CAPÍTULO DOIS - INFESTAÇÃO
Puxei o capuz vermelho mais junto do rosto. Apesar de não usar mais o tão antigo apelido, ainda mantive a peça. Mas apenas por ser feita por minha querida e já falecida avó. Estou na beira do morro e o frio enregelante castiga minha pele. Fixo os olhos no jorro de luz negra que irrompe do chão, avisto criaturas sombrias surgindo dessa luz. Antigamente eu fraquejaria e teria medo. Hoje em dia não existe um só resquício de piedade em meu coração.
Acampar próximo daquela energia negra e intensa era arriscado, sem dúvida. Mas fora útil. Descobri o que causara a Infestação dos monstros. Uma rainha de ideais torpes quis reivindicar toda Windyland. E um demônio terrível fora invocado para um pacto. Latrioneu. Contudo os planos dela foram arruinados, pois ele começara a agir sozinho.
Para viver neste mundo Latrioneu precisa de um corpo e usara os restos putrefatos de Lupus para isso. Só que desta vez ele não era somente o "Lobo Mau". Mas um ser totalmente possuído pelas trevas e que atacava avidamente. Transformando suas vítimas em homens-lobo. Criaturas desprovidas de almas, já que eram mortas pelo veneno de suas presas.
Uma Sila irrompeu da luz negra e voou em minha direção. Uma criatura dotada de asas de couro, semelhantes a asas de morcego. Sua cabeça era pequena se comparada à minha. Por isso são tão tolas e só tem um foco específico. Matar.
Agarro o arco que trago enlaçado no braço. Puxo uma das flechas da aljava, uma cruz pequenina brilhava sentindo a aproximação do monstro. Todas as minhas armas foram imersas em água benta e abençoadas por um padre e um bispo da Igreja. Engatilho a flecha e estico o máximo possível, mirando até que a hora certa chegasse. Agora!
Solto a flecha benzida que corta o ar rapidamente, a Sila nem teve tempo de ver o que a atingiu. Explodiu em um milhão de pedaços. Agora eu precisava chegar até o centro daquela cratera. Onde a concentração de monstros se preparava para um ataque. Primeiro eu teria de acabar com aquela horda maligna da frente.
Desci a encosta silenciosamente. Minha antiga cesta de piqueniques fora substituída por uma bolsa com acessórios mortais. Dela puxei uma esfera pequena, criada pelo alquimista da aldeia e também benzida. Um dispositivo pequeno, comparado ao tamanho dos monstros, mas com um poder destrutivo altíssimo. Acionei o pequeno botão no lado superior da esfera.
Lancei-a o mais perto dos monstros. O som metálico retinindo contra as pedras fez vários dos homens-lobo se virarem, alguns dos monstros que saíam das profundezas também seguiram o ruído.
- Isso. Se aproximem mais. - murmurei.
Avistei a luz brilhante da cruz. Um silvo e um estrondo. A esfera explodiu vaporizando todas as criaturas. Agora posso chegar ao centro sem problemas. Corri até a fonte do poder maligno. A luz negra que saía do chão e subia até o céu. Sem problemas, nenhum monstro emergira do Submundo. Se bem que isso está mais fácil do que parece.
Ouço um rosnado e uma gargalhada maligna atrás de mim.
- Ora, ora. Minha velha amiga.
Me viro e vejo Lupus. Ele era alto e com músculos enormes, maiores do que qualquer lenhador. Seus braços eram compridos em relação ao seu tronco e coberto de pelos por todas as partes à mostra. Estava ereto sobre as duas patas traseiras, que se assemelhavam muito a pernas humanas. Fios grossos e desgrenhados despontavam de sua cabeça em todas as direções. As feições lupinas inconfundíveis. Os olhos vermelhos cravados em mim.
Sua boca arreganhada e cheia de dentes deixava uma baba ácida escorrer. Passou a língua nos dentes, limpando a saliva com o veneno capaz de matar e mudar as pessoas.
- Sentiu saudades? - zombei.
- Um pouco, agora que meu mestre vive dentro de mim, posso ser muito mais do que um lobo comum. Soube que se tornou uma caçadora desde a minha partida.
- Exatamente! - eu disse e engatilhei uma das flechas no arco. - E sou uma das melhores.
A flecha zuniu em direção do peito de Lupus, mas ela fora aparada por um bafo expelido de sua boca. Reduzida a farelos.
- Por que não tenta um machado? Da última vez funcionou. - ele riu e afastou alguns pelos de seu abdome, revelando uma antiga cicatriz. Sua gargalhada ecoou na cratera, somada ao barulho agourento e sombrio que vinha da luz negra, se tornou muito mais aterrorizante. - Não creio que vença essa batalha desta vez... Chapeuzinho Vermelho.
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