9) subjetivo
Vamos continuar a saga de momentos fofos na fanfic 🌸 lembrem da tag no tt: #PaletasePoesiasTK
Boa leitura! 💙
Semanas antes, ou até no dia anterior, Jeongguk não se imaginaria naquela situação.
Sua atitude poderia ser interpretada como mera obrigação. Se Taehyung o salvou, devia demonstrar gratidão, afeto, devia ser manso. Mas não, estava longe de ser isso.
Jeongguk pensou na situação, a deixou se repetir em sua mente diversas vezes. Taehyung era só seu professor, e se conheciam há um pouco mais de duas semanas, nada mais. Tinham contato, tinham uma certa proximidade, porém ainda eram dois estranhos. E mesmo assim, Taehyung não pensou duas vezes em levar o universitário para sua casa.
Todo o ato de cunho heroico foi deixado para trás quando Jeongguk percebeu isso. Não importava seu estado, a maioria dos professores não ligaria. No máximo, algum poderia o largar em um hospital e ir embora. A maior parte o ignoraria, tinha ciência disso.
Esse ato foi capaz de esmagar seu orgulho. Era isso que sentia, puro orgulho. Não queria admitir sua proximidade com o professor, não queria admitir que pouco a pouco formavam um laço. Suas interações em aula, seus encontros na sala dos professores para a monitoria, suas conversas que nada diziam, mas significavam mais do que qualquer coisa.
Deitar no ombro de Taehyung foi ceder ao inevitável.
De perto, diretamente da fonte, onde vinha o perfume dele, o pescoço, ali estava deitado. E não poderia reclamar de mais nada. De toda racionalidade do mundo, ignorou cada traço dela ao respirar mais fundo para sentir melhor o aroma.
Poderia ser considerado estranho esse novo e peculiar vício, mas Taehyung tinha um cheiro indescritível. Nem forte, nem fraco. Uma mistura de masculino e feminino, um aroma envolvente, presente, mas suave. O contraste tão único que Jeongguk seria tolo de não continuar inalando, aproveitando a proximidade.
Há alguns momentos na vida que você pode se sentir fora do plano, fora de sua realidade, e aquele era um desses. Jeongguk calou todas as vozes que diziam que ele não deveria estar fazendo aquilo, e continuou a fazer. De olhos fechados, ficou no ombro de Taehyung até chegar em sua parada.
Seria uma espécie de eufemismo, uma pequena blasfêmia dizer que Taehyung se sentiu afetado. Foi mais do que isso.
O professor agradeceu aos céus por ele estar de olhos fechados, pois assim não poderia ver o seu pescoço arrepiado.
Jeongguk saiu completamente ruborizado ao voltar para a realidade. Levantou para ir embora, percebendo todo o contexto, toda a situação. Nervoso, se despediu brevemente e desceu em sua parada.
Esse era só mais um de seus costumes, mas temeu Taehyung interpretar como algo a mais, diferente. Gostava dos cheiros das pessoas, apreciava esse sentido. Na verdade, era seu sentido preferido. Primeiro, o olfato. Segundo, a visão. Terceiro, o tato. Quarto, a audição. Quinto, o paladar.
Além dos cinco sentidos propriamente ditos e nomeados, havia seu único sentido, que era a cor. Que cor a pessoa tem? Que tons ela pode ter? Qual cor tem a alma dela? Esse era o sexto sentido de Jeongguk, mas caberia como primeiro.
Taehyung tinha cheiro e cor de contraste. E como um devoto aos sentidos e suas relações, assim como seus significados, Jeongguk se rendeu. Desde o primeiro dia sabia que Taehyung era uma boa pessoa, dono de um grande coração, dono de uma empatia até perigosa, dado ao fato de que ele poderia esgotar sua bondade com pessoas que não mereciam.
Teve tanto medo de deixá-lo chegar mais perto exatamente por isso. Criou motivos incoerentes em sua mente para o afastar, para se convencer de que era errado e sem lógica. Mas relações, seja quais forem, não precisam fazer sentido.
Você pode ser amigo de um idoso, de alguém com uma personalidade completamente diferente da sua, de alguém que mora do outro lado do mundo. De seu professor. E está tudo bem.
