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"ele estava feliz, tinha se casado e agora ia ter um filho. filho esse que ele deseja que seja igual a você, você tem muitas qualidades, cariño."
13 de Fevereiro
A tranquilidade do trabalho naquele dia era estranha. Alejandro nem se deu conta de que leu a carta longe de casa, a ansiedade estava o corroendo por dentro.
A essa altura, seu chefe sabia que ele perdera o pai recentemente, mas não tinha idéia de quem era o pai. Se ele soubesse.
O garoto releu a carta por várias vezes, focando no elogio. Você tem muitas qualidades. A dureza de seu pai não permitia que um elogio escapasse de seus lábios, mas naquela hora, seu corpo arrepiava-se ao ouvir um sussurro de seu pai. Você tem muitas qualidades.
De repente, tudo se tornou doloroso naquele dia, uma família foi tomar um café naquele bar, Alejandro os atendeu, os serviu e os observou, como um predador observa sua presa, mas ele não estava prestes a atacar, na verdade nem ele sabia porquê os seus olhos insistiam em olhar a figura daquele pai brincando e rindo com o seu filho, era nítido uma coisa, algo que Alejandro sem dúvidas nunca sentirá pelo seu pai e não sabia se ao menos seu pai sentiu isso por ele. Amor.
Mais tarde, aquela família feliz e amorosa seguiu de volta para seu lar, entregando uma nostalgia para Alejandro, como quem entrega um bebê para uma criança cuidar, como quem entrega um fardo para quem nem consegue se levantar.
Ele estava atrás do balcão, não estava aguentando o peso de seu próprio corpo, então sentou-se e ouviu passos adentrando o local. Revirou os olhos e continuou sentado, esperando que a pessoa fosse até o balcão como todas faziam.
Num misto de nostalgia e atordoamento, os passos não cessaram, ele contou mentalmente e pela quantidade, a pessoa já deveria ter alcançado o balcão a muito tempo, porém os sons da bota continuaram se arrastando pelo chão. Quando o garoto pensou em levantar, uma voz masculina se pronunciou.
— Não desista.
Seus olhos se arregalaram e ele levantou depressa, sua respiração já estava pesada e seu coração agora era tudo que ele ouvia, forte, pesado e apressado. Sua visão estava embaçada, um misto de adrenalina se espalhava pelas suas veias, preenchido por estes sintomas, ele achou ter visto um vulto passar pela porta, correu até lá e ao fitar a rua, não via nada além das árvores naquele branco infinito. Estava ficando louco?
As horas que se passaram foram de perturbação, os homens até estranharam, quando entraram no bar não viram aquele garoto interessante que estava trabalhando para se sustentar, viram um nada, um vazio, um alguém neutro, invisível, perturbado, estranho, isso tudo era estranho para eles. Com um pedido de desculpas, o garoto se retirou para almoçar em sua casa.
Enquanto caminhava pela neve, esfregando um braço no outro para ter uma sensação de calor, ele ouviu mais uma vez. Passos, esmagando o gelo que espalhava-se na terra.
Seu coração tornara-se delirante, seu sangue corria para vários lados de seu corpo e o som de passos não fazia nada além de se aproximar ainda mais. Ele decidiu correr.
Já estava habituado a fazer isso, desde o incidente com seu pai, sua vida apenas corre em todos os sentidos. Agora, a adrenalina tomava conta dele e ele não sabia se o "estranho" corria atrás dele.
Quando avistou seu lar, avançou com ainda mais pressa, porém, seu pé acabou deslizando no último degrau e ele não segurava no corrimão, portanto, seu corpo foi de encontro ao chão, se chocando no piso coberto de neve, eram mais ou menos vinte centímetros até alcançar a porta e seu corpo deslizou de forma bruta até lá, batendo a cabeça do garoto fortemente na porta que estava fechada.
Uma forte dor e uma tontura enjoativa, misturada com seu delírio e seu desespero fizeram seu olhar embaçado fitar uma sombra vindo em sua direção, imóvel ele observou até seus olhos voltarem ao normal e mostrarem apenas neve, nenhuma movimentação, apenas o branco familiar fora visto e seu pulso acelerado era ouvido.
Ele balançou a cabeça, segurando em seus cabelos, num gesto de desgosto, não podia estar acontecendo isso naquele momento, ele precisava de sua sobriedade.
Respirou fundo e esticou seu braço, para abrir a porta e arrastar-se para dentro, se jogando no chão e fechando a porta com o pé logo em seguida.
Fechou os olhos com força e tentou não pensar em nada disso. O vento contra a janela anunciava mais uma nevasca se aproximando e ele estava deitado no chão frio, relativamente atordoado.
— Você pode, sabe, invadir meu escritório um pouquinho, tem coisas boas lá, você merece saber algumas coisas, você não sabe de tudo ainda e eu sinto muito por isso.
Soou a voz do pai em sua mente, num certo momento de revelação ele havia dito isso par ao garoto, vendo ele com uma fidelidade boba, sugeriu que visse as papeladas que seu pai guardava, a maioria sobre seu trabalho, o qual Alejandro pouco conhecia.
Ramon também continha muitos livros, enfileirados numa gaveta de sua mesa, mas nenhum abordava uma literatura, no geral, falava sobre assuntos Internos e complicados.
Lembrando-se dessa ocasião, ele se levantou e sentiu sua cabeça reclamar, por conta do impacto da batida. Deu alguns passos para mais adiante, com a palma de sua mão pousada em sua testa, como se aquele gesto fosse melhorar sua dor. Caminhou em direção à mesa de escritório de seu pai, a tocando ele obteve uma breve visão do passado.
Dias atrás seu pai juntou todas as papeladas e as organizou dentro das gavetas, como quem se despede silenciosamente, aquele foi o primeiro sinal de que ele sabia que era chegada a sua hora.
Nunca conversaram a respeito de todos estes papéis, uma vez Ramon anunciou que ali estavam relatórios e outras coisas relacionadas ao trabalho, tal qual era um mistério para o garoto. Antes de falecer, o homem trabalhava como corretor de imóveis, mas há uns boatos na vizinhança, dizem que ele trabalhava com coisas ruins e era procurado pela polícia, mas, se fosse assim, a polícia falaria quando estava aqui averiguando da morte dele; dizem que ele sempre trabalhou como Delegado da região e outros dizem que ele vivia trocando de emprego. A verdade é que o currículo de Ramon Rosales é extenso.
Abrindo de uma vez a primeira gaveta, ele encontrou documentos da corretora em que trabalhou, alguns casos e papéis assinados por ele, algumas anotações e afins, organizados em uma fina pasta que estava aberta.
Na segunda, ele pôde encontrar um carimbo da Delegacia da cidade, novamente papéis organizados dentros de uma fina pasta aberta, dentro deste haviam casos investigativos, alguns casos pelo qual o homem teve de passar e os casos que ele resolveu; havia recortes de jornal no meio de tudo, talvez indicando a matéria dos casos que ele resolveu.
A última gaveta estava um amaranhado de papéis, alguns amassados, algumas cartas, aquela gaveta parecia ser a mais sombria e mais pessoal, obtinha mais papéis que as anteriores e mantinha a curiosidade do garoto completamente acesa.
Pegou aqueles papéis com cuidado e colocou no piso, sentando-se logo em seguida naquele chão gélido de inverno. Folheou impaciente aquela bagunça e manteve-se imune às tentativas de assombro cada vez que um som era ouvido ao redor.
Ele olhou alguns casos e leu o nome de seu pai diversas vezes junto aos nomes dos parceiros dele, era como voltar ao passado. Havia um mapa, com círculos em caneta indicando por onde ele já passou ou fazendo algumas anotações. Observando aquele mapa, uma nova visão de mundo era aplicada à sabedoria do jovem.
Apenas algo o fez despertar e guardar as coisas lá dentro. Além do baixo som vindo da porta, Alejandro encontrou um papel rasgado onde estava escrito um único nome, um nome de mulher, ele resolveu guardar em seu bolso e foi ver o que se passava lá fora, só que mais uma vez, não era nada.
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Não esquece da estrelinha e obrigada pela leitura.
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