Capitulo Doze
Robert Young:
Damon entrou no quarto, fechando a porta atrás de si. Eu ainda estava tentando recuperar o fôlego, e ele se sentou ao meu lado, a expressão grave. Comecei a falar, explicando tudo que havia acontecido, desde o início: a linhagem de exorcista misturada com magia, o feitiço de contenção que minha mãe colocou em mim e até o primeiro sonho estranho, ou melhor, a primeira vez que entrei no Caminho das Almas, há três dias.
Damon ouviu tudo em silêncio, seu rosto se tornando cada vez mais sério. Quando terminei, ele passou a mão pelo cabelo, claramente tentando processar.
— Espera, deixa eu ver se entendi direito — disse ele, com um tom de voz incrédulo. — Você ouviu youkais falando sobre você, mencionando um mestre que está atrás de você. Depois, conversou com o deus dos sonhos, Hipnos, e descobriu que tem um semideus e um mago na sua linhagem. E agora, você acabou de fazer uma viagem pelos Caminhos das Almas até o reino dos mortos e... falou com seus pais.
Assenti, sentindo o peso de tudo aquilo cair sobre mim novamente.
— Sim. E minha mãe confirmou que foi ela quem colocou o feitiço de contenção no meu corpo para me proteger de um espírito corrompido — continuei. — Eles selaram parte dele na última expedição arqueológica, mas uma parte escapou. E agora ele está atrás de mim.
Damon respirou fundo, fechando os olhos por um momento, claramente tentando manter a calma. Quando abriu os olhos novamente, ele parecia mais sério do que nunca.
— Robert, você entende o que isso significa? — Ele se inclinou para frente, segurando minhas mãos nas dele. — Esse espírito corrompido, seja quem for... ele sabe que você está aqui agora. A proteção da Casa Young ainda está de pé, mas com tudo isso acontecendo, não sabemos por quanto tempo isso vai durar.
Eu podia ver a preocupação nos olhos de Damon, uma preocupação genuína, e isso fez meu peito apertar.
— Então o que fazemos agora? — perguntei, sentindo o pânico subir novamente.
Damon apertou minhas mãos, sua expressão suavizando um pouco, mas os olhos ainda carregavam uma sombra de incerteza.
— Primeiro, precisamos encontrar um jeito de retirar esse feitiço de contenção com segurança. E depois... precisamos nos preparar. Porque se esse espírito realmente está vindo atrás de você, isso é só o começo.
Damon continuou segurando minhas mãos, seu toque era firme, mas ao mesmo tempo suave, como se ele quisesse me acalmar. O silêncio se estendeu por alguns segundos, e pude ver a preocupação e a dor nos olhos dele. Não era só medo do que estava por vir; havia algo mais, algo que ele estava tentando esconder.
— Robert... — começou ele, sua voz soando mais baixa, mais próxima. — Eu sei que você tem muitas perguntas, e eu gostaria de poder te dar todas as respostas, mas... o que está acontecendo com você agora é algo que eu nunca imaginei que veria. E, honestamente, isso me assusta.
Eu me inclinei um pouco para mais perto, sentindo o calor da respiração dele contra meu rosto. Aquela distância entre nós parecia minúscula, e ainda assim, carregava algo tão intenso que fazia meu coração acelerar.
— Você está assustado? — perguntei, a voz um pouco trêmula, mas havia um toque de humor que não consegui segurar. — Achei que nada pudesse assustar o grande protetor da Casa Young.
Damon riu, uma risada curta e suave, mas genuína. Ele balançou a cabeça, um sorriso se formando nos lábios.
— Você sempre sabe como aliviar o clima, não é? — disse ele, me olhando de um jeito que fez meu rosto esquentar.
Senti o calor subir pelas minhas bochechas, e desviei o olhar por um segundo, mas Damon soltou uma das minhas mãos e levou a outra até meu queixo, forçando-me a olhar para ele.