Uma amizade, ou qualquer outro laço não é algo planejado e não se trata de tempo. Ficou amigo de Hoseok em um único dia. Conversaram, brincaram juntos, e depois não se desgrudaram mais. Em pouco tempo, Jihoon e Jongho se enturmaram e o quarteto foi formado. Em dois dias, Eunbi teve um interesse em Jeongguk, algo muito próximo de paixão. Não é sobre tempo.
É tudo sobre como você se envolve e deixa se envolver. E por um motivo um tanto desconhecido para o universitário, no instante em que colocou os olhos em Taehyung, teve esse presságio. Algo muito bom, ou muito ruim poderia vir acontecer. O contraste de sentidos e emoções fez jus a quem causou.
Naquela noite, Jeongguk teve um sonho controverso. Poderia ser sonho e pesadelo, uma mistura um tanto assustadora. Seus pesadelos eram baseados em traumas, seu inconsciente pegava fragmentos do que já enfrentou e formava um pesadelo a partir disso. Um escuro, um espelho, uma voz, um vazio.
Desde que foi afetado por Taehyung, começou a sonhar com pessoas. O abstrato de seus sonhos foram deixados para trás, começou a ver pessoas reais, cenários reais, nada muito perturbador.
Nesse sonho, estava sozinho. Viu ao longe que tinha pessoas, mas quando tentava chegar perto delas, não conseguia, uma barreira invisível parecia se formar em sua frente, o incapacitando. Agoniado por se sentir preso, Jeongguk começou a bater na barreira, gritou com todo o ar presente em seus pulmões, estava cansado de ficar sozinho, de não o notarem, de não conseguir chegar.
As pessoas ouviram as batidas e os gritos. Do outro lado da barreira, começaram a chegar mais perto, ficaram curiosos porque só uma pessoa estava do outro lado, sozinho. Mais uma vez, Jeongguk não foi capaz de reconhecer os rostos, mas viu que eram escuros, como uma sombra preta por cima dos olhos.
Sentiu medo com a proximidade, o desconhecido era sempre amedrontador. Mas com um simples toque de uma das pessoas do outro lado, a barreira foi quebrada. Jeongguk não sabia dizer se era o início de uma liberdade ou o fim do seu eu. De um lado, sua zona de conforto. Do outro, pessoas reais, com seus demônios estampados nos olhos, mostrando que ele não estava sozinho naquela situação. Mostrando que estava na hora de dar seu primeiro passo.
•
Pela primeira vez não acordou muito animado para ir até seu trabalho. Estava em trégua com Taehyung, mas não iria esquecer que ele contou tudo que aconteceu ao seu chefe. Provavelmente levaria sua primeira advertência no trabalho, isso não lhe animava.
Pegou o trem lotado, vestiu sua melhor face simpática e entrou no museu.
— Bom dia, Jeongguk! Que bom que chegou mais cedo, estava mesmo querendo falar com você. – Namjoon se aproximou.
— Bom dia, senhor Namjoon! Eu sei que meu professor falou com o senhor...
— Seu professor? – Ficou confuso.
— Sim...? O homem que veio aqui ontem.
— É seu professor? Ele se apresentou como um amigo.
— Ah... – Ficou bobo ao imaginar Taehyung se apresentando assim. — Ele é os dois. De coração, sinto muito pelo que aconteceu, é um grande incômodo para mim faltar um dia de trabalho.
— Eu sei, eu sei. – O tranquilizou. — Venha aqui na minha sala.
Os dois seguiram para a sala nos fundos do museu, e Jeongguk sentou de frente para seu superior.
— Você realmente não costuma faltar e isso é algo que admiro em você, sempre foi muito comprometido com o trabalho. Se não me falha a memória, antes dessas últimas semanas, você não faltou uma única vez, e está aqui há mais de três meses. Taehyung explicou bem sua situação e eu lamento muito que isso tenha ocorrido, Jeongguk, foi um episódio quase trágico. Ele não me disse os motivos que o levaram a isso, e acredito que seja algo bem pessoal, por isso não irei me intrometer. Desde que percebi você meio alheio, decidi contratar outro funcionário, até achar Eunbi. Nessas últimas vezes que você faltou, o museu ficou sem as explicações, só aberto para exposição, e a maioria que vem até aqui quer ouvir você, entende? Nessa última vez, Eunbi estar aqui ajudou muito, mas você é essencial.
