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050 | Completeness

050 | Completude
CHAMA VIVA

O que era preciso para começar uma guerra? Um sorriso torto na direção de um homem que não se garantia em nada em sua vida? Ou é preciso mais para ameaçar a vida de centenas de pessoas? O quão ameaçado você precisa estar para retirar o direito da outra pessoa de viver?

É fácil ter essas respostas vivendo nessa terra.

As pessoas são monstros sanguinários e famintos. Elas não param de querer mais e mais de você. Não importa o quanto você se entregue, sempre vai ter mais de você que elas vão querer.

E então, você se pega em uma decisão.

Entrega tudo e fica sem nada ou luta pelo o que é seu para tomar o dos outros.

Eu costumava pensar que não precisava ser tudo branco e preto, mas não há outras cores quando se trata da sobrevivência. Ou você luta pelo o que é seu, ou se prepara para ser tomado até os dentes e se remoer por isso.

Não há inocentes.

Só assassinos que fariam de tudo para não ficar sem nada no final do dia.

Conforme minha pele era manchada pela escuridão da noite e camuflada para entrar no território inimigo, seguro minha alma com todas as minhas forças, jurando para mim mesma que não a largaria por nada.

Eles poderiam tirar tudo de mim, eu permitiria que sim. Mas minha alma? Ela ficaria até o meu maldito fim e quando eu partisse, quando não restasse nada meu, ela mesma me mataria. Minha alma é a Chama; eu sou a Chama e não me abandonaria naquele campo.

As folhas pisoteadas ficavam para trás, eu não tinha tempo à perder. Correr era tudo o que eu era naquele momento. Minha respiração compassada entrava no ritmo do meu coração e meu cabelo amarrado com diversas tranças entrelaçadas jamais me atrapalhariam. Tudo em mim era um arranjo para aquele momento. Se eu caísse, não seria por mim.

Sempre houveram aquelas passagens.

Elas eram minhas. Eu as usava quando precisava fugir rapidamente de Clarke e seu olhar que era um misto de pena e raiva.

Clarke me ajudou muito na época em que eu estava... grávida. Ela descobriu depois dos primeiros meses, os sintomas ficaram aparentes demais. Três meses depois que eu tentei matar-me com uma bala na testa, ela não sabia mencionar o milagre que era aquele da criança ainda estar viva, se formando.

Eu vomitava dia e noite.

Pensava que era meu corpo se acostumando com o novo ar da terra, mas era... ela. Quando descobri, já estava com vinte e uma semanas. Foi a primeira vez que ela chutou, me colocando o maior susto. Mas Clarke não demorou para codificar o que era aquilo se mexendo dentro de mim e meus pensamentos se conectaram aquela noite em que estive com Bellamy.

De repente, caiu a fixa que eu tinha um bebê. Eu tinha um bebê do Bellamy.

Esperei pela raiva, pois ele tinha me abandonado, tinha proferido palavras horríveis em minha direção. Mas tudo o que é fiz foi rir junto com Clarke. Ela me abraçou, me parabenizando e eu passei o resto do dia com a mão na barriga, sentindo-a.

Foram os melhores meses da minha vida.

Senti-la se formando dentro de mim era uma sensação maravilhosa. Não sabia fazer nada além de chorar de alegria e querer que Bellamy estivesse ali, pois ele merecia sentir o que eu estava sentindo.

Jamais senti algo parecido.

E foi me tirado.

Arrancado sem qualquer pudor. Eu sabia que tinha alguma coisa errada quando acordei naquela manhã com trinta e cinco semanas. Era antes do tempo. Ela não deveria nascer, mas veio. A dor era intensa, mas Clarke estava ali para me ajudar.

Até me anunciar aquela horrível notícia.

Eu estava perdendo muito sangue e ela não conseguia entender o porquê. Até eu sentir que alguma coisa continuava se mexendo dentro de mim. Aquilo aconteceu. Aquela criança chorou até o momento em que parou de respirar e eu mal a peguei no colo.

Não consegui ser a mesma depois daquilo e Clarke não entendeu completamente.

Ela queria que eu continuasse com minha vida, plantando as coisas com ela, fazendo nossas sessões de fogueira onde lembrávamos de épocas mais tranquilas na Arca. Ela gostaria de me ver tentar mais conviver com ela, mas simplesmente a ideia de viver nem pensava na minha cabeça.

Então eu vinha até aqui.

Encarei aquele riacho, preparando-me para mergulhar até aquela entrada subterrânea que dava até uma caverna com um pequeno rio. Era o local com mais calma que eu encontrava.

Que não tinha Clarke tentando de tudo para que eu voltasse a sorrir.

Ela queria que eu continuasse a mesma, mas eu não conseguia porque uma parte minha tinha morrido quando enterrei aquela criança. A minha criança.

Afastei os pensamentos quando pulei, sentindo meu corpo sendo molhado sem qualquer preparação. Abro meus olhos debaixo d'água e fiz aquele caminho tão adorável que me fazia prender a respiração e sentir como seria minha morte; imagina-la.

Mergulhar nessas águas não era mais como antes.

Eu não era ninguém.

Tinha deixado de ser qualquer pessoa quando perdi Bella. Mas agora, com aquela Chama, com o meu povo, eu era tudo. Eu tinha que ser.

Forcei-me mais, passando por aquele túnel quase sem respiração. Eram cinco minutos. Eu contava toda vez. Cada erro, cada vez que eu não aguentava e praticamente me empurrava para a superfície, era contado. Mas hoje eu conseguiria.

Eu consegui.

Puxei um grande fôlego quando emergi naquele poço de escuridão da caverna. Ofegante, nadei até a superfície, onde me inclinei com meus braços para subir. Demorei alguns segundos para conseguir estar completamente seca, junto com minhas armas e objetos.

Mas o mais importante era; eu entrei.

Sorri com aquele fato e continuei avançando por aquela floresta que eu tinha na palma da minha mão. Cada buraco, cada árvore, cada passo. Eu já era parte daquele lugar. Ele já fazia parte de mim e estávamos bem com isso.

Silenciei mais meus passos, minha respiração, quando me aproximei do Vale, já conseguindo ouvir os murmúrios dos guardas que estavam alertas em todas as entradas, a circulação dos prisioneiros. Rapidamente observei os locais que eles usavam e para quê.

Meu plano inicial era encontrar Maddie.

Não Clarke.
Eu conhecia ela. Sabia qual era o seu posicionamento, assim como conhecia Maddie e faria de tudo para retirá-la dali. Eu podia achar que Clarke Griffin era o melhor lugar para Maddie até eu colocar a Chama. Até eu ter dezenas de mentes na minha, até eu obter um exército e ela as levar até o inimigo.

Então, pegaria Maddie, aquela garotinha especial e gentil que sobreviveu.

Que não procurou modificar-me depois que perdi o que era para ser sua amiga, sua irmã. Mas Maddie, em vez disso, caçava comigo e me retrucava. De algum modo, aquela criança inocente, porém ágil, sabia exatamente o que eu precisava.

Tínhamos uma ligação.

Por isso eu sabia que ela estava naquela casa na segunda esquina. Além de ter mais do que dois guardas, que era o planejamento deles, também era a enfermaria. Abby Griffin devia estar lá; com o meu pai.

Molhei meus lábios ao imagina-lo.

Eu precisava encontrá-lo também. Ter certeza que ele não teve nada haver com aquela possível traição. Eu não queria admitir, mas Clarke e Marcus eram iguais. E os dois pareciam possíveis traidores a essa altura.

Esperei que a noite só intensificasse para que a circulação tivesse diminuído e ficasse apenas os guardas.

Ajoelhei-me no chão, preparando-me para o que estava vindo. As lâminas gêmeas em cada lado da minha cintura, prontas para serem agarradas pelas minhas mãos ágeis. Havia minha arma 9mm nas minhas costas, três tipos de facas presas escondidas em cada bota.

Sem contar com a espada longa e afiada em minhas costas.

Minha intenção não era ser vista, mas não abriria mão de nenhuma arma. Teria que ser um trabalho inicial fácil e muito silencioso. Então rodeei todo aquele Vale, escondida pelas árvores, antes de atacar. A nave deveria ser o casulo de McCreary, o qual não era o meu alvo por agora.

Os cavalos seriam todos caçados.

Depois, o rei.

Voltei para aquela casinha e deixei que o luar me beijasse conforme avancei quando dois homens foram andar, deixando apenas dois deles.

Os dois homens conversavam entre si sobre o jantar quando me aproximei por trás, minhas lâminas posicionadas, tensionadas. Quando os abracei por trás, suas cordas vocais já estavam cortadas. Completei o corte com maestria, deixando-os cair calmamente.

Não eram guerreiros — pensei, cuspindo neles.

Com minha guarda levantada, girei a maçaneta e adentrei o cômodo, evitando sorrir quando percebi que, de fato, estava certa.

Passos para a frente e para o lado foi tudo o que eu precisei para ver elas. Abby e Clarke estavam deitadas juntas, deixando um colchão sozinho para Maddie. Me aproximei dela, com minhas lâminas posicionadas para qualquer coisa.

Ali, avançando para a garota, eu sabia que cortaria qualquer um que entrasse em meu caminho.

No fundo, torci para que Clarke não acordasse.

— Sou eu — sussurrei, rápido, quando a acordei tampando sua boca. Maddie arregalou os olhos, depois relaxou a face. — Você sempre teve razão. Não é uma criança. Está na hora de você escolher o seu lugar, Maddie. — Afrouxei o meu aperto e levantei minha adaga, longe dela. — De qual lado você está?

Quando a soltei, ela avançou e me abraçou pelo pescoço, prendendo a respiração.

Sorri com alívio e a exilei em meu abraço por um segundo antes de soltá-la e levá-la para fora, onde ela arregalou os olhos se assustando com os corpos na porta.

— Rápido — guardei as armas e peguei os pés do mais pesado. — Me ajude a arrasta-los para longe.

Por um momento, achei que Maddie recuaria. Mas ela engoliu a bronca e avançou, puxando os corpos para a escuridão comigo, juntas. Retiramos todas as armas com ele e a equipei, tendo certeza dar ela sabia como usar cada uma.

Eu sabia que sim.

Clarke e eu fizemos questão que ela soubesse.

— Me diga uma coisa, Maddie. — Ela olhou em meus olhos e assentiu. — Sabe onde está o Rover? — Sorri rápido quando ela acenou, atenta. — Preciso que você o pegue.

— Para que? — Ela perguntou e tinha me esquecido o quão bom era ouvir sua voz.

— Nosso povo está marchando até aqui — ignorei seus olhos assustados. — E eles estarão com problemas. Há traidores — sussurrei, segurando em seu ombro. — Você ajudará eles no campo de batalha enquanto eu cuidarei dos traidores.

— São Marcus Kane e aquela Coronel — ela revelou, pronta para ajudar. Um buraco se abriu em meu estômago, mas eu o afastei. — Vi quando eles chegaram e foram escoltados até aquela nave assustadora.

— Boa menina — elogiei, tocando em sua bochecha. — Agora, eu preciso que volte para a cabana, finja que nada disso aconteceu e pegue o Rover.

— Voltar? Por que eu não vou agora? Estão todos dormindo, Rayna!

— E nosso povo ainda não está aqui — respondi, rapidamente. — Sei que está ansiosa para ajudar, mas é preciso paciência, sim?

Seus olhos me estudaram.

— Aconteceu, né? — Franzi o cenho. — Você está com a Chama. 'Dá para ver.

Eu só sorri como resposta e empurrei seus ombros levemente. Ela recuou dois passos, mas parou e pensou, então avançou e abraçou minha cintura. Abaixei meus olhos e deixei um beijo em seus cabelos.

— Promete que vamos ficar bem — ela pediu.

— Eu prometo — eu menti.

Maddie correu até a cabana novamente e entrou, sem hesitar. Torci para que ela conseguisse, mas no fundo, eu sabia que ela daria um jeito. Tinha sangue dos comandantes. Podia não ter a Chama, mas todos nós estávamos com ela.

Avancei para continuar com o plano de início.

Basicamente, eu prepararia o terreno.

Não peguei todos os guardas. Estava caçando eles aos poucos. No início, eu não queria que eles soubessem de mim. Então puxei uns pelos pés e rasguei-os no meio. Cada vez mais, eu espalhava os corpos pela floresta, alguns eu jogava em barrancos, outros em buracos. Alguns eu tinha mais trabalho em pendurá-los em árvores.

Quando o dia amanhecesse e fossem procurá-los, todos teriam uma surpresa.

Já eu? Estaria com suas cores e sorriria, ajudando-os com o restante das coisas. Então, cortaria-me sem querer em determinados lugares e esses lugares se desmanchariam com a toxidade do meu sangue.

Do sangue dos vermes.

Testei com a pele de um corpo antes de sangrar pela cozinha, pelos seus alimentos que estavam sendo preocupados, então pelas mesas. Todos derreteram. E gritaram.

Caminhei entre a multidão, passando desapercebida, meu rosto abaixado conforme eu sumia de uma confusão e aparecia para criar outra do outro lado do vale. Pouco a pouco, todos os casebres ao redor daquela nave estava um caos e completamente desmanchados.

— Já chega! — McCreary saiu da nave, eu estava em uma árvore na floresta, vendo e ouvindo de longe. — Estão ouvindo isso? — Ele ergueu um dedo, então barulhos de tiros cobriu o Vale. — Estamos sendo atacados.

— Chefe! — Um homem chegou correndo, completamente sujo. — Chefe, está tudo derretendo. — McCreary encarou o guerreiro, confuso. — Nossas casas estão derretendo!

— O quê...

A cozinha explodiu, do outro lado do Vale, assustando todos eles. Então a casa de reformas. O primeiro alojamento em que dormiam. Prisioneiros gritaram, tentando apagar as chamas que cobriam todo o seu corpo. Já os outros, ficavam divididos entre ajudá-los e correr com suas armas, apontando sem saber para quem.

Para qualquer um que resolvesse chegar perto deles.

Rapidamente, tiros soaram, combinando com aqueles de longe.

Muitos estavam caídos no chão, mas não o suficiente.

— Já chega disso — McCreary avançou, batendo com o cano de sua arma na nuca daquele que atirava. — De fato, há algo acontecendo. Deixem comigo. Encontrarei o cavalo de tróia — sorri comigo mesma. — Agora, vão para a guerra! Seus parceiros estão te esperando e seus inimigos.

Todos gritaram em rebelião e começaram se preparar para marchar.

Mas eu não deixaria aquilo acontecer.

Desci da árvore, correndo escondida entre uma parte e outra, preparando armadilhas mortais. Quando uma parte do exército entrou na floresta, eles não saíram mais. Quando não eram pegos pela minha armadilhas, minhas lâminas os esperavam para cortar carne e ossos e vidas. Todos eles tentavam gritar, mas falta de tempo e nenhuma visibilidade eram seus problemas.

Eu era as sombras e as luzes e nenhum deles eram mais rápidos, nenhum deles tinham sede de sangue como eu.

Todos eles eram assassinos, mas eu era o monstro em seus pesadelos.

Quando não sobrou um corpo vivo, montei novamente as armadilhas e avancei para o Vale. Seria uma bela caça às bruxas e eles eram centenas, mas era eu quem tinha a vantagem.

Eu não sabia o que eles estavam passando naquele campo, mas nenhum deles passaria por mim.

Ajoelhei-me na terra, esperando.

Aqueles dias seriam longos e tardios.

O dia se passou como um resquício maluco. Eu já não estava completamente sã depois de ter cortado tantas gargantas, dilacerando tantos corpos quando ouvi algumas pessoas chegando por trás de mim de noite.

Levantei-me, dando uma rasteira no primeiro, socando o segundo e estendendo a lâmina para os dois pescoços expostos no ar. Eram quatro. Eu poderia virar-me em cortar suas gargantas agora e virar para esmagar os crânios dos outros antes que eles se recuperassem.

