Eu sou o cordeiro?
Nasci de uma promessa, do sonho de um homem que esperou por mim, por muitos anos.
Isaque, significa "Ele rira".
Nome que recebi graças a minha mãe e sua pouca fé.
Por anos fui amado e protegido por meu pai, até mesmo quando sofri perseguição de meu irmão, Ismael. Meu pai, ou Senhor Abraão, como costumavam chamá-lo, era um pai amoroso, cuidadoso, e muito presente, respeteitado por todos como um exemplo de fé, e meu herói.
Até que... em uma madrugada fria, acordou-me dizendo:
- Venha, Isaque, vamos viajar para adorar o nosso Deus.
Sua voz estava baixa, mas ainda sonolento, não percebi nada de diferente do habitual.
Acordei para ajudá-lo com os preparativos, mantimentos para a viagem, a mula, os servos, o cutelo a lenha, o fogo e claro, o sacrifício perfeito - um cordeiro puro e novo, como meu pai havia me ensinado.
Pegamos tudo, mas meu pai dessa vez não foi buscar o cordeiro, achei estranho, essa era a parte mais importante, tinha a certeza que ele não havia se esquecido, mas confiava no meu pai e servo do Deus Altíssimo.
Por três dias caminhamos juntos, até o monte Sinai, no caminho, conversei com os servos, confesso que estava muito contente em ir sacrificar, porém meu pai, caminhava a frente, em silêncio, quase não respondia, era como se seus pensamentos estivessem longe.
Ele comia muito pouco, demorava a dormir, e estranhamente evitava trocar olhares comigo, às vezes, na hora de dormir, eu escutava o que parecia um barulho de choro, mas achei que era apenas suas orações normais.
No percurso, ao longe enxergamos o monte, paramos ali, e meu pai disse aos servos:
"—Fiquem aqui com o jumento. Eu e o menino vamos ali adiante para adorar a Deus. Daqui a pouco nós voltamos."
Gênesis 22:5
Os servos estranharam a decisão, mas obedeceram.
- Tem certeza, senhor? Não acha melhor que ao menos um de nós vá com vocês?
Meu pai manteve a ordem, desceu do jumento e seguimos a caminhada, agora, só nós dois. Ele me entregou a lenha e o cutelo para o sacrifício, mas caminhamos todo esse tempo e ele não havia arrumado o cordeiro, será que ele se esqueceu?
—Pai!
—Que foi, meu filho? Respondeu-me.
—Nós temos a lenha e o fogo, mas onde está o cordeiro para o sacrifício?
Perguntei-lhe.
Alguns poucos segundos de silêncio se formaram, e fitando seus olhos no monte, ele disse:
—Deus proverá o cordeiro para si.
Genesis 20:7-8
Apesar de sentir um certo peso na voz, confiei em meu pai, se ele havia dito que Deus iria prover, não havia motivos para acreditar no contrário.
Subimos o monte ainda em silêncio, meu pai parecia distante, frio, desconcentrado, como se ouvisse a voz de outra pessoa além da minha.
Ao chegarmos no topo do monte, meu pai então deu a ordem para que eu descansasse porquê ele iria preparar o altar para o sacrifício. Com muita dificuldade, ele foi montando o Altar, colocava pedra por pedra, como se fosse uma tonelada e eu, ao longe, observava tudo.
Com o Altar feito e as lenhas preparadas, o mistério do cordeiro ainda pairava sobre o ar.
- Pai, e agora?
Perguntei.
Em um torturante minuto, ele se moveu até a bolsa, e empunhou o cutelo em mãos, pela primeira vez em três dias ele me olhou nos olhos.
Seu rosto caído, e seus olhos lacrimejados como de quem segura o choro, fizeram-me lembrar das primeiras vezes que sacrificamos juntos. Com ele, aprendi a sempre priorizar o nosso Deus, acima de qualquer outra coisa, aprendi que, para Deus, nós damos o melhor, a primícia da colheita e do gado, o primeiro novilho sem defeitos, o mais novo e valioso, o primogênito.
- Pai, eu sou cordeiro?
Seu corpo tremia e suava, era visível seu medo e tristeza, mas ao mesmo tempo, a convicção de cumprir a vontade de Deus.
- Eu te amo muito, meu filho, mas preciso obedecer a Deus!
Recordo que temi por minha vida, morrer dessa maneira parecia doloroso, assustador para uma criança, mas não pensei em fugir, se eu seria o perfeito sacrifício de meu pai deveria me comportar como um cordeiro, disposto a morrer para cumprir a vontade do pai.
Entrelacei meus dedos para disfarçar meu medo, estendi minhas mãos em direção a ele que me amarrou. A essa altura, seus braços trêmulos colocaram-me sobre a lenha e o altar.
Lá, deitado, eu admirei o azul do céu, as nuvens brancas e o sol brilhando, apesar de estar prestes a morrer, senti uma imensa paz, creio que era Deus ali, me confortanto, olhei nos olhos de meu pai e sorri... fechei meus olhos esperei pela hora de ir até Deus.
Com uma das mãos, meu pai segurou a minha cabeça, e a outra o cutelo em minhas garganta, pude sentir o fio da navalha engoli seco, respirei fundo, estávamos prontos para o sacrifício.
E então, Deus disse.
*"-Abraão! Abraão!*
Sua voz era como um trovão, imponente, forte, mas sereno como águas, e calmo como nuvens.
- E-e-eis-me aqui, Senhor.
respondeu assustado.
A voz vinha de um ser de luz, vestido com Glória, era o anjo do Senhor, mas não um comum, ele refletia a glória de Deus.
Então, o anjo disse:
"—Não machuque o menino e não lhe faça nenhum mal. Agora sei que você teme a Deus, pois não me negou o seu filho, o seu único filho."
Genesis 22:11-12
As lágrimas se tornaram em cânticos, e com o punhal cortou as minhas amarras, soltando-me, deu-me um abraço mais demorado e forte que já recebi, em toda minha vida, a alegria e os agradecimentos a Deus foram apenas interropidos ao avistarmos um cordeiro com o chifre preso em uma árvore, o sacrifício provido por Deus.
Eu e meu pai, saímos de lá renovados, eu havia acabando de presenciar a maior prova de amor e sacrifício que um homem poderia entregar, mesmo sendo tão jovem, nunca mais fui o mesmo, e sempre entendi o quão pequenos e singelos, meus cordeiros poderiam ser, mesmo que fossem os primogênitos...
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