— Ei, estou falando sério. — Sua voz era um sussurro, mas carregava uma intensidade que fazia meu peito apertar. — Você não precisa fazer isso sozinho, entende? Eu estou aqui. E eu vou ficar ao seu lado, não importa o que aconteça.
Havia algo nos olhos dele que me fez perder o fôlego por um momento. Não era apenas preocupação, era carinho, afeto... algo mais profundo que eu não sabia como nomear. As palavras dele fizeram meu coração acelerar de um jeito que eu não esperava.
— Damon... — comecei, sem saber exatamente o que queria dizer. Eu apenas queria que ele soubesse que aquelas palavras significavam mais para mim do que ele poderia imaginar.
Antes que eu pudesse terminar a frase, Damon se inclinou mais perto, e por um segundo, o mundo pareceu parar. Ele estava tão próximo agora que eu podia ver os pequenos detalhes em seus olhos, o brilho quase tímido que nunca havia notado antes.
— Eu me importo com você, Robert — disse ele, a voz suave, mas carregada de sinceridade.
Engoli em seco, sentindo meu peito se apertar. Não consegui responder, mas deixei minha mão livre tocar o rosto dele, sentindo a pele quente sob meus dedos. Damon fechou os olhos por um momento, como se estivesse aproveitando aquele simples toque, e quando abriu os olhos novamente, havia algo novo ali, algo que não precisava de palavras para ser entendido.
— Eu também me importo com você — sussurrei de volta, a voz quase falhando.
Damon sorriu, um sorriso pequeno, mas tão cheio de emoção que quase doeu. Ele se aproximou ainda mais, e, antes que eu pudesse pensar, nossos lábios se encontraram em um beijo suave e hesitante, como se ambos estivéssemos testando as águas.
O beijo era suave, mas carregava uma intensidade que parecia incendiar meu peito. Era como se todas as preocupações, medos e dúvidas desaparecessem naquele momento, e tudo que restasse fosse o calor e o conforto que eu sentia nos braços de Damon.
Quando nos separamos, ele manteve a testa encostada na minha, os olhos fechados, como se quisesse prolongar aquele momento por mais tempo.
— Acho que estamos nisso juntos agora, não é? — ele sussurrou, a voz baixa e carregada de emoção.
Eu sorri, sentindo meu peito leve pela primeira vez em dias.
— Sim, estamos — respondi, e, pela primeira vez, me senti verdadeiramente seguro.
Damon arqueou uma sobrancelha, ainda próximo de mim, com um sorriso curioso nos lábios.
— Então, você sabe como invocar uma youkai agora? — perguntou ele, tentando esconder a preocupação por trás de um tom leve.
— Bem, Kellor me ensinou algumas coisas durante os treinos — respondi, coçando a nuca. — É uma forma de invocar um youkai que eu conheço bem, usando um pouco da minha energia espiritual. Mas, honestamente, não tenho certeza se vai funcionar com Nimuna. Ela é... diferente.
Damon se afastou um pouco, mas não tirou os olhos de mim, como se estivesse avaliando minha confiança. Ele cruzou os braços e assentiu, como se estivesse ponderando.
— Ok, vamos ver do que você é capaz então. Apenas... tome cuidado. Invocar um youkai pode consumir mais energia do que você imagina, especialmente se estiver chamando um espírito tão poderoso quanto Nimuna.
— Você está aqui para me apoiar, não está? — perguntei, tentando aliviar o clima, mesmo sabendo que a tensão entre nós ainda era palpável.
Damon sorriu, aquele sorriso que me fazia sentir que tudo ficaria bem, mesmo no meio do caos.
— Sempre — disse ele, sua voz suave.
Respirei fundo e dei um passo para trás, fechando os olhos. Deixei minha mente se concentrar em Nimuna, a imagem dela nítida na minha mente: o jeito como seus olhos brilhavam de forma misteriosa, o som da sua voz sussurrando segredos do passado.
Senti a aura dourada começar a se formar ao meu redor, e murmurei baixinho:
— Magia da invocação: Nimuna, venha a mim.
O ar ao meu redor estremeceu, e uma brisa fria passou por nós. Quando abri os olhos, o brilho da minha aura havia se expandido, e uma névoa suave começou a se formar na frente de nós. Damon se aproximou, observando com cuidado.
— Está funcionando... — ele murmurou, parecendo surpreso.
A névoa se condensou, girando em espirais, e então, como se estivesse atravessando um véu, Nimuna surgiu diante de nós. Seus olhos, brilhando com um tom violeta, se fixaram em mim, e um sorriso enigmático apareceu em seus lábios.
— Chamou por mim, jovem exorcista? — disse Nimuna, sua voz carregada de mistério e um toque de provocação. — Vejo que aprendeu a me invocar. Estou impressionada.
Damon soltou o ar que estava segurando, claramente aliviado. Eu me endireitei, tentando parecer confiante.
— Precisamos da sua ajuda, Nimuna — falei, encontrando seus olhos. — Você sabe sobre o feitiço de contenção que foi colocado em mim, não sabe?
Nimuna riu baixinho, como se tivesse esperado por esse momento.
— Ah, sim, eu sei. E posso ajudar você a entender como remover isso... mas devo avisar, exorcista, que o preço pode ser alto.
— Que tipo de preço? — perguntei, sentindo o estômago apertar com a resposta que estava por vir.
Nimuna inclinou a cabeça, seu sorriso enigmático se alargando.
— Cada artefato que seus pais encontraram ao longo dos anos tem um mecanismo específico para ser ativado. Eles foram projetados para desafiar sua mente e testar sua determinação — explicou ela, recostando-se contra a parede, como se estivesse prestes a contar um segredo. — O artefato que remove um feitiço de contenção no corpo é uma espécie de tesoura espiritual. Mas aqui está o risco: a pessoa que a usa precisa estar completamente focada, sem hesitações.
Ela fez um gesto com a mão, simulando um corte em seu próprio pescoço, seus olhos brilhando com um toque de diversão.
— Se houver um único pensamento equivocado, um momento de dúvida, a tesoura pode separar sua alma do corpo. Em vez de remover o feitiço, você acabaria... morto.
Senti um arrepio percorrer minha espinha, e antes que pudesse processar totalmente o que ela disse, Damon se virou para mim, seus olhos arregalados de pânico.
— Robert, isso é uma loucura! Você não pode arriscar sua vida assim. Há outras formas, podemos encontrar outra solução — disse ele, a voz carregada de desespero.
— Eu aceito esse preço — declarei, antes que pudesse mudar de ideia. Minha voz saiu firme, mas meu coração batia forte no peito.
— Que corajoso de sua parte — Nimuna disse, seu sorriso se tornando um pouco mais suave. — Vou levá-lo até o local onde os artefatos estão guardados amanhã pela manhã. Mas lembre-se, sou um espírito guardião, e mesmo eu preciso descansar. Assim como vocês dois.
Ela desapareceu na névoa antes que eu pudesse responder, deixando apenas o silêncio para preencher o espaço entre mim e Damon.
Damon se aproximou, segurando meu rosto com as mãos, os olhos fixos nos meus, como se estivesse tentando entender por que eu aceitaria algo tão arriscado.
— Você não precisa fazer isso, Robert — ele disse, a voz baixa, quase um sussurro. — Não sozinho.
Eu coloquei minhas mãos sobre as dele, sentindo o calor de seu toque.
— Eu não estou sozinho, Damon. Tenho você aqui comigo — respondi, minha voz suave, mas cheia de certeza.
Ele suspirou, encostando a testa na minha, seus olhos fechados por um momento, como se estivesse tentando absorver o que eu havia dito. Quando abriu os olhos novamente, havia uma determinação neles que eu nunca tinha visto antes.
— Então vamos enfrentar isso juntos. Amanhã — ele sussurrou, e, pela primeira vez, senti que talvez tivéssemos uma chance.
Eu arqueei uma sobrancelha, surpreso pelo comentário direto de Damon. Não esperava ouvir aquilo, ainda mais em meio a uma conversa tão séria.
— Então... — comecei, tentando disfarçar o sorriso que ameaçava surgir. — Como você vai me ajudar se não pode sair do território da Casa?
Damon suspirou e balançou a cabeça, como se tivesse uma resposta pronta.
— Vou pedir para o Drains ir com você — disse ele, sem hesitar. — Sei que vocês dois têm... uma relação complicada, mas ele é forte e confiável.
Revirei os olhos, soltando um suspiro exagerado.
— Ele não gosta de mim, Damon. Sempre que pode, ele me provoca ou implica comigo — retruquei, cruzando os braços. — Acho que ele preferiria lutar com aquele espírito corrompido do que me ajudar.
Damon riu, o som baixo e suave. Ele se inclinou um pouco mais perto, e seu olhar era tão sincero que fez meu peito apertar.
— Robert, Drains é complicado, sim. Mas quem não gostaria de você? — disse ele, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. — Você é lindo, fofo e engraçado.
Eu senti meu rosto esquentar imediatamente, as palavras dele me pegando de surpresa.
— Você está me elogiando para eu aceitar a ideia, não é? — brinquei, tentando esconder meu constrangimento.
Damon sorriu, aquele sorriso pequeno e caloroso que parecia iluminar o quarto.
— Não, estou apenas dizendo a verdade — respondeu ele, sua voz suave. Ele tocou meu rosto de leve, o polegar acariciando minha bochecha. — E se isso te convencer a ficar seguro, então vou repetir quantas vezes forem necessárias.
Meu coração deu um salto, e antes que eu pudesse responder, Damon se afastou, o brilho nos olhos dele deixando claro que ele sabia exatamente o que estava fazendo.
— Amanhã, você e Drains vão juntos — ele disse, finalizando o assunto com um aceno de cabeça. — E eu vou estar esperando aqui para garantir que você volte em segurança.
Eu sorri, sentindo meu coração aquecer. Talvez eu estivesse entrando numa missão perigosa, mas saber que Damon estava do meu lado fazia tudo parecer menos assustador.
— Então é isso — murmurei, assentindo. — Juntos, amanhã.
Damon sorriu de volta, e naquele momento, a certeza de que estávamos nisso juntos me deu a coragem que eu precisava.
Damon soltou uma risada leve e balançou a cabeça, os olhos cheios de diversão.
— Melhor você ir se deitar agora, e eu também, sem fazer nada arriscado como entrar no Caminho das Almas outra vez — disse ele, me lançando um olhar significativo.
— Se quiser, pode... pode dormir aqui comigo — falei sem pensar, e assim que as palavras saíram, senti meu rosto esquentar. Eu estava pronto para dizer que era uma brincadeira, mas Damon apenas sorriu ainda mais.
— Bem, já que está me convidando desse jeito... — Ele deu um passo à frente, deslizando para a minha cama como se já pertencesse ali. Antes que eu pudesse reagir, ele me puxou gentilmente, me fazendo deitar ao lado dele.
O calor do corpo dele era reconfortante, e eu senti seu braço ao redor dos meus ombros, me puxando para mais perto. Eu estava nervoso, mas também havia uma sensação de tranquilidade que não sentia há muito tempo.
— Está confortável assim? — ele perguntou baixinho, com a voz suave e um sorriso nos lábios.
Eu assenti, incapaz de esconder o sorriso que também surgia no meu rosto.
— Está perfeito assim — murmurei.
Damon soltou um suspiro, relaxando ao meu lado, e eu pude sentir seu coração batendo de forma constante. Ele passou a mão pelos meus cabelos, fazendo carinho devagar, o gesto tão natural que quase me fez querer chorar de alívio.
