024 | Finish line
024 | Linha de chegada
BELLAMY BLAKE
O que foi que eu fiz?
Trazido como refém pela minha própria irmã, começo a questionar tudo o que eu não pensava duas vezes em fazer antes. Eu estava errado. Tudo estava errado.
Pike ia levar Kane, Lincoln e Sinclair para a execução, como eu pude demorar todo esse tempo para entender a monstruosidade que eu estava fazendo? Ia deixar Kane morrer, ia deixar Lincoln morrer, tudo isso por ideais pregadas a mim.
Me avisaram. Todos os malditos me avisaram. Rayna me avisou. Eu estava tão cego pela culpa daqueles que morrerão em Monte Weather, por Gina, que me deixei ser guiado para um caminho sem volta.
— Você está morto para mim! — Gritou Octavia, minha irmã, seus olhos vermelhos de tanto chorar, alma partida.
Ela estava certa. Todos aqueles socos... eu merecia muito mais. Por cada vida tirada daqueles terrestres que acamparam para nos proteger. Pelas prisões, pela vila, por tudo o que eu fiz ao lado de Pike.
Não retiro minha culpa do cartório. Sou tão culpado quanto ele, talvez mais. Estava tão consumido pela dor que a escondi bem fundo enquanto procurava ascender aquela chama de vingança contra os terrestres.
Mas o que isso fez por mim, além de tornar-me um monstro?
Lincoln estava morto. Minha irmã havia perdido o amor da vida dela por minha causa, porque eu fui fraco demais para lidar com os meus problemas. Eu estava perdido sim, mas tinha passado da hora de me encontrar. Eu estava atrasado.
Na linha de chegada, ninguém me esperava.
Só havia eu e as consequências do que eu fiz. Kane me encarava como o inimigo, me tratava feito um. Como eu poderia culpá-lo? Eu o prendi. Eu olhei nos seus olhos e o trai.
Matei Monroe. Ela confiou em mim. A partir do momento que se colocou em minha frente para me impedir e eu disse-lhe que sabia o que estava fazendo, que estava fazendo aquilo para nos proteger, ela confiou e saiu da minha frente.
Agora ela está morta.
Rayna estava certa esse tempo todo. Seguir Pike não era o caminho que eu deveria escolher. Ela fez certo em não sair do meu caminho naquela noite. Fez certo em apontar uma arma para mim.
A única coisa que ela errou foi em não meter um tiro na minha cara. Mas eu acho que ela sabia disso. Escondido em uma caverna, todos do grupo que apoiavam Kane estavam aqui. Eu estava separado, acorrentado, minhas costas naquela parede de caverna dura.
Eu os encarava afastado, pesado, não me sentindo mais como um deles. Eu estava molhado de gasolina e saberia o que iria acontecer caso eu se aproximasse daquela fogueira.
Meus pecados queimariam comigo. Talvez eles rissem. Eles deveriam ficar felizes.
Meus olhos teimosos, comandados por algo maior do que a consciência, procurou aquele rosto pela multidão mais uma vez. Eu sabia que ela não estava aqui. Assim como sabia que ela tinha fugido de Arkadia quando Benjamin Wallace veio me procurar para saber sobre ela. Depois, Aspen.
Rayna tinha sumido, mas pelos ombros mais relaxados de Kane, eu sabia que não foi nada fora do controle. Me amaldiçoei por sentir alívio por ela não estar naquele momento ali.
Pensei que eu não a queria por perto para me enxergar com aqueles olhos. Os olhos mais expressivos que eu vi na minha vida. Tudo gritava o que os meus queriam me falar. Mas não.
Eu não a queria lá porque sabia o que Pike podia fazer com ela, para enviar uma mensagem para Kane, que não parava de desafiar a sua autoridade. Ainda assim, continuei apoiando-o. O quão fodido da cabeça eu sou?
Apertei meus dedos em meus fios de cabelos, sentindo a ardência do meu rosto. Do que Octavia fez comigo mais cedo. Ela proporcionou a dor física que eu tanto precisava. Quando eu me virava para Kane ou Nate e pedia para que eles deixassem ela fazer o que tinha que fazer, eu já não sabia se estava fazendo aquilo para que ela descontasse a sua raiva ou tirasse a minha dor.
Mas não adiantou. Octavia me acertou no rosto repetidas vezes e aqui ainda estou eu, consumido por novas culpas, novas dores.
Torci meu maxilar quando senti uma presença se acomodar na parede da caverna em minha frente. Eu não precisava ser o mais esperto ou o mais observador para saber quem era. E, sinceramente, depois do que aconteceu, não estou nenhum pouco a fim dele aqui.
— Você vacilou — sua voz indesejada chegou aos meus ouvidos, antes mesmo que meus olhos chegassem nele. — Perdeu sua irmã para sempre, cara. Perdeu a confiança dos seus amigos.
— Está tentando uma nova sessão de tortura? — Ironizei, erguendo minha cabeça, o olhando com ironia.
— Ah, não. Mas Octavia quebrou seu nariz — ele rodou o dedo indicador para indicar todo o meu rosto —, não deixou nenhum espaço para mim depois que você quebrou o meu.
— Você mereceu.
— Tá de sacanagem comigo, Bellamy? — Revirei os olhos, focando em outra coisa. — O quão ferrado da cabeça está ficando, cara?
Aquela frase na boca de qualquer um, carregaria sarcasmo e zombaria. Mas Benjamin parecia mesmo preocupado. Não como um amigo próximo, pois eu acreditava no seu desejo de quebrar o meu nariz depois que eu quebrei o seu há pouco.
Era mais uma pergunta pra si mesmo.
Sua camisa ainda está manchada pelo o seu sangue que parecia um pouco mais escuro que o normal. Fiquei encarando o molde que meus dedos deixaram em seu rosto.
Ele estava falando com Aspen hoje mais cedo. Eu não conseguia entender muito bem sobre o que era até que Benjamin explicou para Aspen e, consequentemente, para mim.
Merdas tinham acontecido.
Eu estava no meu limite e descobrir que Rayna foi aprisionada no seu tempo em Monte Weather porque ela era a maldita cura do seu problema, foi demais para mim.
Benjamin me fez reviver aquelas memórias de três meses atrás. Quando eu vi, por câmeras de segurança, Rayna sendo cortada e machucada, humilhada. E o pior, não podíamos fazer nada.
Descobrir que Benjamin era o motivo de todo o desconforto que Rayna passou naquele tempo, naquele quarto que ela deve ter ficado... mexeu de verdade com a minha cabeça.
"Ela me curou. Não foi porque ela quis e acredite, eu não me orgulho do sangue dela em meu organismo. Mas Rayna me salvou." Eu nunca havia trocado duas palavras com ele. Mas depois que eu ouvi essas exatas palavras saindo de sua boca, eu apenas... perdi a cabeça e quebrei seu nariz com um soco.
Eu me arrependo agora por ter agido tão impulsivamente. O soco não foi merecido. Mas pensar que o DNA de Rayna corre por suas veias por meio de uma tortura, me faz pensar que ele devia ter morrido com os outros.
Porque... quem melhor que ele para lembrar toda a desgraça que Rayna teve que passar em Monte Weather? E eu não queria lembrá-la daquilo.
A afastei por isso. Sabia que não éramos bons juntos, antes mesmo de descobrir se ela estava dentro daquela montanha ou não. Éramos destrutivos, impulsivos. Nosso ódio se completava e nunca sairia algo de bom daquilo. Eu sei. Ela sabe.
Todos que piscam em nossa direção, consegue ver.
Esse pensamento simplesmente foi embora quando eu a vi naquele quarto, carregada de sangue, de ódio transferido para Cage ou o corpo dele.
Mas então ela quase levou um tiro, Benjamin a protegeu e eu nunca quis agradecê-lo tanto. Ao decorrer da minha vista, vi e senti o desespero dela ao perceber o mesmo que eu. Com uma mão tentando parar o sangramento, o corpo caído no chão por ter tentado segura-lo, Rayna chorava.
Ela saiu gritando por Abby. Para que ela salvasse Benjamin. Para que ela, por todos os Deuses, salvasse aquele garoto.
O desespero dela virou o meu quando Abby declarou que não tinha muita coisa para fazer, que o sangue de Benjamin estava diminuindo muito rápido. O meu desespero veio quando Rayna, sem pensar duas vezes, acabada, sem comer, beber ou até mesmo sangue nas veias, se sentenciou para doar sangue.
Ela não podia. Ela estava fraca demais. Tentei falar isso com ela, mas sua cabeça estava tão longe que eu duvido que ela tenha me escutado, que ela sequer se lembre desse episódio de desespero.
Sem alternativas, a transfusão de sangue aconteceu. Rayna, quase morrendo, deu quase todo o seu sangue para Benjamin. Ela teve que voltar para Arkadia carregada por Kane.
Acordou apenas 3 malditos dias depois. Na verdade, a primeira vez que ela acordou foi na noite do segundo dia. Sei disso porque estive lá com ela. Ela me viu, apertou a minha mão e sorriu.
Voltou a cair no sono, carregando aquela memória para o esquecimento. Mas eu jamais esqueceria os seus olhos apagados, o seu sorriso sem cor, suas mãos geladas.
Noutro dia, ela definitivamente acordou e pulou para ver Benjamin. Ele estava em coma. Ela se sentia tão culpada que mal parava ao decorrer dos dias.
Rayna não parava quieta um só minuto. Quando não ajudava as crianças, ajudava os mais velhos. Quando não treinava com Lincoln, treinava sozinha. Quando não carregava baldes de água, ajudava na cozinha. Quando não estava com nenhum dos seus amigos, estava com Benjamin.
Então... me aproximei para conversar depois de uma semana nessa mesma rotina. Não deveria ser uma discussão, eu só queria aconselha-la, ver se estava bem, se queria alguma ajuda, dizer que eu estaria ali. Mas nada é simples quando se trata da gente.
Ou seja, o meu: "Oi, tudo bem?" virou um seco e maldito: "Você é inacreditável, Rayna. Acha que está agradando a quem sendo tão produtiva assim?"
Ela... cuspiu na minha cara e disse que se fosse para que eu continuasse o mesmo idiota, se afastasse dela. Aquilo me deixou pensando, me amaldiçoando.
Eu não queria ser o mesmo idiota para ela. Eu queria que ela confiasse em mim, que se aproximasse de mim em um momento que precisasse e desabafasse sobre tudo que quisesse. Que soubesse que eu poderia ser um amigo para ela. Que eu poderia ser o que ela quisesse, o que ela precisasse.
Estava pronto para adequar a nossa trégua, para começar uma coisa que os dois poderiam gostar, que poderiam tirar aproveito.
Cheguei à porta do seu quarto, pronto para bater, mãos soando, coração a mil, me sentindo um idiota por estar tão nervoso. Mas a porta estava entreaberta e apesar de não ter visto nada, o ouvir foi o suficiente para mim naquele momento.
"— É o Bellamy, como sempre. Falamos pela primeira vez hoje. Achei que... — a voz dela foi abaixando e não dava para se espremer mais na porta. — Por que tem que ser tão difícil com ele?"
E foi quando compreendi. Ela estava certo. Eu estava certo desde o início. Não funcionávamos juntos. Éramos dois lados de uma mesma moeda. Não queria ser a dor de cabeça dela, queria ser a cura, mas finalmente entendi que não importa o quanto tentemos, sempre levaremos para o outro lado, para brigas, intrigas.
É desgastante, os dois saem mal. Nenhum dos dois gostam disso, mas eu entendo ela, é mais forte do que a gente. É como se existisse dois Bellamy e duas Rayna. Quando os dois se encontraram, a pior versão aparece.
Decidi dar um ponto final, seguir com o meu plano de se afastar. Naquela noite, no bar enquanto bebia, conheci Gina Martin. Ela era linda, boa e gentil. Ria fácil, sincera, sem jogos. Não percebi o quão bom era estar do lado dela até que ela morreu.
Era mais... fácil. Era bom.
Rayna merecia algo mais fácil. Então, eu me afastei e ela nunca se aproximou. Ficou assim pelos meses que se passaram. Trocando palavras superficiais quando precisávamos.
Mas ela ainda mexia com a minha cabeça. Por exemplo, quando fomos revistar o Setor 7 e aquele Azgeda insinuou que Rayna seria uma das suas... Deus, eu nem vou repetir isso. Acabei deformando a cara do sujeito. E então, quando eu menos achava que não, lá estava eu, por ela.
— Se o fizermos, os terra-firmes vão suspender o bloqueio — disse Harper, sobre entregar Pike.
— Isso mesmo — concordou Kane. — Nós nos tornaremos o 13º clã de novo. Esses eram os termos.
— Os termos de Lexa — acionou Sinclair, pensativo. — Se Bellamy disse a verdade e ela está morta, será que o próximo Comandante os honrará?
— Um problema de cada vez.
— E quanto a Clarke e Rayna? — Miller quis saber, chamando a minha atenção. Eu sabia que Clarke estava em Polis, com Lexa, mas Rayna... claro. — Sem Lexa, as duas não estarão seguras em Polis.
— Clarke e Rayna fizeram suas escolhas — Octavia diz entredentes, sabendo muito mais do que nos conta. — A única coisa que importa agora é matar Pike.
Logo, Monty entrou em contato com o meu rádio que estava agora servindo para Kane. Ficaram desconfiados se podia ser uma armadilha, mas no final, eles fizeram um plano. Minha irmã fez o plano.
Me levar como refém, só caso precisasse trocar com Monty. Eu sabia que não era uma armadilha para eles, eu lhes disse, em base ao Canal 7 que Monty usou, era o nosso código para problemas.
O encontro ia acontecer na nave onde tudo começou.
Fui escoltado por Octavia, com sua espada no meu pescoço. Quando chegamos, apenas Kane, Oc e eu, descobrimos que Pike e seus homens seguiram Monty e agora era uma troca de armas. Kane estava na desvantagem e Pike estava prestes a enviar o comando de que atirassem em Octavia atrás de mim.
Eu não podia deixar. Então desarmei ela logo depois que Kane abandonou a sua arma no chão. Pike pediu a prova de que eu ainda estava com ele.
Disse sobre a caverna que eles estavam ficando, ignorei os olhos raivosos de Octavia e a decepção de Kane enquanto eu os direcionava pelo caminho. Mas o meu plano nunca foi entregá-los.
Quando chegamos a fronteira do que eu sabia que era onde os terrestres estavam, apontei a minha arma para Pike.
— Largue a arma! — Repeti, certo do que eu estava fazendo com Pike em minha mira. Octavia, ainda com as mãos presas, desarmou dois de uma vez. — Trouxemos o chanceler Pike do povo do céu. Oc, traduza.
Ela retira o pano da sua boca e começa a traduzir o que eu falei.
— Você nos matou — acusa Pike, achando que ainda estava no controle.
— Levem-no — continuei, irredutível. — Suspendam o bloqueio.
Flechas atingiram os peitos dos outros homens de Pike e dezenas de terrestres aterrissaram no chão, parando acima de nós, prontos para atacar.
Pike tenta avançar em mim, pronto para que eu atirasse nele e acabasse com a sua vida, mas uma flecha atravessa o seu ombro e o terrestre o acerta no rosto com o cabo de sua espada. Então, o carregam.
Pelo o que Kane perguntou e eles responderam, iriam levar Pike ao novo Comandante. Kane se habilitou a ir junto e mostrou a marca que os dizia ser o 13º clã da colisão.
— Tem certeza? — Monty perguntou, lendo a minha mente. — Não sabemos nada sobre o novo Comandante.
— Tenho certeza, preciso achar minha filha. Agora vá pra casa. Diga ao nosso povo o que aconteceu aqui. Diga a Abby que vou cuidar de Clarke.
Deixei meus olhos caírem para o chão quando Monty se afastou, deixando Kane e eu sozinhos. Ele se aproximou mais, afim de me olhar nos olhos. Ele tinha os mesmos olhos que a filha.
— Você fez isso por sua irmã? Ou porque era a coisa certa a fazer?
— Não tem de quê.
Avancei para sair, mas ele agarrou o meu bíceps, fazendo-me voltar para encara-lo.
— Lealdade. Enquanto não entender isso, continuará perdido e não permitirei que se aproxime de minha filha.
Era uma decisão tomada. Ele saiu andando logo depois, para seguir os terrestres. Selei meus olhos, meus ombros pesando.
Ele estava fazendo uma referência a nossa última conversa em que a temática foi a sua filha, Rayna. Kane percebeu ou acha que percebeu a forma como eu a encarava, como eu a evitava, como eu me preocupava com ela. Veio conversar comigo.
Foi a conversa mais broxante que eu já tive na minha vida.
"— Vejo a forma como olha para minha filha, Bellamy" — com os olhos arregalados e a respiração ofegante por ter terminado de treinar e vir vê-lo, encarei ele. "— Acha que a merece?"
Eu nunca tive resposta para isso. Não uma que eu gostaria de proferir, ao menos. Mas, se antes eu não tinha a reprovação de Kane, agora eu com certeza tenho. Não que isso vale de algo, de qualquer forma. As coisas com Rayna nunca mudará.
Nunca seremos mais do que... seja lá o que somos.
(...)
Ela está aqui.
Jasper fez uma ligação rápida pelo walkie-talkie. Uma ligação confusa sobre a lavagem cerebral que Jaha, mais uma mulher — que não era uma mulher — chamada Alie, estavam fazendo nas pessoas após elas tomarem um chip que... as levam para a Cidade de Luz.
Nessa mesma ligação ele disse que tinha roubado um dos Rover e que estava a caminho. Eu só não pensei que ele estaria com Clarke e Rayna no seu banco do passageiro e uma Raven completamente desacordada. Não tivemos tempo de reconhecimento quando chegaram.
— Ela estava construindo alguma coisa — Jasper começa explicar depois que Sinclair pergunta o que Raven estava tentando fazer antes de... ser pega. — Precisava de um dos braceletes, mas Jaha destruiu todos.
— Espere aí — indaga Clarke e então ela pega uma caixinha, abre e recolhe algo. Parece uma pedra. — É parecido com isso?
Rayna se interessou pelo o que tinha nas mãos de Clarke, mas todos nós fomos interrompidos de fazer algo quando Raven acordou e começou a correr e gritar como uma louca.
Precisamos de todos para segura-lá e afastá-la da vista de fora. Pelo jeito, se ela soubesse, a tal de Alie também saberia.
Clarke revelou que sabia onde encontrar um bracelete e decididos a salvar nossa amiga, entramos no Rover e viajamos até o local. Raven ficou presa a viagem inteira, com os olhos tampados por um pano.
O destino era a mercearia da garota que havia nos ajudado há um tempo atrás, quando estávamos em busca de Wanheda, que também era Clarke e estava sendo caçada pelos da Nação do Gelo. Pergunto-me o que aconteceu depois que elas sumiram do acampamento. Algo sério.
E isso é tudo o que eu posso presumir ao encarar Rayna. Ela não dispersa sua atenção para mim em nenhum segundo dessa viagem, ou desde que chegou. Mal sei se ela entende que eu estou aqui. Parece muito longe e... completamente diferente.
Da última vez que eu a vi, usava calças jeans e jaquetas. Mas agora está armada dos pés a cabeça, uma roupa complexa demais para que eu consiga entender na escuridão desse carro. Cabelo totalmente preso pela trança de lado.
Era a primeira vez que eu via seu rosto sem nenhum fio me atrapalhando. Ele tinha algumas manchas de sujeira, mas lá estava os detalhes raros para qualquer um.
Não seria qualquer um que conseguiria observá-lo o suficiente para entender que ela só ria de verdade quando suas bochechas amassavam e seus olhos ficavam bem fechadinhos. Ou como o final de suas sobrancelhas ficavam arqueadas quando ela estava tentando entender algo.
E tinha seus olhos. Para mim, os mais expressivos. Sabia exatamente o que ela estava sentindo ao olhar nos seus olhos, mas soube recentemente que não era algo que qualquer um podia entender também.
Foi quando eu me assustei.
Eu tinha observado tanto ela que sabia exatamente suas expressões para cada emoção que ela podia vir a sentir. Podia ser estranho, mas... me sentia especial por conhecê-la, mesmo que ela não quisesse que eu o fizesse.
Queria saber o que mudou. Por que seus olhos não estão tão mais assustados quanto antes em um desses momentos. Por que ela encara todos nós pensativa e não melancolicamente.
Preciso saber porque ela não me deu um único olhar desde que chegou. Ela sequer me reconheceu ali? A suposta resposta me assustava.
Ao chegarmos, tivemos dificuldade com a moradora. Ela não queria nos ajudar pelo o que nosso povo fez com aqueles terrestres que foram mandados para nos proteger. Pelo o que eu fiz.
Mas não tínhamos tempo. Raven estava começando a acordar e não podíamos deixá-la reconhecer onde estava. Então eu peguei a minha arma e ameacei a vida da terrestre. Ela recuou.
Eles foram amarrar Raven na cama que tinha no quarto dos fundos. Fiquei com a função de continuar a ameaçar a terrestre, mas não demorou para que os primeiros sairem de lá. Clarke me dispensa da função, pelo jeito ela conhecia a garota.
— Achamos que Raven queria usar esta pulseira para gerar um pulso eletromagnético — afirmou Sinclair quando arrumamos uma mesa para que ele e Monty trabalhasse. — É brilhante. Um pulso eletromagnético dirigido poderia destruir o circuito eletrônico do chip.
Eles começaram a discutir o que poderiam fazer dentro da nossa realidade e, sinceramente, estaria mentindo se dissesse que entendi alguma coisa do que Sinclair estava falando com Monty.
— Independente disso, sem um eletroímã — continuou, depois que discutimos a possibilidade de fritar o cérebro de Raven —, isso é só conversa.
Diante a irrealidade de voltar para Arkadia para pegar um eletroímã na Arca, Monty deu a ideia de irem procurar na nave que fomos mandados para a Terra.
A missão ficou para ele e... minha irmã, que estava tentando desesperadamente ficar longe de mim.
Não demorou para que ouvíssemos os gritos de Jasper e Rayna dentro do quarto com Raven. Clarke e eu corremos até lá, apenas para ver um Jasper desesperado enquanto Rayna tentava segurar Raven que tinha deslocado horrivelmente o seu ombro e agora retirava os pontos do seu pulso enquanto tentava soltar sua mão com a boca.
— Ela vai se esvair em sangue. Preciso de ataduras — gritou Clarke quando se juntou a Rayna para segurar Raven. Me coloco na função, mas Clarke me descarta. — Não, você segura o pulso. Raven, pare de desistir.
Jasper começa a chamar por Alie através de Raven, afirmando saber que a mulher imaginária estava ouvindo. Ele tentou exorciza-la, mas não deu certo. Bom, foi o que eu presumi quando Raven indagou:
— Vou deixá-la em paz quando me der o que eu quero — ela vira o rosto para Clarke. — A tecnologia que Clarke possui pertence a mim.
— Ah, não mesmo — Rayna entra na conversa, empurrando Clarke para ficar cara a cara com a Raven. Encarei aquilo surpreso e... porra. — Você sabe quem eu sou. Eu sei quem você é, Alie, e se deixar Raven morrer, eu juro que pode dar adeus a essa tecnologia.
E... Raven para de lutar. É quando Clarke age e solta os pulsos dela para tratar de seus ferimentos abertos e aquele ombro horrível. Rayna se locomove para segurar a cabeça de Raven, ficando ao meu lado. Meus olhos acompanham o seu corpo e ainda estou no seu rosto quando Clarke recoloca o ombro no lugar.
Raven não dá nenhum grito, é quase como se ela não sentisse dor.
Decidimos que a garota não poderia ficar sozinha em momento algum. Teríamos que fazer turnos para ficarmos com ela. Clarke se ofereceu para ser a primeira. Jasper se afastou.
Ele havia ficado sem rumo depois do que aconteceu com Maya. Depois do que eu ajudei a fazer com ela. Eu não o culpo de forma alguma, ninguém o faz. Mas se ele quer mesmo sair dessa e superar, ele tem que parar de ser tão auto destrutivo em momentos assim. Não precisamos nos atacar mais do que já o fazemos.
Tentei conversar isso com ele, mas não deu muito certo. Com a dor, veio o sarcasmo e a imcompreensão.
Inclinado sobre o balcão de madeira que tinha ali, bem na frente da mesa onde Sinclair fazia o que dava enquanto Monty e Octavia iam atrás do que faltava, ouvi quando passos se aproximaram.
Olhei sobre o meu ombro para observar Rayna sair do quarto e rever Benjamin que estava sentado na sua, ensaguentado, ao lado de Sinclair.
Ajeitei minha postura para observar aquele reencontro.
Observei Rayna identificar todo aquele sangue seco no rosto e pela roupa do amigo com estranheza, mas acho que ela optou por abraçá-lo primeiro. Trinquei meu maxilar, meus olhos se abaixando com meu peito remoendo aquilo.
Claro que Benjamin recebe um abraço enquanto eu não recebo um resquício de olhar.
Voltei a dar as costas e apoiar-me naquele balcão. O que eu estava esperando? Que ela encarasse-me e declarasse que estava feliz que eu não tinha seguido completamente pelo caminho de Pike? Que ela me olhasse com os olhos brilhantes e só soltasse um sorriso que, sinceramente, seria melhor do que qualquer palavra.
A realidade é forte e me deixa no chão.
— Por que quando eu perguntei a Benjamin sobre Aspen ele mandou eu falar com você?
Pendi minha cabeça para baixo e selei meus olhos antes que eu consertasse a postura e olhasse para ela.
Rayna não era muito alta, mas não era considerada a mais baixa. Com sua altura beirando os 1,67, sua cara batia bem abaixo do meu pescoço. Com cinco passos de distância entre a gente, ela não precisava exercer a inclinação do seu pescoço, mas sei que precisaria caso eu desse um passo na sua direção.
Seus olhos estavam duros contra os meus, mostrando-me que ela havia me reconhecido por ali sim, só não queria contrabater-me.
De mais de perto, tirei um tempo para reconhecer os mínimo detalhes daquela sua roupa. Não me orgulho de dizer que meus olhos demoraram-se mais na sua perna que ficava mais a mostra por conta daquela mini-saia de couro que se inclinava para ser fechada pela meia por baixo daquela armadura de joelho.
Ela estava... incrível.
— Aspen, ele... — suas sobrancelhas se arquearam, em busca de uma resposta rápida. Mas ela não ia gostar da resposta. — Eu prendi ele.
Esperei pela sua reação destrutiva, mas ela forçou os lábios um no outro para não deixar sair nada. Pelo menos, era o que dizia aquela sua ação de relaxar as sobrancelhas e respirar fundo.
— Prendeu Aspen — repetiu, afirmando. — Quase levou meu pai a execução e matou o namorado da sua própria irmã.
— Não foi bem assim... — defendi-me, colocando o peso do meu corpo em outra perna.
— E foi como? — Cruzou seus braços, realçando sua cara crítica.
Encarei Benjamin lá atrás de relance, ele olhava em nossa direção, mas ao perceber minha atenção, desviou os olhos.
— Rayna...
— Não me toca — disse com ênfase, jogando braço que eu iria avançar pra pegar para trás. — Eu disse pra você que seguir Pike não era certo, Bellamy.
— E sei que está certa agora — refutei, tentando me defender do seu afastamento.
— Não é o "agora" que me importo. Meu melhor amigo deve estar alienado com essa maluca de Alie e meu pai foi em uma busca perdida em Polis. Nem vou começar a falar do que você fez no rosto de Benjamin — sua voz só demonstrava o quão brava ela estava com tudo isso. — Deveria ter me ouvido mais cedo.
— Se seu namorado não sabe se defender sozinho — sussurrei com raiva, me aproximando dela —, não venha o proteger. Fiz o que achava ser certo.
— Fez o que sentiu que deveria fazer. Levando em conta que tinha acabado de perder alguém importante, não deveria ter levado isso em consideração.
E tudo o que entra na minha cabeça nesse momento é que ela não negou. Rayna não negou que Benjamin era o seu namorado.
Clarke nos interrompeu ao chegar com uma mordida de Raven. Ela estava fora do sério e agora que não tinha mais armas para se soltar, usava a sua boca. Rayna se voluntariou a ajudar o machucado de Clarke e ainda no transe, fiquei observando a interação das duas.
Algo aconteceu que as aproximou. Não que não fossem amigas antes, mas agora, elas se olham e sorriem uma para a outra calorosamente. Rayna olha nos olhos de Clarke como se soubesse de seus piores pecados e os entendessem.
Eu não sei o que pode ter acontecido em Polis para que Rayna voltasse com essas roupas e mais armada, mas com certeza serviu para que elas se aproximassem mais.
Sentindo-me um intruso, optei por ficar com Raven agora. Jasper tentou ficar, mas as palavras de Raven mexeu demais com ele e fiquei... sozinho. Bom, isso até Rayna ultrapassar a porta.
— Rayna...
— Nem tente — ela cortou Raven com um sorriso esperto. — Sabe, Alie, vou desfrutar muito a primeira vez que olhá-la nos olhos sem Raven para ser a sua armadura. E não há nenhuma palavra que me faça sair daqui.
— Tem certeza? — Raven sorriu diabolicamente, meus olhos passaram de uma para outra. — Você parece a ponto de surtar, amiga. Não quer conversar?
Rayna revirou seus olhos castanhos e começou a refazer seu caminho para mim. Surpreso, esperei que ela parasse em minha frente para perguntar o que ela queria. Então, para surpreender mais, ela disse:
— Falei com Clarke — ela procura pelos seus bolsos de trás da calça, mas não os encontra. — Ela me convenceu de vir pedir algo perto de... desculpas.
— Algo perto? — Zombei, gostando muito dessa cena.
— Não força — apontou o dedo na minha cara e ergui meus braços em rendição. Então ela se sentou ao meu lado. — Não acho que possa confiar em você de novo, Bellamy. Ou acreditar. Mas eu também não tinha o direito de falar sobre... Gina daquele jeito.
Abri a boca para dizer que estava tudo bem, mas a vergonha de admitir que eu não pensei em Gina naquele momento e sim em Rayna e Benjamin como um casal me pega de jeito.
Acho que tem mesmo algo muito errado comigo.
— Talvez falar sobre isso? — Raven continuou tentando e viramos em sincronia para observá-la. Ela sorri com a atenção. — Sabe, falamos muito sobre Bellamy nesses três meses.
Ergui minhas sobrancelhas, curioso sobre o que elas falaram. Sobre o que Rayna se sentiu a vontade de falar sobre mim com Raven. De qualquer forma, percebi que o que quer que fosse, eu deveria ouvir da própria Rayna, não de uma garota que estava possuída por uma Inteligência Artificial.
— Cala a boca, Raven.
— O que foi, Ray? — Forçou o apelido. — Não há nada mesmo que faça você reconsiderar conversar um pouco comigo? Talvez até me dar um presente, quem sabe.
Inclinada no banco ao meu lado com a mão sobre o joelho, as sobrancelhas crispadas em deboche, Rayna nunca esteve tão linda.
— Deixa ela em paz, Raven — pedi, desejando que sua atenção e suas palavras venham me atingir.
Raven inclina a cabeça para mim e sei que deu certo quando ela começa:
— Qual é, Bellamy. Nós nos divertimos juntos, não foi? — Continuo quieto, encarando a forma nada bonita de como ela está desesperada para algo. — Tudo bem. Ficou com ciúmes, não foi, Rayna? — Sua atenção se voltou para a garota e começo a pensar que há algo pessoal. — Me diga como se sentiu quando percebeu que Bellamy se arrastou para mim consola-lo.
— Eu não senti nada.
— Não? Eu tenho quase certeza que essa foi uma das nossas pautas — riu ardilosamente e Rayna trincou o maxilar. — Falando sobre ciúmes... — seu rosto se virou para porta, nos forçando a fazer o mesmo. — Aí está o doce Benjamin.
— Olá, Raven — o garoto acena para a garota que continua a sorrir. Ele não demora sua atenção nela e encara fixamente Rayna. — Castanhas, podemos conversar?
Castanhas?
— Castanhas! — Anuncia Raven, parecendo se divertir com aquilo. — Ouviu isso, Bellamy? Eles tem até apelidos. Isso com certeza deve superar o seu.
— Tem um apelido para ela? — Benjamin pergunta ao pender a cabeça para a direita.
Mas ele não tinha fixado seus pensamentos nisso, ele estava tirando sarro de Raven com o próprio joguinho dela, fingindo que se importa com essas informações jogadas fora. Sabendo isso também, Rayna murmura de um jeito cansado:
— Ben...
— Como você se sentiu, Bell? — Questionou Raven, focada em extrapolar. — Quando descobriu que o sangue dela corre pelas veias dele? — Senti os olhos queimadores de Rayna em mim. — Como se sentiu ao descobrir que Benjamin foi o motivo de você quase a perder? Como se sentiu...-
— Dá um tempo! — Grita Rayna, furiosa com tudo o que estava acontecendo. — Que merda, mulher. Benjamin, pode me esperar lá fora?
O garoto levantou suas duas mãos em rendição e saiu pelo lugar que entrou. Não pude segurar uma reviradas de olhos.
Rayna se levanta ao meu lado, mas é interrompida de nos deixar por Raven que está decidida a dar sua última jogada.
— É decepcionante ver o quão apaixonados vocês estão — seus olhos direcionam para mim e Rayna — e ainda assim, não podem ficar juntos porque são destrutivos demais um para o outro.
Sem saber como argumentar contra isso, deixo meus olhos caírem para baixo enquanto Rayna some da minha vista.
— O que foi? — Perguntou inocentemente, me fazendo tirar as mãos do rosto. — Estou errada?
Não. E isso, dentro de tudo, deve ser o pior. Raven não estava errada em momento algum. Ela estava certa. Certa sobre tudo.
Estou cansado de mentir para mim mesmo. De olhar-me no espelho, não gostar do que ver, sair dele e só pensar naquela garota. É cansativo. É angustiante ter que viver dentro de mim negando tudo que relaciona um sentimento diferente do ódio.
Eu nunca senti ódio por ela e jamais poderia sentir.
A verdade é que Rayna era muito mais do que uma pessoa dentro dessa Terra para mim. Ela se tornou uma partícula daquilo que me queima, a maior de todas. E eu acho que ela me faz gostar da dor.
Me faz gostar dela.
— Você não se incomoda em não levar o crédito pelo genocídio em Monte Weather? — Raven perguntou. — Clarke passa a ser a Comandante da Morte, mas você matou aquelas pessoas também e foi esquecido. Mas, também... Não levou o crédito pela matança na Arca. Quantas pessoas foram sufocadas quando jogou fora o meu rádio?
Meus olhos, presos na dona da verdade, fizeram-me remoer aquele delírio de todas aquelas pessoas que eu levei até a morte.
Raven estava certa sobre o fato de eu ter matado todos. Mas estava errada em pensar sobre eu ligar de levar ou não o crédito de ser dono disso. Eu não me importo. Sei que sou o culpado. Todos sabem que eu sou o culpado assim que encaram-me.
— Teve o fato de prender uma garota de 17 anos, condená-la para a morte. Meu Deus, é tão irônico você estar apaixonado por ela agora.
Ela não parou por aí. Falou da minha mãe, da minha irmã, da morte de Gina e sobre o fato de eu estar apenas usando-a como estepe para o que eu verdadeiramente queria. Quem.
Então revelou que eu massacrei aqueles terrestres e a garota invadiu o local. Estava tudo acabado. Raven sabia onde estava. Alie sabia onde estávamos.
E a única coisa que eu podia fazer era sair daquele lugar e me machucar. Bater naqueles cachões como se fossem meus piores inimigos, mas sei que é apenas uma máscara para me dizer que o rosto que eu verdadeiramente busco ali, sou eu.
Não há ninguém mais que eu odeie nesse momento.
Octavia descreveu com todas as palavras o quão morto eu estava para ela. Rayna olhou nos meus olhos e disse que não podia confiar mais em mim, o que me levava a pensar que ela já confiou e eu perdi a sua confiança.
Na verdade, isso não melhora nada para mim.
Chuto a primeira coisa perto, parando para olhar pro céu para afastar as lágrimas que eram consequência das minhas ações.
— Bellamy.
Destruído, virei-me para ela. Nyah, a dona do local, me encarava com pena.
A conversa foi curta, mas demorou tempo o suficiente para que Monty chegasse com Octavia, que estava suja de sangue. Tento me aproximar para saber se estava tudo bem, mas ela desvia de mim e entra para ajudar os outros a tirar aquilo de Raven.
Sem opções, acompanho o ritmo.
Difícil era pouco para resumir o que aconteceu depois. Disposta a não deixarmos salvá-la, Raven começou a bater sua cabeça na cabeceira da cama feito de ferro. Segurei seu braço, Octavia tentou segurar sua cabeça, mas ela estava fora de controle.
— Pare e eu lhe dou isto — barganhou Clarke, mostrando aquela mesma pedra de antes, com um oito deitado.
Raven tinha transitado com aquela visão e Rayna não perdeu tempo em pegar o bracelete das mãos de Benjamin e implantar no braço de Raven, que começou a gritar em frustração ao perceber que era tudo mentira e que não receberia o que tanto queria.
Apertaram o botão para acontecer a mágica, mas nada aconteceu. Era a bateria. Precisávamos de uma mais forte. O jeito foi desmontar o Rover. Eu vou com Monty para lhe dar cobertura e depois voltamos. Deu certo. Bom, eu presumi isso pelo grito de Raven.
Ela ficou um tempo sem acordar, tempo o suficiente para Jasper se desesperar e pegar aquela caixinha de Clarke.
— O que vai fazer?
— Não se mexa! — Ele ameaçou, pegando aquela pedra colocando na mesa e ameaçando quebrá-la.
— Não — Rayna saiu da cama ao lado de Raven. — Não pode fazer isso.
— Ela nunca vai pegar isto!
— Não! Pare! — Clarke gritou.
Mas Rayna foi mais prática ao empurrar Jasper para longe e pegar aquela pedra. Jasper encarou a ação da garota com espanto.
— Não posso deixá-lo fazer isso, Jasper. Sinto muito.
Depois que a discussão acabou com Rayna guardando aquela pedra, Clarke teve uma ideia. Uma ideia que envolveu colocar Raven de bruços e cortar o pescoço dela na vertical. Um líquido asqueroso e prateado saiu junto ao sangue vermelho dela. Raven acordou um tempo depois, sentindo dor.
Havia dado certo e agora tínhamos que ir porque Alie sabia de tudo e era questão de tempo até que enviassem seus cãos de guarda.
Começo a preparar o carro com a ajuda de Monty e Benjamin.
Nesse meio tempo, Rayna aparece com um pano sujo e cortado. Sem dizer mais nada, ela recolhe a minha mão presa na arma, a que está ensanguentada pelos socos que eu havia transferido para uns daqueles caixotes. Seu toque nu em minha mão é bem-vindo e eu não recuo dele, apesar de doer exercitar os dedos.
Com mais calma do que nunca antes, ela analisa aqueles machucados, provavelmente se perguntando da vista de como eu fiz. Então começa a enrolar o pano em minha mão e quando acaba, levanta a cabeça para observar meus olhos.
— Você está todo machucado — seu tom é de brincadeira, ela ainda não largou a minha mão. — Mas vai melhorar.
— Vou? — Desacreditei, sem saber como retribuir seu olhar intenso. Mas eu retribuo, porque não importa o quão me doa olhar naquelas íris fundas, eu jamais recuaria. — O que você faz quando percebe que não é uma boa pessoa?
Suas íris estudam o meu rosto e parece não se aguentar ao levantar seus dedos e desliza-los pelos cortes causados pelo punho da minha irmã.
— Octavia tem punhos fortes.
— Me lembre de nunca enfrentá-la — zombou e deixei um sorriso sem dentes escapar. Sua mão, que esquentava o meu rosto enquanto me fazia conhecer uma nova sensação de parar de sentir todas as dores, recuou. — Sobre o que me disse antes... Todos temos dêmonios, Bellamy. Você quem decide o que fazer com eles.
— Não quero que eles me possuam — confidenciei, porque sinceramente, não me importava se ela não confiava em mim, Rayna era uma das que eu mais confiava.
— Eles não vão.
E eu acreditei quando ela disse isso. Não apenas porque sim, sem explicação. Acreditei porque olhei nos seus olhos e sua convicção foi passada para mim, atráves da sensação boa que o seu toque causou há pouco tempo em minha pele.
Fomos interrompidos por Sinclair trazendo Raven para o carro. Ela estava fraca demais, contando que seu cérebro foi fritado.
— Tem algo que eu não entendo — disse Clarke quando chegamos até eles. — Por que Alie queria que você se matasse?
— Porque sei por que ela quer uma IA — respondeu Raven, encarando um pouco Clarke antes de mudar seu foco para Rayna. — É a única coisa que pode detê-la.
— Então é o que faremos — decretou Rayna com uma confiança tão grande que me pegou de jeito. — Iremos destruí-la. Eu irei destruir.
— Você? — Jasper observou, com certa descrença. — Por que você?
— Porque essa pedra é o que ela é — respondeu, esticando aquela pedra com um oito deitado. Vendo mais de perto, parecia algo bem mal feito. — Uma simples pedra.
— O que...
— Ela é falsa — explicou Clarke, orgulhosa de sua amiga.
— Espera — Raven estreitou os olhos. — Se essa não é a verdadeira IA, por que ficaram tão desesperados quando Jasper ia quebrar?
— Sabíamos que Alie via através de você — dessa vez foi Rayna que explicou. De todos nós, as únicas por dentro era Clarke e ela. — Precisávamos que ela acreditasse que era a verdadeira. Foi ideia de Clarke.
Ainda assim, parecia que ela estava escondendo algo.
— E onde está a verdadeira? — Perguntei.
Rayna se virou para olhar pra mim e seu olhar me deixou recuado, com medo até. Então ela sorriu e levantou o queixo com orgulho.
— Está comigo — vários olhares de surpresa em sua cara. Menos Clarke. — Está dentro de mim. A partir de agora, eu sou a segunda IA.
Eu espero que estejam gostando.
Vocês gostam quando tem capítulo do ponto de vista de Bellamy?
O que acham desse pensamento de que eles são destrutivos um para o outro? Acreditam?
Me desculpem por qualquer erro e não se esqueçam de interagir!!
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