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8) aconchego

Olá, minhas florzinhas! Sem aviso de gatilho nesse hehe só cuidado com a boiolagem! Tag no tt: #PaletasePoesiasTK

Boa leitura! 💙

A madrugada foi terrível.

No carro, Jeongguk apagou. Taehyung o colocou no banco traseiro tentando o prender com os cintos para ele não cair durante o caminho. O hospital não chegou a ser uma opção pela falta de documentos do universitário, fora que o o professor fez questão de observar se ele tinha sinais de overdose, e não tinha. Chegando na casa, com ele despertando, toda a acidez presente em seu estômago junto com as bebidas e a droga deram um único efeito possível: vômito.

Por duas horas seguidas, Taehyung ficou ao lado de Jeongguk no banheiro, segurando sua cabeça para que conseguisse vomitar no vaso. O universitário estava ajoelhado no chão, e o professor agachado ao lado, às vezes ajoelhado também, servindo como apoio para ele não cair.

O odor era insuportável. Não há alguém que ache o cheiro que exala do vômito agradável, mas não era uma situação para se pensar o que era agradável ou não, suportável ou não. Jeongguk precisava de Taehyung, e ele não sairia de perto.

Jeongguk não vomitou durante todo o tempo, alguns minutos ele parava para respirar, sentindo tudo girar ao seu redor e forçava mais o vômito pois ainda sentia o incômodo em sua garganta.

Taehyung notou que ele passou mais tempo quieto sem colocar nada para fora e deduziu que o vômito cessou. Foi atrás de uma toalha para limpar o rosto dele e o levantou, deixando-o apoiado na pia para lavar a boca.

O universitário parecia um completo zumbi. Não parecia consciente, parecia um sonâmbulo. Taehyung falava com ele e não tinha resposta, se respondia, era algo desconexo, sem sentido. Os movimentos eram lentos, seu corpo inclinava de um lado para o outro, sem equilíbrio algum.

O colocando apoiado no chão, Taehyung limpou rapidamente o banheiro para aquele cheiro terrível sumir e o tirou do cômodo, o levando até seu quarto.

Por mais cansado, exausto e no limite que Jeongguk estivesse, não conseguia pegar no sono. Sua mente não se calava, mesmo de olhos fechados as figuras estranhas apareciam. Taehyung estava morrendo de sono, mas dormir não era uma opção naquele momento.

Com ele deitado, foi até sua cozinha preparar alguma comida leve para ele, preparou um chá para ajudar a limpar os resíduos das bebidas que havia ingerido. Ao voltar para o quarto, o encontrou sentado na cama.

— Está acordado?

— Quem é você?

Ele perguntou isso diversas vezes na madrugada. Taehyung respondia, dizia seu nome e que era seu professor, e ele não reagia. A única reação, era quando se aproximava o suficiente, e ele podia o tocar. E cheirar.

— É você...

A resposta sempre era essa. Taehyung aceitou que ele reconhecia o seu cheiro e manteve assim, não saía de perto para ele não estranhar.

Tentou o fazer comer, porém ele só conseguiu tomar o chá e um pouco de sopa. A noite estava fria, além dos calafrios derivados do LSD, o clima não ajudava. O professor pegou duas cobertas em seu guarda-roupa para o cobrir, o enrolou por completo, deixando todas as partes do corpo esquentadas.

Ele não sabia se Jeongguk conseguiria dormir, por mais que ele tenha acalmado e fechado os olhos, sem movimento nenhum. Conferiu se ele estava respirando, e no mesmo instante ele puxou as cobertas para cima, especificamente, para seu rosto. Percebeu como ele respirou fundo, inalando o cheiro proveniente dos lençóis.

Taehyung não queria constatar aquilo, nem entender o que significava, mas ficou feliz em perceber que seu cheiro o acalmava.

Escolheu o deixar sozinho no quarto, não ousaria deitar ao lado dele, seria demais. Foi dormir na sala, entretanto, o sono profundo não veio, estava leve, atento à qualquer coisa. Atento à Jeongguk.

O dia após uma bebedeira é difícil, mas um dia após tudo o que Jeongguk passou era até desesperador.