— Sabe, Robert, você me surpreende a cada dia — ele disse, a voz baixa e cheia de ternura. — Nunca imaginei que acabaria assim, ao lado de alguém como você. Mas estou feliz por estar aqui.
Eu me aconcheguei mais perto dele, sentindo a segurança em seus braços.
— Também estou feliz — sussurrei, fechando os olhos, deixando que o calor e o carinho de Damon me acalmassem.
Por um momento, todo o medo e a tensão desapareceram. Não havia espíritos, não havia perigos iminentes. Apenas nós dois, compartilhando aquele momento de paz, como se o mundo lá fora não pudesse nos alcançar.
— Boa noite, Robert — ele disse, a voz suave.
— Boa noite, Damon — respondi, antes de deixar o sono me levar, sentindo o toque dos dedos dele nos meus cabelos como uma promessa silenciosa de que estaríamos bem.
*******************************************
O sonho começou de forma sutil, como se eu ainda estivesse no quarto. Mas, pouco a pouco, algo estava errado. O ar ficou pesado e úmido, e eu podia ouvir o som de vento uivando lá fora. Levantei-me da cama, confuso, e caminhei até a janela. O que vi do lado de fora me deixou paralisado.
Uma tempestade estava se formando, mas não era uma tempestade normal. As nuvens eram negras como carvão, girando como um redemoinho, e pareciam pulsar, como se fossem vivas. Relâmpagos vermelhos cortavam o céu, iluminando o horizonte com flashes violentos. Eu sentia o cheiro de ozônio no ar, misturado com algo apodrecido, algo que não pertencia a este mundo.
A tempestade avançou em direção à Casa Young, e quando atingiu o terreno, o impacto foi devastador. O chão tremeu, e uma rachadura enorme se abriu no solo, estendendo-se como uma ferida profunda. Do buraco, uma luz esverdeada e espectral começou a brilhar, e percebi, horrorizado, que o mundo espiritual estava invadindo o mundo mortal. Espíritos se arrastavam para fora da fenda, suas formas distorcidas e agitadas, como sombras dançando na escuridão.
Olhei para a cidade abaixo da colina e vi uma névoa densa e cinzenta se espalhar pelas ruas, engolindo tudo em seu caminho. As luzes das casas desapareciam uma a uma, como se estivessem sendo apagadas por uma mão invisível. A névoa subiu a colina, rápida e implacável, e antes que eu pudesse reagir, senti o frio se infiltrando em meus ossos. Meu corpo tremeu, e uma risada baixa e sinistra ecoou ao meu redor, sufocante, como se estivesse vindo de todos os lados ao mesmo tempo.
Eu me virei em todas as direções, o pavor crescendo dentro de mim. Havia uma presença ali, algo que eu não conseguia ver, mas que podia sentir. Era como se uma sombra estivesse me observando, uma entidade invisível que conhecia cada parte da minha alma.
— Está sentindo isso, não está? — A voz soou, sombria e arrastada, como o som de uma lâmina sendo arrastada sobre pedra. — Logo... logo vou chegar, pequeno exorcista. E então veremos do que você é capaz.
Meu coração disparou, o medo se espalhando como gelo em minhas veias. A presença se aproximava, e a risada se intensificou, mais alta, mais próxima. Senti algo apertar minha garganta, me sufocando, como se mãos invisíveis estivessem tentando me estrangular.
Tentei gritar, mas o ar não saía. Minhas pernas não se mexiam. Eu estava preso, paralisado pelo pavor. O quarto ao meu redor começou a se distorcer, as paredes derretendo como cera, o chão se abrindo novamente em uma fenda de trevas. Caí de joelhos, o mundo ao meu redor rodopiando, a voz ainda ecoando em minha cabeça.
— Estou vindo para você, Robert... Prepare-se para o caos.