— Sim, eu entendo perfeitamente. Eunbi é muito competente também, se quiser deixá-la oficialmente no meu cargo para eu ficar só na recepção eu irei compreender...
— Isso está fora de cogitação, Jeongguk. Você é o melhor, Eunbi ainda é iniciante. Tudo que peço é que você avise caso ocorra alguma coisa, ou peça para alguém avisar, esse museu depende muito de você.
— Não irei o desapontar, senhor! – Ficou de pé para se curvar.
— Eu sei que não vai! – Sorriu. — Pode voltar ao trabalho.
— Com licença!
Saiu da sala de seu chefe sentindo um grande peso em seu peito sendo retirado. No pior cenário possível que imaginou, achou que seria despedido. E, na sua concepção, era um grande motivo para tal. Estava disperso nas últimas semanas, deixando parecer que o trabalho não era tão importante. Não era essa imagem que Jeongguk queria passar, gostava de mostrar sua responsabilidade, queria ser conhecido por isso em qualquer área de sua vida.
Fez sua rotina de ir até o banheiro colocar o uniforme, deu leves tapinhas em seu rosto para se encorajar e começar um dia trabalho bem, e foi em direção aos quadros.
Entretanto, antes disso, esbarrou em Eunbi.
— Você me deve explicações!
— O quê? – Não compreendeu.
— Eu escutei a conversa daquele cara com o chefe, o que deu em você? Quer morrer? – Perguntou indignada.
— Fala baixo! – Sussurrou, a puxando para o canto. — Não foi nada demais, eu já tô bem!
— Você fez eu dar conta disso aqui sozinha, quase fiquei louca! E ainda me deixou preocupava, isso não se faz!
— Tá bom, desculpa! – O pedido foi sincero, não queria preocupar Eunbi.
— Só aceito as desculpas se almoçar comigo e sairmos depois. – Cutucou o peitoral dele com seu dedo indicador.
— Sair?
— Sim, vamos pro shopping! – Respondeu com entusiasmo.
— Eunbi...
— Você precisa sair, garoto, tenho certeza que é desses caras que vivem trancados em casa.
— Uau, como adivinhou? – Revirou os olhos.
— Não precisei me esforçar muito. – Riu travessa. — A gente aproveita pra almoçar no shopping mesmo, o que acha?
— Eu acho que não tenho chance de recusar.
— Não mesmo! – Apertou as bochechas dele. — Agora vai explicar seus quadros.
— Não vai me ajudar?
— Só se for muito preciso. – Enfatizou o “muito”. — Vou ficar na recepção mesmo.
Jeongguk não entendia como alguém conseguia ter tanta energia de manhã cedo, mas Eunbi ia contra todas as leis do universo. Detestou a ideia de ir até o shopping, queria passar a tarde deitado ou pintando alguma coisa, mas em um ponto ela estava certa: Jeongguk precisava sair mais.
O movimento não estava muito grande no museu, foi mais tranquilo do que ele esperava. Nos momentos que não tinham clientes, Jeongguk vagava pelo vasto espaço admirando cada obra, e em seu interior, como um enorme segredo, imaginava como seria ter uma pintura sua posta em uma daquelas paredes. Só a ideia lhe dava frio na barriga, tinha certeza que não conseguiria chegar até esse patamar, era muito para si. Era suficiente ter suas artes guardadas dentro de uma caixa de papelão.
Se não conseguia se ver sendo um artista que vive do que faz, Jeongguk pensou que deveria começar a procurar outra profissão. Faria outra faculdade? Um curso técnico? Não sabia, não se atraía por nenhuma outra área.
A manhã passou devagar, mas Eunbi fez questão de mudar isso ao perceber que podia sair de seu posto para conversar com Jeongguk.
— Acho que tô gostando de alguém! – Disse perto do ouvido dele.
— Já?
— É! Aquele segurança que fica na porta... Ele é muito bonito!
— O Jaebum? Ele é mais velho do que eu, não sei se teria interesse em você.
— Tem algo contra diferença de idade? – Perguntou emburrada.
— Gente mais velha não quer alguém que faz birra. – Debochou.
— Gente mais velha não quer um moleque inconsequente que se perde em festa de faculdade! – Devolveu na mesma moeda.
— E por acaso tô interessado em alguém?
— Não sei, só quis implicar.
— Pois não tô, para sua informação. – Se sentou. — Relacionamentos são complicados demais, não sei como você consegue ter tanta vontade de ter um.
— Você é um amargurado, Jeongguk-ssi. – Sentou ao lado dele. — É muito bom gostar de alguém! Aquele frio na barriga pra ver a pessoa, ficar nervoso ao estar perto, a tensão... Não sente falta disso?
— Outras coisas podem causar isso. Pintar é uma delas, me sinto assim enquanto tô pintando.
— Como você é sem graça! – Desistiu de insistir no assunto e se levantou. — Vai trocar de roupa, tá na hora de sair.
— Desde quando ficou mandona?
— Desde que você quis ser meu amigo. – Sorriu largo.
Jeongguk achou graça da audácia, mas não deixaria de admitir como estava lhe fazendo bem aquela nova amizade. Sentiu a cor de Eunbi, a paleta vibrante, sabia que ela iria irradiar seus dias. Trocou suas roupas e aguardou a amiga, que conversava com o segurança, Jaebum.
Ela sorria e gesticulava o tempo inteiro, muito óbvia. Jeongguk segurou seu riso quando ela se aproximou.
— E aí? Falou o que com ele?
— Nada demais... Mas tenho certeza que ele quer ficar comigo! Viu como ele chegava perto? Socorro!
— Ele ficou parecendo uma estátua o tempo todo, Eunbi. – Prendeu a risada.
— Você que não presta atenção!
Percorreram um longo caminho cheio de alfinetadas e implicâncias, isso rendeu a Jeongguk mais gargalhadas em algumas horas do que teve no mês passado inteiro.
Na praça de alimentação, a cada passo que davam, Eunbi dizia estar interessada em uma pessoa nova. Jeongguk ouvia atentamente, sabendo que ela mudaria de ideia depois de um minuto. Durante o almoço, ela também não ficou calada, reclamou da demora, da batata frita que estava murcha, da carne que estava muito dura. Jeongguk era muito fã de um bom silêncio, mas ter amizades é fazer sacrifícios.
Pensando que aquilo acabaria depois do almoço, foi contrariado.
— Vamos comprar roupas!
— Ah, não! – Negou balançando a cabeça.
— Vamos sim! Preciso de umas roupas novas pra o Jaebum gostar de mim.
— Mas você usa o uniforme!
— Se a gente sair eu não uso o uniforme, né! Aproveita e compra pra você também, te vejo sempre com a mesma roupa.
— Não é a mesma roupa, garota, só é o mesmo estilo. – Se defendeu.
— Tem uma infinidade de roupas pretas, então?
— Basicamente sim.
— Preto fica bonito em você, mas cores claras também devem ficar... Vem cá, eu te ajudar a escolher!
— Não! – Tentou fugir, mas não surtiu efeito.
Mais uma vez Jeongguk não tinha escolha. Eunbi, pacientemente, analisou várias roupas masculinas e mostrou todas para seu amigo.
— Seu cabelo é azul, você tem que ser mais colorido!
— Eu gosto de cores neutras!
— Sua vida é neutra, garoto, pelo amor de Deus. Você deveria experimentar camisa de botão, é um charme! Umas calças mais coladas também, você anda vestido parecendo que vai pra um combate com essas botas.
— Se eu comprar, você para de me atormentar?
— Claro!
— Fechado.
Jeongguk comprou duas camisas de botão, uma branca e uma amarela. Eunbi ainda insistiu para ele escolher outras cores, mas ele se negou totalmente. Comprou as calças “mais coladas” que ela citou, sentindo que marcavam muito sua coxa. Além de tudo, tinham rasgos pelo meio, muito diferente do estilo reservado dele. Porém, para deixar Eunbi satisfeita, e para tentar algo diferente, levou.
Ela disse que se Jeongguk usasse aquela camisa de botão junto com a calça teria qualquer pessoa aos seus pés. No mesmo instante ele riu, achando uma bobagem comprar roupas específicas para atrair olhares.
Saindo da ala masculina, finalmente Eunbi foi para a ala feminina e arrastou Jeongguk junto consigo dizendo que ele precisava opinar sobre as roupas.
— Eu vou escolher e você vai ficar sentado aqui esperando eu provar, tá bom?
— Tenho escolha?
— Não.
— Você deveria pegar algum vestido, deve ficar fofa. – Deu sua opinião sincera.
— Fofa? Não sei bem se é a impressão que quero passar, queria algo mais “sou linda e perigosa”, o que acha?
— Eunbi – Riu alto. — Você não passa essa impressão de maneira alguma.
— Não? – Ficou triste.
— Você não precisa forçar um estilo para as roupas pessoas gostarem de você! Não são só as mulheres “fatais” que conseguem sair com quem quiserem, não é só isso que chama a atenção. Roupas curtas, chamativas, coisas do tipo, são muito bonitas sim, mas há outros estilos também! Você é alegre, tem uma aparência fofa, ficaria parecendo que você não tá honrando a própria personalidade.
— E o que você gosta em alguém, Jeongguk-ssi? O que te chama atenção?
— Ah, não sei bem dizer... Vai parecer clichê demais, mas não noto muito as aparências. Gosto quando a pessoa tem um cheiro bom, um sorriso bonito, uma conversa boa... Gosto de coisas mais simples, parece que as pessoas têm esquecido um pouco disso.
— Aquele cara que apareceu ontem no museu falando de você era bem bonito.
— O quê? Por que tá falando disso? – Ficou nervoso.
— Você falando aí, quando citou o sorriso lembrei do sorriso dele. Bem marcante, né? Fiquei encarando quando ele foi embora, mas ele não encarou de volta, fiquei triste.
— Melhor você focar no Jaebum. – De repente, ficou desconfortável com o assunto.
— Ciúmes, Jeongguk-ssi?
— Escolhe logo a roupa. – Saiu de perto de sua amiga, indo se sentar. Não entendeu porque se incomodou daquela maneira com algo tão simples, ciúmes não era uma característica sua, nem em amizades. Definiu que foi por causa da diferença de idade deles, não queria Eunbi se iludindo com algo impossível. É, com certeza era isso.
Jeongguk não percebeu quanto tempo passou, mas tinha certeza que foram horas. Eunbi escolheu muitos pares de roupas e alguns vestidos, provou cada um e mostrou para seu amigo, pedindo a opinião dele.
— Gostei dessa! – Jeongguk falou isso para todas as roupas.
No fim, Eunbi escolheu somente os vestidos. Um vestido rosa claro e um florido.
— Por que não leva o vermelho? – Jeongguk sugeriu.
— Combinou? – Perguntou insegura. — Não achei que ficou bom no meu corpo.
— Ficou lindo! – Apertou a bochecha dela, deixando esse gesto como algo oficial entre eles dois. — Cores fortes combinam com você, assim como as claras também, você é tipo um camaleão.
Eunbi riu com a comparação e agradeceu pelo encorajamento. Levou o vestido vermelho também, dizendo que Jaebum ficaria apaixonado por ela quando visse.
O passeio terminou, com ambos pegando caminhos distintos para voltar para casa. Jeongguk sentia uma energia muito boa no peito, não queria ficar sozinho aquela noite. Pôde observar o pôr-do-sol da janela do trem e teve uma ideia.
Jihoon sairia aquela noite, Jongho também, teria que se arriscar a perguntar a Hoseok se ele poderia ir para sua casa, se possível, junto a Jimin. Queira a companhia deles.
•
Jeongguk fez o convite, mas estava envergonhado para receber os amigos. Sabia que o casal aproveitava as noites para ficarem juntos, não queria atrapalhar ou segurar vela. Quando ligou para Hoseok, ele respondeu animado que os dois iriam com certeza.
Ficou no sofá nervoso, provavelmente tendo aquela reação por causa de Jimin. Ele era como Taehyung, mesma aura, mesma pose.
Eles chegaram e abraços foram distribuídos. Sempre que o via, Jimin elogiava o cabelo azul de Jeongguk, e o universitário fazia o mesmo com o cabelo rosa claro dele.
Os três deixaram seus celulares de lado e engataram em suas conversas mirabolantes, perdendo a noção do tempo. Por vezes, Jeongguk se sentia um pouco constrangido vendo as trocas de carinho do casal, mas já estava se acostumando, achava adorável as interações deles.
— Ei, amor – Jimin chamou o namorado. — Vai comprar comida para a gente.
— Mas a gente pode ligar e pedir daqui. – Hoseok ficou confuso com a sugestão do namorado.
— É mais rápido se for buscar, você sabe, bebê.
— Aish, tá. Vai ser pizza? – Jeongguk e Jimin confirmaram. — Volto já. – Beijou o namorado e foi até sua moto em busca da comida.
— Por que pediu pra ele ir, Jimin-ssi? Acho que demora a mesma coisa se ligar...
— Queria conversar com você. – Respondeu sério. — A sós, no caso.
— Ah... Tudo bem. – Nem sabia sobre o que era e mordeu sua boca um pouco forte, nervoso.
— Não precisa ter medo. – Deu um riso soprado. — Sou a pessoa menos amedrontadora do mundo.
— Não é bem assim... – Respondeu baixo. — Seus olhos são bem intensos e escuros, dá medo.
Para caçoar, Jimin arregalou os olhos e se aproximou dele, fazendo Jeongguk rir.
— Os seus são iguais. E por isso mesmo queria falar com você.
— Por que nossos olhos são iguais? – Não estava entendendo.
— Não exatamente isso, mas sabe quando encontramos alguém em algum momento da nossa vida, e você sente que aquela pessoa é muito parecida com você? Não só fisicamente. Eu senti isso quando a gente se conheceu no shopping.
— Seria um prazer parecer com você, Jimin-ssi – Riu tímido. — Mas acho que não, você é mais solto, mais amigável, vi uma cor assim em você.
— Cor? – Perguntou curioso. — Vê cores nas pessoas?
— Mais ou menos... Eu interpreto as pessoas como cores, é mais fácil assim pra mim.
— E qual é a minha?
— Eu poderia dizer rosa – Sorriu olhando para o cabelo dele. — Mas a primeira cor que veio na minha cabeça foi vermelho.
— Hum... Por quê? – Ficou muito interessado na visão única de Jeongguk.
— Vermelho é uma cor quente e tem uma energia meio contraditória. Pode significar fogo, vivacidade, paixão, até acolhimento. Mas por representar o sangue, pode ser agressividade, fúria... Seus olhos dizem isso, Jimin-ssi. Por fora, você parece a versão “boa” da cor, e por dentro, a versão que menos gostam, digamos assim. Não tô dizendo que você é uma pessoa ruim – Se explicou nervoso. — É só que dá pra perceber isso, você pode ser fofo, porém dá pra ver que tem algo a mais.
— Gostei. – Sorriu genuíno. — Bela análise. Talvez esse lado que você tenha enxergado em mim é como fico quando mexem com alguém que eu amo. Seja meu namorado ou um amigo, eu não perdoo facilmente. Tenho uns traços rancorosos, até vingativos. As pessoas que tenho apreço significam muito pra mim, faço de tudo para cuidar de cada um.
— Oh... Eu sabia que você era meio perigoso.
Jimin deu uma gargalhada em resposta.
— É melhor não mexer com o Jimin-ssi. Eu gostei mesmo dessa sua visão, é algo bonito demais, só me fez ter certeza do que queria conversar. Antes de namorar com Hoseok, ele me falava muito de você, dizendo que você o incentivava a não desistir de mim, e inclusive agradeço por isso.
— Não foi nada, eu sabia que vocês dariam certo.
— Você acertou quando disse a ele que ele precisava conversar comigo para saber, e que se eu não quisesse nada, teria ido embora. Eu não demorei tanto assim para namorá-lo, mas sabe por que precisei desse tempo?
— Não sei, Hobi-hyung nunca me disse.
— Eu sou demissexual. Quando conheci Hoseok, ficamos muito amigos, eu tenho uma teoria de que é impossível não ser amigo dele, é uma criatura muito encantadora. Só que, com o tempo, eu sabia que os sentimentos estavam mudando, mas tive medo pelas minhas relações passadas. Ser amigo dele e ter uma intimidade ajudou muito, foi por isso que me permiti beijá-lo e encarar esse sentimento de frente, mesmo assim tive alguns conflitos. Porém, tudo se resolveu no momento que percebi que estava apaixonado demais. Você é assim também, não é?
— Bom... Não sei se sou igual.
— Sabe o que é demissexual?
— Sei o conceito por alto. – Divagou tentando lembrar do que sabia.
— Você não gosta de relações casuais, não é? Sexo casual, sendo mais específico. Você quer se envolver, ter um laço antes, uma conexão. Atração física não é o que mais importa. É assim que você se sente?
— É... – As peças se encaixavam em sua mente.
— Então. – Sorriu. — Não estou rotulando você, só quis pontuar. Eu senti que você era como eu, e isso me deixou feliz, pois não conheço ninguém que seja.
— Também não conheço ninguém que pense como eu... Na verdade, eu achava que isso só era uma “preferência”, sabe? Que eu escolhia isso, tenho certeza que foi por causa disso que me culpei muito, muitas vezes eu só quis ser como a maioria, ser “normal”.
— Não somos anormais, Guk. – O abraçou de lado. — É só uma maneira diferente de sentir atração sexual e atração física. Somos profundos demais, os outros que são rasos, interprete assim. – O confortou. — Não se sinta culpado por ser quem é.
— Você soube disso tudo só me olhando, Jimin-ssi? Você é um bom psicólogo.
— Hoseok contou sobre minha profissão? Pois é... assim como meus olhos te contaram qual é minha cor, seus olhos me disseram como você é. Desde esse dia quis muito ter essa conversa com você, senti que precisava. Ninguém teve essa conversa comigo, sabe? Tive que descobrir as coisas sozinho, tive que parar de sentir culpa sozinho. Não quero que outra pessoa passe por isso.
Jeongguk ficou tão grato por aquela conversa. Retribuiu o abraço que levou, se sentindo acolhido. Jimin tinha um abraço muito bom, um abraço que só transmitia gentileza e carinho.
Hoseok chegou pouco tempo depois, não desconfiou da atitude de seu namorado e agiu normalmente.
— Vocês não deviam ter aula hoje? – Jimin questionou enquanto comia a pizza.
— Hoje era pra ser aula prática do Taehyung, só que ele passou um trabalho pra fazer em casa mesmo, pelo visto a gente precisa melhorar.
— Ele deve querer que vocês pratiquem mais... TaeTae é bem perfeccionista com desenhos.
— Só não é perfeccionista com o Jeongguk. – Sorriu ladino.
— Como assim? Claro que é! Ele só diz que vê potencial em mim... – Fez um bico involuntário.
— Considere esse um dos maiores elogios. – Jimin mordeu mais um pedaço da pizza. — Ele nunca acha os outros bons o suficiente, para ele dizer que vê potencial em você... Algo diferente deve ter acontecido.
— Eles são amiguinhos agora, amor. – Cutucou a barriga de Jeongguk o fazendo reclamar. — Ele tá todo amiguinho do professor Kim.
— É perceptível – Piscou um olho para o namorado. — Falando nele, vou pedir para ele vir me buscar já que não foi dar aula – Buscou seu celular para mandar mensagem.
— Ele vem buscar o Baby J dele? – Levou um tapa de seu namorado. — É como ele te chama!
— É? – Jeongguk não acompanhou a conversa.
— É só um apelido, Guk. Taehyung tem esse costume, coloca um apelido em inglês nos amigos dele. Geralmente ele fala mais quando estamos a sós, na frente de todos sou o “Ji”.
— E como o Hobi-hyung sabe disso?
— Infelizmente ele viu sem querer uma conversa nossa, aí fica me zoando. – Repreendeu seu namorado com o olhar.
— Não tô zoando, acho fofo. Baby J. – Apertou as bochechas de Jimin formando um bico.
Jeongguk ficou alheio à interação do casal só absorvendo a informação de que Taehyung tinha costume de apelidar seus amigos. Será que ganharia um...? Nem sabia porque estava cogitando aquilo, seus pensamentos fugiam do foco.
Terminando a pizza, Jimin disse que já estava tarde demais e não queria atrapalhar, Taehyung chegaria logo para o buscar.
Saber que seu professor apareceria em sua porta mais uma vez causou um certo nervosismo em Jeongguk.
— Por que o Hobi-hyung não vai te levar? – Perguntou a Jimin.
— A gente mora bem longe, e sou praticamente vizinho do TaeTae. Ele deve estar fazendo nada essa hora, aí dou um jeito de explorar ele um pouquinho.
Os três ficaram na rua, tanto para observar o movimento, como para esperar Taehyung. Ele chegou rápido, e na mesma hora Jeongguk quis entrar na casa.
— Boa noite! – Taehyung os cumprimentou. — Vamos, Ji?
— Vamos, mas espera um pouquinho. – Sorriu travesso, puxando Hoseok para o canto, querendo o beijar um pouco mais.
Sobrou só Taehyung e Jeongguk.
— Como você está? – O professor questionou para disfarçar o momento constrangedor. — Parece bem.
— Tô ótimo... Foi um dia divertido.
— É bom vê-lo assim, sorrindo.
Instantaneamente Jeongguk abriu um sorriso involuntário com a fala e desviou o olhar, não acreditando que tinha feito aquilo.
— Pronto, voltei. – Jimin e Hoseok apareceram com as bocas vermelhas e um pouco ofegantes. — Tchau, amor. Tchau, Guk. – Abraçou cada um respectivamente e foi andando para o carro.
— Verei você amanhã, Jeongguk. – Taehyung disse, transparecendo um pouco de agitação em seu corpo.
— Eu sei... Na monitoria.
— Antes disso. – Em um gesto automático por ter visto Jimin fazendo, abraçou Jeongguk.
O primeiro abraço deles. O primeiro contato mais aprofundado desde que Taehyung o carregou no colo. Jeongguk também queria fazer o mesmo há algum tempo, só não havia encontrado uma brecha.
O universitário não reagiu muito bem pela surpresa, demorou um pouco para subir seus braços para o abraçar pela cintura, e Taehyung fez o mesmo, ambos abraçando a cintura um do outro de uma forma desajeitada, mas muito afetuosa.
Foi um pouco atrapalhado, porém nem por isso significou menos. Suas cabeças não se posicionaram bem, suas mãos apertaram demais, e os sorrisos que deram durante o processo esquentaram seus corações.
Jeongguk ficou com a sensação calorosa de Taehyung dentro de seu abraço e a dúvida do porquê ele ter dito que não iriam se ver apenas na monitoria. Não imaginava outro lugar possível, além da faculdade e da estação de trem.
•
Dentro de seu carro, ao lado de Jimin, Taehyung escutou seu amigo se pronunciar.
— Não foi dar aula só para ele descansar? – Direto ao ponto, como sempre.
— Ele se esforçou muito indo para a monitoria ontem.
— Você não tem jeito – Riu soprado. — Pelo visto ele é bem importante. Não julgo, é um garoto precioso.
— Baby J... Você conhece muitas pessoas naquela faculdade, não é? – Mudou de assunto, não por estar desconfortável, mas por que queria ir direto ao ponto também.
— Hum... Digamos que sim, não é só você que conhece muita gente por aí.
— Eu preciso de um favor seu. Acredito que eu não irei conseguir sozinho, precisarei de ajuda.
— Qual lei você quer que eu quebre?
— Nenhuma – Sorriu. — Ainda. Naquela faculdade está cheio de gente que se acha demais, tenho certeza que você os conhece.
— O que você quer aprontar, TaeTae?
— Quero descobrir quem fez isso com ele. Eu sei que tem câmeras ao redor daquela faculdade inteira, principalmente na parte que acontecia a festa. – Disse com um rancor em sua voz.
— Você quer que eu convença alguém para me mostrar as filmagens? Eu não sou policial, sou um psicólogo. – Estava surpreso com a fala de seu amigo.
— Você é influente, dá no mesmo.
— Não estou dizendo que não farei, sabe que eu vou, também não admito o que fizeram. Mas sabe que vai demorar, não é? A faculdade não quer esse escândalo. Vou precisar de muita lábia para me entregarem os mauricinhos que mexem com droga.
— Eu não quero fazer escândalo, só quero saber quem foi. Irei tentar escutar algo pelos corredores, eu sei que não foi alguém desconhecido por ele, não duvido que foi alguém da mesma turma.
— TaeTae... – Hesitou.
— Acha que estou exagerando ao dizer que ele poderia ter passado por algo bem pior? Eu já falei, Baby J, eu prefiro não pensar o que teria acontecido com ele se não tivesse me encontrado, não irei deixar assim.
— Ok... – Jimin respirou fundo. — Só me diga desde quando ele tem essa relevância para você.
Taehyung acelerou, mantendo seus olhos na pista. Trocando a marcha, olhou rapidamente para seu amigo e respondeu.
— Desde que o conheci.
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