Ele despertou no susto, como se toda a noite passada fosse um longo e interminável pesadelo. Olhou para si, viu que vestia as roupas da festa. A mesma camisa, calça, só não a bota. Reparou ao seu redor, sentiu o coração palpitar, nervoso. Que local era aquele? De quem era aquela cama? Aquele quarto? Por um segundo, Jeongguk sentiu o ar lhe faltar e o medo tomar conta. A cabeça doía, estava sensível à qualquer som, seus olhos pesavam pela luminosidade vinda de uma janela.

Saiu com calma da cama, não deixando a guarda baixa, não sabia quem iria encontrar. Andou em passos lentos, sem barulho, passou por um corredor largo, não reparou em nada a não ser o que estava à sua frente. Chegando no que deduziu ser a sala, viu Taehyung no sofá.

Kim Taehyung, seu professor, vestido em um moletom, dormindo no sofá.

Não seria exagero dizer que tremeu. Seu corpo e mente entraram em choque. Escutou um barulho, e direcionou seu olhar, encontrando um homem desconhecido na cozinha que era bem ao lado da sala.

Com tanta informação, seu cérebro interpretou que estava em perigo, e tudo o que fez foi dar um grito.

O homem na cozinha se assustou, gritando de volta, derrubando a panela que estava manuseando.

Taehyung, com os sons altos ao redor, também despertou no susto, caindo do sofá.

Jeongguk correu para o canto da parede, se encolhendo no chão, com os olhos arregalados e tampando seus ouvidos.

— Meu Deus! – O homem da cozinha foi para a sala. — Que susto!

— Jeongguk? – Taehyung levantou atordoado, com a visão ainda embaçada. — Sou eu! Não está me reconhecendo?

— P-por quê? Por que eu tô aqui? Quem é ele? – Apontou para o outro homem. — Por quê?

— Ele é meu irmão, Kim Seokjin! Não precisa temer nada, você está na nossa casa. – Ergueu suas mãos para a frente, sinalizando para Jeongguk se acalmar.

Para ficar o mínimo apresentável possível, Taehyung foi em busca de seu óculos e amarrou seu cabelo em um pequeno coque.

— Olha... – Tentou chegar perto de Jeongguk, ele continuava a se encolher. — Você lembra do que aconteceu? Que foi para aquela festa na faculdade, bebeu muito e umas pessoas maldosas te deram um alucinógeno?

— S-só lembro que bebi...

— Eu não sei como aconteceu exatamente, mas interpretei que quando os efeitos começaram a surgir, você procurou por ajuda e acabou me encontrando.

— Eu pedi por ajuda...?

— Sim, você não estava em seu melhor estado para informar seu endereço, então o trouxe para cá.

— Então... Você não me tocou? – Questionou apreensivo.

Seokjin se aproximou de Taehyung, sussurrando no ouvido dele.

— Acho que ele tem algum trauma.

Taehyung respondeu com um olhar indecifrável.

— Não, Jeongguk, não toquei em você, tirando a parte que o ajudei a vomitar no banheiro e o coloquei na cama, fiz apenas isso. Meu irmão estava dormindo quando chegamos, só de manhã contei a ele o que aconteceu, ele também não chegou perto de você. – Pegou seu celular que estava na bancada. — É o horário do almoço, você dormiu muito. Seokjin não costuma estar aqui essa hora, mas pedi para ele ficar caso você acordasse pior, qualquer ajuda é bem-vinda.

Soltando o ar que estava preso, Jeongguk relaxou um pouco, abaixando sua guarda. Deixando essas preocupações de lado, lembrou do seu trabalho, dos seus amigos.

— Meu emprego! Eu tinha que estar lá agora... Quer dizer, acho que já é meu horário de sair... Meus amigos não sabem onde eu tô... – Se levantou do chão, andando em círculos, nervoso. As pontadas de dor em sua cabeça aumentavam.

— Eu não sabia sobre seu emprego... Mas sobre seus amigos, eu liguei para Jimin e ele avisou a Hoseok sobre você.

Aquilo diminuiu um pouco suas aflições, mas não sua culpa. Não queria nem ver como seus amigos iriam ficar depois disso, principalmente Jihoon.

Se encostou na parede, abraçando a si mesmo, sentindo os pelos dos seus braços arrepiados. Sempre saía com casaco, mas para essa maldita festa não usou um. Esfregou suas mãos na pele, tentando se aquecer.

— Está com frio, não é? – Taehyung saiu do campo de visão de Jeongguk e voltou segundos depois. — Vista isso, não é o que você costuma usar, mas vai ajudar.

Era um sobretudo preto, Jeongguk já o viu usando uma vez. Agradeceu, vestindo a roupa e se aconchegando nela.

— Quer comer alguma coisa? – Seokjin perguntou para o universitário. — Tae disse que você não comeu ontem...

— Não, obrigado.

— Jeongguk – Taehyung chamou a atenção dele. — Você deve estar faminto, coma.

— Eu não quero atrapalhar, não precisa disso... – Murmurou.

— Eu estou preocupado com a sua saúde, Jeongguk. Se está na minha casa, vai comer. Eu não passei duas horas seguidas vendo você vomitar para ver você recusar uma refeição por vergonha.

Sem poder replicar, o universitário se sentou na mesa, movendo-se de uma maneira um tanto robótica, tenso.

_ Você deve se sentir mais à vontade sozinho. Vem, Jin-hyung.

— Você pode ficar. – Foi uma sugestão completamente intuitiva. Falou antes mesmo de raciocinar.

— Tudo bem. – Taehyung continuou na cozinha, e Seokjin se retirou, deixando-os a sós.

Havia um espaço entre dizer tudo e querer dizer, mas não falar. Esse estado os definia, pois muitas palavras precisavam ser verbalizadas e eles não queriam dizer. Taehyung se sentou em silêncio na mesa, não sentia fome, apenas observaria Jeongguk comer. Pôs o remédio para dor de cabeça e um copo de água ao lado do prato, ele não tardou em ingerir, querendo que aquela dor amenizasse.

— Eu sei que você quer dizer alguma coisa... – O universitário foi o primeiro a ter coragem. Por mais zonzo que estivesse, sentia que deveria ter aquela conversa.

— E você quer ouvir? – Arqueou a sobrancelha.

— Não sei, mas você precisa falar. – Sua intuição não falhava.

— Precisar não significa dever. – Continuou na defensiva.

Senhor Taehyung...

— Quer me irritar? – Não estava irritado, na verdade.

— Quero que me diga.

— Então direi como me senti, Jeongguk. Eu estava na sala dos professores, mais uma vez corrigindo uma grande papelada, muito concentrado. De repente vejo alguém entrando na sala e indo ao chão, tudo num piscar de olhos. O reconheci pelo cabelo azul e imediatamente fui ajudar. Você estava alucinando tanto que nem sequer me reconheceu. Como pessoa, como educador, como seu professor, como qualquer denominação, eu me feri ao ver seu estado. Me doeu cada momento desde que saímos de lá até chegarmos aqui. Eu temi pela sua vida, pela sua saúde.

— Taehyung...

— Não me interrompa. – O encarou sério.  — Eu cogitei o levar para o hospital, todavia notei que não tinha sinais de overdose e isso me tranquilizou. Você vomitou tanto que me causou uma tristeza, Jeongguk, uma tristeza verdadeira. Quando você não tinha mais o que colocar para fora, vomitou água. Eu precisei ter um autocontrole muito elevado para não entrar em desespero, pois eu precisava ajudar você.

— M-me desculpa... – Cada palavra proferida por Taehyung era um choque diferente de realidade. Jeongguk parou de comer, e o encarou de volta.

— Não quero suas desculpas, quero me diga o que diabos estava passando na sua cabeça. Eu tenho certeza que você ingeriu uma quantidade absurda de álcool, além do LSD, então me diga, Jeongguk, o que teria acontecido se não tivesse me encontrado? O que teria acontecido se você tivesse desmaiado no meio daquela festa? Se teve pessoas capazes de fazer isso com você acordado, o que fariam com você sem consciência?

— Não precisa falar assim... – Seu humor ainda era instável, sentia tudo à flor da pele, principalmente tristeza por ouvir o desabafo de Taehyung. Acabou mordendo os lábios, machucando a pele sensível.

— Preciso! E não me olhe dessa maneira.

— Como assim?

— Desse jeito... – A explicação iria o complicar ainda mais, preferiu cortar sua fala. — Deixe para lá. Vou me trocar, termine de comer.

Jeongguk não entendeu essa última troca de palavras. Estava o olhando como? Não sabia. Se esforçou para comer tudo e esperou seu professor em pé, ao lado da porta. Não quis reparar muito na casa, para começo de conversa, sentia que nem deveria estar ali. Pelo pouco que olhou, era perceptível o quanto era espaçosa e aberta, notou algo diferente no corredor que passou anteriormente, mas ficou tão tenso que não olhou direito.

— Vamos? – Taehyung manteve o coque, colocou uma camisa preta de gola alta e suas costumeiras calças sociais.

— Pra onde?

— Para o seu trabalho. – Abriu a porta, direcionando Jeongguk até o carro.

— M-mas por quê? Eu resolvo isso depois. – Entrou no banco do passageiro insistindo para Taehyung abandonar aquela ideia.

— Eu vou falar com seu chefe. – Ligou o carro.

— Taehyung!

— Quieto! Me diga onde é.

Uma breve discussão se iniciou, e Jeongguk perdeu. Contou para Taehyung onde trabalhava e ficou de mau-humor, sem o olhar ou falar com ele durante todo o percurso.

— Não precisa sair do carro, voltarei rápido.

Jeongguk continuou sem o responder, fingindo o ignorar.

Taehyung saiu do carro e se encaminhou para a recepção do museu, pedindo para falar com o dono.

— Só um instante. – Eunbi assumiu o posto devido ao sumiço de Jeongguk. Por ter sido um dia corrido, ficou na parte da tarde para ajudar. Foi até uma sala mais afastada e voltou com seu chefe.

— Boa tarde, senhor! – Taehyung o cumprimentou apertando sua mão. — Desculpe atrapalhar seu trabalho, mas é algo necessário.

— Boa tarde! Me chame de Namjoon, por favor. – Começou a andar deixando subentendido que Taehyung deveria o seguir, e pararam em um local mais reservado. — Sobre o que se trata?

— Sobre seu funcionário, Jeon Jeongguk.

— Oh, sim. Ele faltou hoje, fiquei preocupado pela falta de aviso da parte dele, algum problema?

— Então, Namjoon... – Taehyung contou fragmentos do que aconteceu, omitindo a parte do LSD, disse só que ele exagerou no álcool, e que isso o deixou sensível, suscetível à algumas influências, não explicou quais. Tinha uma pequena noção do quanto aquele emprego significava para Jeongguk, iria resolver aquele problema.

Namjoon ficou surpreso do início ao fim da conversa, e além de tudo, preocupado com o jovem.

— Mas ele está bem agora?

— Sim, está! Eu cuidei dele... Mas achei que deveria vir aqui pessoalmente para explicar, creio que amanhã ele venha normalmente e vocês poderão conversar melhor.

— Como é seu nome mesmo? E qual sua relação com ele.

— Kim Taehyung, e eu sou... Um amigo.

— Entendi... Ele tem sorte por ter você, Taehyung. Pode o informar que está tudo bem, espero que ele fique em segurança a partir de agora. – Apertaram as mãos.

— Eu também espero. – Se curvou, agradecendo pela compreensão do chefe, e se despediu, voltando para o carro.

- Eu disse que seria rápido. - Sentou no banco, respirando fundo.

— Vai me dar outro sermão agora? – Manteve o olhar preso na janela.

— Sermão?

— Não foi isso que você fez minutos atrás? Vai nessa, pode falar de novo. Eu conheço meu chefe, ele é uma boa pessoa, eu iria conseguir me resolver com ele sozinho. Eu só não queria que ele soubesse disso, de nada do que aconteceu. Mas você tinha que me trazer até aqui, tinha que falar com ele, tinha que bancar o responsável! – Exclamou alto, sem controlar suas emoções. A dor em sua cabeça aumentou por isso, porém ignorou.

— Por que você é tão agressivo? Eu levantei a voz alguma vez para você? Por que está fazendo isso?

Sem resposta. Jeongguk continuava olhando para o lado contrário, de braços cruzados.

Taehyung levou sua mão até o queixo dele, exercendo um pouco de força para ele o olhar nos olhos.

— Responda olhando para mim. – Continuou segurando e Jeongguk sentia a firmeza de cada dedo. Ele não iria soltar tão facilmente.

— Eu não sou agressivo.

— Agressividade não provém só do bater, machucar fisicamente. E posso apostar que isso veio de sua infância, mas deixe eu lhe contar uma coisa: no momento que você eleva a voz, sua razão é perdida. Eu não preciso falar alto com ninguém para ter respeito, só preciso falar com firmeza. Estou de igual para igual com você, Jeongguk. Não sou melhor ou pior do que você, e para alguém que veio me dar uma aula sobre respeito, creio que precisa seguir seus próprios conselhos.

Segurou o rosto sem machucar, o puxando para mais perto, e também se aproximou. As janelas do carro estavam fechadas, o ar que já estava abafado, pareceu ficar ainda mais. Estava denso, rarefeito.

— Você falou que eu estou bancando o responsável? Sim, estou, alguém precisa bancar, não é? Ou vai me dizer que sua atitude ontem foi responsável? Adora dizer que é um adulto e não está agindo como tal.

Taehyung falou tudo o que precisava, mas não o soltou. Ambos não desviavam os olhos um do outro, presos no que cada olhar estava dizendo.

Assim como quando enxugou com a lágrima de Jeongguk no corredor do banheiro, Taehyung usou da mesma delicadeza para retirar sua mão do queixo dele. Deslizou seus dedos, um por um, finalmente o soltando.

— Me diga novamente onde você mora.

— Moro na casa de um amigo... – Disse aflito, ainda se recuperando do momento anterior. — Não é muito longe daqui, posso pegar o trem e ir.

— Só me diga o endereço. Eu o levei aquele dia, mas não me recordo bem.

Não querendo mais o contrariar, Jeongguk explicou onde era.

Parados na frente da casa de Jihoon, Jeongguk se recordou da outra vez onde a mesma coisa aconteceu. Ambos dentro do carro de Taehyung em um completo silêncio.

— Não precisa ir para a monitoria hoje, pode descansar.

— Eu vou.

— Jeongguk-

— Me desculpe por preocupar você e por ter o envolvido nisso. Acredite, se eu estivesse em meu estado normal, nunca teria deixado isso acontecer. Me desculpe por atrapalhar sua noite e o fazer cuidar de mim em uma situação tão deplorável, eu lamento de verdade. Tudo foi imprudência da minha parte, eu deveria ter arcado com as consequências sozinho, mas agradeço sua ajuda.

— Não fale como se merecesse ter passado por aquilo!

— Eu mereço muitas coisas... Sua ajuda não é uma delas. O acordo não é por nada, Taehyung. Você teve uma prova do que é minha vida pessoal, deve entender minhas razões. Nada do que eu falei foi por que não quero você por perto, é porque não mereço...

— Você acha que eu me arrependo de ter ajudado? – Sua expressão era de descrença.

— Deveria. – Disse simples.

— Está se escutando?

— Nos vemos à noite. – Abriu a porta, escolhendo não olhar mais uma vez para seu professor.

Conseguiu entender um pouco do que ele disse mais cedo. Não me olhe desse jeito.

É um olhar que dá vontade de chegar mais perto, de se aproximar. Foi o olhar que Taehyung viu mais cedo, e foi esse o olhar que Jeongguk viu no carro.

Ambos lembravam do sobretudo que Jeongguk vestia. Taehyung não pediu de volta, e Jeongguk não devolveu.

Pacientemente, o universitário esperou seu professor ir embora, para então poder sentar na calçada e se preparar para o que estava por vir. Decidiu dar algumas voltas pelas ruas mais próximas, afim de obter alguma coragem e entrar na casa de seu amigo. Esperava que o remédio para dor de cabeça agisse rápido, sua visão permanecia sensível à luz, agradeceu pelo dia estar nublado.

Durante o caminho que fez, Jeongguk tentou resgatar mais memórias da noite passada. Tudo que lembrava era de borrões, vozes alteradas, imagens modificadas. Desde que Taehyung o lembrou da droga que ingeriu, se esforçou ao máximo para não se importar muito com aquela informação, mas se importava. Havia prometido a si mesmo que nunca experimentaria uma droga ilícita em sua vida. Não tinha como voltar atrás, não podia mudar o rumo que escolheu. Era para ter ficado em casa, deitado, sentindo a dor, mas sentindo de forma humana, real, por mais difícil que fosse.

Fez o caminho de volta, pensando em como olharia para Jihoon, como falaria, o que deveria responder. Manteve essas questões em sua mente enquanto andava, abraçando seu próprio corpo, apertando o casaco entre seus dedos.

Com o mínimo de coragem, abriu a porta com sua chave, e se deparou com Jihoon, Hoseok, Jongho e Jimin.

— Oi...?

— Vou esperar lá fora, amor. – Jimin se levantou do sofá e deu um breve selinho em seu namorado. Passando por Jeongguk, parado ao lado da porta, se pronunciou. — Fico feliz que você esteja bem! – Deu um leve aperto no ombro dele e saiu.

— Sente aqui, Jeongguk. – Jihoon o chamou, apontando para a cadeira de frente para o sofá.

Preocupado com a falta de reação de seus amigos, Jeongguk se sentou para eles e por fim, pôde olhar nos olhos de cada um. Jihoon estava com um grande par de olheiras, Jongho, que costumava sorrir bastante, estava sério. E o que mais lhe doeu foi ver os olhos de Hoseok vermelhos.

— Eu começarei. – Jihoon voltou a falar. — Eu não vou dizer que estou decepcionado ou triste com você, sei que é o que espera que eu diga, mas não direi. Eu estou triste comigo, Jeongguk. Eu vi sua situação e saí de casa mesmo assim, ignorei o aperto em meu peito crendo na ilusão de que tudo ficaria bem. Mas eu também devo falar que doeu você não ter ligado, não ter falado nada. Eu pedi, quase implorei antes de sair para você me avisar caso quisesse alguma coisa. Durante o dia inteiro fiquei preocupado, fiquei vendo você no quarto, eu sentia que algo estava por vir. Consegue imaginar o que eu senti ao chegar em casa e não encontrar você? Ver seu celular jogado no sofá e ter a certeza de que não conseguiria entrar em contato?

Sabendo que a pergunta era retórica, Jeongguk continuou calado.

— Quando eu cheguei, ainda não era tão tarde. Durante duas horas fiquei sem notícia, até Hoseok vir aqui. Jimin quem o trouxe, pois além de bêbado, ele estava chorando demais para vir na moto. Jongho chegou logo depois, também aflito, se sentindo um péssimo amigo. Todos nós nos sentimos péssimos amigos, Jeongguk.

— Eu sei que pedir desculpas não mudará nada. – Jeongguk iniciou, olhando para o chão. — Também sei que foi um erro, reconheço isso. Mas vocês não possuem culpa nenhuma, não são responsáveis por mim para ficar me vigiando o tempo todo, precisam viver suas vidas. Eu entenderei se ficarem com raiva, se não quiserem falar comigo. Se você, hyung – Olhou para Jihoon. — Não me quiser mais aqui, também entenderei.

— É mais fácil Jihoon dar a casa para você do que te expulsar. – Hoseok disse. — Ninguém tá com raiva, ainda estamos assustados. Eu simplesmente não acreditei quando Jimin me contou, me recusei a acreditar. Eu estava naquela maldita festa e não sabia de nada, isso é que dói, Jeongguk. Eu não vou condenar você, nenhum de nós sabe o que você tá sentindo, não temos esse direito. O que mais dói é o "e se?", e se Taehyung não tivesse ajudado? E se uma pessoa ruim tivesse encontrado você? Foi o homem que você mais condenou dizendo que não se dariam bem que basicamente salvou sua vida.

— Eu agradeci a ele...

— Nem as desculpas, nem a gratidão mudam alguma coisa, Jeon. Comece com suas atitudes, mostre que podemos confiar em você, confiar que você irá nos contar o que precisa, e principalmente mudar sua postura com Taehyung. Eu não o escutei, mas Jimin me descreveu a agonia dele. Não ignore ou maltrate alguém que foi capaz de fazer isso por você sem querer nada em troca.

— Sinto que eu também deveria dizer alguma coisa, mas não sei o que falar. – Jongho disse. — Eu me sinto como eles, sem tirar nem pôr, entende? Isso me fez perceber como tô afastado de você, porque se eu soubesse dessa situação, teria feito algo.

Jeongguk soube o que tinha que fazer. Se levantou da cadeira, e foi para o sofá, abraçando seus amigos. Abraçou forte, mesmo que desengonçado pela quantidade de pessoas no enlace, mas depositou todo seu amor ali. E sua gratidão pela compreensão e por não saírem do seu lado. O que teve de ruim em sua infância e com seus pais, foi compensado por ter eles em sua vida.

— Jimin tá lá fora, né? – Perguntou a Hoseok.

— Sim, por quê?

O universitário abriu a porta, o chamando. Assim que Jimin entrou, Jeongguk o abraçou também.

— Sei que é repentino, mas obrigado por cuidar do Hoseok e por ter se preocupado.

Jimin ficou surpreso, mas retribuiu o abraço na mesma intensidade.

— Eu me tranquilizei muito quando o TaeTae ligou, soube que estava em boas mãos. – Soltou do abraço, acariciando o rosto de Jeongguk. — Você deve importar muito para ele. – Disse olhando para o sobretudo que ele vestia.

Jeongguk sentiu um calor subindo até suas bochechas, apenas acenando em resposta.

— Tudo bem, nada de clima triste. – Hoseok levantou. — Já que estamos aqui, vamos todos fingir que não temos responsabilidades agora de tarde e fazer alguma coisa.

— Vai faltar o trabalho? – Jeongguk questionou.

— Quando eu não falto por causa de você?

Sorriram juntos com a resposta, cúmplices.

Ninguém fez nenhuma pergunta acerca da noite anterior. Não estavam fingindo que nada aconteceu, mas sabiam que não valia a pena retomar o assunto, fazer Jeongguk se lembrar do episódio. Tinha tudo para ser algo para os abalar ou atingir, porém foi mais um motor, um sentido para a amizade ser fortalecida.

Jeongguk passou o dia deitado e tomando água, não sentia sono, então ao mesmo tempo que descansava, conversava com seus amigos. De uma forma bem espontânea, acabou criando mais intimidade com Jimin. Eles conversaram muito tempo sobre diversas coisas, Jimin parecia uma enciclopédia ambulante, cheio de assuntos e curiosidades que muitos não conheciam.

Por se divertirem, o tempo passou rápido. Jeongguk empurrou sua dor, a deixou de canto. Não podia parar sua vida ou se arruinar por causa disso. Teria que conviver com isso, aceitar. Jihoon falou que a conversa serviria para cortar os laços de uma vez, e era verdade. Não deixava de ser doloroso, mas era necessário.

O sobretudo ficou em seu corpo até a hora de ir para a faculdade. Retirou para tomar banho, e o guardou com cuidado, internamente temendo que o cheiro sumisse. Era o certo entregar para o dono, porém Jeongguk achou que podia esperar um pouco mais para isso.

A rotina dos dois seguiu a mesma. Jeongguk esperou Taehyung chegar, o ajudou a carregar as coisas até a sala e não trocaram muitas palavras, somente o essencial, que foi o cumprimento.

Com a simpatia costumeira, Taehyung deu início a sua aula e Jeongguk ficou sentado, atento caso ele precisasse de alguma coisa.

— Jeongguk. – Foi requisitado. — Pode explicar um pouco para eles as características do realismo? – Recuou do meio da sala, deixando o espaço para o universitário. Não queria que ele se esforçasse, mas poderiam estranhar se Jeongguk não falasse nada.

— Ah... Claro. – Se sentiu nervoso, mas era sua função ali. Em alguns momentos, teria que dar explicações, tirar dúvidas, ser um apoio. Se posicionou no meio da sala, com Taehyung sentado no birô, e deu início a explicação. — Corrigindo os trabalhos de vocês com o senhor Taehyung, pude observar que a maioria tem domínio do assunto. Todos acertaram que o Realismo é uma tendência estética que surgiu na Europa no século XIX. Pelo contexto histórico, com o crescimento das máquinas e o conhecimento científico, o conceito de demonstrar um lado mais realístico, sem uma visão subjetiva ou ilusória cresceu entre os artistas, essa parte foi explicada bem pelo que li.

Olhou para trás, querendo a confirmação de Taehyung, queria saber se estava falando bem ou não. Recebeu um pequeno sorriso.

— Então... – Deu uma leve tossida. — Na pergunta sobre as características principais naquele trabalho, a maioria teve êxito também. A objetividade, rejeição aos temas metafísicos como mitologia e religião, a representação na realidade crua, como eu já disse, uma realidade imediata, a politização, e principalmente o caráter de denúncia sobre a desigualdade na época. Então, mostrar as pessoas sem seu cotidiano, sem nenhuma idealização, era o foco.

— Conte-nos sobre o principal artista, Jeongguk. – Taehyung pediu, mantendo seu sorriso.

— Gustave Coubert foi o principal, mas houveram outros que tiveram sua importância também, como Jean François-Millet e Èdouard Manet. Coubert seguia essas características do movimento, mostrando uma empatia e interesse pelos pobres. Ele pintava os trabalhos em seus ofícios, a população em seu cotidiano, e também fez um autorretrato seu. Preciso falar das esculturas? – Olhou para Taehyung novamente para ter seu aval.

— Não, não. – Se levantou indo até ele. — Foi uma ótima explicação, obrigado. – Pôs a mão na cintura dele, por trás, agradecendo.

Foi uma surpresa e tanto o contato, pois os toques eram limitados, sutis. O toque na cintura também foi sutil, tão rápido que Jeongguk se perguntou se aconteceu mesmo.

Voltando a se sentar, observou Taehyung finalizando a aula e dando abertura para as dúvidas. Muitos alunos se soltaram mais e perguntaram para Jeongguk também, fazendo-os ter uma boa interação em sala de aula.

Recolhendo os materiais de Taehyung, Jeongguk teve uma dúvida.

— Vamos ficar aqui?

— Não, não preciso adiantar nada hoje. – Pôs a bolsa no ombro e se dirigiu para fora da sala. Tinha algumas coisas para fazer sim, porém queria que ele fizesse o mínimo de esforço possível.

Jeongguk ficou sem jeito para se despedir, então pensou em só sair andando, sem falar nada.

Até perceber que Taehyung fez o mesmo caminho.

— Vai de trem hoje? – O universitário questionou em dúvida.

— Sim.

Diferente da primeira vez, onde o silêncio foi calmo, mas nem tão confortável, dessa vez foi. Estavam gostando da companhia um do outro.

A estação não estava cheia que nem os outros dias, o movimento estava ameno, sem muitos barulhos.

No trem, puderam ir sentados, lado a lado. Jeongguk cutucava suas mãos, sua bolsa, queria dizer algo, na verdade, perguntar.

— Eu falei alguma coisa ontem? Algo vergonhoso?

— Não, apesar de não me reconhecer, você parecia consciente sobre o que falava.

— Então não falei nada da minha vida? Nada pessoal?

Taehyung queria dizer que sim, ele falou. Falou que foi expulso de casa e chorou compulsivamente ao dizer isso. Mas como nem todo querer é poder, nem todo dever é fazer, nem toda pergunta precisava de uma resposta. Não significava que mentiria, mas omitiria, pois julgou ser o melhor.

— Não falou nada, fique tranquilo.

— Ah, tudo bem. – Jeongguk recuou um pouco, sentiu Taehyung sério demais, não gostou disso. Queria amenizar aquele clima, mas sua tentativa de puxar assunto não pareceu surtir efeito.

— Como foi com seu amigo? – Taehyung deu início ao assunto dessa vez.

— Meus três amigos estavam lá, Jimin também estava. Nenhum deles ficou zangado e agradeci por isso, mesmo que eu vacile eles tentam ao máximo me entender.

— Isso é bom. – Taehyung sorriu. — Você tem bons amigos.

Jeongguk sorriu de volta, concordando, mas queria falar outra coisa. Queria dizer em voz alta que sim, tinha bons amigos, e Taehyung era um deles. Ficou ansioso com a possibilidade de explanar isso, de falar abertamente algo que julgava ser íntimo.

A amizade foi construída aos tropeços, entre discussões e preocupações, mesmo tentando afastar, Jeongguk não conseguiu. Achou que estava o repelindo, quando na verdade, criaram um vínculo.

Continuou mexendo na bolsa, ora querendo falar, ora querendo guardar o sentimento.

Olhando para si mesmo no trem, e Taehyung sentado ao seu lado, encaixou uma pequena peça em sua mente. Ele só não ia de carro para a faculdade quando tinha a monitoria. Quando saíam a mesma hora.

Era algo tão pequeno, mas tão significativo, que Jeongguk sentiu seu corpo esquentar de fora para dentro.

Decidiu que não falaria. Não precisava ser dito, já estava acontecendo, não precisava ser concretizado com palavras. Até aquele dia, apenas a arte movia Jeongguk daquela forma, com tanta necessidade de expressar alguma coisa, seja em palavras ou gestos. Uma tela branca era sua motivação, sua pulsão para agir.

Sendo assim, bem devagar, se aproximou mais de seu professor. Encostando seus ombros, respirou fundo e deitou sua cabeça no ombro dele.

De início, ficou tenso. Deitou achando que ele recusaria o contato, que o afastaria ou reclamaria. Poderia ser interpretado como algo estranho ou invasivo, entretanto, quis arriscar. Não sabia se era sua mente, corpo ou coração que estava falando, mas deu ouvidos. Assim como dava ouvidos ao pintar.

Suas dúvidas foram silenciadas quando Taehyung levantou sua mão e carinhosamente acariciou os fios azuis de Jeongguk.

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