E então, tudo ficou negro. Eu acordei ofegante, meu corpo coberto de suor frio, o coração batendo descontrolado no peito. Por um segundo, o som da risada ainda ecoava em meus ouvidos, como se o pesadelo ainda estivesse me perseguindo mesmo agora que eu estava acordado.
Acordei com o coração disparado, o som da risada sombria ainda ecoando nos meus ouvidos. O quarto estava em silêncio, exceto pelo ronco suave que vinha ao meu lado. Virei a cabeça devagar e vi Damon dormindo, o braço jogado sobre os olhos, a respiração lenta e ritmada. Ele parecia completamente relaxado, como se nada pudesse perturbá-lo.
Eu me apoiei em um cotovelo, observando-o por alguns segundos. Havia algo tão pacífico em vê-lo assim, despreocupado e vulnerável. O jeito que os cabelos dele caíam sobre a testa, as linhas suaves do rosto... Eu podia sentir o calor do corpo dele irradiando para o meu lado, e, por um momento, o medo do pesadelo começou a se dissipar.
Mas a sensação de que algo estava errado ainda estava lá, como um eco persistente. Eu passei a mão pelo meu peito, sentindo o suor frio e a marca da linha dourada brilhando fracamente sob meus dedos. Aquele sonho... Não, aquilo foi mais que um sonho. Parecia real demais. Parecia um aviso.
Damon resmungou algo incoerente e virou o rosto para o meu lado, o braço deslizando para o colchão. Um sorriso leve e desajeitado apareceu nos lábios dele, como se estivesse tendo um sonho bom. Eu sorri, apesar da ansiedade que ainda latejava dentro de mim.
— Você está tendo uma noite bem melhor que a minha — sussurrei, quase rindo.
Eu me inclinei para mais perto, sem pensar, e toquei o cabelo dele de leve, afastando uma mecha do rosto. Damon soltou um som baixo, meio adormecido, e abriu os olhos apenas um pouquinho, os cílios pesados ainda fechando de volta.
— Está tudo bem, Robert? — ele murmurou, a voz rouca de sono.
Meu sorriso se desfez um pouco, mas tentei parecer tranquilo.
— Está, sim. Foi só um pesadelo... Nada de mais — menti.
Ele franziu o cenho, ainda meio sonolento, mas se mexeu, abrindo espaço para mim no colchão, e passou o braço ao meu redor, me puxando para mais perto. O calor do corpo dele era reconfortante, e antes que eu pudesse me afastar, ele me segurou firme.
— Pesadelos não são "nada de mais", especialmente para você — disse ele, os olhos ainda fechados, mas a voz mais desperta. — Fica aqui, comigo. Não vou deixar nada te machucar.
Senti meu peito apertar com o carinho na voz dele. Eu queria contar tudo sobre o sonho, sobre a tempestade, a voz sombria, o medo que ainda pulsava dentro de mim. Mas, por agora, apenas deitei a cabeça no peito dele, ouvindo o som constante e seguro de seu coração batendo.
— Obrigado, Damon — sussurrei, quase sem voz.
Ele apenas murmurou algo baixinho e apertou o abraço, como se não quisesse me soltar. Eu fechei os olhos, deixando que o calor e a segurança dele me envolvessem. Pelo menos, por enquanto, eu estava seguro.
Eu tentei voltar a dormir, mas a voz sombria ainda ecoava na minha cabeça, como um sussurro insistente que não me deixava em paz. Damon continuava deitado ao meu lado, sua respiração calma, mas eu estava inquieto, virando de um lado para o outro. Estava começando a pensar que tudo ficaria bem, que talvez o pesadelo não fosse mais do que um reflexo dos meus medos... até que a porta se abriu de repente com um estrondo.
Eu pulei da cama, o coração disparando, e Damon abriu os olhos devagar, esfregando o rosto com a mão.
— Robert, você viu... — Kellor apareceu na porta, espiando para dentro. Quando viu Damon ao meu lado, ele soltou um suspiro de alívio.
