Folga e visita
Quando acordou naquela tarde de segunda-feira, Naruto percebeu como sua casa estava uma bagunça. Claro, tinha deixado a residência de Eliot às 04:00h a.m e voltado para a boate a fim de concluir os serviços da madrugada, já que a Desire fechava ás 05:00h. Não fez mais nenhum programa, apenas se encarregou de servir mais bebidas ao restante dos clientes que pareciam querer morar na boate. Ao acabar, foi para a faculdade ainda pela manhã e depois para casa morrendo de vontade de dormir, teria o resto da segunda-feira de folga para descansar, porque não aproveitar? Foi pelo menos o que o loiro havia planejado, até abrir os olhos já de tarde e notar que precisava urgentemente limpar e organizar a casa.
Droga, pensou, mal tinha percebido a bagunça quando chegou da boate morrendo de sono, com as roupas apertadas incomodando e a maquiagem borrada pela noitada. A vontade que tinha era deixar tudo como estava, a louça inteira na pia, as roupas limpas em cima da cama, as sujas no chão e embalagens de comida pronta que comia quase todos os dias em cima da mesa, porém receberia uma visita de sua amiga de faculdade Hinata para falar sobre um trabalho em equipe que fariam juntos. Portanto, o loiro precisava imediatamente se organizar.
Ah sim, Naruto tinha começado um curso de moda há 1 ano desde que entrou na boate para trabalhar. O dinheiro que ganhava como garoto de programa foi logo utilizado para tal ação, depois de quitar as dívidas que tinha feito quando passou a morar sozinho, não era fácil. Não é que ele sempre tenha sonhado em cursar design ou moda, porém achou válido tentar uma área que facilitasse sua vida profissional futuramente, quem sabe não poderia conseguir um emprego novo em uma empresa de nome. E também ele sabia dos grandes eventos de moda que ocorriam em Londres e arredores, se estabelecer como estilista com certeza daria lucro.
Mesmo que gostasse de ter seu ego aumentado ao fazer exibições sensuais e programa na boate, tinha certeza de que um dia precisaria mudar de hábito e procurar um emprego mais duradouro. A Desire era conhecida como uma boate de garotos jovens, então sempre trocava de elenco quando alguns passavam dos 25 e Naruto sabia que já com seus 20 anos de idade, o tempo passaria rápido. Precisava de estabilidade quando seu momento de ser demitido chegasse e, contando com o tempo que duraria até se formar na faculdade, era a soma perfeita.
Os pais de Naruto moravam em outra cidade da Inglaterra, Birmingham, porém o loiro achou Londres ideal para se mudar assim que completou a maioridade. Sua mãe, Kushina Uzumaki, de primeira não aceitou a mudança do filho, mas fora convencida por saber que ele iria com Hinata Hyuga, amiga de longa data da família. Ela e Naruto ingressaram juntos na faculdade, a diferença foi a que o loiro conseguiu uma bolsa que reduziu os custos pela metade.
Seu pai, Minato também gostava de Hinata e era mais desapegado ao filho, então não foi difícil o convencer de sua decisão também. A única coisa que seus pais não poderiam saber era justamente a profissão atual de Naruto, jamais aceitariam e correriam para Londres buscá-lo de volta. Precisava manter segredo fazendo o que gostava e lhe dava dinheiro. A única pessoa que Naruto confiara tal segredo foi Hinata.
Estava terminando de tirar pelo menos as embalagens da mesa e as roupas do chão quando ouviu a campainha tocar. Com certeza era a amiga que estava esperando, caminhou até a porta e a abriu.
- Boa tarde, Hina! - sorriu pequeno para a amiga - Que bom que demorou um pouco, pude arrumar metade da bagunça.- coçou a nuca dando passagem para a moça entrar.
- Boa tarde, Naru!- sorriu de volta caminhando para abraçar o amigo- imaginei que estivesse cansado do trabalho e resolvi demorar mais um pouco para vir. Sei que seus domingos são os mais cansativos.- completou, sentando- se no sofá.
- Ah com certeza são. Essa noite foi exaustiva, você nem imagina. - Naruto falou com a voz arrastada pelo cansaço.
- Sabe que está nisso porque quer, né? Poderia arranjar outro emprego.
- Sei que sim, mas você sabe muito bem quais meus planos quanto a isso e... Que eu gosto de trabalhar na Desire. Aceite, Hina, eu não consigo esconder a vadia que tem dentro de mim. - sorriu divertido com a própria fala.
- Uhum, nota-se bem.- Hinata ergueu a sobrancelha o olhando de cima a baixo. - Mas me conte mais sobre a noite. Alguma novidade?
- Todas. Sabe o meu cliente de sempre? O grisalho?
- Sim, nem me surpreende mais os encontros de vocês aos domingos.
- Dessa vez sim! Ele não só me chamou para mais um encontro, como este foi na própria casa dele. Acredita?
- O quê? Não creio! E o porquê disso?- questionou Hinata- a maioria dos clientes não gostam de levar prostitutas na própria casa.
- Exatamente! Foi o que me surpreendeu- Naruto se deitou no colo da amiga no sofá- Ele nunca me fez um convite desse... Até essa madrugada.
- E como foi? Ele é mesmo o homem comum que te disse ser?
- É sim. A casa não é nenhuma mansão localizada em um bairro nobre daqui. É uma casa grande, mas nada exorbitante como as da maioria dos empresários que vão a boate.
-Hum, a mulher dele viaja todo fim de semana mesmo então. Que safado esse senhor Roberts, hein?- brincou Hinata enquanto acariciava o cabelo de Naruto.
- Foi justamente o que confirmei ao chegar lá. Mas outra coisa me pegou de surpresa...
- Nossa! E o que foi?
- A casa não tava vazia... Tinha um rapaz lá tocando piano. Eu o vi tocar quando desci o andar para beber água. Fiquei assustado e saí correndo quando ele me... - pensou por alguns segundos antes de completar - viu o observando.
- Meu Deus! Como assim ele te leva sem a casa estar vazia? Tocando piano? Okay, não era nenhum empregado dele. Então quem? Algum parente?- Hinata se espantou com a possibilidade de Naruto ser descoberto por alguém da família do amante.
- De início eu reagi que nem você, fiquei confuso e assustado por achar que era o filho dele, mas ele me disse que era o enteado e... Que o rapaz não poderia ter me visto porque é cego. - tal fato ainda surpreendia Naruto, o garoto era tão bom no piano que se Eliot não tivesse lhe falado sobre sua deficiência, provavelmente não acreditaria.
- Caramba... Cego? Então devo dizer que você deu sorte de não ser visto?
- Meu Deus, não Hina! Jamais iria comemorar numa situação dessas. O rapaz é cego, deve ser difícil... Ou não, já que ele toca piano perfeitamente. - a música podia ser quase ouvida novamente por Naruto com aquela lembrança.
- Tá, isso é que é novidade hein! Vivendo uma noite perigosa com esse seu cliente gostoso.- Hinata começou a rir- Será que ele vai te chamar para lá mais vezes?
- Boa pergunta, não tenho ideia, mas acho que é mais seguro um hotel mesmo. - Naruto levantou do sofá para pegar o material escolar no quarto e iniciar de uma vez o trabalho- Vamos? Quero me livrar logo dessa atividade insuportável que a professora Tsunade passou. - ralhou preguiçoso.
- É mesmo, vamo sim! - se reuniu com Naruto na mesa com os livros e cadernos.- Mas antes vou abrir um pacote daquele biscoito de morango que tá no seu armário porque estudos e barriga vazia não combinam. Naruto assentiu sorrindo.
.
.
.
.
As horas passaram rapidamente, ao ver de Naruto, conseguiram fazer boa parte do trabalho que seria apresentado no final da semana e ainda tiveram tempo de conversar sobre mais trivialidades. Hinata era uma boa amiga, engraçada, gentil e que compreendia Naruto como ninguém, ele nunca se sentiu mais sortudo no quesito amizade como sentia quando encontrava a garota de cabelos preto azulados, olhos perolados e pele mais clara que a sua, linda. Apesar do laço forte, os encontros de ambos diminuíram nos últimos meses, já que Hinata trabalhava com telemarketing e ainda tinha um namorado para lidar, não que não gostasse de Kiba, só que às vezes Naruto sentia- se sozinho e deixava de ligar para a amiga por ela estar em um encontro com o rapaz.
Quando Hinata se despediu e foi embora, Naruto olhou ao se redor e decidiu que não iria mais arrumar a casa, estava quase no final da tarde e ele se sentia ainda mais cansado do que antes. Deitou- se na cama novamente e fechou os olhos, não pensando na hora de acordar naquele dia. De repente a imagem do pianista surgiu novamente em sua mente, ele estava de costas enquanto tocava e a luz do ambiente apagada não ajudou em nada para o loiro descobrir as características do rapaz, apenas o cabelo, que imaginou ser negro como a própria escuridão presente naquela sala, como o próprio piano. Quantos anos será que ele tinha? Seria mais velho ou mais novo que Naruto? E como conseguia tocar sem a visão? Os questionamentos não paravam de surgir na mente do loiro deitado em sua cama.
Como Eliot mesmo havia dito, não tinha como o rapaz tê -lo visto, mas de alguma forma percebeu sua presença. Sabia disso. Ele tinha parado de tocar, virado a cabeça minimamente para o lado e perguntado ao loiro "Há quanto tempo tá aí?" E até agora Naruto não sabia explicar o que tinha acontecido naquele momento. Obviamente que Eliot inventaria qualquer coisa para disfarçar a ida de um prostituto até sua casa, mas aquilo ainda intrigava Naruto, o nome dele é qual mesmo? Ah... Sasuke. Esperava que não acontecesse de novo essa situação desconfortante. Com esse pensamento, se rendeu a um sono pesado usando as roupas de cima da cama como cobertor.
.
.
.
.
Eliot estava voltando do shopping com sua esposa Mikoto naquela noite. Desde que ela havia chegado da viagem de negócios, o homem ficou dando uma volta na cidade fazendo compras e coisas diversas a pedido da mulher. Foram a um restaurante costumeiro do casal para jantar, depois passaram no shopping para comprar algumas roupas novas, já que Mikoto adorava sempre estar na moda devido a seu trabalho. Decidiram não levar Sasuke, até porque ele mesmo tinha preferido ficar em casa com seu parceiro de todas as horas, o piano herdado de seu avô.
- Ai querido, fico sentida de deixar o Sasuke em casa enquanto fazemos programações tão divertidas. - declarou Mikoto- Ele é tão jovem para ficar trancado lá tocando ou ouvindo música o tempo todo.- olhou para o marido no volante.
- Sim, meu amor, concordo plenamente. Mas ele mesmo quis assim, e sabemos que não gosta de ser contrariado. Pode acabar ficando nervoso e se trancando no quarto que nem aquela outra vez... Da crise.
Era verdade, Sasuke teve uma crise nervosa no ano anterior em que a perda da visão ainda era recente e o moreno não conseguia lidar com tal fato. Mikoto se lembrava bem de como o filho havia tremido e chorado quando ela e outros parentes de Sasuke tentaram fazer ele sair de casa para uma peça de teatro. O jovem dizia que não tinha mais graça em sair estando cego, não poderia aproveitar a peça como queria e nem observar o ambiente ao seu redor, era uma tortura aquela época para ele e toda a família.
Agora era mais fácil lidar, Sasuke já conseguia sair de casa sem tanto escândalo, apesar de ainda preferir a solitude dentro de sua casa com seu piano. Mikoto sabia bem, fazia tudo para que seu filho se sentisse bem, confortável e conseguisse se reerguer depois do acidente que sofreu quando voltava de uma festa bêbado com seu primo Shisui. Este primo era quem dirigia o carro e acabou perdendo o controle e batendo em galões com substâncias tóxicas que estavam na frente de uma empresa automobilística. Ao bater, os galões explodiram espalhando o líquido na qual Shisui foi atingido apenas em seu corpo, pois havia desmaiado com a batida, porém Sasuke ficou consciente e foi atingido nos olhos pela substância. Não conseguiu recuperar a visão depois disso. Era o aniversário de 20 anos dele naquele dia.
- Sim, é verdade. Nem me lembre desse fatídico momento.- falou Mikoto com a mão na testa- E você acredita que Fugaku me liga desde que Sasuke voltou da casa dele?
- Sério? Já está com saudades do filho com apenas 3 dias?
- Ele não falou sobre isso. Disse que tentou levar Sasuke a um bordel para finalmente "virar homem", mas ele negou e não quis nenhuma programação desse tipo. É incrível como ele não cansa de interferir na vida sexual do filho adulto dele.
- É uma questão e tanto. Mas pelo menos ele não é daqueles pais que questionam o filho por descobrir que é gay. O "virar homem" segundo ele é apenas transar, meu amor. E também sabemos que Sasuke nunca namorou em sua curta vida.
- Ele vai decidir quando for melhor para ele, querido. Tem outras prioridades no momento, as apresentações no teatro musical e...
- Discordo, querida! Acho que contratar um garoto de programa ou visitar um bordel não faria mal a ele. - disse Eliot com convicção.
- Sim! Mas ele não quer isso e Fugaku deve respeitá-lo. E também não quero meu filho um devasso como o pai.- Mikoto ainda estava irritada com aquela discussão.
- Um pouco de diversão não faz de alguém um devasso, minha vida. Se te acalmar mais, eu mesmo posso resolver esse assunto.- Eliot a olhou de soslaio enquanto segurava o volante.
- Como assim? O que quer dizer? Vai falar com Fugaku? Sabe que ele não vai com a sua cara e vice versa.
- Relaxa, Mikoto, não é isso! Tô falando do problema "diversão". Posso arranjar um garoto de programa para o Sasuke. Um amigo meu do trabalho frequenta muito esses lugares, posso pedir para ele procurar alguém interessante e da mesma faixa etária do nosso emo revoltado.
- O QUÊ?- gritou Mikoto surpresa com a revelação do marido- Arranjar um garoto de programa? Eliot! Ele não vai aceitar, deixe-o em paz.
- Vou conversar com ele, amor. Certeza que ele irá me ouvir, além do mais vai fazer bem para o rapaz se divertir um pouco. Confie em mim.- completou piscando um olho para a esposa.
- Se ele aceitar, tudo bem. Se não, você vai esquecer isso. Entendeu?
- Sim, amor, minha deusa, eu entendi claramente.- completou e Mikoto riu de sua audácia.- Hoje mesmo falarei com Sasuke e com esse amigo meu, certeza que fará uma boa escolha do garoto de programa e o estressadinho vai me agradecer pelo presente.- sorriu de canto e virou o carro na esquina de seu bairro.
Ah, sim, com certeza Naruto não acharia ruim ser pago para ir novamente a casa de Eliot, porém com um novo serviço para sua noite. Divertir Sasuke Uchiha. Claro que poderia encontrar outro garoto na boate mais famosa de Londres para Sasuke, até porque Eliot não gostava de dividir Naruto com outras pessoas, mas o loiro também saía com outros clientes durante a semana e sabia como conversar e seduzir alguém, aquela seria uma exceção que faria com prazer para se livrar da chatice que era Fugaku enchendo seus ouvidos e o de sua esposa sobre o bem-estar de Sasuke. Era um completo saco aturar o moleque cego e defeituoso dentro de sua casa tocando a porcaria daquele piano, agora o pai dele já era demais, e ele sempre aparecia para visitar o filho quando não estava bem. Então se pudesse fazer algo para deixar o garoto feliz e o pai dele longe, iria fazer.
Eliot, eu já te odeio mesmo tendo te inventado kkkkk
Kisses and hugs 🤗
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro