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Capítulo 5 - As Legiões de Ancelon

Laucian não se conteve. Deixou Chad falando sozinho e foi apressado na direção de Anita. A poucos passos da elfa, percebeu algo que o fez hesitar e um sentimento ruim escureceu sua mente. Olhando para o seu braço, não viu mais a pulseira feita com os fios do destino. Em seu lugar estava um bracelete de metal, bem rústico, grosseiro e desgastado. Nem sequer limpo e brilhante estava. Algo que nem de longe combinava com sua beleza.

O elfo diminuiu o passo tentando ganhar tempo para se acalmar e colocar os pensamentos em ordem. Decidiu não tocar no assunto para evitar mais uma provável decepção. Neste momento, vê-la se alistando era uma preocupação maior. Aproximou-se, ainda sem ser notado pela elfa e a puxou pelo braço.

Thereor convidou Chadwick a lhe acompanhar até o alto do tablado onde estava o homem que aparentava ter a maior patente. Se identificou aos dois guardas que bloqueavam a escada de acesso e teve permissão para subir.

— Comandante Herzig! Bom vê-lo novamente.

A feição séria no rosto do homem deu lugar a um sorriso e ele respondeu.

— Bom vê-lo também, Thereor. Mas por favor, já passamos do ponto de formalidade, não acha?

Abraçaram-se e se olharam. Herzig comentou sobre os novos fios brancos que o clérigo tinha na barba e na cabeça. Thereor zombou de volta dizendo estar espantado em como Herzig ainda cabia na armadura depois de ganhar tanto peso. Chadwick foi apresentado e se mostrou ansioso com as batalhas que viriam. Depois de mais um pequeno tempo de conversa, as feições voltaram a ficar sérias.

— Eu creio que já sabe porque te chamei — começou Herzig.

— Sim, mas creio que você ainda não sabe porque eu vim.

— Contando da maneira mais rápida, não conseguimos impedir o avanço do exército deles e fomos obrigados a recuar. Os malditos levantaram acampamento na passagem sul da Grande Muralha. Pelas movimentações que conseguimos perceber, é bastante provável que devam haver emboscadas nas passagens dos túneis. Assim estaremos sob um cerco. Preciso de alguém com a sua experiência para comandar uma legião que me ajudará a manter o perímetro rural da grande muralha à salvo.

— Duvido que eles conseguiriam passar por estas muralhas! — interrompeu Chad, admirado com as defesas da cidade. — Tanto aqui quanto nos outros castelos tem muros bem altos. Seria apenas um suicídio se os orcs atacassem.

Thereor repreendeu seu pupilo com um olhar severo por ter interrompido um lorde. O monge entendeu que havia falado alguma bobagem e se calou.

— Eles não são burros como você imagina. Não irão atacar diretamente as muralhas — respondeu Herzig antes de continuar sua explicação. — Meus batedores disseram que eles estão preparados para um longo cerco. Possuem aríetes para investir contra os portões e montarias para ataques rápidos contra as propriedades desprotegidas. Eu diria que vão nos manter sitiados e pilhar toda a região. Nossas fazendas dão conta de sustentar o exército e a população da cidade, mas com a quantidade de pessoas que chegaram em busca de refúgio... Provavelmente vamos ter que começar o racionamento em breve.

— Bem, historicamente os orcs não são muito pacientes para fazer um cerco — Thereor opinou. — Isso está longe do estilo de guerra que eles buscam. Com certeza vão começar atacando as propriedades desprotegidas, como você disse. Irão tentar atrair você para fora para enfrentá-los em campo aberto. Eles também vão precisar se alimentar, por isso manter o controle de pelo menos parte do território dentro da muralha é essencial. Você precisará manter grandes grupos de cavaleiros prontos para combates rápidos do lado de fora.

— Já pensei nisso — concordou o lorde. — Eu mesmo levarei alguns soldados para o Castelo do Vale Sul e de lá os liderarei para, ao menos, cobrir a fuga das pessoas daquela região — ele se referia ao castelo que ficava na região sudoeste da Grande Muralha. O castelo tinha este nome por ficar próximo ao vale onde não existiam montanhas separando a região da área externa, logo tornando o ponto mais vulnerável a ataques — Devemos trazer o que pudermos, animais e alimentos para as terras mais ao norte onde poderemos protegê-las. Preciso que você vá para o Forte Rocha Negra e comande os homens que defenderão os túneis leste e norte para garantir nossas rotas com o restante do reino — o Castelo Rocha Negra era a menor das três grandes fortificações do interior da Grande Muralha, porém era uma fortaleza quase inexpugnável. Era construído no alto de uma colina com rochas escuras incrustadas no solo que tornavam o caminho até o portão estreito e sinuoso.

— Com todo respeito, mas o senhor tem outros homens capazes de fazer este serviço, não precisa de mim. Além do mais, me desculpe a sinceridade, mas isso vai apenas segurá-los por um tempo. Não mudará o resultado final — contestou Thereor com sinceridade. — Eles irão queimar as fazendas, saquear a comida e matar as pessoas. Com o número de soldados que o senhor tem, resistirá acuado dentro das muralhas, é o máximo que pode fazer. Será uma questão de tempo até que a fome comece a ser um problema grave. No final, isso nos derrotará.

Herzig concordou em silêncio, sem demonstrar indignação com a honestidade do clérigo.

— Você tem alguma outra ideia? Estou disposto a ouvi-la.

— Tem algo que poderia nos dar uma grande vantagem. Talvez tenhamos uma chance de vencer. Mas preciso de um grupo de homens e cavalos para irmos rápido até Kanor.

— Kanor! Só pode estar brincando. Preciso de cada soldado e cada cavalo que temos aqui! Mesmo isso não será suficiente! Você ainda quer me tirar alguns para levá-los a Ghar-Dalin? A guerra está aqui, Thereor!

Ghar-Dalin era o reino fronteiriço ao sudeste de Ancelon. Era uma terra quente e seca, tomada em grande parte por um deserto, porém rica, graças ao comércio de pedras preciosas abundantes em suas montanhas, suas grandes minas de prata, ouro e de suas vastas salinas. Não era uma viagem rápida, e teriam que atravessar regiões já dominadas por hordas inimigas, depois, traiçoeiras dunas de areia, até chegar em Kanor, sua capital.

— É a única esperança que vejo — Thereor assentiu.

Herzig respirou, tentando manter a calma, e perguntou.

— O que tem lá que pode nos dar tal vantagem?

— Um artefato poderoso. Vou à Casa dos Sete, como paladino de Dien, posso exigir que me dêem algum dos artefatos sagrados que possuem. Existe um, que trará o julgamento às almas sem a necessidade de uma batalha. A Lanterna divina, que chamamos de Luz Guia, irá...

— Já basta! — interrompeu Herzig tentando não parecer irritado. — Não quero ouvir mais nada sobre lendas. Não vou ceder homens para uma missão baseada em cânticos antigos.

— Eu tenho fé no que Dien nos deixou.

— A fé não vence as guerras. Os homens sim! E preciso de cada espada, cada lança e cada soldado que puder empunhar uma aqui comigo. Inclusive você, Thereor.

Herzig estava decidido, seu tom de voz deixava isso claro. Nem mesmo Chadwick ousou intervir.

— Mais uma vez, meu amigo, com todo o respeito que merece, não sou um soldado seu. Sou um paladino e meu juramento foi feito para Dien — respirou fundo antes de continuar. — Dou minha palavra a você que farei tudo que a Juíza me permitir para salvar Ancelon. Mesmo que para isso tenha que ir para o leste sem sua ajuda. Só peço que não faça um ataque desesperado e não saia da sua área segura. A viagem será longa e você terá que resistir até que eu retorne.

Herzig ficou calado, desviou o olhar para os homens se alistando abaixo e para o grupo de soldados jurados a ele que organizavam as filas e tentavam acalmar uma confusão que havia se iniciado. O clérigo estava certo e ele não tinha autoridade para impedi-lo, mas não conseguia deixar de sentir que estava sendo abandonado por um dos homens em quem ele mais confiava. O lorde era um homem cético, acreditava na existência dos deuses, claro, mas não a ponto de depositar todas as suas esperanças neles, menos ainda em um artefato que nunca havia visto.

— Se vocês dois forem sozinhos, morrerão rápido. O caminho mais curto até Kanor passa por Esion e Reidren, ambas já estão travando as próprias batalhas. Os inimigos tentam a todo custo cortar a nossa comunicação com eles. Se conseguirem passar por isso, terão que seguir direto pelas traiçoeiras dunas de Ghar-Dalin em vez de usar o caminho dos oásis. Isso é praticamente uma missão suicida.

