Capítulo Único
Quando Yuta finalmente chegou em casa no começo da noite de sexta-feira, depois de ter passado duas semanas fora do país resolvendo negócios que, em sua opinião, não tinham nada a ver com ele. - Não importa quantas vezes falassem que ele também era um legítimo da família Gojo, ele nunca quis esse fardo, nunca quis fazer parte da família, mesmo optando em carregar o sobrenome de sua mãe e se manter longe da família de seu pai. Ainda era inevitável que ele não fosse arrastado para outro país, junto de seu primo Satoru, para resolver os negócios das Nações Unidas. - A primeira coisa que ele reparou, foi no silêncio absoluto que reinava naquela casa.
A TV não estava ligada no último volume, como Nadi sempre gostava de deixar, alegando que os sons a faziam se sentir menos sozinha naquela casa enorme. Ele também não a ouviu cantar alguma música aleatória na cozinha, nem mesmo o som de seu celular que ela costumava deixar sobre a bancada, passando algum dorama que ela gostava de assistir enquanto cozinhava. Tudo estava quieto demais e isso o incomodou imensamente.
Sua esposa estava longe de ser uma pessoa quieta.
Depois de dar alguns passos pela sala, conseguiu encontrar a figura pequena de cabelos azulados, envolta de um cobertor, toda encolhida no sofá. No primeiro instante, o Okkotsu sorriu com a visão de vê-la adormecida daquela forma, reparando em todos os traços delicados de seu rosto.
Se abaixou ao lado do sofá para admirá-la melhor de perto. Ela fazia um som suave, quase como o ronronar de um gatinho, as maçãs de seu rosto estavam vermelhas e seus lábios entreabertos, um pouco pálidos demais. O que foi o principal motivo de sua desconfiança, sobre ter algo de errado com ela.
Levou a ponta dos dedos ao rosto da mulher e notou que sua pele parecia estar queimando como brasas. Ele apoiou as costas da mão sobre a testa, afastando os fios azulados da franja para finalmente se tocar de que ela estava queimando em febre.
Sua esposa estava doente. Há quanto tempo ela estava naquele estado? Tentou se lembrar da última vez que falou com ela, foi pela manhã e ela parecia alegre nas mensagens de texto. Mas também faziam dois dias que ela não atendia as ligações dele, alegando que estava ocupada no trabalho ou em locais muito barulhentos. Ela já deveria estar doente há exatos dois dias e evitou falar com ele por uma ligação ou áudio, para que o mesmo não descobrisse. Porque no instante em que Yuta sequer desconfiasse que sua mulher poderia estar precisando dele, largaria tudo o que estava fazendo para ir direto ao encontro dela.
Que fosse pro inferno a empresa de sua família. Nadi era a única coisa que importava pra ele.
Se levantou e correu até a cozinha, abrindo a última gaveta do armário, onde costumava ficar alguns remédios. Pegou um pra febre junto de um copo de água. Se aquilo não adiantasse, a levaria ao hospital mais tarde.
Voltou até a sala onde a mulher ainda permanecia adormecida no sofá, totalmente alheia à presença do Okkotsu ali. Ela deveria estar muito mal, considerando que sabia que ele chegaria aquele horário e geralmente ela estava sempre esperando por ele, com um enorme sorriso no rosto e morta de saudades.
Se abaixou novamente e a cutucou de forma delicada na bochecha, fez isso uma vez e observou as pálpebras dela tremerem, mas nem sequer fez menção em abri-las. Tentou uma segunda vez e viu a mulher se remexer e balbuciar alguma coisa. Na terceira, ele finalmente pode contemplar as íris esverdeadas de sua garota, que o encarava com uma expressão confusa, antes de piscar várias vezes, buscando assimilar o mundo ao seu redor.
— Yuta?
— Ei, princesa. — Ele deu um sorriso gentil pra ela, estendendo o comprimido e o copo de água. — Bebe isso aqui, vai ajudar na sua febre.
Pacientemente ele esperou que ela conseguisse se sentar no sofá, para lhe entregar o copo. A viu tomar o remédio e se aconchegar no canto. Cedendo um enorme espaço para que o Okkotsu se ocupasse ao lado dela, puxando a mulher para dentro de seus braços no mesmo instante, deixando-a que aconchegasse a cabeça em seu peitoral.
— Quando você chegou? — O tom de voz dela ainda era rouco, um pouco arrastado como se estivesse com sono.
— Faz pouco tempo. — Yuta afagou os cabelos curtos e azulados dela, que ele costumava gostar tanto. A cor lhe lembrava o céu limpo em dias de verão. — Por que não me contou que estava doente?
— É só um resfriado, não queria te preocupar atoa.
— Eu sempre me preocupo com você. Não precisava ter de lidar com isso sozinha, sou seu marido. E eu teria voado do outro lado do mundo pra vir cuidar de você no mesmo instante, talvez você não tivesse que ter chegado a esse estado de febre.
Houve um curto período de silêncio, onde ele apenas podia ouvir a respiração pesada dela. Começando a pensar que a mulher poderia ter adormecido novamente, até vê-la erguer a cabeça e encará-lo.
— Yuta, você é um dos responsáveis da ONU. O mundo inteiro precisa de você, não vou ser egoísta.
— Sabe que só ajudo no gerenciamento da ONU, porque quero fazer do mundo um lugar seguro para que você possa viver a salvo. Mas se em algum momento eu te perder, por mim, o mundo pode explodir. Nada mais vai fazer sentido em relação a tudo o que eu faço.
Ele viu o rosto dela se contorcer em uma expressão horrorizada, antes de receber um tapa leve contra o braço.
— Não diga essas coisas, faz você parecer uma pessoa egoísta. E existem muitas pessoas boas no mundo que merecem ser salvas.
— Nenhuma delas me importa tanto quanto você.
Ele beijou a testa dela, estendendo uma das mãos para pressionar o indicador sobre os lábios de sua garota, tentando mantê-la calada por um instante. Tinha plena consciência de que era um grande egoísta quando se tratava dela. Mas o que poderia fazer se não tinha capacidade alguma de viver em um mundo sem ela?
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