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● Capítulo VII │ Á luz do luar ●

Eu estou tremendo, suando frio, meu coração batendo violentamente contra a parede do meu peito e o motivo? Annelise, que se diz minha melhor amiga, deixou-me sozinha com Eros.

— Está uma noite linda, não? — Eros estava parado ao meu lado, com as mãos postadas nas costas e olhando para o meu rosto e eu tentando inutilmente achar algo que me concentrasse na fogueira a nossa frente.

— Realmente — foi só o que consegui dizer.

— Se eu estiver incomodando posso me retirar — olhou para o mesmo ponto que eu.

— Não está — cedi ao meu desejo e olhei para ele.

— Somos amigos, não somos Lady Olívia? — seu olhar encontrou o meu em uma intensidade sem tamanho.

— Somos — afirmei.

— Então por que não fica mais leve ao meu lado, não vou fazê-la mal algum.

Ele estava chateado e eu entendia. Eros havia tentado puxar vários assuntos e eu o respondi diversas vezes com respostadas curtas, as mais curtas possíveis. E tudo isso por qual motivo? Nem eu sei.

— Eu sinto muito se pareço incomodada — fechei os olhos por alguns segundos e arrastei uns dedos nos outros deixando as mãos pousadas em meu colo.

— Quer falar sobre quem perdeu na batalha? — segurou ambas as minhas mãos com uma delicadeza sem fim.

— Eu estou me sentindo culpada — as lágrimas vieram em meus olhos — Jace morreu na minha frente, seus olhos estavam nos meus quando o sangue escorreu pelo canto de sua boca.

— Você gostava dele? — Eros parecia muito concentrado em minhas palavras.

— Sim — ele tirou suas mãos das minhas, mas não bruscamente, delicadamente como quando se tira a pétala de uma rosa — Quer dizer, eu gostava, mas não amorosamente. Eu gostava amorosamente, mas depois ficou tudo confuso.

— Você não teve culpa e ele cumpriu seu dever e honrou seu nome — olhou novamente para a fogueira — Foi o que me disseram quando minha mãe morreu.

— Oh, eu sinto muito...

— Faz muito tempo, eu era um menino de doze anos. Ela me mandou correr e eu corri, então ela não me seguiu, eu estava assustado demais para voltar para trás e buscá-la. Eu fui um covarde.

— Não foi — foi minha vez de segurar sua mão — Você era uma criança e obedeceu a sua mãe.

— Sabe, acendemos essa fogueira para lembrar-se do quão calorosa ela era, amava a todos e era bondosa. Ficamos assim debaixo das estrelas que me lembram de seus olhos e as histórias que contava sobre como as estrelas nos guiam á nossos destinos.

— Se ela foi como você é tenho certeza que ela era muito incrível — ele riu e meneou a cabeça.

— Ela era mais.

— Era parecida com Gaia?

— Não lembro direito do rosto dela, mas a personalidade das duas sim. Gaia também cria os dois filhos sozinha sem o esposo que faleceu quando nos negamos á ceder aos rebeldes há uns três anos mais ou menos.

— E o seu pai?

— Não sei. Ninguém fala sobre ele — deu de ombros — Eu não perguntava á minha mãe e Gaia não me conta o que sabe por que acha que tem que me proteger de algo.

— Você tem uma família incrível — elogiei e ele sorriu.

— E a sua? — perguntou.

— A minha o quê?

— Como é sua família? — levantou-se e me ofereceu a mão — Vou te levar á um lugar que vai gostar e lá você me conta sobre sua família.

— Vai me levar para onde?

— Para o Paraíso se você deixar — se eu tremi?

Não sei se é o paraíso, mas com toda certeza é bem no alto.

Estamos no topo da montanha e parece mágica a maneira com a qual a água da cachoeira parece brotar do meio do nada e escorrer magicamente escondendo a entrada de Waterfill.

— É lindo — eu não conseguia encontrar palavras.

— É o meu lugar, ninguém vem aqui — ele me contou.

— Agora eu vim — lembrei-o.

— Então agora é o nosso lugar.

Mordi o lábio inferior, ventava muito e o vestido que Gaia havia me emprestado não era muito grosso, esquentei meus braços esfregando minhas mãos neles.

Sentamos na beirada da correnteza, Eros passou sua capa em meus ombros e se deitou no chão acompanhei seu gesto.

— Aqui tem sapos, cobras e essas coisas? — preocupei-me.

— Tem — meu coração acelerou ainda mais, se possível — Confia em mim o suficiente para ficar aqui?

Ponderei por alguns segundos e me encostei mais ao seu braço esquerdo.

— Minha família é complicada — comecei — Tenho quatro sobrinhos filhos de Ella que mora em outro reino onde é casada com um duque. Meu irmão mais velho, Kellan, faleceu em uma guerra. Anthony é meu irmão bastardo que é um ano mais velho que Mabelle, que é minha irmã caçula e que é minha irmã favorita, ah! Tem a Kendra também.

— Kendra e sua irmã Mabelle não se dão bem não é?

— Não — respondi — Kellan era o irmão favorito de Kendra, mas tudo mudou quando Mabelle nasceu e Kellan se apegou a menina. Kendra não era a favorita de seu favorito. Papai é louco por Mabelle e todos são, todos amavam a garotinha e Kendra não suportava isso, Kendra é muito durona e Belle é um anjo.

— Percebi e é muito bonita também.

— E muito nova para você — repreendi com o olhar.

— Calma, ela é linda, mas a minha Mosart favorita continua sendo você — eu queria sorrir, mas não sorriria para não parecer que tenho algum tipo de emoção por ele.

— Continuando... Kendra é rancorosa com Mabelle porque ela acha que a mãe de Mabelle é uma destruidora de lares.

— E ela é?

— Tudo o que sei é que ela era minha tia e mamãe disse que eu tinha que respeitá-la como tal.

— Espera — me olhou de lado — Mabelle é sua irmã e prima tudo ao mesmo tempo?

— Sim — ele riu nasalado — Quando os meus avós morreram a mãe de Belle foi morar na minha casa e quando a minha tia apareceu grávida mamãe já tinha ideia de quem era o pai.

— Por que ela sabia?

— Porque meu pai já tinha engravidado a vizinha — ele riu.

— Seu pai é meio...

— Ele é incrível, só tem um defeito: Ser um cafajeste.

— E isso não é horrível?

— É, mas ele é tão incrível que eu costumava achar que ele era o melhor homem do mundo.

— E não acha mais por quê?

— Conheci o Príncipe Lincoln.

— Ele é tão incrível assim?

— Se ele não fosse casado com minha melhor amiga eu casaria com ele de tão incrível que ele é e que Annelise não me ouça.

— Deve ser bem incrível — pareceu um pouco chateado.

— Tem o Príncipe James também, é um bom homem. Mas aí conheci você e acho que você é o melhor homem que eu já conheci na minha vida.

Eros virou de lado e eu fiz o mesmo.

— Por que acha isso?

— Porque você nos abrigou sem mal nos conhecer, tem sido incrível para conosco e principalmente tem sido bom para mim e ninguém nunca me deu tanta atenção assim.

Seus dedos se arrastaram pela minha bochecha e meus olhos instintivamente se fecharam gradativamente.

— Acho que devíamos voltar lá para baixo, vovó vai ficar louca quando não nos vir lá.

Levantei com sua ajuda e com o impulso bati meu corpo contra o dele e Eros me segurou perto de si. Ele é tão alto e tão bonito e á luz da lua parece um deus grego.

— Você é o cupido? — perguntei e ele riu.

— Por quê?

— Você está parecendo um ser celeste agora.

— Você parece sempre e nem por isso é um.

— Eu gosto do seu nome, me lembra de cupido, cupido me lembra...

— Amor?

— Eu ia dizer: Asas, gosto de asas. Acho lindo.

— E eu te acho linda — seus dedos acariciaram minhas bochechas até enroscarem no meu cabelo logo atrás da orelha, seus olhos nos meus e a ansiedade crescendo em mim — Muito linda — foi quase um sussurro.

— Eros — a voz de Gaia soou perto — Vovó está te procurando — ainda estava longe, mas perto o suficiente para fazer com que nos separássemos.

— Acho melhor irmos — Eros pareceu um pouco desconcertado.

— É melhor — passei á sua frente.

— Olívia? — segurou meu pulso.

— Sim? — engoli em seco.

— Eu só estava fazendo carinho em você.

— Eu sei, somos amigos.

— Amigos — repetiu de um jeito quase pesaroso.

— Aí estão vocês — Gaia apareceu com Annelise que me olhou com um sorriso zombeteiro dançando nos lábios — Estavam fazendo o que aqui sozinhos?

— Conversamos Gaia, apenas conversando — pareceu desapontado com a frase.

— Vovó te mata se não fizer as coisas do jeitinho certo Eros — Gaia pegou o irmão pela orelha como se pega uma criança — Case com ela primeiro, depois aí pode fazer coisas, mas casar primeiro.

Minhas bochechas arderam com suas palavras.

— Ai Gaia — ele reclamou com ela puxando sua orelha.

— Vou contar para vovó — ela ameaçou.

— Eu também — disse parecendo um garoto birrento e eu ri.

— Você também mocinha — Annelise olhou para mim com aquela cara de riso misturada á uma feição de preocupação — Casar primeiro Olívia, não estou te criando para sumir com um rapaz para o meio do nada.

— Para Annelise — senti muita vergonha e ela entrelaçou o braço no meu meio me puxando para trás atrasando nossos passos.

— E aí beijou?

— Anne — repreendi.

— Beijou ou não?

— Não — respondi e ela soltou um muxoxo.

— Homem frouxo é a pior coisa para se lidar.

— Annelise!

— O que foi?

— Seu marido precisa voltar urgentemente.

— Quer dizer isso pra mim?

Rimos uma da outra. E tudo pareceu tão familiar, tão bom. Ela me olhou e tenho certeza que pensou o mesmo antes de deixar um beijo estalado em minha bochecha.

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