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● Capítulo II - A Ladra ●

O sol já estava pra raiar, Rainha Helena nem conseguia mais fazer força pra gemer, Darin estava acabado, Olívia não dava uma palavra e isso tudo está me deixando desesperada.

"Você é uma Rainha, Annelise, haja como uma".

Artemis estava certa de novo, já está na hora de parar de ter medo de minha própria sombra, ser Rainha é meu destino e tenho que fazer valer a pena.

Um homem alto apareceu montado á cavalo com uma espada apontada em nossa direção, ele tinha um sorriso assustador, não dava para ver seu rosto direito pela luz ainda fraca do sol.

— Abaixe a espada — Kendra disse entre dentes, imitando o homem apontando sua espada na direção dele.

— Não senhorita, você abaixe a sua espada.

— Abaixe Kendra — dei ordem.

— Enlouqueceu? — vociferou na minha direção.

— Eu sou sua Princesa e estou mandando você abaixar essa porcaria — vociferou ainda mais alto.

— Está brincando de ser soberana agora Lady Annelise?

— Eu sou a sua soberana Capitã Saint-Claire — corrigi-a.

— Opa, opa, opa — o homem riu — O que temos aqui? Uma rixa feminina?

— Abaixe a espada seu idiota — a voz feminina inundou o lugar — Ela é a Princesa — a moça ficou ao lado do rapaz e me reverenciou.

— Melhor ainda, mais coisas para roubar.

— Ah, por favor! Poupe-me das suas péssimas ideias Phill — a moça parecia brava — Você é um péssimo ladrão.

— Deixem-nos passar e tudo ficará bem — eu disse tentando parecer firme.

— Vossa Majestade pelo que vejo estão machucados e cansados, não temos muito o que oferecer além de uma caverna fedida, água e uma sopa rala, mas se a senhora assim desejar vir conosco será uma honra.

— Qual é o seu nome? — perguntei.

— Dalia, Dalia Demeter, minha senhora — respondeu e se levantou de sua reverência — E esse é Phill, meu melhor amigo.

— Porque você quer — o tal Phill respondeu meio chateado.

— Lhe juro que não tocaremos um só dedo em vocês, não é seguro que andem por aqui até o amanhecer, o bando de ladrões dos meus pais é aliado aos rebeldes.

— E por que não está com eles Dalia?

— Vossa Alteza não sou uma traidora.

— É uma ladra, para mim dá no mesmo — Kendra ralhou e eu revirei os olhos.

Mulherzinha insuportável.

— Estou falando com a Princesa e não com uma Capitãzinha mal humorada — Dalia retrucou e Mabelle riu baixinho.

— Eu aceito vossa ajuda — ignorei as reclamações de Kendra.

Dalia nos guiou até uma caverna fétida – como ela mesma havia dito – e pequena. Kendra se recusou a entrar e ficou na abertura do lugar de braços cruzados e com cara de poucos amigos. Dalia me ajudou a deitar as crianças em um cobertor que estava estendido no chão, acho que ela dorme ali. No outro cobertor Rainha Helena foi deitada, queimava em febre e o ferimento ainda sangrava.

Mabelle se abaixou ao lado da Rainha e com alguns "materiais" entregues por Dalia começou a fazer um curativo simples, porém muito bem feito. Dalia caminhou até mim e Darin.

— O moço está ardendo em febre — ela constatou tocando a mão na testa dele — Seu esposo?

— Não, meu primo — respondi e ela assentiu.

— Acho que sua amiga não está bem — Dalia apontou para Olívia que estava estática no canto da caverna.

— Ela perdeu alguém importante — a ladra abaixou a cabeça.

— Todos nós perdemos — respondeu triste.

— Por que não está com seus pais?

— Não quero ser só uma ladra, uma traidora sem escrúpulos. Quero ser alguém, quero ser lembrada.

— Uma lenda?

— Sim, Vossa Alteza.

Embora fosse uma ladra, Dalia exalava algo que me fazia acreditar em suas palavras, ela estava convicta no que dizia e isso me fazia admirá-la.

— Acho melhor a senhora descansar um pouco, quando o sol nascer direito os levarei aonde querem ir.

— Não posso levá-la conosco.

Ela se abateu, mas sorriu.

— Fortalezas secretas, eu entendi. Isso é legal.

Dalia tentou parecer estar bem com isso, mas eu sabia que no fundo lhe doía ser apenas uma ladra e ninguém confiar nela. Eu me sentia assim, todos me diziam o quão fraca sou e me machuca.

— Descanse um pouco — Dalia aconselhou e se afastou.

Gemidos agonizantes.

Abri os olhos assustada e me deparei com Phill tentando enforcar Rainha Helena, eu não sabia o que fazer direito, então peguei a faca que Dalia havia esquecido próxima a mim e desferi o objeto pontiagudo várias vezes na perna do rapaz que urrou de dor e se arrastou sangrando.

— Eu disse que não se pode confiar em ladrões — Kendra veio afobada.

— Não assuste ainda mais as crianças — repreendi-a.

— Vamos embora — Kendra colocou o braço de Rainha Helena em torno de seu pescoço — Não teríamos passado por essa situação se não tivéssemos desobedecido as ordens de Lady Artemis.

— Não foram ordens, eu não recebo ordens dela e nem de ninguém — enfrentei.

— Nossa vida estaria sendo bem mais fácil se o Príncipe houvesse escolhido Lady Artemis.

— Mas ele escolheu á mim e você vai ter que engolir a minha presença e acatar as minhas ordens Capitã Saint-Claire e se não estiver gostando disso sinta-se livre para partir pro quinto dos infernos com sua falta de educação e petulância — vociferei.

Dalia puxou Phill até o lado de fora e o amarrou em uma das árvores, ela estava visivelmente abalada, não teria coragem de matá-lo, mas não confiava em deixá-lo solto.

— Peça ajuda quando alguém passar e, por favor, tente ser alguém melhor — ela disse.

— Você vai vender sua alma para essa princesinha, não vai? — ele perguntou.

— Você ia matar a Rainha, como pode me cobrar qualquer coisa?

— Iriam pagar uma fortuna pela cabeça dela.

Senti-me extremamente enojada com suas palavras, Dalia também, pois cuspiu no chão e meneou a cabeça antes de se afastar.

— Sinto muito não ter os acomodado melhor e não ter lhes protegido do perigo.

— Não tem do que desculpar Dalia, você fez mais que o suficiente — ela sorriu após minhas palavras.

— Nossos caminhos se separam aqui, boa jornada e não falem com estranhos — ela sorriu na última parte, certamente lembrando que era uma estranha.

— Digo o mesmo — assenti e montei no cavalo.

— Vamos Vossa Alteza — Kendra tinha a voz carregada de ironia.

— Dalia — chamei a moça que se virou, já estava montada em seu cavalo — O que acharia de vir conosco?

— Seria uma honra.

— Enlouqueceu de vez ou quer nos condenar á morte? Viu o que deu confiar naquele ladrão? — Kendra ladrou enraivada.

— Prefiro confiar em Dalia a confiar em você — respondi — E trate de não contestar as minhas ordens. Ela virá conosco e pronto.

Kendra bufou contrariada, mas não retrucou.

— Então vamos Dalia, precisamos achar uma aldeia segura.

E assim seguimos viagem e estou percebendo que a minha convivência com Kendra será das piores. 

Espero que tenham curtido o capítulo <3
Lembrem de deixar comentário e votinho. 

Amo vocês.

XOXO, Lady Allen.


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