— Rayna!

A coberta de sangue desceu dos meus olhos, fazendo-me recuar ofegante.

Quando levantei meu olhar, sabia que estava com outra áurea.

— Raven? — Encarei a garota com olhos arregalados, então larguei as espadas e avancei para abraçá-la. — Deus, Rav!

— É bom te ver também, Ray — ela suspirou, abraçando-me completamente.

Nos se afastamos e aperto seus ombros. Echo aparece em minha linha de visão e balança a cabeça. Há uma gota de respeito em sua face, mas quando ela inclina o pescoço para baixo, reconheço a lealdade.

— Heda.

Afasto o sentimento a parte por ela.

— Echo — sorri levemente, mas não verdadeiramente. Quando arrastei meus olhos pelo local, aprisionei eles nele. Aspen O'Conner me encarou. Ele estava mais velho e tinha uma certa barba crescendo. — Oi.

— Oi — ele repetiu. Um momento se passou até ele avançar. Por um momento, quis que ele me abraçasse, mas Apen apenas tocou em meus cabelos, então segurou o meu rosto. — Que bom que está viva.

— Você também.

— O que é isso? — Alguém perdeu o fôlego e eu me virei para a voz desconhecida, já com minha arma apontada para ele.

Era um homem alto, novo e com pele escura.

Ele encarava aquela clareira coberta por corpos, sangue e desespero.

Eu lembrava dele. Era aquele jovem que parecia segurar Diyoza para não nos matar assim que eles chegaram no Vale e fomos capturadas.

— Foi você? — Ele perguntou, quase sem voz, seus olhos visitavam os meus, com minha arma apontada em sua direção. — Você matou todos?

— Quem é você?

— Ele é o Shaw — Raven respondeu por ele e a olhei de soslaio, calculando o quanto seria cobrado de mim se eu não atirasse. — Ele está com a gente. Nos ajudou quando precisamos.

Aspen soltou um riso seco, então virou as costas.

Abaixei a arma e rapidamente nos atualizamos. O exército estava encurralado, presos por guardas nas colinas que atiravam em qualquer um que se mexesse. Fingi não notar o olhar de Echo quando perguntei se tinha alguma notícia de Bellamy, mas realmente não me importei quando Raven negou com a cabeça, revelando que sua última ligação fora com Monty.

E que o povo estava sendo destruído por eles mesmos, que estavam sem qualquer esperanças.

— Eles precisam de alguém para seguir — Echo disse, firmando seus olhos em mim. — Precisam de você na linha da frente.

— Se eu sair daqui... exércitos maiores chegaram até eles.

Raven olhou ao redor, tomando um fôlego quando não conseguiu contar todos os corpos.

— Se você não sair, não terá ninguém para salvar.

Echo estava certa.

Mas eu precisava encontrar Maddie com o Rover. Ela não ter voltado ainda só dizia que ela poderia estar com problemas. Eu vi Clarke levando-a até uns alojamentos, um dos que eu poupei.

Precisávamos buscá-la.

Raven concordou e bolou um plano que só envolvia ela, Echo e Shaw. Tentei não estreitar os olhos para Aspen, mas foi impossível não questiona-ló quando elas se foram, na minha linha de visão.

— O que aconteceu entre vocês?

Aspen não respondeu de início.

— Seis anos é muita coisa — Aspen respondeu. — Quando se passam no espaço, tudo piora.

— Não para Bellamy — retruquei, baixinho.

Aspen virou a cabeça para mim, então olhou na direção de onde elas tinham seguido com aquele tal de Shaw. Ele abriu a boca para falar alguma coisa, mas a cabeleireira loira de Clarke entrando no local onde elas estavam me deixou alerta.

— Vamos — sussurrei, avançando.

Aspen não teve opção a não ser me seguir.

Com meus fiés passos silenciosos, esgueirei-me até estar passando pela porta do alojamento, Aspen cuidando de fechar cuidadosamente atrás de mim enquanto eu me aproximava de Clarke por trás, que apontava uma arma na direção em que Raven e Echo estavam, retirando...

— Clarke — indagou Maddie, firme. — Abaixa essa arma.

Eu não senti remorso algum em pegá-la por trás, minha lâmina beijando sua pele do pescoço. Ela levantou as mãos em rendição e olhou esgueiramente para mim.

— Ouça a menina, Clarke.

— Estará matando-a levando para aquele campo — Clarke comentou, com cuidado para não cortar sua garganta. — Sabe disso, não é?

— Você teve coragem de colocar aquela coleira elétrica em Maddie? — Perguntei retoricamente e soltei uma risada sem graça alguma. — Acho que você é quem está apresentando perigo para ela.

— Como saberia? — Clarke sorriu de forma má. — Você mal pôde proteger a Bella.

Aquela cortina sanguenta desceu novamente pelos meus olhos e eu torci sua mão, fazendo sua arma cair para longe dela e ajoelhei suas costas, apenas para soltá-la e socar o seu rosto. Griffin se recuperou rápido e avançou em minha direção. Levantei minhas lâminas, pronta para dar aquele golpe de misericórdia quando Maddie gritou, implorando para que eu não fizesse isso.

Desviei de Clarke e a deixei cair por cima de uma mesa, quebrando a madeira.

— Temos que ir — anuncei, aliviada por Raven ter retirado aquela coleira de Maddie. — Agora.

Echo assentiu e comandou até a saída, recuando instantaneamente quando a porta é aberta e McCreary passa com seus guardas.

Puxei Maddie para ficar atrás de mim e posicionei melhor o cabo das espadas gêmeas em minhas mãos quando o Eligius apontou para Raven e Shaw.

— Levem o piloto e a namorada dele de volta para a nave.

Os homens avançaram e eu avancei junto.

— Eles não saíram daqui.

Haviam cinco homens enormes em minha frente e meu povo bem atrás. Eles me olharam como se eu fosse um maldito pedaço de carne. Fiz questão de retribuir o olhar com um sorriso maléfico e sádico.

— Sim, sairão. — McCreary tomou lugar na frente dos homens. Quando ele assentiu, os homens avançaram. Estava prestes a segui-los quando meus braços foram presos por trás por Clarke. McCreary sorriu, satisfeito e se aproximou. — Sentiu minha falta, belezura? Aquela... pintura na floresta. Foi você?

Continuei olhando-o com aquele sorriso que eu lançava para os seus homens há poucos segundos, esses homens que carregavam Raven e Shaw para fora do alojamento aos gritos.

— Comece pela espiã — McCreary anunciou, sem a minha resposta.

O guarda que ficou levantou a arma e Clarke interrompeu a execução enquanto apertava os meus pulsos com força o suficiente para as lâminas caírem.

— Temos que falar com elas.

— Me diz o que vocês querem? — McCreary perguntou. — Por que vieram pega-la? — Apontou para Maddie.

— Eu não sei — Clarke mentiu. — Mas se matar qualquer um dos três — me inclinei para conseguir ver Aspen de joelhos com uma arma apontada em sua cabeça. — Não vamos conseguir nada.

McCreary me encarou e eu consegui reconhecer a dúvida que pairava sobre sua cabeça. Ele me matava ou não?

— Eu conheço eles — Clarke adicionou, mas firmemente. — Se um morrer, nenhum deles prestará vivo. E não importa quais as maneiras que você pretende utilizar para tentar fazê-los parar.

McCreary pegou sua arma, ignorando Clarke. Me debati em seu aperto e senti quando ela hesitou, prestes a me soltar quando o assassino apenas bateu na cabeça de Echo, desacordando-a.

Ele ordenou que quatro homens ficassem aqui até terminarmos de falar sobre o nosso plano.

Quando ele passou pela porta, respirei fundo, colocando minha ideia no lugar. Um olhar para Maddie dizia explicitamente o medo que ela sentia. Não por mim. Pela mãe.

Torci a cara, tentando pensar em uma saída quando percebi Aspen ser chutado para recuar, mas ele hesitar. O guarda engatilhou sua arma e foi aquele barulho... Aquele barulho que despertou o monstro e deu uma cabeçada em Clarke, então voou para os três guardas que já vinham em minha direção.

Mas eles mal tiveram tempo de atirarem quando entortei a mão de dois deles e peguei impulso para chutar o terceiro que ainda corria até mim. Então balancei-me no ar até estar presa nas costas de um, quebrando seu pescoço com minhas mãos.

Deixei seu corpo cair no outro que avançou, mas fui pega por trás por desatento. Que não iria mais acontecer.

Agarrei minhas facas na bota, cada uma entre os vãos entre meus dedos formando garras e finquei em sua barriga, então me virei e fiz a mesma coisa com o outro que se recuperava e corria até mim.

Torci a faca neles, ouvindo seus murmúrios, talvez até seu desespero.

Mas deixei que eles caíssem e morressem lentamente enquanto me virava para Clarke, que já estava sendo amaçada por Aspen com a arma que o guarda o ameaçava antes.

— É o seguinte — ditei, ofegante, me aproximando com aquelas garras feita por lâminas nas minhas duas mãos. — Você tem duas opções, Clarke. Siga-nos agora e pensarei em um castigo bom pra você depois por conta dessa traição. — Parei em sua frente, olhando em seus olhos, tentando não pensar em suas palavras. — Ou morra. Agora mesmo.

Os olhos dela lacrimejaram.

— Só estou tentando fazer o que é melhor para Maddie. Pretendo morrer por isto.

— Então morrerá — avancei, levantando minhas garras e passando pelo seu rosto de leve. Meus olhos inundaram o quanto eu não queria fazer aquilo. Não sabia exatamente qual parte minha disse: — Eu sinto muito por isso, Clarke. Eu te amo.

— Qual desses monstros dentro de você está falando isso? — Ela questionou, chorando.

— Lexa — suspirei e ela arregalou os olhos. — É Lexa que está falando isso enquanto me vê prestes a matar o amor da vida dela. — Clarke abaixou a cabeça, chorando baixinho. — Não me faça fazer isso. Eu farei — garanti, fungando. — Mas não me faça fazer.

— É ela quem está implorando também? — Manteve a cabeça baixa, a voz embargada.

— Não. — Clarke levantou a cabeça e me olhou. — Dessa vez, sou eu.

Então ela hesitou e chorou, abraçando-me e pedindo perdão. Com uma calma letal, lembrei-me da conversa que tive com Bellamy ao abraçá-la. Sobre traições. Esperei muito por uma naquele momento, mas abracei ela mesmo assim.

E a traição não chegou.

Clarke se afastou, limpando o rosto.

— Estaremos cercadas assim que sairmos dessa cabana.

Eu sorri para ela.

— Não estaremos não.

— Precisamos nos apressar se quisemos chegar antes dos mísseis — observou Maddie, sorrindo para Clarke.

— Vamos com o Rover — afirmei. — Como o plano inicial.

Todas assentiram e corremos para acordar Echo, que resmungou. Rapidamente, nos preparamos para avançar. Mas Clarke ficou para trás, dizendo que precisava tentar impedir os mísseis. Recuei, pensando se ela estava falando sério.

Acho que ela ouviu meus pensamentos, pois me encarou.

— Confie em mim.

— Impeça esses mísseis — disse, por cima.

— Proteja-a.

Olhei para Maddie, que foi se despedir rapidamente. Então corremos entre as sombras até aquele Rover escondido nas cavernas que deixávamos nossas armas. Montamos todos nele, comigo no volante e Aspen ao meu lado.

Dirijo com cuidado, porém veloz até o campo de batalha.

— Estão ouvindo isso? — Maddie soou de trás, fazendo-me pisar mais fundo no acelerador.

Eram tiros.

Sai da floresta, então para o campo, desviando daqueles corpos. Era Octavia. Octavia, sem armas, de braços abertos e pronta para receber aquela morte, receber aquela última derrota. Derrapei em sua frente no momento em que ela caiu de joelhos e o farol a pegou.

— Entra aqui! — Gritei, saindo pela janela para sentar-me nela e atirar em qualquer direção, no escuro. Echo e Aspen repetiram a ação. — Agora, Octavia.

Emori e Murphy sairam das sombras com uma arma enorme que estava prestes a explodir. Eles correram após jogar as armas e subirem no Rover, junto com os outros.

— Vai, vai, vai!

Retirei a marcha e virei o volante, saindo daquele lugar aos tropeços.

(...)

O mais dificil de fazer em um acampamento após a primeira batalha de uma guerra? Acalmar os pensamentos e conseguir pensar.

Desde o momento da nossa chegada, até agora ao amanhecer, nada neste acampamento tinha parado. Chegamos de noite, quando tudo parecia ser dirigido pelo caos. Centenas de armas foram apontadas pra gente, até eu pular para fora do Rover e correr para trás, ignorando os olhares admirados dos outros em cima de mim.

Abri a porta do fundo para que Aspen pudesse ajudar Bellamy a retirar Gaia que estava completamente ensaguentada e inconsciente.

— Bellamy! — Echo gritou, atravessando a minha frente para chegar até ele, que estendeu o braço, pedindo que ela recuasse. Ela o fez, franzindo levemente o cenho.

Desviei a atenção deles no momento em que Maddie desceu do Rover e Octavia atravessou a multidão.

Coloquei-me na frente da garota e bati de cara com Octavia, que olhou em meus olhos. Tudo pareceu parar em nossa volta. Nada pareceu respirar até ela erguer a espada dela — meu povo erguendo suas armas para atirar nela a qualquer sinal — e fincar no chão diante a mim, junto com seus joelhos.

Pouco a pouco, todos se ajoelharam após abaixar suas armas e seu cansaço.

Maddie abraçou minha cintura e eu a puxei para a primeira barraca que vi, pedindo para que ela ficasse ali e, depois, colocando um dos guardas para cuidar dela.

— Alguém viu Kallas? — Perguntei com o tom de voz se alterando conforme todos procuravam o homem com os olhos, mas não o encontrava. — Droga.

E agora eu estava aqui, na típica tenda de guerra, erguida sobre a mesa, com meus braços cruzados e os olhos focados naqueles dois pedaços de papéis unidos, com dois planos iguais.

Selei meus olhos fortemente, procurando pela minha mente alguma coisa.

Qualquer coisa.

Minhas mãos trêmulas sujas de sangue seco de pessoas que eu nem sabia quem eram ainda residiam em minha pele quando me apoiei na mesa com elas, inclinando meu corpo para frente e soprando o ar da minha boca. Cada vez que eu forçava minha mente a funcionar, aquela Chama em meu pescoço piscava, como um alerta.

Echo passou pela tenda, então foi seguida por Bellamy, Octávia e Indra.

— O exército da comandante está pronto — afirmou Indra, me dando um curto aceno de distância. Se eu procurasse, acharia vergonha e remorso pelo o que fez na arena.

Mas eu não a culpava de verdade.

Indra kom Trikru não fez nada do que eu não faria para a minha filha.

— E o Kallas? — Questionei, ainda inclinada naquela mesa.

— Ninguém viu ele, Heda — quem informou foi Echo. — Mandei um grupo de busca para procurar nas proximidades. Mas cada passo para fora antes do tempo é um risco.

— Tem razão — concordei, tentando afastar o sentimento de que Kallas devia estar aqui.

O silêncio que refez tecidos e corpos me fez erguer o olhar, percebendo que todos se entreolhavam, em busca de mais de mim.

— Não sinta-se pressionada, Rayna — Bellamy avançou para chegar até mim. Muito próximo. Consertei minha postura, olhando-o nos olhos. — Mas precisamos saber as ordens.

— Temos vantagem numérica, Heda. — Indra deu um passo à frente. — Se continuarmos pressionando, conseguiremos passar.

Acenei com a cabeça.

— Certo. Então faremos isso, passaremos. — Indra assentiu e minha mente começou a metralhar informações e ideias, até eu tecê-las e formar uma só. — Não podemos ir de mãos vazias dessa vez.

— Murphy explodiu a única arma que nos daria vantagem — Echo informou, com remorso.

— Não, não destruiu.

Contei rapidamente o plano sobre como existia o Rover. O motivo de eu querê-lo desde o início. Há uma metralhadora nele. Se dirigirmos até a linha da frente, causando uma distração em que todos os atiradores apontaram para o carro, chegará a hora que eles precisaram usar o máximo deles.

E é aí que precisamos destruí-los.

Destruir a linha da frente, para que o resto passasse.

— Me habilito para ser uma dentro do Rover, Majestade — Echo disse, ganhando um olhar pequeno de Bellamy, que se mantinha afastado. — Tenho meu arco e flecha. Se eu conseguir uma boa posição, sei que consigo atirar.

— Confio na sua mira.

Ela acenou e saiu da tenda com um único olhar para Bellamy, que recuou, mas não a acompanhou.

— Heda, eu...

— Preciso que tome o lugar de Kallas, Indra. — Interrompi antes que ela pudesse pedir desculpas. Não era necessário. — Não sabemos o que aconteceu com ele — abaixo o olhar, engolindo em seco. — Preciso de você.

O olhar dela se tornou feroz.

— Estou às suas ordens.

Ela saiu da tenda.

Então só ficou os irmãos Blake.

— Posso ajudá-los? — Sorri irônica.

— Quero estar ao seu lado, na primeira linha. — Octávia deu um passo à frente, mantendo uma distância saudável entre nós.

— Não confio em você, Octávia. — Seus olhos recuaram e eu suspirei. — Mas reconheço uma boa guerreira. — Avancei, ficando em sua frente e deixando claro, olhando em seus olhos. — Nosso acerto de contas chegará.

Ela sorriu, prometendo que sim e saindo da tenda.

Então, havia ele.

Por que sinto que esconde seus pensamentos mais obscuros?

— Sente certo — revelei, me reaproximando da mesa. Não sabia dizer, ou talvez não tinha tempo para pensar, em qual momento senti que estava próxima de Bellamy, mas era o único que eu confiava ali. — Ainda há mísseis e dois pilotos para aquela nave de fuga. Não paro de pensar que estamos marchando com um alvo na testa.

— Clarke vai dar um jeito — sua voz pareceu garantir.

— Confia nela agora?

— Não — respondeu, óbvio. Então se aproximou e tocou em meu rosto, seus olhos suaves e seu toque como uma nuvem que toca às estrelas. — Mas eu confio em você. Sei que jamais teria deixado ela lá se não tivesse fé.

Sorri fechado, esperando pelo seu recuo e me surpreendendo quando ele hesita em retirar sua mão do meu rosto; sua pele da minha pele. Nossos rostos parecem imãs que se aproximam, mas, ao mesmo tempo, parece que há forças maiores segurando nossos ombros e nos puxando para uma direção contrária do outro.

Aquele sentimento não era novo.

Eu estava cansada de senti-lo.

— Bell — chamei-o quando seus olhos recuaram para uma parte do meu rosto que me fez ter arrepios. — Você está com a Echo.

— Não sinto nada por ela, Rayna. — Perco minha respiração. Talvez até o chão diante aos meus pés tenham se desfeito e tento me manter racional quando respiro uma, depois mais três vezes. Mas Bellamy continua: — Sei que é algo maldoso de se dizer. Ela me ajudou quando... — Estreitei os olhos para os seus, buscando a continuação. — Não importa. Achei que nunca mais a veria e fui egoísta em pensar que poderia seguir em frente. Mas desde o maldito dia que eu te vi quando desci naquela terra, meu coração clamou pelo seu, Rayna. E não parou de chamá-la uma única vez.

— Não posso fazer isso agora — empurrei levemente seu peito. — Sinto muito. Mas não posso me distrair.

— Amor não é distração — Bellamy afirmou, roubando a minha frente. — A prova disso foi hoje no campo de batalha, quando precisei ficar deitado sem me mexer para não receber um tiro. Não se passou um segundo em que você não esteve em meus pensamentos, em que você não me deu forças para continuar.

— Você está confuso — sorri, gentil. Não podia ter aquele tipo de esperanças. — Não fico brava por isso. Sei que descobrir o que você descobriu é...

— Nossa filha não tem nada a ver com minhas palavras, Rayna. — Minha mente da cambalhotas. Nossa filha. Nossa filha. Nossa filha morta. — Eu a amava antes de tê-la. A amava antes de saber sobre ela. E, sinceramente, achei que não conseguiria te amar mais, mas depois que descobri sobre Isabella, meu coração parece querer sair do peito e avançar até você.

Podia ser um erro.

Eu podia estar sendo inconsequente, sem qualquer consciência, pois estamos no meio de uma Guerra e centenas de pessoas contam comigo para dar vivas. Mas meu peito explodiu, minhas bochechas queimaram e o meu coração acelerou.

Aquelas mãos que insistiam em me manter longe dele? Sumiram.

Dando-me um solavanco, em vez disso, para me aproximar. Seus lábios nunca saíram da minha mente. Soube disso assim que os toquei, sentindo sua textura rebuscada. Bellamy pareceu não acreditar, mas também não perdeu tempo em soltar-me para olhar em meus olhos.

Resolveu confirmar nosso toque, o intensificando.

Perdi completamente a cabeça. O plano já estava longe de minhas mãos e minha respiração? Ela simplesmente passava de um ar, aquele nada que continuava ali para me manter viva, mas que não era notada por tempo o suficiente para tomar um lugar importante.

Minha pele queimava com o seu toque.

Eu queimava por inteira com o seu toque.

Bellamy me empurrou para a mesa, meu quadril tocando nela e dando um pulinho para sentar em cima, o puxando com minhas pernas para mais próximo. Sei que o odiava. Sei o que fizemos em seis anos atrás. Sei o quanto somos destrutivos.

Mas a dor estava mesclando-se com o desejo e a atração e tudo aquilo que nos fazia sentir um ao outro sempre.

Sempre soube que Bellamy era algo que estava ligado a minha alma, mas quando ele estava ali, puxando-me para colar nossas peles, adorando meu pescoço com seus lábios e meu corpo com suas mãos? Ali tudo o que parecíamos era a composição do mundo, a terra e o ar e mais nada existia em nossa volta.

Estar em seus braços e tê-los nos meus era uma sensação tão arrebatadora que fazia-me delirar antes mesmo que ele me tocasse mais a fundo, que tomasse a minha alma com sua, que me tomasse por inteira.

Tudo parecia um resquício do que poderia ser e não era.

Porque tudo o que era naquele momento, era a gente. Só tinha a gente.

E quando Bellamy deitou-me naquela mesa e reivindicou-me, me chamou de sua e adorou cada canto da minha pele com cada canto do seu corpo, eu sabia que jamais nos separaríamos de novo.

Porque não dava.

Bellamy estava completo.

Eu estava completa.

E, justos, finalmente, explodiríamos.

— Nunca senti algo assim, Rayna — ele admitiu, ofegante, evitando ficar muito longe de mim, da minha boca. Eu sorri, passando minhas unhas pelas suas costas nuas. — Você é tudo para mim. Vamos vencer essa guerra. — Inclinei-me para trás, minhas costas descolando da mesa fria, daqueles papéis que já estavam esparramados pelo chão, fechei meus olhos, entreabri minha boca e prometi a mim mesma que nada era como aquilo. — Juntos.

(...)

Bellamy estava certo.

Juntos, conseguiríamos.

Marchamos logo no amanhecer e Echo, com Bellamy, Murphy e Emory avançaram pelo Rover, para a nossa bomba de entrada. Visitei Maddie antes de partirmos, quis confirmar se ela estava pronta para aquilo. Não a deixaria de fora.

Ela merecia estar na reivindicação da sua casa.

Com Octávia a minha direita e Maddie à esquerda, marchamos na frente do exército, que parecia mais esperançoso do que nunca. Eles tinham razão em estarem. Conseguimos.

Eles conseguiram.

Virei para o meu exército que esperava o meu comando e sorri para eles, levantando a mão com a arma e gritando:

— Atacar!

Eles puxaram o grito comigo e avançaram sem pudor algum.

Sem a linha da frente, passar por aquela floresta e chegar até o Vale, passando pelos corpos que eu deixei para trás e debatendo-se com aquele exército que sobrou dos Prisioneiros, não era nada difícil.

Eles todos abaixaram suas armas quando passei entre a multidão, pronta para obrigá-los a se render. Então, se ajoelharam.

— Matem todos, Rayna.

Encarei Maddie e franzi todo o meu corpo para suas palavras. Meus olhos subiram para Bellamy e ele sorriu com seus olhos, dando-me forças e dando-me esperanças.

— A minha misericórdia — comecei, calma — prevalece sobre a minha ira. — Maddie me olhou, confusa. — Algum dia, após essa reivindicação, você será a minha Segunda no Comando. — Ela ergueu os ombros, prestando mais atenção. — Essa é a minha primeira lição para você, Maddie. Quando o inimigo se rende, você da uma chance.

— E se eles atacarem novamente?

Dei uma boa olhada em todos.

— Eles não vão, querida.

Quando consertei minha postura, Bellamy estava ali, olhando-me, então para Maddie. Havia um sorriso que eu jamais poderia codificar, mas uma saudades que era parecida com a que eu sentia todos os dias, durante os últimos seis anos.

Um alarme fez-me desviar a atenção dele para um dos ajoelhados que explicou que era um alarme de segurança para evacuação.

Uma voz familiar soou pela clareira pelos altos falantes.

Escutem! A vida que conhecíamos vai acabar de novo. — É Raven Reyes. — Vão para a nave de transporte agora para a evacuação imediata.

— Temos que ir, Heda — Echo avançou para ficar ao meu lado. — Agora.

— Comande-os até a nave. — Ela assentiu na hora. — Maddie, vai com a Echo.

— E você?

— Não vou sair daqui até que o último do meu povo chegue.

E não havia ninguém que me faria mudar de ideia. Pouco a pouco, fomos evacuando o local, só restando o meu pessoal de guerra. Eu não parava de sentir a falta de Kallas.

— Se você vai ficar, eu também vou — afirmou Bellamy.

— Preciso que proteja Maddie — ele hesitou com o olhar. — E que proteja o resto, com Echo. Eu vou ficar bem.

— Não aguento mais despedidas.

— Estarei logo atrás de você.

Ele pensou muito antes de assentir e deixar um leve beijo em meus lábios, que me pegou de surpresa, mas não me fez recuar. Só me fez sentir vontade de pegar-lo e arrastá-lo para algum lugar novamente.

Por sorte, eu me controlava, pois estava na cara que Bellamy aceitaria.

— Vá — soprei em sua direção, sorrindo boba. — Agora.

Ele levantou as mãos em rendição e recuou, ajudando rapidamente aos outros sobre qual caminho seguir. Fui fazendo os mesmos com aqueles que saiam de suas casas ou de seus serviços, explicando rapidamente de forma rápida e suscita com uma arma apontada em suas gargantas.

Ou eles me seguiam ou eram mortos, bem ali.

Todos aceitaram fazer filinha e cantar o "trenzinho" até chegar na Nave.

Octavia saiu da enfermaria e eu estava prestes a avançar em sua direção quando vi o que ela, junto com Abby e um dos meus seguravam. Marcus Kane, insconsciente em uma maca, ensanguentado e inalando um sugador de ar. Não tinha tempo de perguntar o que aconteceu.

— Por ali — apontei para eles.

— E você? — Octávia parou, fazendo os outros pararem.

Sorri.

— Estou bem atrás de vocês — repeti.

Mas ainda esperei mais tempo ali, na clareira vazia. Com razão, pois rapidamente Indra chegou com Jackson, Gaia na maca, depois Monty, Emory com Murphy machucado e nas costas do asiático. Mas devia ter mais alguém com eles.

— Onde está o Aspen?

— Foi na frente — Emory disse. — Já deve estar na nave.

Assenti e os conduzi até a nave, onde apenas Clarke e Bellamy esperavam e correram para nos ajudar. Corri para dentro, gritando por Aspen pelos corredores até chegar na central de controles e todos que estavam ali se virarem para mim.

— Ele não está com você? — Raven se levantou, assustados. — Ele não está aqui, Rayna. Ele não está aqui.

— Calma — pedi, sem ela.

Mas não tinha tempo para pensar.

Não tinha tempo para ter calma, então eu corri, passando pelos corredores cobertos de doentes, passando por macas e murmúrios e lamentações. Bellamy me gritou quando passei por ele, mas eu era apenas uma sombra, um único desejo para o universo.

Rayna! — A voz de Bellamy soou pela clareira, por aquele alto falante que Raven deve ter usado antes. Ele ofegou, eu o acompanhei enquanto continuava correndo pela floresta, meus olhos atentos. — Rayna. Volte agora.

Eu não podia.

Não podia abandonar Aspen.

Galhos me cortavam, vento me sufocavam, mas eu ainda gritava por Aspen. Vasculhei aquela floresta em minutos e depois a Vila. Eu sabia que o tempo estava escasso. E a voz de Bellamy desesperado não me ajudava.

Droga, Rayna, não faz isso!

Mas eu já corria para o último lugar que tinha visto Aspen, no campo de guerra, onde exatamente ele estava, com uma pedra do penhasco que explodiu em cima dele. Empurrei a pedra com toda a minha força, mas estava longe do meu controle.

— Asp, Asp. Está me ouvindo?

Ele entreabriu os olhos, quase sem forças. E sorriu.

— Você está aqui. Me achou.

— Claro que te achei. Agora preciso te tirar daqui, tá bom? — Ele assentiu e eu acenei de volta.

Mas não adiantava a força.

Chorei em cima da pedra, fazendo o máximo de força que eu conseguia. Até que ela se mexeu e eu a olhei assustada, percebendo que tinha alguém ao meu lado.

— Kallas — sorri, aliciada.

— Majestade — ele tossiu e continuou a força.

Juntos, retirando aquela pedra de cima de Aspen. Kallas o colocou sob os seus ombros e começamos a correr até a nave, mas era preciso atravessar a floresta e eu já conseguia ver aquela bomba chegando até a gente, no céu. A voz de Bellamy tinha desaparecido e eu sabia que não daria tempo.

Não daria tempo.

Não daria tempo.

Apertei meus olhos, meus passos, Kallas aos tropeços me alcançando por pouco.

Uma contagem regressiva começou quando saímos da floresta, vendo a nave. Bellamy estava lá na frente e correu até mim, que tropecei cansada. Kallas largou Aspen para me ajudar, mas eu o empurrei para pegar Aspen novamente.

Minha visão ficou turva e eu só sabia ouvir o 10, 9, 8, 7...

Te peguei.

Bellamy correu comigo em seus braços, passando por Kallas rapidamente e deixando-me no chão da nave, bem na porta.

5,6,4...

Tossi o nome de Kallas no exato momento em que a nave começou a sair do chão, sem eles.

Arregalei os olhos.

— Raven! — Gritei, mesmo que soubesse que ela não me escutaria. — Ainda não. Ainda não!

Mas não dava mais tempo.

E Kallas, que sem pensar, jogou Aspen no ar para Clarke e Bellam agarra-lo, sabia disso. Arregalei os olhos e me joguei da nave, sendo pega por Bellamy no último minuto. Debati-me em seus braços, mas já estávamos longe do chão e as portas estavam se fechando quando Kallas sorriu cansado para mim e deixou-se cair de joelhos.

— Não! Ninguém vai ficar para trás! — Gritei.

Mas a contagem tinha acabado.

E enquanto voamos para cima, a bomba pegou todo o campo, engolindo o corpo de Kallas.

Deixei-me cair nos braços de Bellamy, sem forças para lutar pelo impossível. Conforme a porta se fechava, meus olhos se perdiam e se escureciam. Eu já não sabia quem estava me tocando quando apaguei.

(...)

Três semanas era muito tempo.

Mas fora por esse período que tivemos até pousarmos no espaço novamente. Era quase como se não importasse o quanto lutássemos, sabe? Algum dos lados sempre, sempre perderiam mais que os outros.

Há três semanas atrás, quando a nave decolou daquele pedaço de terra que agora queimava, minha primeira vontade foi invadir aquela ala hospitalar e matar todos aqueles que vieram, que trouxeram aquela guerra para a gente.

Mas Clarke me parou.

Clarke me segurou quando eu terminei de debater-me feito um monstro nos braços de Bellamy, com tanta resistência e força que ele não aguentou e caiu, tirando seus braços de mim.

Quando eu perdi a consciência, não foi por desmaiar, mas porque aquela parte humana que se preocupa com a misericórdia e o perdão tinha adormecido e a raiva renasceu, com muita mais força. Estava cansada de sempre perder.

Cansada de prolongar guerras.

Eu quase conseguia ver o motim que poderia se iniciar a qualquer momento por aqueles prisioneiros, provavelmente pela própria Diyoza para tomar sua nave para si. Eu não me permitiria aquilo.

— Rayna — Clarke me chamou, segurando-me. — Rayna, você é a Comandante deles agora.

— Eles não fazem parte dos terrestres — respondi, meus olhos transbordando o que eu queria fazer com eles.

— Agora fazem.

Admitir que ela estava certa doía mais do que receber uma facada bem na boca do estômago. Mas era isso. Clarke tinha razão. Eu não podia marchar para eles e fazer um massacre no espaço.

Não teríamos onde jogar seus corpos.

Não dormi durante toda a primeira semana.
Sempre tinha alguma coisa para mim fazer. Indra me puxava para falar com Gaia, que com a ajuda de Abby, poderia recuperar sua perna. Então tinha Marcus que permanecia desacordado; meu pai me traiu e agora estava quase morto.

Echo me puxou pela nave durante sete dias, para ver os feridos, falar com aqueles que lutou bravamente. Durante aquela semana, quando eu tropeçava de cansaço nas esquinas, Echo parava há dois passos atrás de mim e me esperava respirar fundo.

Algo me dizia que ela não reclamaria se eu quisesse descansar, mas ela também não dava essa opção para mim.

Sempre que eu perguntava por mais, aparecia uma avalanche para me afogar.

Haviam feridos demais, pessoas de luto e bravas, dispostas a atacar os Eligius e eu deveria me posicionar. Posicionar minha misericórdia e a segunda chance que eu estava disposta a dar-lhes.

Então, quando cabeças assentiam e recuavam com minhas ordens, eu balançava meu corpo para outra parte da nave. Nunca para uns aposentos.

— Rayna.

Debati-me com Bellamy no oitavo dia. Enquanto eu continuava com a roupa manchada da guerra de uma semana atrás, meus cabelos sujos amarrados naquela trança que já virará um ninho desengonçado, ele estava completamente limpo e vestido com uma camiseta de mangas cumpridas que imprensava seus músculos e os deixavam visíveis demais.

Bellamy não precisou de dois olhares em mim para franzir o cenho.

— Você dormiu? — Ele perguntou, preocupado de início. Mas quando ele focou a atenção em Echo atrás de mim, sua próxima pergunta saiu com veneno e acusação e gravidade: — Ela precisava descansar!

— Ela precisava acalmar as coisas por aqui, Bell.

— Tá tudo bem — tentei falar.

— Não — mas ele me interrompeu, então segurou o meu pulso e puxou-me delicadamente para ele. Echo não deixou esses detalhes passar e torceu o maxilar. — Ela vem comigo. Não a procure tão cedo.

— E você? — Ela perguntou, como em um ataque. — Posso procurar por você?

Bellamy hesitou.

Tudo em sua postura denunciava o que nós tínhamos feito há uma semana atrás.

— É a mesma coisa, Echo. — Ele revelou, entrelaçando nossas mãos e rodeando meus ombros.

Queria pedir desculpas, mas nem minha língua aguentava mais trabalhar. Deixei que Bellamy cuidasse de mim naquela noite. Que me desse banho, penteasse meu cabelo e me alimentasse. Quando cai na cama, seu peito estava lá para servir como travesseiro e seus lábios para acalmar o mar de confusões.

— Ela não tem culpa, sabe — segredei, meus olhos pesados. — Por estar apaixonada por você.

— Eu conversei com ela no momento em que entramos nessa nave, Anarquia — ele disse, acariciando meus ombros. — Não quero ser mal com ela, Echo sempre vai ser minha família. Mas não há ninguém que eu queira ficar que não seja você. Não quero que ela a culpe por isso.

— Ela não culpa — neguei e cai no sono.

Eu dormi por dois dias inteiros.

Quando acordei, Bellamy estava me trazendo uma bandeja com alguns suprimentos que tinha sobrado, mas que não seriam eternos.

Pelas próximas três semanas, fora daquele jeito. Dormindo em seus braços e acordando com seus sorrisos, sua total atenção. Aquilo esquentava o meu peito e fazia-me delirar, sonhar todas as noites. Era o que sua presença fazia comigo.

Estávamos bem.

Até se completar três semanas e eu acordar no meio da noite, vomitando.

Bellamy não estava na cama e e arrastei-me para limpar-me antes de procurar quem eu queria por aqueles corredores. A ala médica. Abby estava sentada no colchão ao lado do meu pai quando eu entrei.

— Rayna, querida.

— Oi, Abby. — Me aproximei, abraçando-a.

— O que eu posso fazer por você?

Não mostrei hesitação ao falar com ela e pedir o que eu queria. Ela não negou, então fizemos um processo rápido e indolor naquela madrugada vazia. Quando obtive o resultado, Echo já estava na porta me esperando para me arrastar para ponte.

Todos já estavam lá, esperando-me.

Echo se afastou de mim para se aproximar de Raven, que observava como os outros a terra através do vidro. Murphy estava sentado ao lado de Aspen, os dois sem poder se levantar devido aos ferimentos.

— Pode fechar, Shaw — Raven pediu, todos se virando para olhar para mim.

— Como nossos ancestrais — Bellamy começou, de braços cruzados — na Arca, somos os últimos da raça humana.

— Os ancestrais estavam errados — observou Clarke, com Maddie perto de si. — Nós não estamos.

— Quatrocentas e doze pessoas nessa nave, graças a Rayna salvamos quem podia ser salvo. — Abaixei o olhar, me mantendo calada. Nem todos que podiam ser salvos, foram. — Agora é nosso trabalho mantermos vivos. — Ele deu ênfase no nosso, olhando para Echo. — Como faremos isso?

Monty se inclinou pra frente, retirando um pote de seu bolso e revelando que poderíamos sobreviver através das algas. Murphy resmungou, descontente e Aspen fez uma careta endurecedora, fazendo todos sorrirmos com suas expressões.

Shaw levantou a mão.

Quando eu olhei para ele, ele já me olhava, pedindo permissão para falar.

Acenei levemente.

— Pelo o que sabemos sobre a meia vida daquela bomba que lançamos no Vale, serão, pelo menos, dez anos até ele voltar. Essa nave tem um pequeno reciclador de água e algumas semanas de rações, mas é isso. Á criogenia é a única opção.

Franzi o cenho.

— Mas o que é a criogenia?

— Rayna — Bellamy cortou minha frente e me explicou. — Procurei soluções, estudei durante a noite, conforme você dormia. Não queria incomoda-lá com ideias que eu nem sabia que poderia dar certo.

— Qual ideia, Bellamy?

Então ele explicou sobre as cápsulas que os prisioneiros dormiam antes, como eles ficaram vivos e conservados depois de tanto tempo. O plano era todos dormirmos durante dez anos. Seria como uma boa noite de sono, disse Monty, contribuindo.

Todos ali pareciam querer aquilo.

— Mas é você quem decide — ele afirmou. — Está nas suas mãos. Se for contra, então faremos um jeito.

— Não — recuei, falando baixinho. — Tudo bem. Acho que uns dez anos de sono vão fazer bem para a nossa pele.

Clarke riu junto com os outros e Bellamy segurou em meu ombro. Echo fez um barulho descontente e acho que ela não pensou antes, pois quando olhamos para ela, a mesma parecia prestes a se desculpar antes de seguir para fora.

— Vai — sussurrei, olhando nos olhos dele. — Deixe as coisas certas com ela e, então, continuaremos.

— Para sempre — ele prometeu e me beijou.

Clarke saiu com Maddie para prepará-la, Raven pareceu compartilhar um olhar aguçado com Aspen antes de ajudá-lo a sair, provavelmente conversariam sobre o que quer que tenha acontecida entre eles.

Os outros não demoraram para se dispersar e eu me aproximei de Shaw, que levantou os olhos quando me percebeu ali.

— Posso fazer uma pergunta? — Ele assentiu, dizendo "claro". — Mas terá que ficar entre a gente. Preciso da sua discrição, Shaw.

— É um tipo de teste?

Dei de ombros.

— Se não passar, eu te mato.

Seu rosto se desconfigurou pelo medo e por fim, sorriu.

— Pode perguntar, Comandante.

— Acho que estou com um pouco de radiação no meu organismo. — Ele franziu o cenho, claramente precisando de mais detalhes. — O tipo de radiação que dizimou a Terra. — Seus olhos se escurecem. — Que tipo de perigo eu posso enfrentar entrando nessa centrífuga?

— É criogenia — ele corrigiu e eu revirei os olhos. — Mas, sim, correrá um risco.

— De quanto?

— Por dez anos? Não muito — ele deu de ombros. — Quando acordar, pode ser que você sinta-se estranha e um pouco doente. Creio que consigo reverter isso com remédios.

— E se tiver outro perigo...? — Shaw estreitou os olhos. — Outra... coisa.

Seus olhos desceram para onde minha mão tocava e modificou a expressão, gaguejando.

— Então, seria fatal.

Era tudo o que eu precisava saber.

— Obrigada, Shaw. — Ele assentiu, confuso, pensativo demais. — Lembre-se do silêncio. Não gosto de cobrar traidores.

Bellamy me interceptou entre os corredores, assustando-me.

— Está pronta para ficar dez anos dormindo comigo? — Ele sorriu, passando a mão pela minha cintura e trazendo meu corpo até o dele. — Porque eu estou pronto para passar o resto da minha vida com você.

Sorri, entrelaçando meus braços atrás de seu pescoço.

— Acho que posso aguentar alguns anos sem os seus toques.

Seus lábios se descolaram para sorrir, então se aproximaram dos meus.

Por que eu não conseguia contar para ele?

Horas depois, acompanhei de perto as pessoas que iam dormir, despedindo-me dos meus amigos mais próximos. Aspen me abraçou forte antes de se deitar naquela maca e tivemos nossa primeira conversa desde muito tempo. Na verdade, eu senti que foi a nossa primeira conversa depois que eu o torturei em Polis.

— Eu te amo, RayRay.

— Eu amo você — repeti, deixando um selar em sua testa. — Eu te amo muito, Aspen. Sinto muito por tudo.

— Sinto muito por ser um péssimo amigo. — Neguei com a cabeça, recusando aquela afirmação. Ele fora o melhor que a vida me deu. — Eu só... Depois daquilo em Polis, algo dentro de mim se afundou e morreu. Olhar para você, minha melhor amiga, era como tentar salvá-lo. Doía demais.

— Tudo bem — segredei. — Tudo bem.

Então depois beijei a cabeça de Maddie, que sorriu para mim uma última vez antes de dormir. Tentei passar direito por Octávia, mas ela se inclinou para tocar em mim e me segurar no lugar.

— Não tivemos nossos acerto de contas.

— Não — respondi, reclusa. — Não tivemos.

Olhamos uma a outra.

— Eu te amo, irmã.

Não consegui repetir o mesmo para ela, então só sorri antes de ligar sua criogenia e ela dormir. Foi um longo processo até estar somente Bellamy e eu naqueles corredores, nossa maca uma ao lado da outra.

— Deixei eu lhe dar o beijo de boa noite, Anarquia.

— Não — neguei e ele franziu o cenho, mas então sorriu quando o empurrei pra sentar-se em sua maca. — Eu faço isso por você.

Beijei-o suavemente, adentrando sua camisa com minhas mãos para sentir seu coração.

— Vou sentir sua falta.

— Vou sonhar com você e com o seu beijo — ele replicou, não deixando de me beijar e me segurar e me amar. — Por cada dia durante os dez anos. Sonharei com você.

Deitei-o naquela maca e o beijei novamente.

— Ei — ele me chamou, afastando-me do seu rosto. Nossos olhos se entrelaçaram e ficaram em uma dança até que ele achasse as palavras de novo. — Eu te amo, Rayna Kane.

— Eu te amo — ele sorriu com aquele som que saiu dos meus lábios e me puxou para ele —, Bellamy Blake.

Assim que nossos lábios se tocaram, eu apertei no botão para que se ligasse e ele fosse puxado para dentro. Ele sorriu para mim até fechar os olhos e quando os fechou, aquele sorriso continuou.

Com o corredor vazio e silencioso, caminhei até a minha maca e apertei seu botão.

Ela se ligou sem mim lá dentro.

Toquei em minha barriga e suspirei com olhos fechados, preparando-me para os próximos meses.

— Vou cuidar de você — prometi, apertando minha barriga. — Cuidarei de você até o meu último suspiro.

— Rayna?

Virei-me, assustada. Eram Monty e Harper.

— Por que não está na máquina?

— E vocês? — Joguei.

Suas mãos se entrelaçaram.

Ah, tudo por amor, não é?

Sorri.

— Ficaremos juntos por um tempo antes de eu dormi, Monty. — Seus olhos desceram para onde eu acariciava. — Consultei Shaw sobre os riscos por eu estar com radiação pelo sangue dos vermes que ingeri. Ele disse que eu poderia sobreviver, mas o bebê não. — Harper abriu um sorriso. — Vou ficar para tê-lo e dormiremos os dois.

— Parabéns, Rayna! — Harper ficou feliz, me abraçando. — Imagina um mini Bellamy por aí?

Dei risada e encarei Monty que olhava Bellamy, dormindo.

— Não acha que ele merece passar esses noves meses com você?

— Acho — fui sincera. — Mas Bellamy é o meu coração. Eu vou precisar abandonar essa criança para dormir, ele não conseguiria. Não depois... — Engoli em seco. Bella. — Não quero que ele passe por essa dor.

— Então decidiu passar por ela sozinha — ele completou, se aproximando para me abraçar. — Quando começará pensar mais em você, Rayna Kane?

— Bom — sorri, divertida, sentindo-me leve. — Tenho noves meses para pensar em mim mesma.

Harper riu.

— Vou preparar mais algas para você e essa criança.

— Ela te odiará firmemente, Monty Green.

Nossas risadas reverberou por todo este lugar.

E, de repente, eu sabia que conseguiria.

De um modo ou de outro, conseguiria. Porque eu não estava mais sozinha.

Espero que estejam gostando! OBRIGADA PELOS 183K, estou extasiada!

Meta de comentários para o próximo capítulo: 400  COMENTÁRIOS. Estamos subindo, hein. Confio em vocês.

Encerramos o 5° ato! Eu simplesmente adorei esse capítulo, a dinâmica entre Bellamy e Rayna sendo tranquila pela primeira vez em cinquenta capítulos. Vou adorar continuar com essa dinâmica entre eles pelos próximos capítulos, no ato 6.

Eu prometi outro capítulo e aqui estou eu.

OUTRA COISA: Vocês que escolherão o SEXO DO BEBÊ da RayRay.

Colocarei uma enquete no instagram, então vocês precisam ir lá, me seguir e votar. Só aceitarei a respostas de quem me seguir, hein!

O instagram é; _debsdrrsem

P.S: Vou colocar a enquete mais tarde, mas sigam-me para receber a notificação. Vou avisar aqui também.

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