— O que foi agora, Kellor? — Damon perguntou, ainda sonolento, mas se sentando.
— Que horas são? — perguntei, tentando entender a urgência.
— Mais ou menos cinco da manhã — respondeu Kellor.
— Cinco da manhã? — Olhei para ele, incrédulo. — É bom que tenha uma ótima razão para fazer esse barulho e me acordar a essa hora.
Kellor me lançou um olhar travesso, apontando de mim para Damon, um sorriso brincalhão surgindo nos lábios.
— Por que a pressa? Estava acontecendo algo interessante aqui? — perguntou ele, arqueando uma sobrancelha.
Eu senti meu rosto esquentar imediatamente e desviei o olhar.
— Não teve nada demais, Kellor — retruquei, cruzando os braços.
Damon se levantou da cama, rindo baixinho, e deu um tapinha nas costas de Kellor ao passar por ele.
— O que aconteceu, então? — perguntou Damon, ignorando a provocação.
Kellor ficou sério de repente, o sorriso desaparecendo.
— Mama Kat está aqui para ver você, Damon. Fui procurar no seu quarto, mas você não estava lá, então imaginei que estaria aqui — explicou ele, me lançando um olhar rápido e cúmplice.
Damon parou por um segundo, a expressão mudando de surpresa para preocupação.
— Mama Kat? Aqui? — ele repetiu, franzindo o cenho.
Eu olhei de um para o outro, confuso. O nome era novo para mim, mas pelo jeito que Damon e Kellor reagiram, não parecia ser uma visita comum.
— Quem é Mama Kat? — perguntei, me levantando e pegando uma camiseta.
Damon suspirou, passando a mão pelos cabelos.
— Você vai descobrir agora, Robert. Vamos lá, é melhor você vir também — ele disse, pegando minha mão e me puxando para fora do quarto.
Pelo jeito, a manhã estava apenas começando, e algo me dizia que essa visita não era de boas notícias.
Fomos juntos até um dos quartos do andar de baixo, e assim que a porta se abriu, eu precisei piscar algumas vezes para ter certeza de que estava vendo direito. Mama Kat era uma gata gigantesca, com pelo cinza espesso e olhos amarelos que brilhavam como ouro líquido. Ela estava sentada em uma almofada de veludo, e seu tamanho impressionante tomava boa parte do quarto. Drains, ao lado dela, parecia prestes a se bater contra a parede, como se estivesse sendo torturado por alguma coisa que ela estava dizendo.
— Mama Kat — Damon disse, sorrindo abertamente, como se estivesse encontrando uma velha amiga. Ele se aproximou e fez uma reverência exagerada, claramente brincando.
Mama Kat estreitou os olhos para ele, mas havia um brilho divertido em seu olhar felino.
— Finalmente, Damon, veio me ver — ela ronronou, sua voz soando como um misto de veludo e areia. — Estava começando a achar que tinha se esquecido de mim. — Ela então lançou um olhar curioso para mim e voltou a se concentrar em Damon. — Já preparei possíveis noivas para você, querido.
Drains soltou um gemido, batendo a cabeça contra a parede com um leve thump, como se não pudesse acreditar no que estava ouvindo.
— Noivas? — repeti, incrédulo, olhando para Damon. — Eu devo estar escutando errado.
Damon soltou uma risada nervosa e se virou para mim, balançando a cabeça.
— Mama Kat tem essa mania — explicou ele. — Ela acha que, como sou o protetor da Casa, preciso me "estabelecer" e formar uma família. E, aparentemente, agora ela trouxe... opções.
— Opções? — levantei uma sobrancelha, cruzando os braços.
Mama Kat me analisou por um momento, os olhos amarelos brilhando de interesse.
— Oh, mas quem é este jovem exorcista que está ao seu lado, Damon? — Ela ronronou, estreitando os olhos para mim, como se estivesse me estudando. — Você nunca mencionou que tinha um companheiro. — O sorriso dela se alargou, e suas presas brilharam à luz do quarto.
Damon ficou visivelmente constrangido, corando um pouco.
— Ele não é meu companheiro... quer dizer, não desse jeito — disse ele, lançando um olhar para mim. — Robert é... um amigo. Um amigo muito especial.
Eu senti meu rosto esquentar e desviei o olhar, tentando esconder o sorriso que ameaçava surgir.
— Bem, bem — Mama Kat ronronou, com um brilho travesso nos olhos. — Talvez eu tenha escolhido as noivas erradas, então.
Drains soltou uma risada sufocada, ainda encostado na parede, tentando se recompor.
— Você se mete em cada situação, Damon — ele disse, rindo. — Quero ver como vai sair dessa agora.
Damon apenas suspirou, passando a mão pelos cabelos, claramente sem saber como explicar a situação.
— Mama Kat, eu agradeço o esforço, mas... acho que minhas prioridades são outras no momento — disse ele, finalmente, tentando parecer sério.
Mama Kat ronronou, seu sorriso felino se alargando.
— Veremos, querido. Veremos. — Ela então piscou para mim. — E você, jovem exorcista, cuide bem do nosso Damon. Ele precisa de alguém que o mantenha na linha.
Eu apenas assenti, rindo nervosamente, enquanto Damon escondia o rosto nas mãos, claramente derrotado.
Eu dei um passo para trás, levantando as mãos em rendição.
— Eu acho que vou deixar vocês resolverem essa situação... — falei, tentando escapar. — E vou cuidar de um outro assunto.
Antes que eu pudesse dar mais um passo, Drains pulou do lugar, parecendo aliviado por ter uma desculpa para sair dali.
— Eu vou com você! — ele exclamou, quase correndo para o meu lado.
Damon lançou um olhar cúmplice para mim e assentiu, claramente contendo uma risada.
— Ele vai com você, Robert. Aproveite a companhia — disse Damon, piscando para mim, enquanto Kellor disfarçava uma risada atrás da mão.
Revirei os olhos, tentando esconder o sorriso que ameaçava aparecer.
— Vamos, Drains. Acho que já causamos confusão o suficiente por hoje — falei, puxando-o pelo braço enquanto saíamos do quarto.
No corredor, Drains soltou um suspiro aliviado, como se tivesse escapado de uma tortura.
— Para onde estamos indo? — ele perguntou, olhando para mim com curiosidade.
— Vamos ver alguns artefatos que meus pais deixaram escondidos — respondi. — E, para isso, vou precisar chamar a Nimuna novamente.
Drains me olhou com uma expressão de leve surpresa, mas assentiu, como se estivesse preparado para qualquer coisa. Fechei os olhos por um segundo e concentrei minha energia, pensando em Nimuna. Senti a familiar vibração da aura dela se aproximando, como uma onda suave de energia que preenchia o espaço ao nosso redor.
— Você me chamou, jovem exorcista? — A voz misteriosa de Nimuna ecoou no corredor, e quando abri os olhos, ela estava ali, surgindo da névoa como se tivesse atravessado um portal.
— Preciso da sua ajuda para encontrar os artefatos que meus pais esconderam — expliquei, tentando manter a voz firme. — Acho que é hora de descobrir o que eles realmente guardavam.
Nimuna sorriu, seus olhos brilhando com um misto de interesse e diversão.
— Então, finalmente está pronto para enfrentar o que seus pais deixaram para trás — ela disse. — Muito bem, siga-me. E, exorcista, prepare-se... o que você encontrará lá pode não ser o que espera.
Eu olhei para Drains, que apenas deu de ombros e me lançou um olhar confiante.
— Vamos logo, antes que mude de ideia — ele disse, começando a andar.
E, juntos, seguimos Nimuna pelo corredor, sabendo que estávamos prestes a descobrir algo que mudaria tudo.
___________________________________
Gostaram?
Até a próxima 😘
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro