Capítulo Três
Robert Young:
Conforme Kellor nos guiava pelo corredor, o ar parecia ficar mais espesso, quase como se a casa estivesse viva, observando cada movimento. As paredes ao nosso redor eram decoradas com tapeçarias antigas, mas à medida que avançávamos, a casa começou a revelar sua verdadeira natureza. Quando entramos na sala principal, fiquei sem palavras.
Era uma mistura impressionante de um estilo moderno com a elegância atemporal de uma casa tradicional japonesa. As paredes eram feitas de painéis deslizantes de madeira escura e vidro translúcido, criando um contraste delicado entre o contemporâneo e o antigo. O chão de tatame macio, perfeitamente alinhado, convidava qualquer um a sentar e apreciar o espaço. As janelas enormes, emolduradas por madeira polida, ofereciam uma vista deslumbrante da floresta ao redor, quase como se a casa estivesse conectada com a natureza ao seu redor de uma forma sagrada.
No centro da sala, um jardim zen em miniatura estava cuidadosamente disposto, com areia branca perfeitamente desenhada em padrões ondulados, e pequenas pedras decorativas dispostas com precisão. A combinação de pedras suaves e linhas retas de madeira davam ao ambiente uma harmonia inegável, algo que acalmava a alma apenas por estar ali.
Mas o toque moderno estava sutilmente presente também. Luminárias pendiam do teto, delicadas e minimalistas, lançando uma luz suave e reconfortante. Perto da área de estar, um sofá de couro branco, com design simples e moderno, estava posicionado em um ângulo que não quebrava a harmonia da sala. Em contraste, almofadas bordadas com intrincados padrões japoneses estavam dispostas no chão ao lado de uma mesa baixa de madeira, pronta para receber qualquer visitante que preferisse se acomodar de forma tradicional.
As paredes estavam adornadas com pergaminhos antigos, escritos em caligrafia japonesa, enquanto quadros contemporâneos de cores suaves pendiam em outros pontos, trazendo um equilíbrio surpreendente ao ambiente.
— É... magnífico — murmurei, incapaz de conter a admiração. A sala parecia uma ponte entre dois mundos, o moderno e o tradicional, o terreno e o espiritual. Tudo nela transbordava beleza e harmonia.
— Essa casa foi construída com muito cuidado, combinando tradição e modernidade — disse Kellor, notando minha reação. — Seus pais fizeram questão de que cada detalhe tivesse significado, tanto para os espíritos quanto para o mundo humano.
Enquanto absorvia tudo, Nimuna caminhava com leveza, como se a casa reconhecesse sua presença e se sentisse em paz com ela ali. Mas eu sabia que aquela sala, por mais bela que fosse, ainda escondia segredos.
No canto, a sala de estar se estendia, com uma lareira de design moderno, feita de pedra preta polida, e algumas prateleiras repletas de livros e artefatos que pareciam ter sido recolhidos de várias partes do mundo. Tapetes de seda se estendiam suavemente pelo chão, e a sensação de calor e conforto dominava o espaço, como se convidasse todos a se sentarem e ficarem.
— Sente-se — Kellor indicou, sua voz suave. — Vamos conversar sobre o que vocês precisam saber, e por que esse lugar é tão importante.
Eu me sentei em uma das almofadas, enquanto meus olhos ainda vagavam pela sala, tentando absorver cada detalhe.
— Ainda acho que ele poderia ir embora — Drains murmurou, e aquilo já estava começando a me irritar. Desde que entramos na casa, ele não parava de dizer isso, como se minha presença fosse um incômodo. — Já temos o Damon...
Eu me segurei o quanto pude, tentando manter a calma, mas algo dentro de mim explodiu. Talvez fosse a energia da casa, ou talvez fosse o fato de que eu estava finalmente assumindo o controle do que me pertencia. Olhei para ele com uma intensidade que nem eu sabia que possuía.
— Calado e saia daqui! — As palavras saíram da minha boca antes que eu pudesse pensar, e no instante seguinte, algo poderoso se manifestou.
Em um segundo, uma força invisível, mas brutal, atravessou o ar e arremessou Drains para fora da sala com uma violência inesperada. Ele voou pelos ares, batendo nas portas de papel com um estrondo, enquanto um grito de surpresa escapava de seus lábios. As portas deslizantes se abriram com o impacto, e ele foi jogado para fora, desaparecendo do meu campo de visão.
A sala ficou em silêncio por um momento. Eu estava sem fôlego, chocado com o que tinha acabado de acontecer. A força não veio de Nimuna, nem de Kellor. Veio de mim. Senti a energia fluir pelo meu corpo, como se eu tivesse acabado de despertar algo que sempre esteve lá, dormente, esperando por esse momento.
Nimuna, ao meu lado, levantou uma sobrancelha, surpresa, mas com um leve sorriso de satisfação no rosto. Era como se ela soubesse que isso aconteceria, mas estava esperando o momento certo para me ver agir.
— Bem, queridinho, parece que você está começando a entender seu poder — disse ela com um tom brincalhão, mas também com orgulho. — Esse é o espírito do protetor.
Kellor me olhou com respeito renovado, mas também com cautela.
— Você tem mais poder do que imagina, Robert — disse ele, assentindo. — Mas é bom ter cuidado. O que você acabou de fazer... isso é apenas o começo.
Olhei para minhas mãos, ainda sentindo a energia pulsando nelas, e me perguntei o que mais eu era capaz de fazer.
— Sobre o Damon... — comecei a dizer, mas antes que pudesse continuar, vi Damon entrar calmamente na sala, completamente ignorando o fato de que seu amigo tinha sido arremessado para fora. Ele parecia tranquilo, como se aquilo fosse uma situação cotidiana. — Eu não quero expulsar ninguém, nem causar problemas. Muito menos machucar alguém. Só estou pedindo para poder morar junto com vocês.
Kellor trocou um olhar com Damon, avaliando a situação.
— Eu posso ajudar nos afazeres da casa — acrescentei rapidamente, tentando reforçar minha proposta. — Mas se preferirem, posso ir embora...
Antes que eu pudesse terminar a frase, a casa tremeu violentamente, como se estivesse protestando contra as minhas palavras. As paredes vibraram, o chão sob meus pés balançou, e por um segundo, tudo pareceu parar no ar. Engoli em seco, olhando para Nimuna, que, de forma quase cômica, estava ocupada examinando suas unhas como se nada estivesse acontecendo.
— Então... — Nimuna finalmente falou, sem tirar os olhos das unhas, sua voz carregada de uma calma surpreendente diante da situação. — Você já pisou no terreno, e a casa reconheceu seus poderes, criando a ligação entre vocês dois. — Ela suspirou com um pequeno sorriso. — Seria impossível que você fosse embora agora.
A sensação de conexão que eu tinha sentido antes, aquele abraço caloroso de energia, parecia mais forte agora. A casa não queria que eu saísse. Ela me reconhecia, assim como Nimuna havia dito, e o tremor era sua forma de deixar isso bem claro. Eu não sabia se isso era um alívio ou um fardo, mas estava claro que eu não tinha mais escolha.
Damon, que havia permanecido quieto até então, finalmente falou.
— Acho que a casa fez sua escolha — disse ele, com um leve sorriso no rosto. — Não é só uma questão de querer ou não. Você pertence a esse lugar, tanto quanto nós.
Kellor assentiu, ainda observando-me com aquele olhar avaliativo.
— Parece que você vai ficar, afinal. — Ele deu de ombros, como se o assunto estivesse resolvido. — E quanto a ajudar nos afazeres da casa, nós sempre podemos usar uma mão extra.
Eu soltei a respiração que nem percebi estar segurando, sentindo um misto de alívio e um peso novo sobre os ombros. Eu não sabia o que viria a seguir, mas sabia que meu destino estava profundamente entrelaçado com aquele lugar.
— Eu posso ajudar no que for preciso — disse, me levantando, tentando parecer mais confiante do que realmente estava. Kellor e Damon trocaram olhares divertidos e soltaram uma risada leve, como se minha oferta fosse algo que eles já tivessem ouvido antes.
Antes que pudesse pensar em outra coisa, Nimuna bateu palmas, chamando nossa atenção.
— Com isso, está tudo resolvido — declarou com sua habitual confiança, antes de sair da sala. Sem hesitar, a segui, ansioso para entender o que mais estava por vir.
Caminhamos por um corredor em silêncio, até que Nimuna parou de repente. Com um gesto elegante, ela abriu sua maleta, que sempre parecia guardar segredos, e começou a remexer em algo dentro dela.
— Você vai morar aqui, querido — disse ela enquanto procurava por algo, sem me olhar. — Vai cuidar das coisas da casa, e o Damon vai usar os poderes dele do lado de fora, para proteger o terreno e as fronteiras. Cada um de vocês tem um papel importante aqui.
Fiquei em silêncio por um momento, absorvendo o que ela dizia. Eu estava começando a entender que morar ali não era apenas sobre ter um teto. Havia responsabilidades, um equilíbrio a ser mantido, e, aparentemente, uma conexão mágica que me prendia àquele lugar.
Nimuna finalmente tirou algo de dentro da maleta. Era um pequeno embrulho, envolto em tecido fino, que ela segurava com cuidado. Seus olhos brilharam de leve enquanto me entregava o presente.
