025 | Flame or Heart?
025 | Chama ou Coração?
RAYNA KANE
Becca Franko estava me perseguindo.
Após sair da mercearia e começar uma viagem longa até Arkadia, Raven começou a nos contar o que ela sabia e o que não, ela lia no diário da minha trisavó que ela havia roubado antes de ser recrutada mais uma vez.
Ninguém sabia desse detalhe ainda. O plano era simples. Chegar e acessar aquela IA em minha nuca, atráves do meu sangue.
— Aos 26 anos, encontrou um modo de acessar a mente humana — dizia Raven após uma breve leitura naquele caderno velho. — Foi no mesmo ano em que prendeu Alie porque ela dizia que no mundo tinha "gente demais". Ela tinha 27 anos quando lançaram as bombas.
Foi quando Clarke perguntou sobre a Chama, que estava em meu pescoço, que o frio em meu estômago começou. Um frio horripilante, por saber o que eu teria que explicar.
— Alie 2.0 — respondeu Raven, alheia aos meus calafrios. — Era um modo de expiar seus pecados. Ela a progetou não apenas para acessar a mente humana, mas para se fundir com ela. Não nos exterminaria, porque seria uma de nós. Ela a colocou em si mesma primeiro. Alterou os genes para o corpo não rejeitar o implante.
— Bekka Pramheda, a primeira Comandante — afirmou Clarke, encarando-me. — A terapia genética fez seu sangue ficar negro, não é?
Isso ai. Natblidas. Foi de onde eu vim, pois sou da sua linhagem e foi de onde outros vieram, depois que ela desceu para a Terra. Isso me diz que os Natblidas não começaram aqui, começaram lá no espaço, com Becca e depois, eu.
Bom, se o que Becca disse no meu sonho sobre eu ser a única da minha familia for verdade. Não tive mais sonhos com ela depois, considerando que eu não dormi mais. Mas ela me apresentou Alie em um dos últimos sonhos.
Foi assim que eu sabia quem ela era hoje quando falei com Raven. Alie praticamente é da minha família, com menos coração e o rosto novo da minha trisavó.
Agora que eu estou com a Chama, sei que começarei a ter sonhos não apenas com Becca, como com os outros Comandantes. Mas eu não sei qual será a minha relação direta com a Alie 1.0. Seria assustador se eu começasse a ver, mas nada surpreendente, contando que eu meio que tenho o chip implantado em mim.
— Você tem o Sangue Escuro — afirmou Bellamy no banco do motorista, me encarando pelo retrovisor. — Por isso que você aguenta a Chama?
— Sim — soei sincera e depois, soltei um suspiro. Benjamin ao meu lado, tentou me encorajar, mesmo sem saber o que eu estava prestes a revelar. — Becca é minha trisavó.
— O que?! — Perguntou Clarke, totalmente por fora disso também.
— Que loucura — sussurrou Jasper do outro lado.
— Venho tendo sonhos com ela desde Monte Weather — continuei explicando, fugindo dos olhares. — Ela me falou sobre Alie, sobre a Chama e sobre o que eu tinha que fazer com ela. Sou ligada diretamente com a Alie.
— E a próxima Comandante dos 13° clãs — murmurou Raven, seguindo meu raciocínio enquanto via Bellamy tentar digerir lá na frente. — Quando descobriu?
— Meu avô contou à ela sobre o Sangue Escuro — afirmou Benjamin, entrando na conversa e eu confirmei com a cabeça. — É por isso que Rayna sempre foi o acesso direto da minha cura. Seu sangue é diferente dos nossos.
— Mas sobre esse lance de Comandante, Lexa me contou há pouco tempo. Logo quando nos conhecemos, ela me tornou a sua Segunda e... morreu.
Meus olhos subiram para Clarke que desviou rapidamente. O resto da viagem foi um silêncio interminável, até mesmo quando tentamos contatar Nate Miller e o grupo que estava com eles. Ao chegarmos em Arkadia, nos deparamos com o vazio.
Ninguém estava aqui.
Tudo estava abandonado. Octavia, que se manteve estranhamente quieta na viagem, teve que suportar a visão da poça de sangue de Lincoln, mas o corpo dele não estava mais ali. Quis consolá-la, mas ela simplesmente seguiu em frente.
Raven imediatamente me levou para sua sala particular, onde tinha máquinas que eu não saberia nem começar a explicar as funcionalidades. Começamos a pensar o que devíamos fazer, mas não conseguiamos pensar em nada.
Teorias começaram a se formar e eu testei todas. Tentei dormir para me progetar em algum lugar. Foi difícil dormir com tantos olhares esperançosos em mim, mas eu consegui e não aconteceu... nada. Nenhum sonho com Becca, Alie ou um dos Comandantes. Quando acordei novamente, me senti... vazia.
Minutos depois, Sinclair testou uma teoria:
— E se a Chama tiver que ser ligada?
— Já dentro de mim? — Questionei, não acreditando muito.
— Esse Guardião da Chama disse algo sobre isso? — A pergunta foi direcionada para Clarke, que negou após um breve pensamento.
— Espera, Lincoln comentou algo comigo sobre isso — Octavia revela, aparecendo do nada. — Na verdade, ele falava de Luna, uma amiga de outro clã. Ela era uma Natblida.
— Era? — Observei.
Octavia me encarou para responder.
— Desistiu antes que pudesse ser escolhida. Lincoln contou uma história sobre ela ter descoberto o que tinha que fazer caso ganhasse a Chama.
— Pode ser isso, certo? — Apontou Raven. — Deve ter algum processo para ligar a Chama dentro da hospedeira. É possível.
— Octavia, Lincoln contou como? — Questionei, mas a garota negou. Pensei mais um pouquinho nas opções que tínhamos. Apenas uma. — Então, a Natblida é a resposta. Precisamos encontrar Luna.
— O diário de Lincoln — indicou astuta, rapidamente. — Acho que tem um mapa até a aldeia dela.
Ótimo. Começamos a nos preparar para uma outra viagem, agora, com o objetivo de encontrar uma pessoa igual à mim que fugiu antes que pudesse ganhar a Chama.
Octavia ficou com a funcionalidade de achar o diário de Lincoln. Eu estava pronta pra ir com ela, pois não queria que passasse por aquilo sozinha, mas ela me dispensou e Jasper se colocou à frente. Soltando um suspiro, decido que não vou ficar com as pernas pro alto.
Tenho que vestir roupas melhores se vou viajar. Talvez a metade dessa armaduras sejam boas, mas preciso retirar essa saia e colocar uma calça jeans logo. Preciso dos meus bolsos de trás.
Benjamin me acompanha com a expedição pela Arca vazia.
— Então... — ele começa, no meio do caminho. — Você e o Bellamy são... — arqueei as sobrancelhas. — Você sabe, namorados?
Engasguei com a minha saliva e parei assim que chegamos em frente a porta do meu quarto. Benjamin se pôs em minha frente e me observou se recuperar enquanto realmente parecia procurar por uma resposta.
— Não — ri, sem jeito. Mas depois me arrependi da forma que soou e parei de rir. — Não mesmo.
Ele assente, compreensivo e eu entro no meu quarto, deixando a porta aberta para que ele entrasse. Depois de virar um pouquinho aquele mini dormitório, encontro minhas calças e mais uma camisa azul de botão. A camisa que roubei de Benjamin e que antes estava cheia de sangue de muitas pessoas diferentes.
— Aqui — estiquei para ele e seus olhos se estreitaram. — Sua camisa está cheia de sangue. Não é bom para os negócios.
Seus lábios sobem sarcasticamente e ele pega a camisa com um pequeno agradecimento. Viramos de costas um para o outro e começamos a nos trocar. Foi difícil tirar aquela bota enorme e as armaduras das pernas, mas quando eu consegui, fui mais prática para colocar a calça, deixando aquela meia saia com blusa por cima.
Ajeitei meu cinto com as adagas e depois me virei para Benjamin. Ele ainda estava de costas, com sua blusa novinha em folha, a velha jogada na minha cama.
— Pode virar — decretei e ele o fez. Tentei segurar o sorriso quando vi sua camisa toda torta no corpo, mas não consegui. — Aqui, deixe-me ajudá-lo com isso.
Benjamin parou de se debater e largou os braços ao lado do corpo, tensionando seus ombros quando eu solto os primeiros três botões para abotoar tudo de novo — da maneira certa dessa vez.
— Obrigada — ele sussurra pela distância, me fazendo levantar meu olhar enquanto minhas mãos relaxam no último botão. — Rayna.
— Sim?
— Preciso te dizer algo. Algo que eu deveria ter dito desde a primeira vez que vi você.
Curiosa, eu tombo um pouco a minha cabeça.
— E o que é?
Seu rosto se inclina para mais próximo do meu e eu observo a ação com nervosismo. Estamos perto. Minhas mãos escorregaram para os seus ombros e se eu olhar para baixo, a ponta dos nossos pés quase se tocam.
— Você é linda.
Minhas bochechas coram pelo elogio e eu abro a boca para agradecer, mas o seu gesto de levantar sua mão e acariciar minha bochecha me para.
Ele não é muito mais alto do que eu, seus ombros não batem nos meus por pouco, então quando seus olhos procuram o meu, eu não preciso exercer muito trabalho para analisá-lo.
— Ben...-
— Estou feliz que não tenha nada com Bellamy — afirma, seu tom não mudando de grave em nenhuma hora. — Pois posso ser livre.
— Ser livre? — Repeti, um sorriso aflito no rosto. — Ser livre pra que?
A mão que não está com as costas do dedo em minha bochecha, desliza para a minha lombar, puxando-me para mais perto do seu corpo. Na verdade, colando os nossos corpos.
Quando entendo o que ele quer fazer, não sei como reagir. Então penso primeiro se quero. A primeira coisa que vem em minha cabeça para rebater o "quero" é Bellamy Blake. Não é certo pensar nele nesse momento, isso seria sacanagem com Benjamin, então decido não pensar.
E... os motivos para rebater acabam.
Com Benjamin era tudo mais fácil. Ele me entendia, sabia conversar e não me julgava fácil. Ele me olhava da forma como Gina costumava olhar para Bellamy e me faz se sentir bem comigo mesma.
Seu toque não me incendeia, ele me acalma. Ele não me deixa borbulhando de ansiedade para algo, ele me faz relaxar os ombros e abaixar a minha guarda, sabendo que nada nos atacará.
Quando estou com ele, não penso nos poréns e também em argumentos para explicar porque estou preocupada, porque estou feliz ou se deveria fazer tais coisas.
Agora, com minhas mãos segurando seus ombros e a palma de sua mão aberta em meu rosto, sei o que Bellamy quis dizer para Gina quando falou sobre ser mais fácil com ela. Não o culpo mais porque sei que não era algo que ele podia controlar.
Agora sei que ele sentia essa calmaria quando a beijava, deve ser por isso que a beijava tanto. Sei também que ele não precisava pensar tanto com ela. Era tudo mais fácil.
E se ele podia ter esse resquício de felicidade, por que eu deveria pensar duas vezes antes de fazer algo que me faz se sentir bem? Por que eu não posso escolher algo fácil uma só vez? Ser fácil nem sempre quer dizer que é ruim.
Acho que nos acostumamos tanto com dificuldades que quando não nos deparamos com ela, estranhamos e condenamos. Mas não devemos. Devemos abraçar essa facilidade, certo? Eu devo abraçar.
— Eu quero — sussurro, quando ele está esperando minha decisão final. Eu queria. Mesmo.
Benjamin sorri sem se conter e seu rosto se aproxima do meu, seus lábios selam uma promessa com os meus. Não é nada bruto ou selvagem, Benjamin mal se mexe nos primeiros segundos.
Ele só sente a minha textura como eu sinto a dele, deixando nossos lábios deslizarem um no outro até o desejo de algo mais se fazer presente.
Quando abro passagem para a sua língua explorar a minha boca, meu walkie-talkie vibra na minha cintura. Entendendo que fomos interrompidos, ele cola nossas testas e ri com gosto. O som da sua risada é boa.
Não me faz pensar em idealizá-la em meus pensamentos, em gravá-la para nunca esquecer. Me faz sentir vontade de quero mais.
Infelizmente, a voz de Octavia me faz ter de recuar.
Ela está me chamando para a Câmera. Não sei o que ela queria comigo, mas eu estava torcendo para que fosse uma conversa e se fosse mesmo, eu não podia levar Benjamin junto.
— Pode procurar Clarke para mim? — Peço depois de responder pelo rádio que eu já estava indo. — Nos encontramos no Rover.
— Ok — ele aceita, mas me rouba um selinho antes de sair. — Ok, espera, mais um.
— Benjamin!
— Tá! — Ele sai com os braços erguidos e eu prendo meu lábio inferior nos dentes para não rir.
Rir. Há quanto tempo não faço isso?
Esquecendo isso por um bem maior, vou ao encontro de Octavia na Câmera. Ela estava lá, mas não sozinha.
— Larga isso — manda o homem vestido de uniforme de exército. Eu o conhecia. Era Emerson. — Ou eu juro que corto a garganta dela — ele tinha uma faca na jugular de Octavia. Não tive opções a não ser me desarmar toda e me prender algemada na parede. — Isso. Agora esperem.
Ele colocou uma mordaça em minha boca, como os que os outros tinham.
Os outros eram Nate, seu namorado, Harper, Octavia e Raven. Os únicos faltando era Clarke, Bellamy e Benjamin. Mas isso não demorou para mudar.
Chamando Clarke pelo rádio, ela chegou sem Bellamy e Benjamin. Esperava muito que eles tivessem longe daqui, mas minhas esperanças foram banidas quando Emerson ameaça Octavia para que Bellamy aparecesse.
Eu não sei o que ele acha que aconteceu com Benjamin, mas ele não o procura quando fecha a Câmera com todos nós dentro.
Bellamy me encara ao lado da irmã com seus olhos aterrorizados.
Com a cabeça de Clarke presa ao seu braço, Emerson aperta os botões que faz os autofalantes decretarem:
Câmera Cinco.
Expulsão de Oxigênio.
Luzes vermelhas são acesas e o ar é puxado da gente. Com os pulsos agarrados na algema colada a parede, paro de tentar lutar contra o agarre delas para arfar sem ar. Octavia amolece ao meu lado e eu tento ganhar mais tempo para pensar em um plano.
— Rayna — a voz urgente de Bellamy faz com que meus olhos, fechados sem controle, se abram. — Não feche os olhos. Fique comigo.
Ele dizia isso sem forças, sem ar, seus olhos mal parando abertos. Tentei pedir para ele não dizer nada, para que ele reservasse o seu ar, mas minha boca estava sendo presa por aquele pano que só me fazia debater mais agressivamente pela falta de ar.
Eu tento. Tento muito. Mas minha mente começa a se apagar e não consigo mais lutar. A voz de Bellamy fica mais baixa e sei que ele desmaiou quando sua cabeça pende para baixo. Eu quero me debater mais, quero implorar para que o tire daqui.
Algo dentro de mim se desespera com a morte dele, mas saber que eu não ficarei para sofrer por isso, acalma o meu coração. Então, olhando pela última vez para ele, confesso para mim mesma os meus sentimentos. E... desmaio.
Mas eu acordo.
Não sei quanto tempo depois, meus olhos lacrimejam e é instintivo procurar pelo ar que eu acho. Minhas mãos são soltas e meu corpo cai por cima de alguém que me acode, que segura-me em pé, tirando os fios rebeldes do meu rosto e suspirando de alivio por eu estar viva.
Era Benjamin.
Ele estava cheio de sangue. Sua mão agarrando a minha cintura me manchava. Tentando entender o que aconteceu, me desfaço do seu toque, mas não procuro a cena horrorosa de Emerson caído, sangrando.
Meus olhos buscam Bellamy que já estava acordado, olhando-me.
Eu vou até ele para desfazer de suas algemas e depois, ajudo os outros. Nate e eu trocamos sorrisos quando ele me sussurra obrigada e eu vou até Clarke, que encarava o corpo de Emerson em pé.
Ele tinha uma das minhas facas — que eu deixei no chão antes de entrar — em seu peito, outra em sua garganta. Não precisei de muito para relacionar o corpo até Benjamin que tinha um sangue que não era dele, ajudando Harper e os outros a saírem da Câmera.
Quando todos nos recuperamos e saímos de dentro da Arca para fazer uma fogueira e queimar o corpo de Sinclair, o qual morreu pelas mãos de Emerson, Bellamy vai atrás do corpo embalado de Lincoln em um pano.
Octavia chora em cima do corpo do amor da vida dela e não consigo me fazer de forte quando faço o que Bellamy fica com medo de fazer; tocar em seu ombro.
Octavia olha para cima, chorando, olhos pequenos. E ela se levanta para me abraçar. Eu a enjaulo em meus braços e a aperto quanto tanto ela precisa ser apertada naquele momento. Seu rosto em meu ombro é firme e suas lágrimas tocam a minha pele.
Quando abro meus olhos, Bellamy está nos encarando e acho que ele agradece pelo o que eu fiz. Queria, tanto quanto ele, que fosse ele consolando sua irmã, mas sei que ela não aceitaria. Que ela não estava pronta para esse passo ainda.
Colocamos os dois corpos em cima das vigas de madeira e acendemos o fogo. Recitamos o mantra de cada um. "Até o nosso reencontro" para Sinclair e... "Yu gonplei ste odon" para Lincoln.
Lembrei de todos os momentos juntos, dele me treinando e me ajudando com coisas que não tinha nada haver com ele. Lamento a morte dele.
Sinto a morte dele.
Sinto mais por Octavia que anuncia a hora de partir e vai pegar o mapa para irmos até Luna.
Bellamy me chama para uma conversa enquanto os outros resolvem quem irá com a gente ou não.
— Aconteceu algo?
— Não. Quer dizer, sim — confuso, ele balança a cabeça e eu estreito meus olhos para ele. — Queria conversar com você sobre o que aconteceu.
Retirei o suor de cima dos meus lábios e acenei, retirando a atenção dele para dar aos outros que conversavam atrás do Rover. Benjamin, que pegou meu olhar no meio do caminho, sorriu e piscou, antes de ajudar Octavia a subir no carro.
— E o que aconteceu?
— Com a Raven. O que ela disse — meus lábios entreabriam em choque e meus braços caíram com o peso.
— Não precisamos — neguei, com medo. — Sei que ela estava sob influência da Alie e entendo que...
— Não, você não está entendendo — reafirma, com mais convicção. Ele gagueja, mas reergue a sua postura ao olhar em volta e dar um passo em minha direção para poder falar mais baixo. — Depois de tudo... Octavia perdeu Lincoln. Clarke perdeu Lexa. Jasper perdeu Maya e eu não quero...
— Não faça isso — interrompi ele de imediato, dando um passo para trás e erguendo uma mão em riste. — Não fale isso. Não tem o porquê.
— Tem, tem sim — ele me rebateu, decidido. Eu neguei com a cabeça e desviei meus olhos dos dele. — Por que não quer que eu fale?
— Porque não vai mudar nada!
— Você não sabe.
— Eu sei — repito, querendo que isso encerre. — Temos trabalho à fazer. Conversamos depois, sim?
Avanço afim de passar por ele e de princípio, acho que ele vai permitir, mas no último segundo, ele agarra o meu antebraço e me olha de lado.
— É por ele?
— Bellamy...
— So estou pedindo um motivo para eu não falar o que eu quero falar nesse momento, Rayna — disse, mas ele já sabia. — Por favor.
— Eu beijei Benjamin — seus olhos caíram do meu e... meu peito não gostou de confessar aquilo para ele. — Quero ficar com ele. É mais...
— Eu sei — sussurra, como eu pensava, sabendo exatamente do que eu estava falando. Bellamy me solta. — Então... seja feliz.
— Blake...
Ele se afasta sem esperar algum consolo. Selo meus olhos em pesar, mas logo mãos circulam a minha cintura e me abraça.
Benjamin aparece em minha frente com um sorriso enorme, mas sei o que ele esconde por baixo daquelas mãos recém lavadas. Ele matou o último homem da montanha por uma amiga minha. Por todos nós.
— Pronta para ser a maior Comandante que esse Planeta Terra viu?
E eu ri.
Porque tudo era mais fácil com ele.
(...)
O tempo fechou assim que amanheceu.
Depois que entramos pelas estradas que tinha por dentro das florestas, seguindo o mapa sem coordenadas no caderno de desenho de Lincoln, ficamos um pouco perdidos. Minha língua coçou para culpar o motorista, mas o clima já não estava muito bom entre Bellamy e eu.
Então decidi que seria bom se eu engolisse os velhos hábitos.
Depois que saímos do Rover, seguindo Octavia, encontramos uma praia. Era linda, apesar que o tempo fechado não ajudava a conservar os detalhes. Meu primeiro pensamento foi em Aspen e meu peito pesou quando bati contra a realidade de ele ser um dos soldados cegos de Alie.
Eu só podia esperar, com todas as minhas forças, que não fosse verdade.
Mas além de uma pequena elevação perto das águas com algumas pedras montadas uma em cima das outras, não tinha mais nada para encontrar aqui. Octavia colocou as habilidades que aprendeu com Pike na semana de aula sobre a Terra ao começar acender o fogo.
— Você prestou atenção — debochei, parando ao lado dela que estava inclinada sobre aquele pedaço de madeira e pedra.
— Você não?
— Sinceramente? Parei de ouvir quando falou sobre a Terra — ela zombou com um sorriso meia boca. — Você culpa? Eu não sabia que seríamos jogadas pra cá.
Ela interrompe nosso diálogo quando consegue acender e coloca embaixo das madeiras amontoadas que ajudamos a montar. O fogo, com ajuda do oxigênio do sopro, acende e queima a madeira.
O momento leve é cortado por Bellamy tentando uma interação com a irmã que o corta secamente dizendo que nem consegue encará-lo nos olhos. Me sinto mal por ele, principalmente quando ele sai para andar pela praia bem quando descobrimos que aquelas folhas ao nosso redor enviava um sinal depois que queimava na fogueira e subia uma fumaça verde.
Quando a noite chega e precisamos comer os peixes que Benjamin ajudou Clarke a pegar, decido chamar Bellamy na praia.
Minha vontade é de retirar os sapatos e sentir a areia gelada, mas não posso abaixar minha guarda, estamos em solo desconhecido.
— Não preciso que faça as pazes por nós dois — ele diz antes mesmo que eu pare ao seu lado. — Rayna kom Skaikru, a Comandante e a nova pacificadora.
— Você está magoado, eu entendo. Mas não caia sobre mim.
O silêncio que ele permite ultrapassar por nós dois deixa com que ouçamos as ondas baterem nas pedras, quebrando completamente o mar e a ação.
— Não preciso da sua ajuda, então pode voltar para o seu namorado — tentou, mais uma vez, me fazer ir embora. — Ele deve estar te esperando com beijos e abraços. Algo que não é fácil conseguir comigo, certo, Rayna? Por isso que foi tentar com ele? — Ele termina de virando para mim.
— Você é um idiota, Bellamy Blake — não me deixo afetar por palavras ditas na hora da emoção. — Eu disse que iria acabar perdendo-a. Você não me deu ouvidos. De novo.
Seus olhos deslizam para mim que coloco ombro contra ombro e admiro a vista de frente. Depois, ainda com os braços cruzados, mas mais relaxado, ele me chama:
— Rayna. Eu já a perdi.
Respiro fundo e volto a me colocar de lado para encará-lo nos olhos.
— Ela precisa de tempo — ele nega antes mesmo que eu termine, seus olhos lacrimejando e me machucando no processo. — Você é o irmão dela. Ela vai te perdoar.
— Não por isso.
— Você não matou o Lincoln, Bellamy. Pike o matou e ele vai pagar por isso e Octavia vai perdoá-lo — a primeira lágrima escorre de seus olhos e o simples fato dele não tentar esconder de mim, enche meu peito de satisfação. — Você precisa se perdoar.
— Você me perdoou?
— Perdoei — seus olhos não escondem a sua surpresa ao me encarar. — Perdoei você há muito tempo, só... não quis admitir antes.
Ele prensou os lábios e tentou ser forte, mas seus olhos continuaram a encher-se de lágrimas e eu não consegui ser forte o suficiente para ficar de braços cruzados.
Então eu abracei Bellamy Blake e quando seus braços rodearam a minha cintura e seu queixo tocou em meu ombro, senti-me completa, meu estômago se revirando pelos mínimos dos seus toques, deixando-me aflorada.
Mas eu expulsei isso por agora e deixei meus dedos acariciarem seus cabelos da nuca. Ele afastou o rosto do meu ombro, mas não tirou suas mãos da minha cintura, deixando-me na dúvida do que ele ia fazer caso aqueles homens não tivessem saído da água e nos prendido com cordas e amordaçado nossas bocas.
Fomos levados até os outros. Nossos saqueadores esticaram armas na direção dos outros que se desarmaram com o comando. Octavia começa a falar com eles.
— Skaikrus — o que parece o líder aqui reconhece —, portadores da morte. Por que deveríamos deixá-los passar?
— Lincoln — respondeu Octavia, mudando tudo o que eles estavam pensando sobre a gente. — Ele mandou a gente.
Fomos soltos e apresentados a um frasco com um líquido verde. Essa era a nossa entrada para conhecer Luna. Octavia bebeu em um piscar de olhos e Jasper seguiu seu caminho. Os dois caíram desmaiados.
— Rayna, não!
Mas eu já havia bebido e braços firmes me pegaram antes de que eu pudesse cair sem filtros no chão.
Por sorte, eu acordei junto aos outros, desarmada, presa em um contêiner que foi aberto um tempo depois, deixando surgir a imagem da mulher que procurávamos.
Luna.
Ela perguntou sobre Lincoln e não pareceu feliz com a notícia de sua morte. Quando Octavia lança seus olhos azuis em mim, sei que é a minha deixa.
— Sou Rayna kom Skaikru, portadora do Sangue Escuro e agora, da Chama — Luna, uma mulher branca de cabelos vermelhos e bem cheios, me encarou com espanto. — Preciso da sua ajuda para ligá-la a mim.
— Lexa está morta?
— O espiríto dela escolheu Rayna — disse Clarke, entrando na conversa. — Mas não sabemos como...
— Fazê-la funcionar — completou a frase mal feita. Seus olhos me queimaram de cima a baixo, quase como se estivesse me julgando por algo que eu fiz. — A Chama está dentro de você? — Acenei em concordância e ela pareceu lamentar antes de decretar: — Não posso ajudar.
E ela simplesmente saiu.
Seguimos ela, mas ficamos impressionados com o que tinha ao nosso redor. Todo o maldito mar. Estavámos no farol que havia sido reformado para ter lugar para contêiners e... casa. No meio do mar.
(...)
Jasper estava sorrindo. Ele estava mesmo sorrindo. Admirei aquela ação que não via a muito tempo enquanto Clarke e Bellamy discutiam sobre o novo plano. Luna trouxe-nos para dentro de sua casa, mas não estava disposta a ajudar. Isso complicava as coisas.
Não tínhamos chances sem aquela Chama que, porra, não se ligava por nada em minha nuca.
— Precisa falar com Luna — declarou Clarke, tirando minha atenção de Jasper que falava com uma garota que estava contando uma história antes. — Precisa convencê-la a nos ajudar.
— Claro, podemos tentar toda aquela apresentação de novo — dei a ideia na base do sarcasmo. — "Sou Rayna kom Skaikru, port...-"
— Já entendemos — Clarke urrou e minha graça se extinguiu quando lembrei que não era engraçado. — Então teremos que obrigá-la.
— Plano melhor ainda! Estamos sem armas aqui, Clarke — inclinei-me, para sussurrar. — Não podemos ameaçá-los.
— E mesmo se tivessémos — Octavia corta com grosseria. — Só... tente falar com ela, ok? Nossos motivos.
Soltei um bufo cansado, sabendo que aquilo não daria resposta alguma, mas aceitando, porque precisávamos tentar.
— Boa sorte — sussurrou Benjamin com um sorriso curto em minha direção.
Eu retribui antes de me levantar e perguntar por Luna. Fui direcionada para fora daquele lugar, uma região com grades, por um dos guardas da mulher que estava brincando com crianças antes da minha chegada.
Seu sorriso era limpo... sem dor.
Senti um pouco de inveja, mas foi bom pois me lembrou que eu estava fazendo aquilo por pessoas que dependiam de mim. Meus amigos... Minha família.
— Por que fugiu do Conclave, Luna? — Fui direta quando percebi que mesmo de costas, ela percebeu a minha presença. — Não foi por medo de perder.
— Como pode saber disso? — Ela virou-se para mim e me senti falando de igual para igual. — Nem me conhece.
— Sou boa em ler as pessoas. Escuta... Eu preciso mesmo da sua ajuda.
— Você não quer a minha ajuda para isso — concluiu ela, sozinha. — Pode acreditar.
— Deixe-me decidir sozinha.
Seus olhos chegaram até os meus, trazendo uma figura intensa até os meus pensamentos. Eu não sabia qual era a dela, mas isso não importava verdadeiramente. Ela não pode negar de me ajudar apenas por medo de algo do seu passado. Não quando há vidas em jogo.
— Tem razão — ela disse, de repente. — Não fugi do meu Conclave por medo de perder. Forçaram-me a batalhar contra meu próprio irmão e fugi antes que batalhesse contra Lexa. Quer saber a resposta para a Chama, Rayna? Dor.
Como se isso fosse me responder algo. Sentir dor? O que eu deveria fazer? Me cortar?
Bom, ela definitivamente não ia me contar quando nos direcinou ao contêiner, nosso meio de transporte para não sabermos como voltar.
— Por favor, Luna — implorei, sabendo o que aconteceria com todos se voltássemos de mãos vazias.
Ela negou e deu um passo para trás e, na mesma hora, seus guardas atacaram meus amigos para colocá-los no contêiner e me arrastaram depois que recebi um soco no estômago. Luna, ao meu lado, tinha desmaiado com o ataque em sua cabeça.
Tentei gritar, mas eu não soube muito o que fazer quando senti meus braços sendo puxados junto aos meus fios de cabelo.
Fomos colocadas em um armázem onde um homem e Jasper estavam sendo presos por uma corda. Prenderam Luna do mesmo jeito e depois prenderem meus pulsos, me jogaram para deitar em uma mesa baixinha de ferro.
Colocaram um pano em meu rosto e jogaram água para me afogar. Fora de mim, Jasper estava apanhando junto do homem desconhecido e da Luna, para receberem o chip.
— Onde está a IA? — Perguntou o homem que estava me torturando, enquanto o outro me segurava.
Esbugalhei meus olhos ao reconhecer do que se tratava aquele ataque. Alie estava aqui.
Fiquei em silêncio, negando-me a dar o que eles queriam. Mas dentro da minha mente, eu sabia que Luna não podia engolir aquele chip. Ou Jasper. Isso faria com que Alie soubesse que aquela pedra na caixa de Clarke é falsa e na verdade, está dentro do meu pescoço.
Debati-me, mas era em vão. Eles tentaram aquilo por um tempo, tempo o suficiente para eu cansar de segurar a respiração e começar a me afogar.
Eles param, eu suspiro de alívio e puxo o ar para os meus pulmões. Mas, sem deixar-me pensar, agarram o meu cabelo, machucando o meu couro cabeludo, empurraram a minha cabeça no balde cheio de água.
Quando eles me puxaram de volta, todo aquele cabelo foi grudado no meu rosto e perguntaram-me mais uma vez:
— Onde está a IA?
Rodei meus olhos em busca de Alie, eu queria tanto vê-la nesse momento. Eu não podia vê-la, mas sabia que ela estava monitorando todos os meus passos nesse momento.
Bom.
Muito bom.
Eu espero que ela tenha olhado de pertinho quando eu peguei a faca do guarda que estava segurando-me e rasguei a sua garganta, respingando sangue no meu rosto antes dele cair em um baque no chão.
Em um ataque só, passei a lâmina afiada pela corda que segurava o pulso de Luna e atacamos juntas. Ela, o guarda que segurava uma garotinha e eu o guarda que estava prestes a correr em nossa direção. Mas eu não o matei.
Apenas acertei aquela faca em seu peito, um lugar específico que o fizesse ficar vivo até quando eu escolhesse tirar a faca.
Inclinei sua cabeça para cima e ajoelhada ao lado do seu corpo que se contorcia de dor, passei meus olhos pela sala.
— Está me vendo agora, Alie? — Eu não precisava de uma confirmação para aquilo. Assim que voltei meus olhos para os do homem embaixo de mim, sabia que não era mais ele me olhando. — Isso não é nem a metade do que acontecerá quando eu chegar até você. Está ouvindo, Alie? Eu estou indo atrás de você.
E acabei com a dor dele, reivindicando a faca para mim. Quando coloquei-me de pé, o cabelo enxarcado e jogado completamente no meu rosto ensanguentado, reconheci Luna chorando sobre um corpo. O corpo de homem que ela amava e teve que matar.
Meus amigos entraram na sala naquele momento.
— Rayna!
Meus olhos subiram para Benjamin que cortou a frente de Bellamy e correu para me abraçar. Lancei meus braços ao redor do seu pescoço, mas meus olhos estavam abertos e em Bellamy, há dois metros de distância, me olhando.
Sei que ele desejava estar em meus braços naquele momento porque, agora que estive prestes a morrer ou perder a minha consciência para uma Inteligência Artificial com o rosto da minha trisavó, só queria os braços dele também.
Mas em vez disso, apertei o corpo de Benjamin, desejando que ele fosse alguém que ele não era.
Quando aquilo passou, as pessoas que sobraram do grupo de Luna se reuniram para prestar lamentações aos que morreram. Ficamos afastados, sentindo a culpa daquilo.
Luna veio em nossa direção e era duro, mas com as mortes, senti muita esperança de obter a sua ajuda. Ela ofereceu bebidas para a gente. Todos pegaram, eu não. Tinha cansado de beber tanta água.
— Luna, espere — peço, sentindo-me mal por usar aquele momento. Mas não tínhamos tempo. — Sentimos muito. Mas agora entende quem precisamos enfrentar. Ela não vai parar até ter todos. Até ter à mim. Por favor, me ajude a defender a minha família.
Ela não me respondeu. Em substituição, virou-se para o seu povo.
— Enquanto nos preparamos para entregar nossos irmãos e irmã ao mar, honramos suas vidas — ouve um coro de cabeças acenando em concordância. Ela ergueu o copo, todos repetiram. Fala, em sua língua nativa: — Nós nascemos da água, à água voltaremos.
Repetiram o mantra e beberam. Todos. Mas foram só meus amigos que caíram desmaiados.
— Quer saber como ligar a Chama, Rayna kom Skaikru? — Luna me perguntou, alheia ao meu olhar desesperado para meus amigos desacordados. — Pois bem — ela se aproximou e no meu ouvido, sussurrou:
"CAPUT, CORPUS ET COR. PRAETEREO ATQUE REQUIRO, SIC FLAMMA TUA EST."
Eu não era especialista na língua dos terrestres. Titus me ensinou o suficiente para que o resto, eu aprendesse sozinha, mas aquilo fora fácil de traduzir para a minha mente.
Mas eu não gostei nenhum um pouco. Não podia ser isso.
Luna estendeu o frasco que eu bebi para vir para cá. Eu sabia que aquilo era a nossa saída e quando bebi, perdi a consciência e depois acordei, com todos os outros na mesma praia de que saímos, sabia que eu estava insanamente ferrada.
— E agora? — Perguntou Bellamy, fazendo todos virarem a cabeça para mim.
Continuei olhando para o horizonte, certa do que eu tinha que fazer.
— Está na hora de acertar às contas que Becca Franko deixou para mim.
Só que seria do meu jeito.
Eu espero que estejam gostando.
Me desculpem por qualquer erro.
Não se esqueçam de interagir!!!
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