- Como assim? O que houve com ela?

- Sente-se...

Ele esperou até Isis se sentar para começar a falar.

- Eu moro aqui desde criança. E sempre admirei sua avó. A grande caçadora da capa branca. - disse ele com admiração.

- Espera a vó dela é a caçadora da capa branca? - perguntou Derek.

- Desde época que ela me salvou, eu passei a treinar e estudar para me tornar um caçador. - continuou ele, ignorando o filho. - Mas aconteceu um coisa que mudou isso. Eu me tornei um lobisomem. Descobri coisas lá que mudaram o meu jeito de pensar.

- O que isso tem a ver com minha avó?

- Sua avó foi a causa dos ataques a essa vila. Nós lobisomens temos um tratado com os humanos. Só podemos matar alguém, se invadirem nosso território.

- A minha avó nunca... Ela é uma caçadora, porque ela atacaria vocês sem motivo?

- Ela não é uma caçadora. É uma alquimista. - disse Cornélio.

- Não... Isso não é verdade. - Isis começou a levantar dando risadas irônicas. - Como vocês podem dizer uma coisa dessas?

- Ela captura criaturas para estuda-las.

- Isso só pode ser brincadeira.

- Eles não estão mentindo. - disse Jasmine com a voz rouca e falhando. - É por isso que eu nunca deixei você treinar com ela. Senão, você acabaria como seu pai.

- Meu pai?

- Eu devia ter te contado isso a muito tempo. A caçadora da capa branca treinou seu pai. E assim que ela achou que ele estava pronto ela deu uma capa preta e essa espada pra ele... - disse ela apontando para a espada do lado da cadeira da filha. - E o convidou pra ser seu companheiro de caça e de estudos. Ela inveja as criaturas, e quer se tornar uma delas. Seu pai não concordou. Ele acreditava que um caçador devia proteger os humanos e as criaturas, caso um ameace o outro. Não sei se a caçadora teve alguma coisa a ver com aquele ataque. Mas ele ocorreu logo depois do seu pai ter negado se juntar a ela.

- Temos como provar que ela é uma alquimista. - disse Cornélio enquanto tirava um livro da bolsa marrom em baixo da mesa. - Esta vendo esse livro. É o diário do seu pai. Ele estava investigando ela. As ultimas páginas só falam dela.

- Sua avó é perigosa... E se tudo que está escrito aí for verdade. Você precisa tomar cuidado. - reforçou Johan.

- Por que nunca me falaram sobre isso? Por que esconderam isso de mim? São as memorias do meu pai!

- Me desculpe... Eu precisava investigar. Nós te entregariamos no momento certo. - falou o banqueiro.

A jovem caçadora encarou sua espada por alguns segundos. Depois olhou para Derek. Que só observava, encostado na parede.

- Seu irmão foi capturado por causa dela. Ela pegou a filha do líder da alcatéia, agora eles querem trocar. A filha pelo o garoto. Eu fiz um acordo com os lobisomens. Vamos liderar um ataque amanhã, até a casa de sua vó. E precisamos da sua ajuda. Sei que é pedir de mais... Não temos o direito. Mas precisamos da sua força. - disse o carniceiro.

- Eu preciso pensar em tudo isso. Onde eu posso descansar? - perguntou a jovem caçadora encarando o livro.

- O primeiro quarto a esquerda. - respondeu Cornélio apontando para o pequeno corredor. E entregando o livro a ela.

Ela deu boa noite a todos e foi para o quarto. Minha vó uma alquimista, Derek e Vinny dois lobisomens. Pelo menos tem uma coisa boa. Não vou ter que casar com Harold. Ela fechou o trinco da porta tirou a roupa de caçadora, deitou e se cobriu com lençol. Não que fosse dormir, ela não conseguiria. Tudo o que lhe contaram ficava girando em sua cabeça. Será que eles estão falando a verdade? Minha vó realmente é uma alquimista? Eu preciso descobrir isso. Ela pegou o livro e o abriu nas últimas páginas.

Sete dias depois da colheita.

Hoje foi um belo dia. Passei a manhã inteira com minha filha. Não sei por quanto tempo eu vou permanecer vivo. Então vou aproveitar o máximo para estar sempre com minha família. Jasmine odeia quando eu e Isis ficamos treinando na floresta. Mas o que eu posso fazer? A menina tem sangue meu e de minha mãe correndo nas veias. É lindo como seus olhinhos brilham quando eu ensino alguma coisa, ou quando ela acerta um alvo com a faca. Espero que ela não descubra que as facas que ela usa não tem cortes. Eu sei que a minha menininha não ficaria muito feliz em saber.

Isis limpou as lágrimas que começavam a descer. Ela lembrava, esse foi o dia em que seu pai brigou com ela.

Quando começou a entardecer ela me deu um susto. Minha pequena caçadora sumiu, ela aproveitou enquanto eu pegava algumas facas no chão e desapareceu. Sem rastro ou qualquer pista. Eu nunca senti um desespero tão grande. Larguei todas as minhas coisas e fui procurar. Levei menos de dois minutos para encontra-la. E não acreditei no que vi. De tudo o que ela já tinha feito, essa era a menos provável. Ela tem apenas doze anos. Mas lá estava ela, com um bastão manchado de sangue jogado no chão tentando arrastar um javali. O animal estava morto e com alguns ferimentos na cabeça sangravam sem parar. Dei uma bronca, mas na verdade eu estava orgulhoso. Vários elogios diferentes passagem pela minha cabeça enquanto eu dava um sermão. Fiquei... Eu estou muito feliz pela filha que tenho. Sei que ela se tornará uma grande caçadora.
Depois do almoço eu voltei a investigar. Precisava descobrir se minha mãe havia mesmo capturado um filhote de orc. Invadi a casa dela, encontrei uma coisa estranha no porão. Haviam frascos de diferentes tamanhos e cores. Escutei gemidos vindos de uma porta de madeira nos fundos, mas antes que eu pudesse fazer alguma coisa ouvi minha mãe entrando na casa arrastando alguma coisa pesada. Enquanto eu saía pela janela vi que era verdade, ela tinha capturado um filhote de orc. Tenho que me lembrar de escrever com mais detalhes depois. Mas agora eu tenho que ir, minha vila esta sendo atacada.

Uma batida na porta fez a pequena caçadora sair de sua leitura e limpar as lágrimas do rosto.

- Sou eu, Derek. Sei que você está acordada.

Ela se levantou e abriu a porta. Ele parou na porta na mesma hora admirando cada centímetros do corpo dela.

- Entra logo. Eu não quero que os outros me vejam assim. - ele entrou, ela fechou a porta e se enfiou embaixo do lençol. - O que você quer?