Capítulo 1 - Cânticos 4:10,11
Não tenho certeza se estou com os olhos abertos ou fechados, ao meu redor está tudo tão escuro. Sinto cheiro de terra molhada e ouço estalos na janela como se pequenas pedras caíssem sem parar e isso prende minha atenção até ela ser quebrada pelo ronco da pessoa que dorme tranquilamente ao meu lado. Me viro em direção a ela e penso em buscar seus pés quentes embaixo das cobertas para esquentar os meus que estão tão gelados quanto os de um defunto, mas esse pensamento me causa grande estranheza, então me encolho novamente. Não quero incomodá-la, muito menos despertá-la de um sono tão bom. Após alguns minutos, ou talvez horas, não sei ao certo, no escuro e no silêncio o tempo parece passar de uma forma diferente, não importa, apenas desisto de dormir e tomo a decisão mais perigosa de todas: levantar. Planejo meus movimentos antes de fazê-los e consigo sair da cama, calçar minhas pantufas, pegar meu celular e caminhar pelo quarto sem fazer nenhum barulho, se não fosse pelo rangido da porta eu teria saído despercebida.
— Já está de manhã? — Resmunga com a voz mais doce que já ouvi. Fico em silêncio e, como eu previa, ela volta a dormir como se não tivesse acordado segundos atrás.
Saio e deixo a porta entreaberta, só quando me afasto um pouco tenho coragem de ligar a lanterna. O corredor a minha frente é tão sem graça, eu deveria ter pintado como queria ao invés de deixar minha mãe me convencer de que branco ficaria melhor, ele está repleto de caixas que estão repletas de coisas, nenhum quadro na parede, nenhum tapete bonitinho, apenas caixas. Com sete passos eu chego na cozinha, agora posso desligar a lanterna já que a iluminação da rua também está clareando o ambiente. Vou sentir saudade daqui, na verdade parece que já sinto mesmo que eu ainda não tenha ido. Sinto vontade de dizer em voz alta que eu não quero ir, mas sigo em silêncio em direção a geladeira que é uma das poucas coisas que ainda estão em seu lugar e pego uma cerveja.
Me aproximo da janela e observo a rua vazia, iluminada e com poças de água da chuva que cai sem parar. O prédio a minha frente está com todas as luzes apagadas, exceto por uma que fica na portaria, mesmo que nenhum dos prédios da vizinhança tenha um porteiro.
— O que ta fazendo? — Sinto meu corpo inteiro tremer, mas talvez eu já estivesse tremendo por conta do frio.
— Bebendo uma cerveja, quer? — Estendo a garrafa em direção a ela, que recusa gentilmente com um sorriso.
— Está frio — vem até mim e me abraça, não sei se para me aquecer ou se para aquecer a si mesma, mas é bom. — Olha só como está gelada.
— A cerveja também — dou um gole. — Gosto do seu abraço.
— Também gosto do seu.
Ficamos em silêncio. Sinto meu corpo ficar cada vez mais quente e agora não consigo prestar atenção em outra coisa que não seja o cheiro do hidratante que ela sempre passa depois do banho, não posso evitar me lembrar de todas as vezes que presenciei esse momento, a atenção que ela dá para cada parte do seu corpo. Ela passeia as mãos pela minha barriga e sinto a ponta fria do seu nariz em minhas costas, como quem tenta capturar o perfume de uma flor. Me viro em sua direção e, antes que eu tivesse a oportunidade, ela me beija. É como uma oração divina. Quando ela me beija, eu me sinto perto de deus. Seus lábios são tão macios e sua calma me da vontade de te devorar.
Solto a garrafa e só com o barulho que ela faz no chão eu percebo que fiz a maior bagunça, mas já não tem importância. Pego ela no colo e sinto suas pernas entrelaçarem em mim.
— Me come — diz durante o beijo.
Encosto o corpo dela na janela e uma das minhas mãos fica livre. Sinto a pele quente e macia na parte interna de suas coxas e algo molha os meus dedos. Ela sorri. Introduzo um dedo após o outro, só paro quando ouço seu gemido e então começo a te tocar cada vez com mais intensidade. Estou tão molhada que sinto escorrer. Não paro até sentir suas pernas tremendo. Quando ela goza e seu corpo amolece, a levo de volta ao quarto, ouço os cacos sendo chutados e o chão está molhado. Eu a coloco na cama e ajoelho para agradecer aos céus pela oportunidade, percorro a língua por suas pernas até chegar lá, seus gemidos se misturam com a chuva e suas mãos me seguram pelo cabelo me mostrando exatamente onde ela quer que eu vá. Chupo cada centímetro. Desço a mão até minha vagina e percebo o quanto estou excitada. Quero seu mel na minha boca, Tommie.
~ ~ ~
— As panquecas não estão boas? — Pergunta com um tom de preocupação. — Posso por mais calda, se quiser.
— Não, estão ótimas, só não estou com tanta fome — encaro o prato.
— Olha, se você quiser nós podemos cancelar a visita.
— O quê? — Como ela sabe que estou pensando nisso?
— Você está toda estranha desde que finalmente achamos uma casa, só, sei lá, se você tiver mudado de ideia...
— Eu vivi muitos anos aqui, é estranho me imaginar em outro lugar, é só isso — levo um pedaço de panqueca até a boca só para ter uma desculpa para não responder mais nada.
— Bom, estou indo pro consultório — ouço o barulho de suas chaves sendo pegas. — Caso queira desistir da visita e permanecer aqui onde viveu com sua ex até ela decidir te dar um pé na bunda, me avisa até antes do almoço pra eu desmarcar com a corretora, tudo bem? — Deposita um beijo em minha bochecha.
— Tommie — eu não sei o que dizer.
— Até mais tarde, Bri.
Quando ela sai, o apartamento fica em um silêncio desesperador. Eu obviamente não pensei antes de dizer o que eu disse e agora preciso lidar com essa vergonha alheia de mim mesma. Continuo comendo e lembro do chão que ainda preciso limpar.
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