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Capitulo 2 - O Touro Manco

O Touro Manco era uma estalagem sem nada em especial. O teto baixo de madeira, com um grande candelabro aos pedaços e poucas velas acesas, um balcão de madeira escura, suja e úmida, decorada com um homem baixo e calvo esfregando um pedaço de pano em uma caneca de metal. Uma jovem garçonete de rosto simpático servia bebidas e recolhia as canecas vazias. Ao lado do taverneiro havia uma passagem sem porta que levava a outro salão com camas de palha cobertas por pele de cordeiro que eram usadas pelos viajantes que pagavam para passar a noite. Próximo a cada cama ainda havia um pequeno baú de madeira com travas, também eram alugados para que guardassem seus pertences.

Poucas mesas estavam ocupadas naquela noite: três homens cheirando a estrume de cavalo, provavelmente trabalhadores do estábulo, jogavam dados em uma mesa próxima à entrada; outro pequeno grupo estava sentado no canto do bar tomando vinho e conversando em voz alta sobre a viagem que fariam no dia seguinte; e um sujeito estranho, de desgrenhados cabelos castanhos escuros, uma calça larga e suja e uma camisa sem mangas, que estava sozinho em uma mesa no centro, não bebia nada e girava um prato de metal na mesa fazendo um barulho irritante.

Laucian bateu suas botas em um pedaço de toco na entrada para tirar o barro, atravessou o salão com a capa molhada e pingando pelo chão e tomou uma mesa no canto oposto. Colocou seu bornal e seu bandolim sobre a mesa e escorou seu arco e a aljava ao lado onde pudesse ver. Já passara por estalagens e tavernas o suficiente para saber que nunca devia deixar suas coisas fora de vista. Abriu também seu pequeno e antigo mapa, rabiscado com revisões que ele mesmo fazia em suas viagens e foi planejando como seria sua jornada no dia seguinte.

Tudo indicava que a noite seria tranquila. Os homens bebiam, cantavam mal, discutiam. O elfo tinha algumas moedas e decidiu que também beberia um pouco, depois tentaria negociar sua estadia e comida em troca da boa música e, só então, iria dormir para se recuperar da exaustiva viagem. Chamou a atenção da garçonete com um olhar direto e um sorriso leve, que foi retribuído com outro sorriso gentil e envergonhado.

— Seja bem vindo ao Touro Manco — disse a garota tímida.

— Agradeço a receptividade. Meu nome é Laucian. — Ele fingiu perder as palavras por um segundo, se aproximou um pouco mais e falou em voz baixa. — Perdão, mas não esperava ser recebido por uma moça tão meiga em um lugar como este. Posso saber o nome desta adorável jovem que me atende?

Acostumada a ignorar elogios rústicos e desrespeitosos, a criada, já fascinada pelo olhar penetrante do elfo, não conseguiu esconder o rubor em suas bochechas.

— Elga.

— Preciosa Elga, percebo que não há nenhum músico se apresentando hoje na estalagem. A senhorita, com seus olhos atentos, deve ter percebido que carrego comigo um bandolim. Eu poderia animar um pouco o ambiente com minha música. Acha que seu senhor permitiria que eu me apresentasse em troca de um sono tranquilo em uma cama confortável?

— O taverneiro é meu pai. Vou perguntá-lo — respondeu ela, acanhada.

— Faça isso, por favor! — Ele tocou-a levemente no braço e sussurrou em seu ouvido. — Se me conseguir também uma caneca de vinho, poderei homenageá-la com uma melodia especial, o que acha?

A jovem se afastou empolgada, ignorando os chamados de outra mesa e foi diretamente para o balcão. Conversou com o velho calvo, seu pai, enquanto servia vinho em uma caneca de metal. Retornou pouco depois com a bebida e a confirmação de que o bardo poderia se apresentar, porém sua hospedagem apenas seria garantida se sua música fosse realmente boa. Laucian se levantou e, sem se apresentar, começou uma das canções mais conhecidas das tavernas, o Bolero do Malandro Desafortunado que contava a história de um jovem trapaceiro que tinha uma grande sorte mas que entrou em uma onda de azar sem fim, perdendo tudo que tinha, até perder a própria vida em um acidente improvável.

Antes que terminasse a sua terceira música, um grande estrondo vindo da entrada o assustou e interrompeu a canção. A porta parecia ter sido chutada e chocou-se contra a parede soltando pequenas lascas de madeira.

Cinco orcs chegaram encharcados com as botas sujas de barro e rostos nada amigáveis. O primeiro a entrar era careca e barbudo, aparentava ser o líder do bando por ser o único com uma cota de malha e um elmo adornado com chifres. Além da armadura, trazia nas costas um grande e largo machado. O segundo era magro, com cabelo ruivo, curto e raspado nas laterais da cabeça, uma barba rala e dois machados leves presos por uma tira de couro na cintura. Em seguida entrou a única mulher do grupo, uma orquisa massiva e alta de cabelos escuros trançados para trás, seus grandes seios confundiam-se com os músculos de seus ombros. Levava três espadas, uma de cada lado da cintura e mais uma nas costas. O próximo era parecido com ela, mesma estatura e ombros largos, mas em vez de um cabelo longo e trançado, tinha uma cabeleira curta e bagunçada e trazia um martelo de guerra nas costas. Por último, o maior deles, uma figura selvagem com cabelos negros e barbas longas, parecendo a juba de um enorme leão. Não trazia armas, mas usava um par de manoplas de ferro que terminavam em garras metálicas afiadas e enferrujadas em seus dedos. Não usava camisa nem proteção, exibindo o largo peito coberto por pelos negros e algumas cicatrizes. Era tão alto que precisou se abaixar para passar pela porta.

Laucian imediatamente sentou-se no banco, tenso. Mesmo que alguns orcs vivessem pacificamente na região, fazendo trabalhos braçais ou como caçadores, topar com um grupo armado nunca era uma coisa boa. O jeito abrupto como entraram e os equipamentos que portavam confirmava que não estavam ali apenas para beber e passar a noite. Cobriu as orelhas pontudas com o capuz procurando não ser notado e então, instintivamente, tocou o dado que levava preso ao pescoço pedindo que Zelly não lhe metesse em uma encrenca naquela noite. Orcs não gostam da companhia de elfos, mesmo quando estão de bom humor. E vice-versa.

O líder se dirigiu ao taverneiro, enquanto os outros quatros se postaram à sua volta e ficaram encarando os outros presentes na taverna.

— Queremos muita cerveja. E ouro. Rápido que não tamos com paciência! — exigiu com um sotaque de quem não era totalmente fluente no idioma de Ancelon.

— N-n-n-n-n-não queremos problema — o homem calvo tremia —, mas tudo que temos é um pouco de prata.

— Mentira! — cuspiu o chefe, batendo o punho na madeira do balcão. — O movimento aqui é bom, a gente sabe.

Os outros orcs rosnaram em apoio à sua reação intimidadora.

— Apenas prata, por favor... — O taberneiro engasgava em suas palavras de medo.

— Ora, olhem isso! — O orc de cabelos negros que levava o martelo de guerra chamou a atenção dos outros para Laucian. — Um elfo!

Laucian suava. Pensou em abandonar suas coisas e correr, contudo ele estava no fundo do salão e os cinco, que agora o fitavam, estavam no caminho. Abaixou a cabeça, evitando o contato visual. Ele sabia que era o único elfo ali, mas tentou fingir por um instante que não era com ele. Por baixo da capa ele viu as pernas do orc se aproximando de sua mesa.

— Não fique acanhado! — tripudiou o orc, que falava o idioma de Ancelon bem melhor que seu líder. — Toque sua musiquinha meiga pra nós!

Laucian permaneceu em silêncio, desviou seu olhar para o arco escorado ao seu lado e pensou em pegá-lo.

— Olha pra mim, caralho! — gritou o baderneiro e deu um tapa no copo de vinho que Elga tinha deixado na mesa, derramando o líquido no elfo.

— Ei. Deixa ele em paz! — A conversa foi interrompida. O jovem de calças sujas e largas gritou enquanto girava o prato de metal mais uma vez.

A taverna estava em absoluto silêncio. Nenhum dos outros presentes, nem mesmo Laucian, fazia qualquer movimento na vã esperança que o bando de salteadores os ignorasse. Quando o jovem chamou a atenção para ele, quem estava perto começou a se afastar arrastando os bancos. Os orcs demoraram um pouco pra entender o que tinha acontecido, não esperavam que ali existisse alguém corajoso o suficiente para confrontá-los. Durante alguns segundos, tudo que se ouviu foi a chuva ficar mais forte do lado de fora e o prato rodando na mesa fazendo um barulho azucrinante.

Os orc que perturbava Laucian foi em direção ao jovem, ele segurou o grande martelo pela cabo com as duas mãos e respondeu em tom zombeteiro:

— Fica quieto aí, seu bostinha, ou esmago a sua cabeça.

Não houve resposta, ao menos não em palavras. Em um instante, a cadeira que o jovem se sentava voou para trás, arremessada pelo impulso de seus joelhos. Ele deu um passo por cima da mesa e pulou com um pé estendido e todo o seu peso para cima do orc, que não teve tempo de reagir. O impacto fraturou sua mandíbula com um som horrível e o arremessou contra uma coluna de madeira, deixando-o desacordado.

Agora de pé, o jovem se mostrava além dos cabelos desgrenhados. Apesar de magro, os músculos de seus braços eram destacados e a sua camisa larga deixava aparecer um abdômen definido. Seus calçados não passavam de sandálias de couro velho e sola fina, sujas de barro e, agora de sangue. Suas calças compridas e largas faziam o movimento de suas pernas parecer leve e fácil, embora o impacto de seu golpe tenha mostrado a força que possuía.

O lutador, no entanto, não pensou em tudo. Após o chute no ar, ele pousou no meio de um círculo com os outros quatro orcs. Instintivamente virou-se para o líder e o grandalhão, com a orquisa ainda no seu campo de visão imediato. O ruivo com os pequenos machados se moveu flanqueando-o e sacando suas armas.

Laucian aproveitou-se da confusão criada para se levantar e recuar alguns passos. Pensava em uma maneira de sair dali ou de se esconder, agora talvez fosse possível. Se fosse para a saída, seria visto, atrás do balcão, tampouco era uma boa opção, deixando para ele uma única esperança, a passagem sem porta para a sala com as camas de palha e torcer para que houvesse uma janela ali.

O espaço restrito e o teto baixo da taverna fizeram com que os orcs hesitassem em seus ataques, afinal as armas poderiam se chocar contra mesas, cadeiras e barris, além do teto. Isso deu ao imprudente lutador alguns segundos para recompor sua guarda, assim como deu ao elfo alguns instantes para se deslocar lenta e silenciosamente até a porta.

A primeira a atacar foi a orquisa, furiosa ao ver seu irmão caído. Estocou com uma de suas espadas contra a barriga do jovem, que se esquivou para o lado. Ele não teve tempo de contra-atacar pois o ruivo já cortava com o machado na altura de seu pescoço. O lutador abaixou-se, porém desta vez derrubou seu agressor com uma rasteira.

O orc com os machados caiu, derrubando junto à mesa com o prato de metal, que novamente rodopiou fazendo o mesmo barulho irritante. A orquisa e o lutador não pararam e ele foi obrigado a recuar para escapar de dois perigosos cortes horizontais.

Laucian teve sorte, viu uma janela no fundo do quarto, jogou um pequeno banco de madeira para ajudar e começou a subir. No desespero, ele havia deixado seu instrumento e seu arco para trás, restando apenas a sua velha, e quase inútil, espada na bainha. Enquanto subia, o elfo ouviu o barulho do prato rodando no solo, aquele som o fez lembrar do jovem esquisito, mas que lhe havia salvado a pele.

— Você não vale nada, Laucian — disse para si mesmo, envergonhado. Aquele homem parecia habilidoso, porém desarmado não teria a menor chance contra quatro inimigos. Ele parou e tocou na espada. — Porque eu trouxe essa merda e não o meu arco?

No salão, o líder sorria ao ver o lutador cada vez mais acuado. O maior dos orcs havia avançado, atraindo sua atenção, a orquisa aproveitou-se e lhe fez um corte no ombro. Ele revidou acertando um soco certeiro no olho dela e um chute no estômago do grandão que pareceu nem sentir e o empurrou para trás. O jovem artista marcial cambaleou e o orc ruivo pulou de surpresa descendo os dois machados contra a sua cabeça.

O movimento foi interrompido por um banco de madeira que acertou o orc na cabeça, deixando-o desorientado. Os inimigos e o lutador olharam para a mesma direção, Laucian voltava pela porta e corria para tentar chegar ao arco.

— Puta merda, o que eu to fazendo? — Ele tinha se arrependido ao ver que a orquisa corria em sua direção, mas agora era tarde para voltar atrás.

O jovem esquisito reagiu rápido à oportunidade que lhe foi dada, derrubou mais uma vez o ruivo, ajoelhou em seu peito e batou repetidamente em seu rosto com socos rápidos e fortes.

— Bom arremesso, amigo! — gritou o lutador distraído para Laucian, logo antes de ser atingido por um golpe fortíssimo no grandalhão. Ele rolou por quase dois metros e se levantou agilmente.

— Acabe logo com isso, Tartan! — ordenou o líder, olhando para o orc. — Já tô de saco cheio dessa merda.

A orquisa alcançou o elfo no meio do caminho até seu arco e estocou com sua espada. Laucian mudou de direção rapidamente e se postou do outro lado de uma mesa vazia circular.Ela ameaçou ir pela direita, depois pela esquerda. Ele circundava a mesa no mesmo sentido mantendo a distância.

— Acerte ela! — blefou. E ela olhou para trás.

Ele sacou sua espada e a golpeou na barriga, um golpe fraco e desajeitado, porém a ponta da lâmina voltou vermelha de sangue. O acerto não fora fatal, apenas o suficiente para deixá-la ainda mais irritada.

A orquisa, cansada da brincadeira ao redor da mesa, resolveu virar o móvel contra o elfo e empurrá-lo contra a parede. Laucian, porém, tinha os reflexos rápidos de um elfo. Pulou para a esquerda, direção oposta de onde estava seu arco, pegou sua adversária de surpresa e estocou com sua espada, acertando agora um corte fundo no braço. Ela deixou sua arma cair e em um instante tinha a ponta da lâmina do elfo contra o seu pescoço.

— Ei, orelhudo! — gritou o líder novamente. Laucian deu um passo para o lado de modo que poderia manter a orquisa sob seu controle e ao mesmo tempo negociar sua saída dali.

Tartan segurava o lutador, agarrando seu pescoço com uma mão e imobilizando seus dois braços com a outra. O enorme orc tinha o rosto ossudo com a pele esticada que mantinha sua expressão constante de raiva. O cabelo sujo, enrolado e descuidado estava molhado e a barba grande que caía por seu peito estava cheia de pedaços de comida, talvez de dias atrás. O líder estava ao lado e batia com o cabo de seu machado no estômago do refém.

— Olha aqui o seu amigo. — Atacou novamente, exibindo um sorriso perverso com dentes grandes e amarelados.

Sangue saia pela boca do homem, mas ele ainda tentava reagir. Sentia bem perto o bafo quente e fedorento de Tartan, que babava de raiva em seu ombro e apertava ainda mais seu pescoço. Era questão de tempo até o lutador apagar.

— Merda! — pensou Laucian, ainda apontando sua arma para a orquisa. — Não adiantou nada eu ter voltado.

As opções do elfo agora eram: tentar lutar a talvez apenas o lutador morreria; ou se render e com certeza os dois morreriam. Ainda não tinha decidido, quando um pequeno raio de luz azulada atingiu Tartan pelas costas. A espinha do orc gelou fazendo-o perder momentaneamente as forças e soltar sua vítima. Laucian e o líder desviaram o olhar para ver de onde viera o disparo.

Na porta, uma elfa, seu cabelo liso e totalmente negro escorria a água da chuva. Tinha um rosto fino, pele clara e gélidos olhos azuis que miravam atentamente a cena de combate. Sobre o olho esquerdo, uma longa, fina e escura cicatriz descia do alto da sobrancelha até o começo de sua bochecha. Nas costas, uma espada bastarda, ainda embainhada e grande demais para ser usada no espaço restrito da taverna. Em sua mão direita, uma espada curta apontava para frente. Ela instantaneamente correu na direção do líder que se virou para enfrentá-la. O lutador havia aproveitado a fraqueza momentânea de Tartan para escapar do agarrão e, agora, encarava o orc de frente.

Laucian, por sua vez, demorou mais tempo para reagir do que os demais. Ver um elfo, ou melhor, uma elfa em uma zona como esta era bem raro. Principalmente vestida para a batalha e, mesmo assim, linda. A orquisa foi mais esperta, afastou para o lado a espada apontada para o seu pescoço e chutou a barriga do elfo, jogando-o contra a parede. Correu para pegar sua arma no chão e partiu novamente para cima do seu adversário.

Já no primeiro ataque, conseguiu atingir o braço direito de Laucian. Ele foi rápido o suficiente para se esquivar de forma que o corte não foi tão grave, porém sua capa esverdeada se rasgou revelando o ferimento. O contra-ataque veio rápido, com uma estocada que a atingiu no ombro. A orquisa gritou de dor, o elfo girou a lâmina para aumentar o dano e a puxou com força fazendo o sangue espirrar na parede.

No meio do salão, o lutador e Tartan se enfrentavam com fúria. A diferença na forma de lutar dos dois era nítida. O homem era um artista marcial ágil e cheio de técnica, utilizando-se de golpes rápidos e precisos. O grande orc, no entanto, era bruto, selvagem e tremendamente forte. Mesmo acertando poucos golpes, suas pancadas eram duríssimas. Era como ver um tigre e um gorila se enfrentando.

— Tartan, não é? — perguntou o jovem. — Sou Chadwick, o monge. Agora você sabe o nome do homem que vai explodir esse seu focinho de porco e pisar nessa cara como se fosse bosta de cavalo.

Chadwick, desta vez, atacou impiedosamente. Deu um chute nas costelas de Tartan, seguido por um soco no rosto, uma esquiva para baixo e uma cotovelada na barriga. Apesar do seu tamanho, o orc foi mandado para trás, mas retornou com um golpe direto no peito do lutador, abrindo quatro grandes rasgos diagonais. O monge não se intimidou e avançou mais uma vez, acertando uma sequência de três socos na barriga do grande inimigo, este aproveitou a oportunidade e agarrou seus braços, cravando as garras de suas manoplas em sua carne.

Simultaneamente, a elfa recém chegada trocava golpes com o líder dos orcs. Apesar da dificuldade dele em girar seu grande machado naquele pequeno ambiente, seus golpes eram cada vez mais perigosos. A elfa parecia se sentir muito mais confortável manuseando uma espada do que Laucian. Se defendia bem, porém seus contra-ataques também eram facilmente bloqueados pelo cabo do machado. Apesar de acertar alguns golpes, sua espada curta não rompia os elos grossos de metal da cota de malha de seu inimigo.

Neste momento todos os clientes já haviam fugido, restando no salão apenas os seis combatentes. As espadas de Laucian e sua adversária colidiram várias vezes. Assustado e sentindo a força superior da orquisa, o bardo fez o que sabia fazer melhor nestas situações, fugiu e deslocou-se rapidamente por entre as mesas, derrubando propositalmente algumas cadeiras e usando todo o ambiente para dificultar ao máximo o movimento de quem lhe perseguia, estava funcionando. Simulava ataques e recuava, fintava a espada por baixo e, por cima, jogava a cerveja de uma caneca contra o rosto da orquisa. Ela ficava confusa e ao mesmo tempo mais furiosa, avançava com a defesa desarrumada, com isso já havia recebido mais um corte profundo na perna direita e outro no braço esquerdo.

Sempre que conseguia alguma distância, o bardo olhava para o combate da elfa. Ela era uma excelente espadachim, no entanto, seu oponente não era o líder por acaso. Ele se adaptava ao espaço apertado e seus golpes ficavam cada vez mais perigosos. Laucian novamente pensou em fazer algo que se arrependeria momentos depois. Seu arco ainda estava no mesmo lugar, escorado na mesa a alguns metros de onde estava. Era arriscado, sabia, mas tinha que fazê-lo. O elfo então deu um ataque mais agressivo para cima da orquisa, a fim de desestabilizá-la. Ela defendeu-se em cima e ele chutou sua perna ferida, abriu-se um espaço e ele passou correndo. Fincou sua espada na mesa, pegou o arco e uma flecha quase instantaneamente. Percebeu que teria apenas uma chance. Disparou.

A elfa lutava com tenacidade, mas tinha dificuldades em se defender do poderoso orc. Os golpes dele eram pesados para sua pequena espada. Ele bloqueou um ataque batendo com o cabo do machado na lâmina, abrindo a guarda da guerreira e contra-atacou com brutalidade na horizontal. Poderia ter sido um golpe fatal, porém centímetros antes de atingi-la, uma armadura espectral azul apareceu e o machado chocou-se contra ela violentamente. A energia protetora se dissipou após o golpe e o orc voltou a atacar, dessa vez com a arma ascendendo contra o peito da elfa. O movimento foi certeiro, porém uma flecha zuniu próximo ao ouvido dela e cravou no ombro do líder, perfurou os elos da cota de malha, o couro e a carne. A elfa dificilmente escaparia do segundo ataque, de relance viu o bardo com o arco na mão, ele sorria para ela, até que recebeu um corte na barriga e se curvou.

Chadwick tentava se livrar das garras metálicas de Tartan. Os braços do orc eram fortíssimos, e o apertavam tanto que ele sentia que iria se quebrar ao meio a qualquer instante. Mesmo com os chutes e impulsos das pernas o grande agressor permanecia impávido. Ele sentiu o bafo podre e fétido do orc em seu rosto mais uma vez. Enquanto se debatia, seus pés tocaram o balcão e então percebeu como atingir a vitória. Deu um impulso forte com as pernas no móvel de madeira fixo ao chão e acertou sua testa no nariz de Tartan. E de novo. E de novo. E de novo. Sua cabeça doía, mas esperava que doesse muito mais o nariz do oponente. Foi o que aconteceu, a cada cabeçada o orc fazia menos pressão, até que cambaleou para trás e o soltou. Chadwick aproveitou a oportunidade, puxou a cabeça do inimigo contra seu joelho. O golpe levou Tartan de costas ao chão, o rosto sujo de sangue . Ainda assim ele tentou se levantar, lento e atordoado pelas repetidas pancadas na cabeça, porém Chadwick o finalizou com um fortíssimo soco no queixo que quebrou uma de suas presas inferiores protuberantes.

— Fica aí, seu grande bosta de cavalo? — Debochou.

Laucian conseguiu se recuperar do golpe. Por sorte, sua inimiga estava ferida e atacou com a mão menos hábil, tampouco a espada estava muito afiada, seu corselete de couro segurou a maior parte do impacto, do contrário poderia estar morto. Agora estava sem arco, sem espada e com sua mobilidade reduzida por causa da dor. Olhou rapidamente para a elfa esperando que ela agora viesse em seu auxílio, reparou que ela reagiu bem, mas ainda levaria um tempo lutando com o chefe do bando.

A orquisa estocou e ele girou de lado, rodando sua capa verde para confundí-la. Ela errou vários golpes, contudo avançou passo a passo até que finalmente encurralou o elfo em um canto. Não havia mais para onde ele fugir ou se esquivar, tudo que lhe restava agora era uma pequena adaga que trazia escondida na própria bota. Era afiada e bonita, porém pequena e inútil para se defender de uma espada.

— Eu preciso de uma ajuda aqui! — gritou sem nenhuma vergonha, ele já tinha ajudado os outros dois, afinal.

O mesmo banco que salvara o monge, voou novamente pelo salão, acertando agora as costas da orquisa. Ela perdeu o equilíbrio e cambaleou para frente. Laucian, mais por susto do que por perícia, esticou os braços e apontou a adaga, cravando-a no pescoço de sua inimiga. O sangue quente e vermelho escorreu pelas mãos do elfo antes que ela perdesse definitivamente as forças e caísse no chão.

Com um semblante assustado, o elfo olhou para o monge, que sorriu e acenou de volta com a cabeça.

A guerreira elfa, usando da oportunidade criada pelo arqueiro, em vez de atacar, concentrou-se. O brilho azulado que surgiu em torno dela não tomou a forma de um escudo, desta vez era como um ar frio de inverno que entrou por suas narinas e ela se sentiu muito mais forte e ágil. Seu encantamento duraria pouco tempo, por isso partiu para o ataque. A potência e velocidade de seus golpes surpreendeu seu adversário, que desta vez não teve chances de contra-atacar. O machado de guerra era uma arma pouco apta para a defesa e logo a elfa conseguiu achar brechas. Uma impetuosa investida obrigou o orc a girar seu machado, usando o cabo novamente para bloquear, mas não foi o suficiente, a lâmina partiu a madeira com facilidade. A guerreira desferiu outro golpe contra o inimigo indefeso, cortou para baixo atingido sua coxa e ele se ajoelhou apoiado na outra perna. Outro golpe veio na sequência mas ela parou o ataque com sua arma a alguns centímetros do seu pescoço.

A elfa tocou a ponta de sua espada no pescoço do líder orc.

— Para onde pretendiam ir? Onde estão se reunindo?

— Não tenho que fala nada. — grunhiu o líder. — Vocês são fracos e pequenos. Nós orc vamo acabar com esse reino todo. Vamo dominar tudo. Hoje você mata a gente, amanhã chega mais orc.

Chadwick e Laucian aproximaram-se dos dois, o elfo agora trazia seu arco, arma com a qual ele se sentia mais à vontade. O monge estava coberto de sangue e cortes, enquanto o bardo pressionava seu manto sobre o ferimento na barriga.

A elfa olhou para eles e percebeu que, atrás do arqueiro, o orc ruivo levantava-se com seu machado, pronto para arremessá-lo. Ela teve tempo apenas para alertá-lo com um grito. O bardo reagiu rápido e saltou para o lado, a arma passou por ele rodopiando pelo ar e acertou a elfa no ombro direito. Laucian revidou atirando uma flecha, que cravou no pescoço do inimigo. Este se engasgou no próprio sangue até morrer.

O líder dos orcs, aproveitou a confusão criada e correu em direção à saída. Chadwick estava atento e chutou suas pernas. O líder tropeçou em si mesmo e rolou pelo centro do salão, ainda tentou se levantar, mas já tinha uma flecha e uma espada apontadas para ele. Para evitar outra tentativa de fuga, o lutador deu-lhe um golpe na nuca, usando uma técnica que o fez cair desacordado. Era o fim do combate.

Após conferir rapidamente qual inimigo ainda estava vivo e atá-los com a corda que Laucian tinha, os três guerreiros puderam baixar suas armas. Se reuniram no centro do salão e finalmente conseguiram descobrir quem eram aqueles desconhecidos os quais se aliaram.

— Que luta, amigos! — começou o monge, empolgado. — Sou Chadwick, da Décima Sétima Ordem dos Monges de Hangendan. Bom lutar com vocês!

— Sou Laucian Galanodel. — disse o elfo, em tom cortês. — Bardo errante nascido em Mihallian. Feliz em ser útil. E qual o seu nome, senhorita?

— Anita.

Os dois homens se entreolharam após a resposta seca da elfa. Rapidamente, o monge continuou.

— Bem, acho que uma vitória dessas merece uma comemoração. Precisamos de cerveja e três copos. — Chadwick pegou três canecas no chão e começou a organizar três bancos em volta de uma mesa.

— Grata, mas vou me sentar sozinha.

Chadwick ia retrucar, porém foi interrompido. Um homem trajando vestes negras entrou na taverna. Apesar de molhadas, suas roupas estavam primorosamente arrumadas, exibindo orgulhosamente o símbolo prateado de um fogo-fátuo bordado. Em suas costas um escudo de metal, com borda reforçada e polida, centro fosco e enegrecido decorado com o mesmo símbolo de suas vestes. Carregava presas ao cinto uma maça de batalha e uma pequena e estranha foice de cabo negro. Aparentava ter mais de trinta anos e já exibia um tom levemente grisalho nas laterais dos cabelos. Tinha um cavanhaque bem aparado, também com nuances grisalhas. Era um homem alto e de ombros largos. Uma figura realmente imponente.

Logo atrás dele, um homem com uma cota de malha e um elmo com uma pena branca e o símbolo real de Ancelon, o grifo branco sobre o fundo azul. Em sua cintura, uma espada longa embainhada. Seu rosto era quadrado e duro. Os dois homens pararam na porta e observaram a taverna por alguns instantes.

— Estou de volta, Chadwick. Vinha te avisar que avistamos orcs nos entornos da vila, contudo vejo que você já os encontrou — disse solenemente o homem de negro.

— Senhor Thereor! Não precisava se preocupar, já demos um jeito neles. — respondeu orgulhoso.

— Sim, vejo que sim. — O homem analisou Chadwick e continuou. — Também vejo que não foi fácil. Venha, deixe-me ajudá-lo.

— Não foi fácil, mas foi divertido. A maior parte desse sangue nem é meu. — Limpou um pouco do sangue com as mãos e as sacudiu, sujando o Thereor quando ele se aproximava. — Deixa eu te apresentar meus novos amigos. Esses dois aqui também ajudaram. Esse aqui é o Lucian.

— Laucian — corrigiu o elfo.

— E essa é a Aneta.

— Anita — corrigiu novamente o elfo.

— Isso.

— Agradeço pelo apoio a meu pupilo. Eu sou Thereor, paladino peregrino devoto de Dien. Como tal, posso oferecer-lhes um alívio de suas chagas de combate, se assim me permitirem.

— De Dien? — estranhou Laucian. — Ouvi dizer que só mulheres eram sacerdotisas da deusa.

O elfo percebeu tarde demais, Chadwick agitando suas mãos freneticamente, como que para impedir que ele continuasse.

— Isso é um engano muito comum — explicou Thereor, tentando mascarar sua extrema frustração. — Mulheres tendem a ser mais numerosas, mas existem alguns homens, paladinos como eu em seu culto. Então, você precisa de ajuda com seu ferimento? Meu dom não pode ser usado levianamente.

— Sim, sim, obrigado senhor, necessito. — Laucian respondeu, parte envergonhado, parte achando engraçado. Até pensou em recusar, mas seu corte na barriga doía muito.

O soldado que acompanhava Thereor começou a olhar os orcs caídos. Reconheceu três deles, o primeiro derrubado por Chadwick, o líder e Tartan.

O líder se chamava Groom, ele e Tartan eram caçadores de recompensa que frequentemente se envolviam em problemas por matarem inocentes ao confundi-los com criminosos procurados. Já o outro, era um velho conhecido do povo de Florensia. O guarda informou que ele morava a um dia de cavalgada para o norte, pelo caminho para as Montanhas de Prata. Vivia em uma cabana de madeira e teto de palha, cortando lenha e caçando, às vezes vindo trocar peles, madeira e carvão por produtos. Tinha se juntado ao bando que Groom recrutava para atender ao chamado da guerra dos orcs no leste.

— Algum deles ainda vivo? — indagou o guarda.

— Parece que esse aqui — respondeu Laucian apontando para o líder — e também aquele grandão caído ali perto do balcão.

— O outro ali no canto também!— completou Chadwick apontando para o orc com o maxilar quebrado. — Mas acho que não vai conseguir falar nada.

— Ah, o chefe ficará feliz.

— Kiehl, você consegue levá-los para as celas? — perguntou Thereor

— Com certeza, Senhor.

— Obrigado. Cuidarei dos guerreiros feridos então.

A voz do clérigo era grave e impunha respeito, mesmo que seu pedido não soasse autoritário, o soldado começou a arrastar os orcs para perto da porta. Os que ainda viviam tiveram seus punhos e tornozelos amarrados com uma única corda grossa.

Thereor pegou em seu bornal um vidro contendo um óleo com um forte aroma terroso. Deixou pingar um pouco em uma das mãos, sussurrando uma oração. Quando terminou fez um pequeno gesto colocando a mão na testa e depois fechando-a na lâmina da pequena foice negra que carregava. A arma começou a flamejar, não um fogo comum, um fogo com o centro branco e chamas com leves tons azulados e sem calor.

— Chadwick, você está pior, aproxime-se — ordenou.

O monge aproximou-se do sacerdote, que o tocou no peito com a lâmina. Seus ferimentos começaram aos poucos a cicatrizar, tornando-se levemente enegrecidos. No fim, seus cortes mais pareciam marcas de alguma queimadura antiga.

— Não posso ir muito além disso, mas pelo menos está fora de perigo. Laucian, sua vez.

O bardo aproximou-se com cautela. Thereor nem pareceu se importar com a expressão de dúvida do elfo e encostou sua arma ritualística no corte. O fogo do sacerdote queimava a pele, mesmo sem emitir nada de calor. A sensação era de uma ardência intensa, mas que vinha de dentro do seu corpo. O elfo pressionou o maxilar para evitar gritar, mas um urro abafado acabou escapando.

— Sinto pelo incômodo, Dien é uma deusa justa, mas não misericordiosa. Sua alma queima suas chagas terrenas, e, confie em mim, Ela sabe o que faz.

— Mas precisa doer tanto?

— Sim, precisa. A dor é o sentimento que mais fica gravado. Sentindo-a, sua alma aprenderá os riscos de seus atos, seja nesta vida ou nas próximas.

O corte também se fechou em pouco tempo e não mais sangrava. Laucian traçou com os dedos o ferimento que também parecia mais uma cicatriz de queimadura do que de um corte.

Thereor então se aproximou de Anita.

— Deixe-me ajudá-la, nobre guerreira.

— Não é necessário.

— O sangue que escorre de seu ombro diz o contrário.

— Já sofri piores.

— Acredito em você. Ainda assim, não é motivo para permanecer neste estado.

Sem argumentos, a elfa permitiu o toque do clérigo. Não esboçou nenhuma reação de dor ou incômodo. Apenas fechou os olhos, contudo sua expressão definitivamente mudou. Laucian foi o único que percebeu que ela não parecia incomodada, mas acanhada.

— Bem! — retomou Chadwick. — Acho que agora merecemos uma celebração. Cerveja pra todo mundo! O clérigo paga!

— O que? Nada disso. Suas feridas foram curadas, mas você ainda precisa descansar. Amanhã continuaremos a nossa viagem.

— Não, meus senhores — disse o taverneiro que saía de seu esconderijo na cozinha. — Devemos nossa prata e, possivelmente, nossas vidas a vocês. Bebam, bebam, é o mínimo que podemos fazer. Elga, sirva-os!

A garota, que também se escondera na cozinha durante o combate, recolheu algumas canecas derrubadas no chão e se dirigiu a um barril para enchê-las.

— Então está resolvido. — O monge estava eufórico, apesar de ainda sujo de sangue e sua camisa rasgada.

Aos poucos, as pessoas que fugiram foram voltando à taverna. Por curiosidade ou para recuperar os pertences abandonados no desespero da fuga. Outros que estavam na pequena vila e ouviram os boatos também chegaram. Todos queriam observar os guerreiros ou os orcs abatidos. Outros dois guardas chegaram com uma carroça para ajudar Kiehl a levar os prisioneiros e retirar os corpos.

Laucian começou a dedilhar melodias heróicas que ajudaram a quebrar o clima de medo, enquanto Thereor apenas sentou-se com a caneca nas mãos, mesmo sem dizer nada, estava orgulhoso da vitória do seu pupilo. Todos comemoravam. Todos menos Anita, que pegou sua bebida, agradeceu, e sentou-se solitária no canto da taverna, próxima a uma janela.

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