqui os sonhos são valiosos, recarregam as energias — assegura.

Suas mãos pousam em meus fios escuros com acalento, é difícil sentir raiva de alguém quando ela garante que tudo que faz é para o seu próprio bem. De fato me sinto melhor que ontem, a tensão se esvaiu por completo.

— Por que aqui tudo é tão confuso e incerto? — indago e a vejo sorrir.

Deveria recordar desse sorriso? Me é tão familiar que sinto como se já houvesse o visto antes.

— Precisa, você mesma, encontrar as respostas para as suas perguntas. Nesse lugar, nada é tão confuso quanto parece, são as possibilidades que cegam você — esclarece e permito que seu afago prossiga em meu relaxar.

Em meu pensamento permito ver a Analu sorrir, ao mesmo tempo que corre em direção ao seu quarto com um bitty cansado em seus braços.

— Tia Sosô, tia Sosô! — ouvi ela me chamar mais uma vez. —  Por que nunca sorri? — questionou em sua curiosidade infantil. Os olhos verdes tão acesos, que poderia iluminar todo o ambiente.

— Aprenda, Analu. Às vezes não sorrimos apenas com os lábios, sempre poderá ver meu sorriso ao olhar em meus olhos — assegurei e a vi ponderar sobre a minha resposta.

As suas mãos balançavam o pequeno urso para ambos os lados e seus pés detinham uma inquietação curiosa.

— Está sorrindo agora, Sosô? — perguntou, após me encarar por um longo tempo. Um tempo infinito que poderia durar para sempre.

— Sim, minha pequena, estou sorrindo agora.

Estamos reunidas no Jardim central, eu e Elérgia, degustando de uma torta de frutas vermelhas. A chuva cessou e desde que acordei não tenho visto os seus vestígios por qualquer vão que observe. As copas das árvores balançam como se houvesse abertura para entrada de ar, no entanto a magia percorre todo o lugar e faz o impossível acontecer. Os pássaros chilreiam trazendo mensagens do mundo externo, soube disso assim que um Leonã assustado adentra no espaço trazendo consigo más notícias.

— A cidade mandou reforços para Myra — avisa e sinto toda a carga de ansiedade retornar para o meu corpo.

Elérgia ergue-se depressa e busca as minhas coisas que ficaram espalhadas em algum dos cômodos da casa.

— Como? — tento saber, no entanto todos nós sentimos a necessidade de sermos ágeis em me tirar daqui.

O soar do vento se torna agitado e mais uma vez o som dos sinos invadem a minha audição. Uma mensagem que ele deveria me entregar, mas não o faz.

— Precisa chegar na cidade das Chamas Douradas, antes que os seus sonhos sejam reerguidos ou, agora, ficará presa aqui — anuncia Elérgia, me entregando a mochila de Analu e a caixa amadeirada no qual estão as penas.

Vamos depressa até a entrada, volto o meu olhar para o caminho que viemos e a névoa típica da Sonhadora já pode ser vista ao longe. Ela não vai descansar até me ver fora do seu mundo e de suas terras.

— Você pode vim comigo, não precisa ficar aqui — digo, ao ver Leonã seguir em direção ao veículo e me deixar despedir de Elérgia.

— O meu lugar é aqui, junto daqueles que, assim como você, um dia poderão voltar a acordar. Eu sempre estarei com você, em seus sonhos e em sua realidade, onde você quiser que eu esteja — assegura, tocando em minha face feito um sopro. Me sinto dividida entre ir, acatando com o que disse, e arrastá-la contra a sua vontade.

Elérgia toca em minhas mãos e as leva em direção a sua face, deixando aparente que desejava que eu recordasse de algo que no momento está invisível diante dos meus olhos.

— Estou esquecendo de algo que deveria lembrar… — admito e sinto um aperto no peito.

É como se sempre estivesse entre ela e um outro alguém, no entanto poucas foram às vezes que a vi. Seus olhos amarelados me inspecionam e sorriem para mim. Pessoas que sorriem com os olhos sempre reconhecerão um ao outro.

— Talvez a hora não seja agora, minha menina — alega e apenas faço que sim.

Ouço a buzina em alerta e reconheço que estamos demorando em demasia para seguir com o caminho.

— Encontre a flor dourada entre os arrepios de uma árvore em chamas. As labaredas não tocarão a sua pele desde que una as duas penas que carrega consigo e jogue as partículas sobre si. Espero que consiga encontrar a sua menina!  — finaliza rapidamente e me abraça logo em seguida. Um abraço reconfortante e repleto de carinho.

Ouço a buzina indicando que devo ir e me despeço dela. Sinto um vazio tremendo por deixá-la aqui, tão sozinha que me faz recordar do tempo que não tinha a Analu comigo.

Adentro o veículo e ponho o cinto de segurança. Volto meu olhar para trás e reconheço que permiti que chegassem mais perto, no entanto não poderia deixar Elérgia sem ao menos me despedir. Talvez, não nos vejamos mais.

O veículo percorre na imensidão de areia, nada além de cascalho e residências fechadas jazem em nosso campo de visão, ou atravessam o nosso caminho.

— Queria saber o que havia na minha casa… — digo, quebrando os minutos de silêncio entre nós.

O loiro tem sua total atenção em mim, como se a minha presença e as minhas dúvidas fossem estapafúrdias.

Compreendo que não há como saber o que sinto, quando ele nada mais é do que uma cópia idêntica ao homem que já conheci e que em seu lugar me entenderia.

— Nas casas não há nada diferente do que já tenha visto. Todos continuam dormindo, sonhando para ela, a Sonhadora. Apenas Elérgia ainda continua desperta, até mesmo ela uma hora terá seu merecido descanso — assegura, no entanto é confuso já que não tenho a certeza.

Como saber o que há dentro de uma pedra se não lapidá-la? Às vezes, os mais belos diamantes possuem cascas horrendas que ao olhos dos cegos não valem nada.

— Quem dorme em minha casa?  — questiono, pois ele ainda é o único no momento que pode me responder. — São os meus pais? — completo, em uma nova indagação.

Leonã acelera e me sinto em uma corrida de veículos furiosos, contudo, apenas ouço os protestos de um único motor.

— Possivelmente está vazia, assim como a sua no mundo real. Não tenho certeza de nada, jamais alguém saiu para que outro pudesse entrar — garante, enquanto avisto uma elevação entre os terrenos e, em um lugar não muito distante, o escudo que define o limite dessa cidade.

Leonã retoma a atenção para o volante, porém quando ouso olhar novamente para o caminho que percorremos sinto tudo dentro de mim ruir assim como assisto o lugar que havia estado.
Junto a Sonhadora seguem novas tropas de seres que ainda não havia visto, parecem tão medonhos quanto os pesadelos que estão logo atrás.

— O que eles são? — indago em um medo que me invade sem piedade.

As orbes negras dos seres, de mesmo tom, parecem que vão me devorar a qualquer instante, mesmo que esteja protegida estando dentro do veículo.

— Adivinhe? — vocifera em uma curva que até então havia passado despercebida.

O mundo ganha tons de ocre, unido a um aroma fétido que adentra no automóvel mesmo com os vidros fechados.

A boca dos novos seres possuem linhas que unem os lábios finos, o nariz não passa de dois orifícios em um relevo próximo das orbes oculares. O que há em uma noite turbulenta além de sonhos e pesadelos? Minha mente vagueia por todas as noites de insônia, por tudo aquilo que já vivi e me impedia de fechar os olhos.

Paralisia…

— Está de brincadeira, não é?! — pergunto, porém sei que a constatação é verdadeira. Não há nada mais obscuro em uma noite de sono profundo.

— O meu maior desejo era lhe dizer que sim.

Ouço o mundo em seu tumulto, a névoa enegrecida que busca nos engolir, junto a sua senhora. Tudo está sendo destruído por Myra, toda a cidade que Elérgia tanto estimava e, com todas as residências, ela também se foi. Um nó surge em minha garganta, os meus olhos se enchem de lágrimas e fungo encolhida em mim mesma, penso que ela poderia simplesmente me deixar partir sem devastar aquilo que tanto dizia querer proteger. Elérgia surge em meu pensamento e procuro gravar na memória os nossos últimos momentos.

Ouço um estampido, seguido de um choro sofrido que reconheceria mesmo se estivesse em um sono profundo.

— Para o carro! — ordeno, tendo as mãos em um tremor incontrolável. Analu está em perigo. A Sonhadora raptou a minha menina…

— Sofia, não! — vocifera o loiro ao meu lado.

Ele não entende, ele jamais conseguiria entender.

— Para o carro, Leonã, agora! — voltei a gritar e o vi menear a cabeça em negativa, enquanto me obedecia.

Não esperei o veículo parar por completo, abri a porta e despenquei sobre a terra seca, que arranhou as minhas mãos. A menina berrava entre soluços, de uma maneira tão desesperadora que me causava dor e aflição a cada grito. Corri em direção a morte certa, sentindo o coração descompassado e o desespero crescente, porém eu a salvaria, não deixaria que ficassem com ela.

Tudo parou de imediato, as lágrimas, o som sôfrego do desespero da florzinha e até mesmo o correr da Sonhadora. Não havia mais nada além de um sorriso divertido nos lábios de Myra. Poderia ver o seu sentimento de vitória, a sua soberba em conseguir o que queria. Fui enganada.

Permaneci estática, os pés ou qualquer membro do corpo não conseguia se mover. Paralisia…
A agonia crescia em meu peito, as memórias ruins invadindo a minha consciência. A névoa adentrando pelas feridas das palmas.

— Não consigo mexer o meu corpo… — avisei a Leonã, ao vê-lo sair do veículo e correr em minha direção.

Eu tinha sido muito idiota, mas quem não seria na minha situação? Ouvi a minha menina chorar, senti o seu desespero em mim. Seria difícil prosseguir no veículo sabendo que ela poderia estar com eles. De todos os riscos,  o pior deles seria vê-la em sofrimento e com a Sonhadora.

— Olhe apenas para mim, Sofia! Eles não conseguirão lhe prender por muito tempo. Esqueça-os.—  aconselha o loiro e procuro recobrar as memórias boas, sentimentos que não me causem tortura. Não permito que o medo e a culpa tomem conta de mim, por mais difícil que seja.

— Eles estão próximos demais. Já que vive nesse mundo mágico, faça alguma coisa! — berro em completo desespero, os meus olhos de avelã admirando íris douradas que não pareciam me entender.

Eu poderia voltar para o meu mundo a qualquer momento, no entanto sem ela não faria. Elérgia teria que me engolir por mais tempo, mesmo que precisasse mastigar até quebrar os ossos. Colocaria tudo abaixo se fosse preciso.

— Não posso matar alguém apenas por tentar defender o seu mundo! — esbraveja, no entanto não consigo manter a calma para respondê-lo.

As veias dos meus braços já não detêm a coloração esverdeada, o tom enegrecido apossou-se de mim feito formigas ao tomar um doce para elas.

— Jamais pediria para matar alguém, só estou pedindo para impedi-la de se aproximar. Por favor, Leonã! — imploro.

Meus olhos sentem uma leve pressão, similar a quando estou prestes a cair no sono. O escuro ganha força e vejo-me despencar aos poucos em letargia, o chão sendo o apoio para o meu corpo, assim como o vestido estampado que me cobre. Leonã corre ficando a poucos metros de Myra e procuro não ceder ao cansaço. Sinto as pupilas dilatarem, os olhos arderem, o bocejo sair involuntariamente dos meus lábios e o acúmulo de lágrimas no canto dos olhos. Então, me prendo a suave sensação de que o loiro me salvará mesmo contra a sua vontade.

Os pesadelos se aproximam do meu corpo e tento, em vão, afastá-los. Vocifero súplicas de socorro, no entanto dentro da minha cabeça ninguém consegue me ouvir. Meu coração ganha um ritmo ainda mais desordenado, as sombras ganhando maior proporção ao redor de mim e o medo resfriando as minhas veias. Procuro fechar os olhos da mente, porém qualquer tentativa não tem êxito, pois as orbes vazias jazem diante de mim e as mãos esqueléticas encaminham seus dedos ao encontro da minha face. O pavor e horror se unem a repulsa, conforme o odor adentra ainda mais no meu campo olfativo.

Uma melodia, o prenúncio dos acordes de uma batalha épica se fazem presentes em minha audição e exerce a função de me manter desperta. Abro os olhos devagar, o escuro dá lugar a uma luz capaz de cegar os meus olhos e ponho os dorsos das mãos contra a face para conter o ardor. Aos poucos, assisto Leonã eliminar um a um dos seres da Sonhadora apenas com a luz que ofusca a minha visão e saem de suas mãos. A Sonhadora bloqueia o ataque do loiro com uma proteção sombria, no entanto ele prossegue em seu resplandecer sem ser alvejado. Leonã ataca os monstros, e o vejo cair por avanço de um deles, porém nada o abala por tanto tempo e contemplo o seu erguer. A névoa prossegue, no entanto, dessa vez, não é permitido que chegue em mim.

Lembro-me do princípio. Recordo-me de quando Valon avisou sobre ele ser o mensageiro dos ventos e jamais ter conversado com alguém. Somente uma música soava de sua escaleta e, após sumir, não considerei que o teria me protegendo, mesmo quando fui avisada de que Elérgia o havia enviado sem qualquer motivo aparente. Ela sempre esteve lá e de todas as formas tentou me manter a salvo.

Por que?

Os seres da Sonhadora não existem mais, apenas ela e Leonã seguem em uma disputa acirrada. Ambos detém poder nas mãos, no entanto o loiro apenas ocupa uma das suas. Um novo acorde ressoa, uma confusão aguda e sem bela conjuntura, e com ela se ergue uma muralha, nada igual a qualquer outro material visto antes. Não é pedra, não é metal, apenas resplandece em tom similar à uma pérola, porém em um mosaico indecifrável.

O chão estremece sob meu corpo, a rachadura ocupa todo o horizonte e assisto o cair da terra em seu centro. Ouço o berro da Sonhadora conforte ela prossegue sozinha do outro lado, sem ninguém para ajudá-la e sabendo que não conseguirá me mandar de volta para casa. O muro se ergue depressa, uma barreira que rompe além mais do que os meus olhos conseguem ver e, após a proteção cintilante chegar ao céu, todo e qualquer som cessa. Leonã cai de joelhos, batendo a cabeça contra o muro e ferindo a sua tez.

Tento me erguer, no entanto as articulações parecem travadas e enferrujadas de modo simular a um ferro antigo, e desgastado pelo tempo. Engatinho até onde ele jaz quieto, o mundo parece morto ao nosso redor, visto que não é possível ouvir qualquer outro ruído além do meu rastejar. As minhas mãos estão em farrapos, as pedras cortando-as conforme prossigo e o alcanço. O vestido nada parece destruir, o tecido alvo e coberto por pequenas flores coloridas vê-se intacto.

Sento-me ao seu lado, vendo o loiro abrir os olhos conforte passe meus dedos por sua face e as mãos ensanguentadas respingarem o líquido escarlate sobre à terra seca.

— Vamos embora, já causamos danos suficientes aqui — diz ele e apenas me apoio no muro para tentar me erguer. O frio do material acalentando a dor que pulsa em desalento.

Leonã levanta-se depressa e se põe de apoio para que eu possa andar. Meu corpo prossegue rígido, me fazendo sentir um incômodo por parecer que tenho os membros presos em gesso e esparadrapos. Adentro no veículo com a ajuda do loiro e, novamente, o silêncio é rei e soberano durante o curto trajeto até o escudo, que está a poucos quilômetros de nós. Fecho os olhos, as mãos ardendo por conta dos ferimentos que irão demorar para cicatrizar se não limpar. O loiro, com uma das mãos, busca uma caixinha com compressas de gaze e álcool. Difícil pensar que alguém teria um kit de primeiros socorros em um veículo, no entanto o pensamento me fez sofrer por dentro, pois também havia um no meu velho automóvel. Sempre imaginei que poderia ocorrer um imprevisto com a menina. Crianças costumam ser travessas, não é?

Prossigo cuidando e limpando dos ferimentos, enfaixando as mãos com cuidado e na esperança de que na nova cidade não haveria mais Sonhadora, Pesadelos ou medonhas Paralisias. Entretida em meus pensamentos, não percebo quando chegamos, apenas me dou conta ao sentir o veículo parar. Assim como o escudo do princípio, assisto algo maleável e de um brilho amarelado, de modo igual a como imagino tudo que existe através.

— Chegamos na fronteira… Desejo que boa sorte daqui por diante — diz e não consigo permanecer com a visão sobre as mãos.

— Não me deixe sozinha, não agora, não dessa vez. Se não estivesse comigo não teria conseguido atravessar a cidade e muito menos chegar até aqui — busco argumentar, ciente de que não tenho chance prosseguindo sozinha e eu preciso encontrar Analu.

— Sinto muito, mas o meu lugar é aqui e não posso acompanhá-la — prossegue em sua negativa. Ele não sente o meu sofrimento, não reconhece a minha dor.

O ardor retorna aos meus olhos, porém, dessa vez, a causa são as lágrimas que não permito que caíam.

— Você não lembra de nada, não é? — questiono, entretanto busco a caixa amadeirada no banco de trás, assim como a mochila com um bitty amedrontado, e abro a porta seguindo para o meu novo destino.

Caminho sem olhar para o veículo atrás de mim. Minhas pernas ainda não conseguem ter a flexibilidade de antes, no entanto não permitirei ficar ainda mais abalada. Apenas Analu importa, Leonã é somente uma imagem que ficará em Elérgia assim que voltarmos para casa.

Não desistirei tão facilmente.

— Do que eu deveria me recordar? — pergunta e reconheço em seus olhos a dúvida.

A luz já alcança a minha visão, a chave em meu pulso clama para encontrar o seu lugar e, ao tocar levemente no escudo, a acompanho sair da minha pele e destravar as engrenagens para o portal da cidade das Chamas Douradas. Igualmente a primeira vez, atravesso o escudo que nos separará, sentindo-me sendo engolida e expelida para um novo lugar. Desse momento em diante eu estarei sozinha e não terei mais Leonã com todas as suas recordações que me assombram, com sua ajuda necessária.

O clarão inunda os meus olhos de maneira que me faz não enxergar mais nada e com um dos braços, o que segura a caixa, bloqueio a luz para que não me cegue. Ajeito a mochila em minhas costas, temendo o desconhecido, porém, ao deixar a mão pender, reconheço em meus dedos ralados o seu toque.

— Espere, Sofia, irei com você.

Assim soube que os fantasmas do passado me alcançariam mais uma vez, entretanto não havia mais medo, pois um deles estaria ao meu lado.

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