Capítulo 2
A neve fofa cedia com o peso dos corpos lupinos a galope. Red Eye e Cold Heart corriam velozmente pelo pinheiral, e devido à alta experiência e conhecimento local que o alfa possuía, conseguiram encontrar rapidamente uma trilha mais firme para seguirem para o interior da floresta.
Cold Heart corria emparelhado com a companheira de matilha, resmungos e gestos ditavam a velocidade e direção dos passos. O alfa sentia a boca salivar enquanto movia suas patas sobre a fina camada de neve. Seus músculos queimavam diante do enorme esforço que fazia para romper as barreiras naturais daquele ambiente. A loba corria ao lado do alfa obedecendo às ordens do líder, mas também aos seus próprios instintos.
Red Eye parou subitamente afundando as patas num monte de neve, abaixou o corpo tentando ficar mais próxima do chão e arreganhou os dentes rosnando alto. O alfa parou mais à frente farejando o ar em círculos.
— O que foi?
— Cheiro de fogo — respondeu a loba.
— Então eles estão por perto. Precisamos nos aproximar com cautela.
Avançaram lentamente, com as orelhas erguidas e olhos arregalados em busca de movimentação, sons e cheiros. A loba subiu sobre uma rocha coberta por musgo e neve, e daquele ponto mais alto, avistou um filete cinzento de fumaça subindo de uma clareira não muito distante. Saltou para junto do alfa e com um gesto chamou-o indicando a direção.
*****
Fast Wind e Silent Steps corriam pela margem de um riacho congelado, procurando um meio de atravessá-lo. A medida que avançavam, sentiam o vento frio castigar seus olhos e a neve encharcar seus pelos. A loba um pouco mais veloz tomou a dianteira, deixando uma trilha de pegadas e ar condensado para trás, que era seguida pelo intrépido beta.
O valente caçador alcançou a loba que o aguardava junto a um tronco de árvore que havia caído dentro do riacho e congelado com a água. Ambos avaliaram o tronco, calcularam os riscos, mas no final seguiram por instinto. Saltaram ambos para cima da árvore morte e caminharam rumo a outra margem. Quando estavam no meio do caminho, ouviram o gelo trincar, e subitamente saltaram mirando a faixa de terra não tão longe.
A loba mais leve e pouco mais adiantada pousou suavemente num monte de neve, afundando as patas até a altura do peito. Porém, o beta não teve impulso suficiente. Voou por alguns metros e pousou espalhafatosamente na margem, perdendo o equilíbrio, o que o levou a rolar por alguns metros pela neve fofa.
Por sorte, a árvore só afundou depois de ambos estarem do outro lado. O beta levantou-se e depois de sacudir-se chamou a companheira de matilha para seguí-lo. Quando alcançaram a borda do pinheiral, encontraram sobre a neve uma trilha de pegadas grandes, certamente humanas, porém, havia um rastro desconhecido, reto e continuo em ambos os lados dos vestígios dos homens. Ao contrário das pegadas, esse rastro não tinha cheiro.
— É preciso cuidado. Esse animal não tem cheiro — alertou o caçador, e depois guiou a loba floresta adentro seguindo a trilha de pegadas.
*****
Long Teeth e Nigth Hunter contornaram a gruta e correram em direção a parte mais alta da área, onde havia uma trilha sobre as pedras e de lá poderiam ver acima das copas dos pinheiros.
O caçador negro viu o fino fio de fumaça subindo tortuosamente, reconheceu o padrão e calculou as dificuldades instantaneamente. Rosnou para o parceiro e pôs-se a correr por sobre as pedras, escorregando na neve e esforçando-se para se manter no topo das rochas.
O experiente e astuto caçador guiou o parceiro até a borda do acampamento dos homens. Esconderam-se atrás de rochas elevadas e irregulares, observaram as ações dos homens e em silêncio aproximaram-se paulatinamente da área de convivência do local. O lobo sabia que o assentamento era temporário, pois, as casas eram de peles e madeira, pequenas e sem os fios metálicos ao redor do perímetro.
Night Hunter escondeu-se atrás de um arbusto de framboesas e sussurrou para o amigo:
— Precisamos esperar o fogo apagar e isso só acontecerá depois que todos eles dormirem. Seja paciente!
— Não devemos avisar aos outros? — Questionou o lobo de pelos cinza-escuro.
— E alertar todos eles? Não. Os matamos, depois avisamos.
— Mas a Red Eye é melhor em batê-los.
— Já me viu matar?
— Não.
— Verá. Depois tire suas conclusões.
O lobo mais jovem engoliu em seco e abaixou as orelhas por estar intimidado. O outro permaneceu sentado e imóvel observando calmamente os humanos. Enquanto observava, traçava sua estratégia de ataque.
— São mais que nós... — sussurrou com a voz trêmula Long Teeth.
— Peludo, Grande, Fêmea mãe, Fêmea cria, Filhote macho... — contou o caçador. — Mas sinto outros cheiros. Não vejo o que pode ser.
— Cães?
— Não. É mais como Alce fêmea amamentando.
Permaneceram em silêncio contemplativo, aguardando o sono certeiro daqueles que lhes serviriam de comida. A lua brotou no céu nublado, surgindo por detrás das copas dos pinheiros e voando lentamente para o manto escuro, vez ou outra, escondendo-se atrás das nuvens. O fogo começou a diminuir, os homens não alimentavam mais as chamas, as mulheres já dormiam com as crias, era chegada a hora.
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Olá pessoas lindas!
Estamos aqui para mais um capítulo. O que acharam deste? O que estão achando da história? Deixem aí seus comentários e a estrelinha dourada, não esqueçam, heim?
Repararam que usei a palavra "matilha" ao invés de alcateia? Pois bem, explico o motivo. Alcateia é o coletivo de lobo, ou seja, um monte de lobos juntos, sem qualquer laço, história ou afinidade entre eles. Matilha, é a estrutura social dos canídeos. Em termos mais simples, a família deles.
Beijinhos e abracinhos =^.^=
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