021 | Equal part
021 | Parte igual
RAYNA KANE
Conseguimos ajuda de uma garota que comandava uma cabana que vendia coisas. Desde roupas até... bom, eu não faço a mínima ideia do que possa ser a maioria dessas coisas pessoais.
Ela estava sendo atacada por um caçador de recompensas quando chegamos. Damos um jeito nele e após descobrir que éramos do povo do céu e só queríamos ajudar Clarke, ela comentou o que ouviu daquele cara morto no chão.
Clarke havia sido capturada pela Nação do Gelo, nossa única esperança era chegar nela antes que chegassem na rainha.
Pike e Monty conseguiram achar rastros frescos, mas é entre as árvores e teríamos que abandonar o Rover.
Partimos para a caminhada entre as árvores no silêncio, sendo direcionados por Pike e seu filho até chegarmos em um campo aberto.
— Então você é a garota que provocou a revolta na Arca — quis revirar os olhos, mas fiquei com medo de acabar perdendo eles lá atrás. — Você parece mais durona do que me contaram.
— Sério? — Fui irônica com ele. — Queria decretar algo sobre você, mas eu não fazia ideia da sua existência até então.
O garoto que logo se apresentou como Luke se fez de ofendido e eu procurei seu pai com os olhos para que ele o tirasse de perto de mim antes que eu decidisse estragar com toda essa paz. Mas Pike estava em uma conversa enganosa com Bellamy e eu decidi não interromper.
Mais a frente, Indra pediu silêncio e aguçamos nossos ouvidos.
Parecia... tambores.
— Azgeda — Indra afirmou com repulsa.
Mas ela não reconheceu a tribo pelo som e sim por aqueles corpos jogados mais a nossa frente. Eram homens da Nação do Gelo.
No colocamos em posição de ataque, armas carregadas e procurando uma direção para ir.
Pike e seu filho ficaram encarregados de pegar aqueles corpos antes que mais chegassem e deduzissem que éramos os culpados.
— Tem pessoas à frente — informou Bellamy, vendo pela mira da sua arma. — É Clarke.
Como? Segui a direção que ele olhava, mas não tive tempo de ver nada antes que o gesto impulsivo de Bellamy carregasse a minha atenção. Sem pensar muito, sai do meu lugar e impedi que ele continuasse, segurando o seu braço e usando a força do meu corpo para empurrá-lo para trás.
— Fique longe, Rayna!
— Você vai acabar morto — disse entre dentes, fechando minhas mãos em sua jaqueta e o obrigando a me encarar.
Nossos olhos travaram um no outro em uma luta prestes a ser vencida.
— Rayna tem razão — Monty veio ao meu favor, indicando a direção onde podíamos ver claramente os Azgeda marchando. — Não vamos passar sem ser vistos.
— Deveríamos esperar o exército passar — aconselhou Pike se aproximando de nós três. — E então procuramos Clarke.
— Quero encontrá-la também, Bellamy — disse-lhe diante ao olhar nervoso e perdido que ele dava na direção que eu acho que Clarke estava indo. — Mas não podemos fazer nada se formos mortos.
Ele dá o braço a torcer quando Monty encontra uma caverna e nos dirige até lá. Indra decide não nos acompanhar, com o argumento de que iria avisar sua Comandante.
Carregando o corpo daqueles dois Azgeda, escorregamos até a caverna para nos esconder até que aquela marcha ridícula termine.
Depois que entramos e todos estamos seguros, sento-me em uma pedra quase na porta da caverna, observando sem ser observada toda aquela palhaçada. Eu entendia Bellamy. Queria encontrar Clarke, tinha tantas dúvidas...
Queria saber como ela estava primeiro, dizer que eu não a culpava por nada que chegou até os meus ouvidos, talvez até abracá-la. Me senti mal pra caralho quando eu descobri que Clarke, junto de Lexa, a Comandante, deixou que aquele míssil atingisse a vila Tondc.
Marcus estava lá, eu não consegui nem pensar no que poderia acontecer comigo caso ele não tivesse sobrevivido, como outras pessoas não sobreviveu.
Mas era passado e naquele momento, apesar de estar mal, eu não podia julgar Clarke. Não depois do que ela fez por nós. Clarke não apenas matou 300 pessoas ao puxar aquela alavanca. Ela vendeu a sua alma, a sua bondade.
E isso era algo que eu sempre agradeceria, pois não acho que eu ou qualquer outro conseguiria.
Mas para isso, eu precisava encontrá-la e eu sabia que não faria tal coisa se continuasse sentada aqui. Mas o que eu poderia fazer? Atravessar todo aquele bolo de Azgeda? Eu morreria antes mesmo de me infiltrar entre eles.
Meus olhos escorregaram nos homens mortos escondidos atrás de mim na caverna.
Eu com certeza morreria se entrasse naquela horda, mas só se eles me reconhecessem. Eu já tinha feito isso, lá na primeira guerra contra os terrestres. Eu não demorei para ser reconhecida, mas me deu boas vantagens antes de ser. Isso pode funcionar agora.
Deixei meus olhos subirem para encarar os outros, mas acabei presa no rosto de Bellamy, que estava sentado na pedra um pouco atrás de mim, seus olhos tão fixos nos homens mortos quanto eu estava anteriormente.
Eu sabia o que ele estava pensando porque eu estava pensando.
Quis rir pela ironia.
Podíamos ter milhares e milhares de defeitos envolvendo nós dois, mas havia um motivo por nos bicar tanto e não era porque éramos completamente diferentes um do outro ou por sermos iguais.
Não.
Bellamy e eu não éramos iguais, não nos víamos nas íris do outro, não nos reconhecíamos ao encarar o espelho. Aos poucos, com muita dificuldade, eu descobri o porquê.
Sabendo que estava sendo encarado, Bellamy levanta suas íris para mim. Demora um pouco, mas assim como eu reconheço o seu olhar, ele reconhece o meu.
Bellamy e eu nos reencontrávamos sempre que decidíamos dar uma espiada no lugar mais fundo do nosso peito. A escuridão que escondia o seu verdadeiro eu, compartilhava a mesma matéria escura que o meu.
Nos reconhecíamos como iguais na parte que nenhum dos dois queria que terceiros enxergassem. Aquela parte que ele tenta esconder de Marcus para ser promovido o melhor dos soldados, aquela parte que eu tenho tanto medo que os outros vejam, pois está ficando cada vez mais visível.
Aquela parte construída por letras que ao ser completadas, informa-nos o que nos tornamos; monstros.
Os outros estavam empenhados na história contada pela mãe de Monty e Pike sobre o pai do adolescente, então eu nem preciso dizer o quão fácil foi se esgueirar entre os pontos cegos e tirar aquelas roupas dos dois Azgeda mortos.
Bellamy e eu não demos um pio sobre o plano até estar com os casacos grossos daqueles caras e sair da caverna, colocando os casacos e as mascáras que tampava a região do nariz e boca.
Como prevemos, não precisamos dar muitos passos para estarmos no meio daquela marcha. Silenciosamente, decidimos que não correríamos riscos andando lado a lado, então deixamos uma separação de seis metros entre a gente.
Visamos ir até o outro lado da clareira. Meus olhos estavam firmes naquele ponto inicial que daria para dentro da floresta.
Meu corpo deu um sobressalto quando eu senti as mãos firmes de um Azgeda em meu braço, consertando a minha direção para onde todos estavam vagando.
Assustada, porém aliviada por não ter sido nada demais, encaro Bellamy que já estava consideravelmente mais perto.
Neguei com a cabeça, dizendo que estava tudo bem e que era para ele continuar. Segui ele sem mais atrasos. Até que nos separamos dos outros e apertamos os passos para nos esconder na floresta.
Quando decidi que estava longe o suficiente para ninguém me ver, parei para tirar aquela mascara e respirar direito.
— Por aqui — direcionou Bellamy, já sem a sua mascará também.
Puxo a respiração e sigo os passos apressados do garoto. Seguindo os rastros de um sangue que esperamos ser de Clarke ou do guardião dela, chegamos até uma construção no sub-solo.
Pegamos as espadas do cinto que faz parte da roupa e nos encaramos antes de descermos juntos os degraus. Parecia ser um galpão com pilastras subindo as áreas.
Uma delas, mais à frente, mostrou que alguém estava preso por cordas. Bellamy avançou mais rápido do que eu sequer pensei e tive que segui-lo até estar de frente com a refém.
O cabelo estava muito maior do que a última vez que eu a vi, há três meses, e tinha uns fios rosas, mas ela era mesmo. Com os machucados fazendo constraste do seu rosto, Clarke nos encarou com um pano tampando a sua boca.
Bellamy abaixou para retirar aquele pano e eu fiquei ali em pé, desacreditada que encontramos mesmo Clarke depois de tanto tempo.
Observei a interação dos dois.
— Rayna, cuidado!
Só tive tempo de erguer minha espada que foi jogada para longe com apenas um ataque do meu agressor, que me jogou no chão. Bellamy levantou para atacar, mas como se fosse apenas diversão, o cara conseguiu desarma-ló e deixar-lo na mesma situação que a minha.
Era sobre isso que eu estava falando. Se eu tivesse a sabedoria de Lincoln ou de Octavia, eu não teria sido desarmada tão facilmente e Bellamy não estaria sendo ameaçado com a ponta de uma espada no pescoço.
— Não, por favor — implorou Clarke quando o Azgeda torceu a arma no pescoço de Bellamy e me encarou com uma mensagem de que eu seria a próxima. — Por favor, não. Faço qualquer coisa. Paro de resistir. Só, por favor, não os mate.
O agressor parecia feliz e contente com essa proposta, levando em conta que os dois pareciam ter lutado muito antes de chegarem até aqui.
Ele retirou a arma do pescoço de Bellamy e junto à isso, um caminhão do meu peito, pois voltei a respirar. Mas não por muito tempo.
Gritei quando uma lâmina ultrapassou a pele da minha coxa.
— Seu filho da puta! — Urrou Bellamy, mas se impediu de avançar ao entender que dependendo do que ele fizesse, ele ou eu estaríamos mortos.
— Não nos siga — ordenou, chutando o rosto do garoto.
E eu... não pude fazer nada enquanto Clarke era desamarrada e levada para longe. Com um pedaço do pano de toda aquela roupa que usávamos, eu fiz um torniquete e me arrastei até estar mais ou menos apoiada no corpo de Bellamy.
— Bellamy — chamei-o, agarrando em suas vestes e chacoalhando seu corpo. — Acorda.
Seus olhos tremeram e eu suspirei aliviada, deixando minha cabeça cair em seu peito quando ele murmurou o meu nome, acordando. Senti sua mão tocar em minha cabeça enquanto ele respirava ofegantemente.
Passamos um tempo naquela posição, consolidando a nossa mente para o que estava por vir.
— Temos que sair daqui — sussurrei, levantando a cabeça envergonhada.
Nesse meio tempo esqueci que havia acabado de ser cortada, então é claro que quando eu tentei me levantar sozinha, minha perna falhou pela dor e eu quase fui ao chão. Bellamy me pegou antes disso.
— Você está sangrando — ele murmurou, vendo as gotas de sangue que manchava a minha calça e o chão. — Vem. Temos que ir até os outros.
— Mas a Clarke, ela...-
Com meu braço esquerdo ao redor do seus ombros e seu braço direito me mantendo em pé ao segurar em volta da minha cintura, Bellamy me encara de perto como se eu fosse uma idiota.
— Não vamos há lugar nenhum com você assim.
— Não fode, Blake — torci a cara quando começamos a subir as escadas para o solo. — Sabe o que vai acontecer se não à encontrarmos.
— Rayna! Bellamy! Eles estão ali! — Vozes romperam o ar.
— Vamos dar um jeito em você primeiro, tudo bem?
Ele me apoiou em uma árvore e me encarou com o seu rosto perto do meu. Com nossas íris conectadas, intercalei meu olhar entre as suas. Senti algo embolando em meu estômago com o seu olhar, mas empurrei isso para as profundezas que eu queria que ninguém visse.
— Rayna! — Bellamy dá espaço para Kane se aproximar de mim, pegando meu rosto em suas mãos. — Está machucada. Aqui, me ajudem!
Mas meus olhos ainda estavam em Bellamy, assim como os seus em mim.
Tinha acabado de descobrir outra coisa que nenhum dos dois queria que terceiros descobrissem. Mas essa coisa era tão real que nem mesmo eu queria repor em palavras concretas.
Isso seria oculto. Muito além dos nossos monstros. Seria oculto de mim.
(...)
— Eu já disse que estou bem — reviro os olhos, mas aceito a mão que Aspen me estende. — Pare de me tratar como uma deficiente.
Depois de descer do Rover, vou até os fundos para ajudar Gina com as bolsas.
— Bem, eu não faria isso se você não tivesse levado uma facada por Bellamy Blake.
— Eu estou aqui — ele apareceu, recolhendo a mala das mãos da namorada. — E ela não levou a facada por mim.
— É, não levei por ele — concordei, fazendo Aspen arquear as sobrancelhas em surpresa. — Mas estou muito mais durona agora.
Ele revirou os olhos e riu enquanto negava com a cabeça e ia ajudar Raven. Os dois haviam se aproximado também, eu só não sei o quanto... Decido parar de observar a forma boba que meu melhor amigo olha para Raven e volto-me para Gina, afim de saber se ela queria mais alguma ajuda.
Acabo presenciando a cena dela com Bellamy se beijando. Outra vez. O que que há? Eles não podem se separar por um segundo?
Reviro os olhos e passo por eles, pisando fundo naquelas flores amarelas no pasto e entrando no meu inferno particular.
Estamos em Monte Weather, trazendo suprimentos para o povo da Estação Agricola que decediram por conta própria que seria uma boa ideia se instalar na porra do abrigo que os montanheses usavam.
Dou dois dias até que os terrestres descubram e nos ataque por isso.
— Bem-vindos — exclama Pike e eu busco não expressar os meus sentimentos sobre aquela cena. — Venham. Juntem-se a nós.
Ah, claro que eu irei sentar na mesa de jantar onde há pouco tempo atrás, se sentava pessoas mortas e que me torturavam. Talvez eu consiga segurar tudo no meu estômago até me lembrar de toda a perfuração.
— Os terrestres vão pensar que nos mudamos — observa Octavia, não gostando disso tanto quanto eu.
Conversamos sobre isso, na verdade, antes de vir. Fomos bem categórica sobre como Charles Pike está levando essa coisa de forma errada. Ele simplesmente parece não ter evoluído como a gente. Quer saber? Ele não evoluiu.
Ainda está em sua briguinha estúpida com qualquer terrestre que encontrar, mas nesse momento, está se apropriando do conforto de pessoas que drenaram o nosso sangue em um passado bem próximo.
— Eu vou junto — acenei para Octavia que tinha acabado de abandonar o barco. Bellamy me encarou com o rosto inclinado. — Mas, ei, Pike! Talvez deva experimentar a ducha que eles tem aqui. Cuidado para não cair em uma furadeira.
Aspen foi o único que riu e quando percebeu, tentou disfarçar coçando a garganta.
Pode parecer estúpido e que estou dramatizando muito a situação, mas simplesmente não! Uma coisa era se apropriar dos suprimentos que realmente precisavámos para sobreviver e que eles tinham aqui, outra bem diferente, era se acomodar como eles estavam fazendo, como se fosse um... lar.
Eu não sabia para onde meus pés estavam me levando até estar no corredor do nível 2, onde foi a minha prisão por longas semanas. É o lugar que vem a minha mente quando eu fecho meus olhos para dormir.
O mesmo pesadelo, sempre. Pessoas me tiravam do quarto na Arkadia e me arrastavam para este quarto, um barulho insuportável de uma furadeira ficava martelando o meu cérebro.
É até engraçado de vivenciar.
Quando eu estava aqui, sonhava em estar lá fora. E agora que estou fora, sonho em estar aqui.
— Estava te procurando.
Mordo a língua para não xingar Bellamy que tinha chegado com passos de pena. Ou eu apenas estava perdida em meus pensamentos enquanto encarava aquela porta de ferro.
Eu estava com uma calça jeans escura, uma camisa preta e a jaqueta de guarda por cima, cabelos presos e limpos. Ainda assim, me sentia com aquela calça de moletom, suja, sentada no chão daquele quartinho, perdida, sozinha, buscando não enlouquecer por meio de pensamentos que beiravam a paranóicos.
— Oi, Blake — cumprimentei, sem desviar a atenção do conteúdo lá dentro. — Aconteceu alguma coisa?
— Não... — murmurou em resposta, os olhos presos no mesmo local que tinha a minha atenção. Mas ele foi mais corajoso e deu um passo para entrar, para ver de perto. — Você...?
Eu estava com medo de entrar, apesar de pensar que eu precisava se quisesse superar e deixar isso no passado. Talvez o meu medo não fosse encarar de frente e sim de ficar presa, caso eu entre.
Estava tudo do mesmo jeito que eu deixei. Duas cadeiras surradas, uma mesa redonda que garrafas vazias de água e sacos vazios de alimento. Um único lençol, que eu usava para me cobrir, rasgado.
— Você quer entrar?
Se eu queria? Nem em dois mundos! Mas eu precisava e até mesmo Bellamy havia entendido o que eu não conseguia dizer à mim mesma.
Bellamy estendeu uma de suas mãos em minha direção e eu encarei aquela ação confusa por um longo tempo. Mas ele me esperou escolher. Entrar e dar de frente com o meu passado ou apenas ignorá-lo e ser amaldiçoada com esses pesadelos.
Um rápido choque se estendeu pelos nossos corpos quando nossas peles nuas da mão se colaram. Ele encara a forma como a minha mão se encaixava na sua e eu entro no quarto.
Aquela brisa que me prendia sempre que eu voltava depois de ir aos banhos escorregou de volta para mim. Aquela sensação de desespero e... solidão. Mas eu não estava sozinha dessa vez.
Encarei nossas mãos entrelaçadas e caídas entre nossos corpos. Seu aperto não era folgado como outras mãos que eu já segurei. Eu odiava a sensação de segurar uma mão mole, solta na minha.
A mão de Bellamy não carregava isso. Seu aperto era firme, não do tipo que me prende a ele ou que me machuque. Era só um aperto... firme, seguro. Sua mão não cairia caso eu decidisse afrouxar um pouco a minha mão e eu não sabia dessa sensação boa que podia me invadir até agora.
Até deparar-me com um agarre permanente.
— Por que está aqui, Bellamy?
— Queria me desculpar por Pike. Eu não posso nem imaginar o quão difícil isso possa ser para você — arqueei minhas sobrancelhas e depois a franzi.
— Não, não aqui — acenei para o local. — Por que não foi com Marcus e os outros para Polis?
Ele não teve resposta para isso, em compensação, gaguejar foi sua única ação. Acho que eu nunca o vi sem palavras para se expressar.
A situação foi interrompida pelo rádio de Bellamy se ligando. Era Pike, ele dizia que Octavia estava protegendo uma terrestres e que essa terrestre tinha informações interessantes sobre morte e possíveis mortes.
Nos encaramos rápido e seguimos até o salão de jantar onde todos estavam reunidos, inclusivo a terrestre mencionada.
Era Echo. Assim como eu a reconheci, ela o fez, com aquele olhar que ela estampou no nosso último papo.
Bellamy, que havia a libertado, se eu não me engano, também a reconheceu. Ela estava contando a história sobre a armadilha que estava prestes a acontecer em Polis, para matar o nosso povo.
Raven chega com Gina e Sinclair. A presença da garota me faz perceber o toque de Bellamy ainda em minha pele. Encarei nossas mãos ao mesmo tempo que Gina e, totalmente sem graça, nos separei.
Bellamy, percebendo só naquele momento o toque, me observa se afastando dele, apenas para depois dar atenção a namorada. Ele parecia tão mal quanto eu.
— Isso é pela sobrevivência — Pike começou a defender um ponto o que eu estava meio sem entender. — Não temos os números, mas os mísseis desta montanha equiparam o placar, e sabe que tenho razão.
Ele não pode estar falando sério.
Troquei um rápido olhar com Octavia e fiquei feliz por ela estar vendo o quão infundado era essa conclusão, diferente de Bellamy que parece cego sobre essa ideia.
— Vou me preparar — rosna Octavia, mas eu acho que ela estava se afastando para não acabar com a existência de Pike e o irmão.
Há dois metros de distância, esperei que Bellamy se despedisse da namorada. Tentei me esconder, cruzei meu braço, desviei a atenção, mas parecia que eu estava assistindo um show de horrores, onde a única afetada era eu.
— Qual é o plano? — Questionei a ele depois que se afastou de Gina.
— Ah, você não vai — pontuou sabiamente, como o dono da razão. — Sua perna ainda não está boa. Vai ficar.
— Muito engraçado, Blake, mas você não decide isso — entrei em sua frente, obrigando-o a parar. — Marcus está lá. Clarke está lá. Eu vou.
— Você não vai.
— Sendo assim, eu vou adorar ver suas estratégias para me fazer ficar — cruzei os braços e coloquei o peso do meu corpo em um pé só.
— Não há estratégias. Você só vai atrapalhar com essa perna. Você fica — seus olhos caem de mim e suas mãos chamaram alguém. — Aspen, preciso que venha comigo.
— Isso é sério? — Me surpreendi, abrindo os braços e encarando meu melhor amigo que foi puxado pelo Bellybosta. — Espero que seu carro empaque!
(...)
— Então... — abri a porta e a deixei passar. — Aqui é... era o escritório do Presidente.
— Você não parece gostar muito do local — Gina tenta descontrair, observando tudo com curiosidade.
— Bem... — minha mente voa para quando eu achei que tinha invadido e descobri sobre a "doença" de Benjamin. — Não é nada demais.
Eles estavam levando a sério o plano do míssel. Raven e Sinclair, como nerds da computação, ficaram na sala do Controle, buscando rackear o servidor, enquanto Gina e eu buscávamos dicas para deixar o trabalho deles mais fácil.
Eu ainda não acredito que me deixaram aqui, mas o que eu podia fazer? Correr atrás do Rover como uma louca, exigindo que eles me levem? Acho que não.
Eu só podia esperar que Marcus ficasse bem e que as coisas não piorassem para o nosso lado.
Ajudo Gina a pegar os documentos que pareciam interessantes naquele momento, dando uma revisada para decidir se seria facilmente descartado ou colocado naquela pilha bagunçada, cobrindo toda a mesa.
Concordamos em uma mínima conversa que ela ficaria com uma parte da pilha e eu a outra. Depois que conseguimos dois acentos confortáveis, partimos para a diversão. Não tinha muitas coisas que pudesse nos ajudar nos papéis que eu fiquei encarregada.
Só coisas chatas como plantas de cada níveis e ideias que eles estavam tendo antes. Planos para o depois.
Nem todos mereciam o depois que iriam ter, mas tinham os que sim. Aqueles que estavam nos ajudando, incluindo Maya. E as crianças. Deus, eu só consigo pensar nelas.
Haviam civis que concordavam com o modo de vida, que contribuiam, mas eles tinham filhos que ainda nem sabiam ler, que estavam aprendendo a falar. E acabamos com o seu futuro.
Incomodada com os pensamentos que eu deixei aparecer, solto um suspiro baixinho, passando a leitura para outra folha. Estava pronta para descartá-la como a maioria, mas o título chamou a minha atenção.
Era um mapa e inicialmente, achei que leria sobre mais algum nível daqui, mas não estava vendo nada relacionado a Monte Weather.
Como eu comentei, era um mapa, mas tinha lugares especificos circulados. Um deles, bem perto de onde estávamos, lá em cima.
Passei meus olhos pela especialização. Eram lugares que habitavam nogueiras. Meu peito se apertou com o que eu poderia estar vendo. Nada demais, para terceiros. Algo... humano vindo de Cage, em minha vista.
Parei de ler sobre aquilo quando senti olhos em mim. Só tinha Gina e eu naquele lugar e como eu não podia ficar encarando a mim mesma...
Desviei os olhos da folha de papel e peguei Gina me olhando. Ela torceu os lábios envergonhada, mas não recuou da situação. Em vez disso, relaxou os ombros e me olhou caridosamente.
— Ele gosta de você — confidenciou e eu, totalmente confusa sobre o que diabos ela estava falando, tombei um pouco a minha cabeça. — Bellamy.
Surpresa, tentei piscar para aplacar a tensão que tomou conta do meu corpo. Depois, neguei genuinamente com a cabeça e observei a folha em minhas mãos. Mas só por observar mesmo, porque minha cabeça só tinha uma coisa.
— É sério. Por que acha que ele escolheu ficar diante a oportunidade de seguir Kane?
— Bellamy decidiu ficar? — Disso eu não sabia. Mas quando eu vi o sorrizinho que ela me deu, me senti mal por ela pensar aquilo. — Olha, você não está certa sobre o motivo, pode ter certeza.
— Ele comenta sobre você para mim — indaga, desviando os olhos ao colocar uma folha junto com as outras. — Eu sei o que houve entre vocês lá no começo. Não quero atrapalhar.
— Não tem o que atrapalhar, Gina — fui um pouco dura demais, então procurei respirar fundo. — Eu não o quero. Ele não me quer. O que quer que ele tenha contado a você, foi um erro e ele sabe disso.
— Não acho que ele concorde e nem que você acredite nisso.
Soltei um riso nasalado e cansada de ficar sentada, me coloquei de pé.
— Não quero roubar o seu namorado — fui sarcástica, mas sincera.
— Não estou preocupada com você roubando o meu namorado — sua ironia venceu o meu sarcasmo. Gina se levantou e agora, separadas por uma mesa, me mandou a real: — Estou preocupada com a felicidade dele.
— Claro — solto, bufando para mim mesma.
— Não está entendendo, me escute — Gina levanta e abaixa os ombros, depois, com um olhar sincero e genuíno, disse-me: — Eu o amo. Não tem como não amar. Mas temo que as coisas entre vocês estejam inacabadas e não sei dizer se é por falta de comunicação ou por quererem, mas precisam resolver isso.
— Estamos bem. Não preciso que me aconselha a como lidar com a situação, obrigada.
— Rayna... Bellamy quer você — soltou, como se precisasse descarregar isso há muito tempo. — E eu... eu o quero, mas não estou disposta a impedir duas pessoas que querem ficar juntas, desempenhar o destino juntas.
— Está falando besteiras. Bellamy quer você, ele está com você — apontei, querendo que essa conversa não tivesse acontecendo.
— Ele está comigo porque é mais fácil e sinceramente, isso não é ruim, quero fazê-lo me amar também — desviei meus olhos dos seus, que demonstravam os seus sentimentos. — Mas não posso fazer isso sem uma resposta sua.
Observo seus pés rodearem a mesa até mim, parando em minha frente e obrigando que meus olhos estivessem no seu para a sua resposta.
— Você o quer?
Como eu poderia respondê-la isso? Gina era tudo o que eu nunca seria. Tudo o que Bellamy precisava e que eu não poderia proporcionar.
Eu nunca conseguiria fazer isso. Eu nunca conseguiria ser... ela. Jamais diria tão abertamente os meus sentimentos e se eu o tivesse para mim, temo que fosse egoísta demais para enxergar se ele estava feliz comigo ou se estaria mais com outra.
Bellamy precisava de alguém que o olhasse daquele jeito que Gina o encarava. Precisava de uma garota sem joguinhos, que demonstrasse na hora que quisesse que o amava, que estava disposta a passar por cima de todos os empecilhos pelo relacionamento.
Ele não precisava da inconsistência que tínhamos mesmo agora, mal sendo amigos. E também não precisava dos meus traumas que causavam-me cansaço e não me deixavam dormir. Nem dos meus segredos. Nem das minhas falhas.
E mesmo que eu reconheça que temos isso em comum, ele não precisa ver o monstro que tem por baixo de toda essa pele. Iríamos nos destruir juntos.
Não.
Bellamy precisa de alguém que acrescente algo bom na vida dele, que o ajude a pegar os cacos depois de uma guerra. Bellamy precisava de tudo aquilo que Gina era.
E então, finalmente admitindo para mim que eu o queria, descobri que não era certo. Não éramos certos juntos.
Olhei no fundo das íris de Gina e disse o que ela queria ouvir, o que seria o certo naquele momento:
— Bellamy está confuso, assim como eu — sua expressão caiu e eu toquei gentilmente em seu braço, trazendo sua atenção à mim novamente. — Eu não o quero, Gina.
Gina sorriu, agradecida pela sinceridade e eu, não aguentando um único minuto ali, pedi licença para fazer algo e sai, carregando aquele mapa que eu estava lendo antes.
Passei direto pela sala de jantar e sai daquele Bunker, suspirando ar fresco ao sair naquele pasto cheios de flores amarelas.
Meu peito estava apertando e eu sentia que se parasse para pensar um só minuto no que tinha acabado de fazer, seria ruim para mim, ruim do tipo meus olhos queimarem. Então segui caminho pro lugar mais perto daqui marcado naquele mapa.
Saindo da clareira que dava a entrada para o Bunker, entrei na floresta. Conforme o mapa, não demorei para chegar no primeiro local marcado. Como as especificações, lá tinha uma nogueira. Uma árvore de nozes.
Criada para Benjamin. Por Cage Wallace.
Pensei no que fazer diante a tal revelação e percebi que não tinha que ser eu tocando nessa árvore. Benjamin precisava vir aqui. Não importa nesse momento o quão mal Cage era. Ele está morto. Pagou por isso.
Mas seu filho ainda está aqui e não quero dizer que tudo será apagado só porque Cage morreu, é claro que não. Eu sempre o odiarei. Mas Benjamin precisava de uma imagem diferente de Cage. Cage não merecia o perdão do filho, mas Benjamin precisa disso.
Suspirei, decidida a fazer o que eu pensei, que é trazê-lo aqui e entregar essa planta. Ele vai decidir se quer ficar ou se aventurar atrás de... nogueiras.
Soltei um riso incrédulo por ter pensado isso e... tudo explodiu.
Literalmente. O chão tremeu, a fumaça quente subiu e o som de explosão chegou até os meus ouvidos. Demorei para associar de onde vinha o som, mas só podia ser um lugar.
Corri até o Bunker com mais velocidade do que usei para vir, ignorando as pontadas no corte que mal cicatrizou em minha coxa. Mas nada se resolveu. Nem o meu desespero, confusão ou medo. Quando eu cheguei à clareira, estava tudo acabado.
O Bunker havia sido explodido, os que estavam dentro se encontravam mortos. Os únicos vivos eram Raven e Sinclair, que tinham matado um terrestre que invadiu e foi o motivo por trás da explosão.
Mais uma vez, me encontro odiando este lugar. Meus amigos mortos. Gina... Gina estava... E-Ela... Oh, Deus, como eu contaria para Bellamy?
Por ele, por ela e por todos, meu coração se parte.
(...)
Voltar para Arkadia não foi fácil, principalmente sabendo quem eu veria lá. Marcus me recepcionou com um abraço. Eu não estranhei, pois sabia qual foi a mensagem que Raven passou para os outros.
Como eu tinha sumido antes da bomba explodir, quando ela viu apenas Sinclair, passou a mensagem a diante, dizendo e acreditando que eram os únicos sobreviventes. Não deu tempo de ela desmentir, então Marcus me abraçar como se estivesse prestes a ser engolido pela Terra, é completamente normal.
Espero por dois segundos antes de empurrar gentilmente o seu corpo e procurar uma pessoa em especifico. Bellamy estava me olhando com algo que eu não soube reconhecer de longe e quando eu dei um passo em sua direção, ele recuou.
Parei antes que fosse impulsiva e o deixei ir.
Mas agora, que horas se passaram e ninguém sabia dele, começo a repudiar essa minha ação. Minha presença não iria ajudá-lo naquela hora, mas pelo menos, saberia dizer para Octavia onde estava seu irmão.
Em vez disso, estou aqui, vasculhando cada canto da Arca enquanto Octavia o procura lá fora. Eu demoro para o encontrar, mas quando faço, ele esta sentado na cama de um quarto.
FH\SEC17 20391. O mesmo dormitório de antes, quando morava com sua mãe e sua irmã, escondida.
Da última vez que estive aqui, bem na frente, não foi uma memória super boa. Envolve surpresa e uma perseguição nada amigável. E olhe só para mim agora, aliviada por ter encontrado-o, mal pela situação em que ele estava.
Com sua jaqueta da guarda jogada no chão e a camisa marrom amarrotada no corpo, Bellamy estava a imagem da decadência e eu não sabia se chamava a irmã ou... Eu provavelmente deveria chamar Octavia, ela é a pessoa certa para isso.
Ainda assim, aqui estou eu, lembrando-me o quão legal ele foi há pouco tempo, me ajudando com o lance do quarto. Eu tinha que retribuir, sabe, para ficarmos quites.
— Bellamy — chamei hesitante, fazendo a minha voz sair baixa. — Sei que me escutou.
— Agora não, Rayna — implorou ele, esfregando o rosto com a mão e se apoiando na sua coxa para me encarar. — Seja lá que confusão queira criar, eu não estou afim.
É claro que ele pensa que eu quero arrumar confusão mesmo depois que Gina, sua namorada, acabou de ser explodida.
A imagem que Bellamy tem sobre mim me assusta as vezes, mas não tanto quanto me machuca.
— Quero dizer que sinto muito por não estar com ela, seu idiota — seus olhos chegam até o meu rosto, mas ele desvia antes que chegasse em minhas íris. Suspiro, percebendo que eu não deveria tratá-lo desse jeito. — Só... eu sinto muito.
— Vá embora, Rayna — ele me pediu. Não, novamente, ele me implorou.
Qual era o problema dele? Invadi o quarto sem pudor.
— Não pode me culpar por isso, Blake — indaguei, sabendo que era um momento difícil para ele, mas que ele não podia sair por aí despejando ódio. — Eu sei que deveria ter ficado com ela, mas...
— Acha que eu culpo você por ter saído do lado de Gina? — Ele explode, se colocando de pé, bem em minha frente. — Porra, não. Eu me culpo.
Eu queria uma reação dele, mas eu não estava preparada. Não me importava se ele estava jogando toda a sua raiva em mim, mas eu não aguentava ficar tão perto dele e ver aqueles globos oculares carregando lágrimas de dor.
Eu não sei o que diabos estava acontecendo, mas é como se a dor de Bellamy invadisse-me sem mesmo eu querer. É como se doesse em mim vê-lo daquele jeito.
— Não tem o direito de se culpar também — amanso a voz, sendo sincera ao olhar em seus olhos e dizer. — Não é sua culpa.
— Não? — Provocou, um sorriso nada humorado sendo repuxado pelos seus lábios. — O que diz de um namorado que deseja outra garota? O que diz sobre o garoto que sonha com uma mulher que não é a que está ao seu lado?
Conforme ele jogava suas questões levantadas, ele se aproximava. Quem não nos conhecesse... Na verdade, qualquer um que entrasse aqui e visse, pensaria fácil que Bellamy estava me encurralando para um ataque.
— Bellamy, você...
— Não! — Decretou o meu silêncio ao empurrar-me na parede, me prendendo entre seus braços. Mas não era um momento bom, carregado de sensualidade. Era bruto e frio. — Eu me culpo porque assim que Raven deu aquela mensagem, meu primeiro pensamento não foi a minha namorada.
Encolhida no espaço que ele permitiu que eu ficasse entre seus dois braços, em cada lado da minha cabeça, não sei o que responder. Eu não estava com medo do seu ataque de raiva. Aquilo era nada para mim.
Mas... ele não sabia do que estava falando e agora, mais do que nunca, sei que eu deveria ter chamado Octavia.
— Foi em você — soprou, seus braços caindo cansados junto aos seus ombros, e sua cabeça que quase tocou o topo da minha. — Pensei em você primeiro, Rayna. E isso está me matando!
Sua testa escorregou da minha e por um curto momento, achei que ele ia se permitir ser abraçado por mim, mas ele levou seu corpo para longe e como se não aguentasse dar mais nenhum passo, deixou-se cair ao lado da cama.
Dei um passo sem nem perceber em sua direção, mas ele me interrompeu ao sussurrar, necessitado:
— Vai embora, por favor.
E aí? Vocês estão gostando? Pessoal, eu estou aqui, implorando por um Feedback!
Sei que tem gente lendo e muito obrigada a quem envia estrelinhas, de verdade! Mas é que eu realmente estava precisando saber o que vocês estão achando da história, da Rayna e do casal.
E se não ficou explícito ainda, Bellamy e Rayna são o tipo do casal Slowburn. O desenvolvimento vai ser um pouco lento.
As migalhas serão jogadas KKKKKK
Espero que estejam
gostando. Me desculpem por qualquer erro!
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