° Capítulo 5 °
" As palavras voam ... e às vezes pousam ! "
- Cecília Meireles -
Uma vez meu pai me disse que as borboletas são baratas com fantasias bonitas . Dizia que a borboleta que ela era um ser que exala liberdade , assim como eu .
Hoje penso que eu anseio pela liberdade . Sentir o vento nos cabelos , ter um vôo alto e o pensamento brilhante igual a de uma borboleta .
Mas não irá existir borboleta e essa liberdade se eu não passar pela metamorfose .
" Uma pequena flor começa a brotar no jardim que eu e papai criamos . Plantamos tantas sementes de várias flores , que agora o jardim está quase ficando perfeito igual no filme que eu vi .
— Olha , uma borboleta papai ! — A borboleta azul é pequena e tem manchas brancas . Corro pra dentro de casa e pego um pote transparente que mamãe comprou pra por açúcar .
Mas acho que ela não vai se importar , já que a borboleta é linda e vai deixar mamãe muito feliz !
Com cuidado , eu ando devagar pra perto da borboleta , que vou até outro brotinho .
— Acho que não vou conseguir pegar ela — Falo triste — Pai , pode pegar ela pra mim ?
— Você quer colocá-la dentro deste pote ? — Ele pergunta e eu concordo - Mas isso não é certo filha .
— Mas por quê ? Ela é muito bonita e eu quero ela pra mim .
— Eu sei Prica , mas você não acha que ela deveria viver livre ao invés de estar presa dentro deste potinho hum ? — Ele sorri e aperta a ponta do meu nariz .
Eu quero muito ficar com essa borboleta , mas acho que se fosse igual ela , não gostaria de ficar presa .
— Prica , você acha ela mais bonita voando livre ou presa aí dentro ? — Ele bate o dedo no pote .
— Acho ela mais bonita voando — Sorri .
— Então deixe ela viver livre — Ele também sorri .
Fico um pouco triste no fundo e meu pai percebe isso .
— Quer saber uma coisa legal sobre as borboletas ? — Ele põe a mão no meu queixo e balança devagar e levanta um pouco o meu rosto .
Eu balanço a cabeça e tento sorrir .
— Quanto mais a gente deixar esse jardim bonito , mais borboletas vão aparecer .
— Uau ... jura juradinho ?
— Juro juradinho — Ele levanta o dedinho e aperta contra o meu — E sabe de uma coisa ? Se você ficar parada só admirando ela , uma hora ela pousa em você .
— Então vou ficar paradinha aqui . Você vai ficar aqui comigo ?
— Sim , pra sempre vou ficar Prica . "
Acho que promessas são um detalhe bem fútil . Ele me prometeu ficar comigo pra sempre e hoje está cuidando do seu jardim com sua outra família .
Não querendo mais pensar nisso , olho para Khate que dorme tranquilamente no colchão velho .
Khate é uma criança ligada a 220v.
Ela pode ser comparada a uma pilha duracell e com bateria de sobra . Para uma garotinha de 8 anos , até que ela é bem mais esperta do que qualquer criança .
Sua alegria e sua inteligência sempre me impressiona . Um dia , vou dar uma vida boa que ela merece . A observo dormir e seu peito subir e descer levemente com a sua respiração serena .
Um rastro de saliva é evidente no canto da sua boca e dou um risada baixa . Babona .
Quando me levanto pra sair do quarto , piso em uma boneca de Khate que canta alto pra cacete .
Ela se remexe no colchão e abre um sorriso mole .
— Pri ! — Ela fala um pouco sonolenta .
Olho a hora no meu celular com a tela bem quebrada e noto que ainda é 5:40 da manhã . Antes de descer , paro e olho pra ela .
— Onde você estava ? — Khate coça os olhos e solta um bocejo longo .
— Ah , isso não importa — Khate dá de ombros — E como está o caos ? — Pergunto me referindo ao capeta do Rogério e a nossa mãe .
— Um verdadeiro caos — Ela fala como se fosse óbvio — Rogério só acalmou porque eu coloquei um calmante dentro da cerveja dele . Tá apagado lá no sofá .
— Boa garota ! — De onde ela tira essas ideias ? Nem eu sei .
Eu sempre fiz de tudo para que ela soubesse se defender sozinha . Não confiar em ninguém e , acima de tudo , não deixar ninguém força-lá a fazer algo que ela não queira .
Desde pequena protejo ela com unhas e dentes , porque é a minha função .
— Pri ? — Khate sussurra .
— Khate — Digo , e espero ela falar alguma coisa .
— Quando a nossa vida vai ser normal ? — Ela diz ainda em um fio de sono .
— Logo , logo Khate — Digo isso , mas tem uma longa chance de não ser verdade .
Sempre que eu me sinto sinto mal , gosto de tomar um café bem forte e um banho frio para tirar tudo de ruim que eu tô sentindo . Às vezes funciona , e eu fico feliz por isso , mas quando não dá certo tenho a sensação de estar pior do que antes .
Desço as escadas sem pressa e ando por esse muquifo que todos aqui chamam de casa . Depois que meu pai nos deixou , viemos morar no inferno junto com o Rogério . Khate nem havia nascido quando nos mudamos para cá , mas tenho certeza de que ela veio morar aqui tanto quanto eu .
Minha mãe não reclama de nada , só diz que é o nosso lá e ponto final .
Só que todas as coisas quebradas e em um estado deplorável diz mais do que qualquer palavra .
Vou para o banheiro tomar um banho rápido, - já que não podia ter um longo e decentemente tomado banho - e tento com todas as minhas forças não chorar em meio as gotas que batem no meu rosto. Sinto as lágrimas querendo vir lá dentro desde o estômago até a garganta .
Seja forte , pela Khate .
Nunca chore , isso é coisa de fracos .
Obviamente tem vários momentos de fraqueza, e isso mostra o quanto eu sou fraca insignificante .
Saio do banho do chuveiro e começo a me secar com a toalha de banho e através do espelho em posso ver o meu corpo desajustado .
Coisas que eu odeio em mim ... acho que tudo .
Posso até parecer uma mendiga com esse cabelo ruivo fubento e indomável , com um punhado de sardas na cara e uma pele branca de pessoa anêmica . Mas é uma porra que eu vou me arrumar para o Rogério ficar se aproveitando disso, então tento ficaram mais feia possível para ele perder o interesse .
Quando era criança , gostava de me arrumar . De verdade . Só que hoje eu me olho no espelho e vejo uma garota imunda .
Se eu já sofri isso tudo ... então pra que eu existo ? - Penso - E se Deus existe mesmo , porque permite que qualquer maldade aconteça ?
Respiro fundo e começo a vestir minhas roupas .
Um moletom velho e um jeans surrados que eu achei no fundo do guarda-roupa . Quando estava quase saindo do banho , ouço batidas na porta . Congelo .
— Priscila ? É você que está aí dentro ? — É a minha mãe .
— Hum ... quem você acha que é ? — Abro a fechadura velha da porta e olho pra ela . Rosto fundo , olheiras escuras debaixo dos olhos e corpo magro , talvez até um pouco desnutrido .
Esqueci que a minha mãe acorda cedo para fazer faxina na mesma casa de sempre . Não adianta nada , já que o salário dela é uma merda é o Rogério pega cada centavo para comprar bebidas .
Não culpo minha mãe por nada que aconteceu comigo . Mas ela deixou de agir como uma mãe à partir do momento em que ela colocou esse embuste na nossa vida .
— Preciso ter uma conversa séria com você — Sua expressão se fecha e ela cruza os braços — O que você tem na cabeça Priscila ?
Respiro bem fundo . Não queria falar com ela .
— O que eu tenho na cabeça mãe ? Isso mesmo que eu estou ouvindo ? — Digo com deboche e irritação — Em toda a porra da minha vida eu me perguntei isso . Agora é sua vez de responder . O QUE EU TENHO NA CABEÇA MÃE ?
— Priscila você está usando drogas ? — Ela pergunta de repente . Nunca fui disso e ela sabe bem . Por mais que eu seja problemática e difícil , não sou doida pra extrapolar esse limite .
— Por que se você estiver usando , eu juro que ... — Ela começa a ameaçar , mas eu a corto .
— Não , não estou usando - Respondo sem paciência — E se estivesse , não seria problema seu .
— Priscila Almeida , não sei o quê está acontecendo com você e tenho desconfiado de que você possa estar se envolvendo com coisas erradas — Acho que ela está se referendo a todos esses anos da minha vida .
— Olha só mãe , não estou fazendo nada que te deixe preocupada — Digo coberta de ironia — Pode ficar tranquila .
Saio de dentro do banheiro e minha mãe segura meu pulso .
— Deixa eu ver seus pulsos — Ordena .
Comecei a me cortar quando tinha 14 anos . Vi isso na internet e achei uma grande bobagem , mas depois eu percebi que era um grande alívio .
Com desconforto , levanto as mangas do moletom e deixo os pulsos à mostra .
— Eu não tem nada caramba — Faz um tempão que eu não me corto , porque Khate odeia que eu faça isso .
— Bom mesmo — Minha mãe me lança um olhar gélido e entra dentro do banheiro , fechando a porta na minha cara .
" Bom mesmo " ? Só isso ?
Ei mãe , eu não tenho nada nos pulsos , mas você não procurou no resto do meu corpo , ou da minha alma destroçada . Contando que meus problemas e medos não estejam aparentes , está tudo perfeitamente bem pra você .
E depois disso , o desânimo é tão grande , que eu deixo o café de lado e vou me trancar no quarto .
Wow ... wow ... wow ... que capítulo foi esse meu Deus .
Vocês viram mais um pouquinho do passado da Pri , no próximo capítulo o Rafa que vai reinar 😂♥️
Espero que tenham gostado !!!
- O quê vocês acham das borboletas ? Tem alguma lembrança boa relacionado à elas ?
- TÁ ESPERANDO O QUÊ MEU BEM ?
CLICA LOGO NESSA ESTRELINHA LINDA AÍ EMBAIXO ANJO ! 🌟
Beijos brilhantes da Lalá ♥️🌟
* MÚSICA MARAVILINDA NA MÍDIA ! Super combina com o capítulo , ouçam ♥️
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