— Concordo, é necessário um milagre para chegarmos com vida, mas que tipo de paladino eu seria se desistisse por causa disso?

Herzig tentou sorrir mas sabia que, para Thereor, a frase não era uma piada. Olhou para Chadwick na esperança de que o monge não fosse tão crente e fizesse, ao menos, um sinal de que discordava do plano. O jovem apenas parecia entusiasmado com tudo o que via e ouvia.

— Não mudo minha opinião sobre essa velharia que você quer buscar, mas vou me sentir culpado se morrer por eu não ter ajudado. Como te disse, soldados são indispensáveis aqui, mas posso permitir que você pegue alguns novatos. Um grupo reduzido terá mais chances. Talvez mais três pessoas. Também vou ceder uma carruagem e dois cavalos, poderão se passar por mercadores, vão atrair menos atenção de grandes tropas e ainda poderá viajar mais rápido e mais leve.

Thereor sorriu.

— Agradeço enormemente a sua generosidade, grande amigo. Se me permite, posso escolher os que me acompanharão?

— Vou lhe indicar um e deixo você buscar os outros dois.

Herzig foi ao canto do tablado onde um homem encapuzado e de roupas extravagantes lia um livro. Estava sentado em um banco e mantinha o foco fixo na sua leitura, de modo que o lorde precisou tocar seu ombro para chamar sua atenção. Após duas palavras, o homem guardou seu livro em uma bolsa de couro e camurça que já parecia cheia, a jogou para debaixo da manta que vestia e veio se apresentar.

— Senhores, este é Izaak, filho de Zigvald. Vem de uma família nobre de Weissen e apesar de jovem, é considerado um dos magos mais promissores de lá. Gostaria que ele os acompanhasse. Certamente me daria mais tranquilidade.

Izaak tirou seu capuz devagar revelando um rosto magro, com uma barba rala e fina, mas mesmo assim, bem feita, cabelo loiro, liso, curto e bem penteado. Os olhos verdes demonstravam superioridade ao encarar os outros. Vestia um manto vermelho com capuz, alguns símbolos bordados em dourado e vários bolsos externos e internos. Um cinto de couro apertava o manto em sua cintura mantendo sua silhueta fina e elegante. Por baixo, vestia uma camisa de algodão tingida de amarelo com uma pequena chama vermelha bordada no peito. O mago observou rapidamente quem possuía o maior título fez uma pequena reverência com a cabeça na direção de Thereor, que retribuiu a saudação.

— Vocês dois me esperem aqui, por favor. Vou buscar os outros que nos acompanharão — disse o paladino após se apresentar.

E assim, lorde e sacerdote desceram o tablado conversando.

— Olá, meu nome é Chadwick! — o monge estendeu a mão para o mago sem formalidade alguma.

O cumprimento com a mão não foi retribuído. Izaak apenas virou seu rosto, cobrindo-o novamente com capuz vermelho e disse com uma voz baixa e que carregava um sotaque estranho.

— Você já sabe o meu nome.

Chadwick não sabia como se portar diante de uma reação tão arrogante, ele tinha noção de que não era o lugar para começar uma briga, mas, ao mesmo tempo, não conseguia engolir o desaforo. Agarrou a mão do feiticeiro, apertou com força e balançou, forçando o cumprimento.

— É assim que deve fazer quando alguém lhe estende a mão!

Izaak encarou de volta e sua mão esquentou abruptamente, Chad sentiu seu próprio punho começar a queimar, entendeu o que o mago também o desafiava e resolveu continuar. Não queriam ferir gravemente um ao outro, contudo também não queriam se dar por vencidos. Um se queimava, o outro tinha os dedos esmagados e a cada segundo aumentavam a intensidade. Chad foi o primeiro a afrouxar seu aperto e Izaak puxou sua mão rápido assim que percebeu. O monge assoprou sua palma e o mago balançou a mão e moveu os dedos tentando amenizar a dor.

— Meu nome é Izaak. Já é a segunda vez que você o ouve. E nunca mais aperte minha mão dessa maneira, ou queimarei mais do que seus dedos!

Satisfeito com a resposta e empolgado com a demonstração de poder e intimidação, Chadwick deu um sorriso malicioso e continuou a conversa.

— Interessante o que você fez. Aposto que já queimou muitos orcs.

Não houve resposta.

— Eu acho que sei quem são os outros dois que o Thereor vai levar com a gente. Quer que eu lhe fale sobre eles?

— Não.

— Eu os conheço bem. Lutei ao lado deles em Florensia.

— Não importa.

Izaak tirou novamente o livro da bolsa e reiniciou sua leitura, ignorando o monge.

Na fila de alistamento à frente do tablado, Laucian finalmente tomou coragem e chegou até Anita. Tomado por uma mescla de sentimentos como insegurança, decepção e um pouco de raiva, puxou o braço da elfa de uma maneira não tão suave como deveria.

— O que você está fazendo? — perguntou.

Anita ficou surpresa ao ver o elfo novamente, porém a maneira como ele a segurou a chamou mais a atenção. Ela não moveu mais do que sua cabeça, olhou para a mão de Laucian pegando seu braço direito, em seguida desviou o olhar lentamente para o elfo.

— Quem você pensa que é para me tocar assim?

Ela o fitava furiosa, seus olhos penetrantes eram como um martelo de guerra acertando seu estômago. O tom de sua voz, embora baixo, soou como a aura pesada de medo causada pela presença de um grande dragão. Um arrepio frio percorreu o braço do bardo, sua mão amoleceu e, percebendo o exagero de sua ação, soltou-a.

— Pensei ter ouvido de você que ia se virar sozinha.

— Só faço o que acho necessário no momento.

— O que você acha que vai conseguir se alistando?

— Isso não é da sua conta.

— Você não tem noção do tamanho da guerra que está entrando? Ouvi dizer que o exército dos orcs é pelo menos duas vezes maior que o de Ancelon. E continua aumentando a cada dia.

— Talvez se menos homens pensassem como você, a diferença poderia ser menor.

Alguns homens na fila riram e debocharam de Laucian ao ouvir isso.

— Anita, já somos tão poucos elfos — ele ignorou os deboches —, entenda que você pode morrer. Não se importa com isso?

— Melhor morrer agindo pelo que acredita que se acovardar atrás da conveniente segurança da distância.

— Está me chamando de covarde?

— Sim! — Dois homens na fila do lado responderam por ela.

— Já quase fomos aniquilados pela primeira guerra, Anita. São poucos os elfos que sobraram depois da guerra contra Weissen. Não faça isso! — Laucian insistiu no argumento.

— Ei pombinhos! — gritou um homem atrás da elfa. — A fila está andando, prestem atenção!

Ela não respondeu, apenas se virou encarando o homem, ficando mais irritada.

— Sinto que tem mais alguma coisa. O que te faz lutar? Não creio que seja por ganância ou por glória. Menos ainda por gostar da guerra.

— Você deve lutar pelo que você acredita, não pelo que eu acredito.

— Você não deve se envolver nisso, me escute...

— Cale-se! — a elfa, aumentou o tom da discussão. — Não quero ouvir mais nada. Eu já perdi muito tempo conversando com um elfo egoísta e egocêntrico como você. Você é fútil, leva uma vida leviana, se satisfaz com aplausos e flertes bem sucedidos. Não adiantaria eu tentar explicar algo para alguém que não se importa com ninguém além de si mesmo. Você nunca vai entender os meus motivos enquanto não tiver os seus próprios. Enquanto esta guerra não afetar diretamente o seu estilo de vida medíocre, enquanto puder viajar para longe de tudo sem se preocupar com quem ficou pra trás, você não vai agir.

— Você acha que me conhece tão bem assim? — Mesmo diante da súbita mudança no tom de voz da elfa, Laucian manteve sua voz baixa, porém dessa vez não parecia mais desesperado, tinha uma certa indignação por ser julgado de uma forma tão superficial. — Não sabe de onde eu vim, por onde passei e nem porque vivo assim. Você me julga pelo pouco que viu de mim, mas se esquece que assim como você, coloquei minha vida em risco quando nos conhecemos. Então entenda uma coisa, Anita, eu sou um bardo, mas conheço muitas coisas sobre as guerras. A maioria não é bela como nas canções.

A fila atrás deles estava parada por causa da discussão e alguns homens mais ao fundo começaram a reclamar da demora. Um deles tentou passar à frente, Anita o puxou e foi empurrada de volta. Outro agarrou Laucian pelo capuz da capa e o elfo fez um movimento ágil e rápido para se desvencilhar. A confusão aumentou e mais pessoas se envolveram, Laucian recebeu um soco no rosto e Anita chutou o homem entre as pernas.

Os soldados que organizavam o alistamento tiveram que sacar suas espadas e, com gritos de ordem, controlaram a situação. Algemaram os quatro que iniciaram a briga, incluindo os dois elfos, e os deixaram presos a dois mastros próximos a um muro.

Estavam acorrentados no sol a quase uma hora. Laucian, embora houvesse impedido que a elfa se alistasse, estava desesperado. As coisas não haviam acabado nada como ele gostaria. Ele havia chegado na capital há menos de um dia e já havia perdido seu dinheiro, suas armas, sua liberdade e suas chances com Anita. Eles provavelmente passariam alguns dias na prisão até serem julgados. Durante uma guerra, isso poderia demorar bastante. Ele olhava para Anita querendo se desculpar, mas o rosto da elfa demonstrava tamanha raiva que ele não tinha coragem de dizer nada.

O sol estava em seu ponto mais alto, castigando os quatro encrenqueiros, quando um homem de barba escura usando uma armadura cara e brilhante e uma capa azul que exibia o grifo branco chegou à frente dos dois. Ao seu lado, outro homem, usando um cavanhaque bem aparado e uma armadura de metal enegrecido cujas peças exibiam em azul o símbolo de Dien.

— São estes dois? — perguntou Herzig.

— Sim, Senhor. Deixe-os comigo — respondeu Thereor.

Herzig e o guarda saíram.

— Suponho que isso não estava nos planos de nenhum dos dois quando vieram para Ancelon, correto? — Thereor começou com uma pergunta retórica que foi respondida apenas com o aceno de cabeça envergonhado de Laucian.

— Estou feliz em vê-la novamente, Anita — se dirigiu diretamente para a elfa que não havia reagido à primeira pergunta. — Só esperava que fosse em situação mais agradável.

— Desculpe, senhor — ela finalmente respondeu. — Não foi minha intenção causar este tumulto.

— Vocês estão bem encrencados — continuou o paladino. — O Senhor Herzig está de mau humor hoje. Cheio de coisas de guerra para pensar. Ele não vai querer aliviar pra vocês.

— Por favor, senhor Thereor — Laucian estava suando de calor e, provavelmente, de medo —, nos ajude! Deve ter algo que o senhor possa fazer.

— Já tentei argumentar com ele. Eu tenho apenas uma alternativa. — Os elfos ouviam ansiosos. — Eu estou reunindo um pequeno grupo para irmos até Kanor, em Ghar-Dalin, ele me permitiu pegar alguns novatos para me acompanhar. Se concordarem em ir comigo, posso tirá-los daqui.

— O que tem em Kanor? — perguntou Anita.

— Não posso dizer para prisioneiros, apenas para os que me seguirão.

— E porque nós dois? — a elfa continuava desconfiada.

— Primeiramente, porque já conheço vocês. Você me parece uma guerreira experiente, para Herzig, é apenas uma novata. Já Laucian, possui uma boa pontaria e, principalmente, pode ser um bom guia, já que teremos que nos desviar das estradas em algum momento.

— Eu aceito! — respondeu Laucian, sem pensar duas vezes. Seu medo de ficar em um calabouço desconfortável, sujo e com outros bandidos perigosos, por sabe-se lá quanto tempo, era grande demais para ele pensar nos riscos contidos na proposta do paladino.

Thereor olhou para a elfa, ela pensou por alguns segundos e, no fim, acabou concordando também.

Ele então abriu a mão esquerda revelando que já tinha a chave, ignorou os pedidos dos outros dois homens acorrentados e soltou os dois elfos, levando-os em seguida para a sombra. Ali esperavam Chadwick e um um sujeito desconhecido que lia um livro. Laucian tentou ler o título, mas estava escrito no idioma de Weissen, que o bardo não entendia.

— Vou pular a apresentação de Chadwick, pois sei que lembram bem dele. Logo, nosso outro companheiro é Izaak. Ele é um jovem weissiano com uma grande aptidão para magia. Herzig o indicou para nos acompanhar, pois seu talento arcano natural o fez famoso entre os grandes feiticeiros de Namagem e pode nos ser de grande ajuda na viagem.

Laucian, ao confirmar que se tratava de um weissiano, sentiu uma certa aversão involuntária. No passado, antes mesmo do bardo haver nascido, Weissen havia entrado em guerra contra todas as raças não humanas, incluindo os elfos. Como resultado desta guerra, grande parte da floresta de Mihallian fora destruída e como único meio de salvar seu lar e sua espécie, Finingel, o rei élfico na época, fez um acordo com o Rei Anceloniano, Khelidor I, e em troca de ajuda militar, a floresta passou a ser parte do grande reino de Ancelon. As histórias contadas por seus antepassados, diziam que os weissianos jamais foram perdoados pelos elfos, porém as novas gerações, incluindo a de Laucian, já criadas como parte de um reino humano, não carregavam o sentimento tão pesado quanto os mais velhos.

Izaak analisou os elfos dos pés à cabeça, deu apenas um leve aceno de cabeça esboçando um pequeno e arrogante sorriso para Anita.

Thereor esperava que alguém dissesse algo, contudo percebendo o silêncio, continuou.

— Este é Laucian. É um bardo, acostumado com as grandes viagens, conhecedor de grandes histórias e boas músicas, além de ter uma excelente pontaria com aquele arco. O escolhi principalmente por ser um viajante experiente e que poderá nos guiar por caminhos fora das estradas e desconhecidos por nossos inimigos.

O weissiano desviou o olhar para o elfo, cerrou levemente os olhos como se tentasse ler seus pensamentos.

— Então teremos um guia. Isso é conveniente.

— Anita é uma guerreira extremamente habilidosa e corajosa. Além do mais, me parece possuir alguma afinidade com as artes arcanas também — prosseguiu Thereor, citando o que havia escutado das histórias de Laucian sobre a luta no Touro Manco.

— Afinidade com as artes arcanas? — disse Izaak, pela primeira vez parecendo mais interessado. — Me encantaria ver que tipo de magia pode conjurar. Talvez eu possa lhe ensinar algumas coisas muito úteis.

Anita agradeceu a oferta com um mero aceno afirmativo.

— Como já sabe, meu nome é Thereor, clérigo peregrino do Templo Pétreo, dedicado à Dien.

— Dien? — Pela primeira vez Izaak se mostrava confuso. — Achei que apenas mulheres poderiam servir a Dien.

Anita sorriu ao lembrar do momento constrangedor do Touro Manco. Laucian cobriu a boca com a mão para esconder a risada. Chadwick não se conteve e começou uma longa gargalhada de doer o estômago e foi repreendido com um olhar furioso de Thereor.

Apesar do constrangimento, o paladino viu que a observação errônea de Izaak finalmente havia quebrado um pouco do gelo entre ele e o grupo. Pediu silêncio e explicou novamente para o mago o que já estava cansado de explicar a todos.

— Para quantas pessoas eu vou ter que explicar? — Limpou a garganta, retomou o tom sério, tentando parecer calmo. — Está enganado, existem alguns homens no sacerdócio de Dien, sobretudo paladinos como eu.

— Sinto muito. Eu não conhecia muito sobre clérigos da sua ordem. — O tom do feiticeiro era bem formal e honesto, ele realmente não conhecia as regras de todos os deuses e o culto a Dien era bem mais raro em sua região. Em Weissem, a divindade mais cultuada era Radsi, o Guardião.

Thereor respirou fundo e retomou sua postura de liderança. Preparando funções iniciais para cada um.

Izaak estava hospedado na Cidade Alta, em um quarto caro da estalagem mais próxima do castelo real. Thereor apenas pediu que ele preparasse seus ingredientes necessários para os feitiços e equipamentos leves, deixando a maior parte de seus pertences guardados ali.

Entregou para Anita um papel enrolado, amarrado e com o selado com cera carimbada com o símbolo da família real. O papel continha a autorização para que a elfa levasse dois cavalos e uma carruagem pequena. Chadwick a acompanhou.

Por último, pediu que Laucian usasse sua lábia para conseguir um bom quarto na taverna Pedágio do Troll. Ficariam hospedados lá esta noite e partiriam na manhã seguinte. Todos deveriam encontrar o elfo lá até o pôr do sol.

Sem nenhuma pergunta, Laucian, Chadwick, Anita e Izaak seguiram seus respectivos caminhos enquanto Thereor voltou para o tablado de Herzig.

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