— Estava me esquecendo de te entregar isso — disse ela com um sorriso suave. — Preparei pessoalmente, um presente para marcar o início da sua jornada aqui.
Peguei o embrulho com um certo nervosismo, sem saber o que esperar. O tecido era macio ao toque, e quando o abri, me deparei com um amuleto de aparência antiga. Era feito de metal prateado, com uma pedra azul escura no centro que parecia pulsar com uma luz suave, quase imperceptível.
— Este é um amuleto de proteção, querido — explicou Nimuna, seus olhos fixos no meu. — Ele vai te ajudar a manter o equilíbrio entre o mundo dos espíritos e o nosso. Vai protegê-lo de influências indesejadas e também amplificar suas habilidades conforme você as descobre.
Olhei para o amuleto em minha mão, sentindo o peso simbólico do presente. Não era apenas um item de proteção, era um lembrete de que eu estava entrando em um novo mundo, onde minhas escolhas e meu destino agora estavam ligados a algo muito maior do que eu.
— Obrigado — murmurei, sentindo um misto de gratidão e responsabilidade.
Nimuna sorriu e deu um pequeno tapinha no meu ombro, sua expressão mais suave do que o habitual.
— Agora você está realmente pronto, Robert.
Fiquei olhando para o amuleto em minhas mãos por um momento, sentindo seu peso — não só o peso físico, mas o significado por trás dele. Era como se toda a minha vida tivesse me preparado para esse momento, mesmo que eu não soubesse. A sensação de responsabilidade se instalava mais profundamente em mim a cada segundo.
— Obrigado, Nimuna — repeti, desta vez mais confiante.
Ela sorriu, aquele sorriso enigmático que me dava a impressão de que ela sabia muito mais do que estava disposta a compartilhar.
— Você vai precisar disso, mais cedo do que pensa — disse ela suavemente. — As fronteiras entre o mundo dos espíritos e o nosso estão mais frágeis do que nunca. E, como o novo protetor, você vai enfrentar desafios... mas não estará sozinho.
Seus olhos se estreitaram, como se ela estivesse pensando em algo mais profundo, mas logo mudou de assunto.
— Agora, vá se instalar — disse, acenando com a mão, quase como se estivesse me dispensando. — A casa vai te mostrar o caminho. Literalmente.
Dei uma última olhada para ela antes de me virar. Quando voltei para dentro da casa, senti uma mudança sutil no ar, como se a casa estivesse viva e consciente de minha presença. As paredes pareciam vibrar suavemente, e, enquanto caminhava pelos corredores, percebi que as portas se abriam sozinhas, guiando-me, de forma quase imperceptível, até o que seria meu novo quarto.
Quando finalmente cheguei ao quarto, fiquei surpreso. Era simples, mas acolhedor. As paredes tinham aquele mesmo estilo rústico e moderno que o resto da casa, mas o espaço parecia ter sido feito sob medida para mim. Havia uma pequena cama com lençóis de linho macio, e uma estante com livros que me chamaram a atenção imediatamente. No canto, uma escrivaninha de madeira escura com uma cadeira confortável completava o ambiente. A janela dava para o jardim, onde o cenário verde e vivo da floresta se estendia por metros.
Sentei-me na cama, sentindo o cansaço finalmente me alcançar. Tudo estava acontecendo rápido demais. De órfão perdido a protetor de um lugar cheio de espíritos e mistérios. O amuleto ainda estava na minha mão, e o observei mais uma vez, a pedra azul escura pulsando de forma quase hipnótica.
Estou pronto? pensei, encarando o amuleto, como se ele fosse me dar uma resposta.
Antes que pudesse refletir mais, ouvi uma batida leve na porta. Quando olhei, Damon estava ali, encostado no batente, com um sorriso calmo no rosto.
— Parece que a casa gosta de você — disse ele, com uma risada curta. — Nem todo mundo tem a sorte de ser guiado até o quarto.
— Sim, parece que ela tem planos para mim — respondi, tentando soar casual, mas minha mente ainda estava um turbilhão de perguntas.
— Se precisar de ajuda... estamos todos aqui. Eu, Kellor, até o rabugento do Drains. — Ele deu de ombros. — E, claro, Nimuna.
Assenti, grato por suas palavras.
— Acho que vou precisar de muita ajuda, para ser honesto.
Damon deu um passo para dentro, seu rosto assumindo uma expressão mais séria.
— Você não está sozinho nessa, Robert. Seja lá o que está por vir, vamos enfrentar juntos.
Aquela declaração, simples e direta, trouxe um certo alívio. Apesar de todo o caos, eu não estava sozinho.
___________________________________
Gostaram?
Até a próxima 😘
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro