34) confissão (parte 1)
oiii! peguei muita gente de surpresa nos avisos essa semana dizendo que tô grávida, né? esqueço que tem gente aqui que não me segue no tt. e é verdade gente, tô grávida de 7 meses de uma menininha linda chamada Annelise, e por causa disso a att não tá tãooo rápida, tenho me cansado muito :( perdão por isso.
como avisei, o capítulo ficou dividido por causa da quantidade de acontecimentos! quero que vocês entendam tudo direitinho, principalmente os sentimentos dos personagens por trás das atitudes. a parte 2 promete e muito 🗣️
pra quem gosta de ouvir música enquanto lê, wish you were here da avril e ghost da halsey são ótimas opções.
não esqueçam da tag #PaletasePoesiasTK e do votinho!
boa leitura! 💙
Preto. Jeongguk pintou seu cabelo de preto.
Não era o tom do seu cabelo natural, era mais um castanho escuro, que Jeongguk sempre considerou sem graça demais. Além de remeter sua infância e adolescência, não só achava sem graça, como não gostava.
A tinta estava guardada há um tempo, Jeongguk vez ou outra sentia vontade de tirar o azul, mas pensava que faria isso passando para outra cor, uma cor especial, não tão comum. E foi para o preto.
Olhando bem, não tinha muita diferença para seu cabelo antigo, castanho, porém Jeongguk sabia muito bem das cores e o que elas significavam. Castanho, em sua concepção, era comum demais, não gostava de coisas comuns.
O preto era intenso, significava diversas coisas, entre elas a morte. Jeongguk passava pelas situações de sua vida modificando algo em si, foi o que aconteceu com as tatuagens, e foi o que aconteceu com seu cabelo. Uma versão sua morria a cada vez que fazia uma mudança.
Alterava seu físico, pois queria alterar seu interior.
O azul, que tanto gostava, tornou-se algo seu e de Taehyung. Taehyung não estava mais ali. Jeongguk não via mais sentido em continuar com o azul.
O que sentia era azul, e Taehyung levou seu sentimento embora.
Ao terminar de pintar, se olhou no espelho e não se reconheceu por completo. Não via o Jeongguk acuado, pequeno, indefeso de anos atrás, a cada dia superava mais seus traumas da infância e adolescência, a terapia era de grande ajuda.
Jeongguk não reconhecia de quem era aqueles olhos, tão apagados, opacos. Quando superou uma parte de sua vida, quando parou de regredir, quando estava pronto para avançar completamente, Taehyung foi embora.
Não conseguia o perdoar, não por isso. Não conseguia compreender os motivos, e tinha medo de nunca saber quais foram, ou realmente, mesmo sabendo, não entender. Jeongguk não gostava de ficar sozinho, Taehyung sabia disso. E esse fato ia além da presença física. Antes mesmo de viajar, Taehyung o deixou sozinho.
Doía não saber, doía não ter uma despedida, doía saber que ele estava mentindo. Mas o que podia fazer? Ele já tinha ido para longe.
Tocava suas orelhas constantemente sentindo falta dos brincos. Escondia o sobretudo no fundo de sua gaveta, porém não tinha coragem de se livrar dele. Tudo o que podia fazer era se acostumar com aquilo.
E Jeongguk iria tentar de tudo para se acostumar com aquela ausência. Tudo. Precisava aguentar.
•
Os preparativos na galeria estavam a todo vapor. Jeongguk duvidou – e muito – da sua capacidade quando viu tudo o que tinha que fazer como diretor, mas Namjoon e Eunbi não deixavam a desanimação encostar.
Novos funcionários foram contratados, toda a decoração mudou, o prédio parecia mais amplo, mais vivo, mais cheio de cores. Jeongguk achou lindo. Sentia falta dos quadros antigos que rodeavam o ambiente, mas a beleza da arte não é limitada, tudo podia ser belo.
Aproveitando essa movimentação que estava tendo em sua vida profissional, Jeongguk ignorava um pouco os questionamentos de seus amigos, principalmente de Jihoon. Desde que ele acordou no dia seguinte e viu seu cabelo pintado de preto, se espantou. Achou que significava algo ruim, que Jeongguk voltaria a ser o que era.
E tudo que Jeongguk disse foi que isso nunca aconteceria. Nunca mais iria retroceder.
O preto significava sua força, ao mesmo tempo que representava sua dor. Nada era mais forte do que uma pessoa machucada que conseguia se reerguer.
Taehyung não era mais comentado. Pareceu ter sido um consenso para todos os amigos, até para Seokjin e Jimin. Eles temiam ver Jeongguk mal novamente, e faziam o possível para que ele ficasse bem.
— Jeongguk-ssi! Tantas obras ainda vão chegar, não vou dar conta! Não sabia que tinha tantos artistas por aqui. – Eunbi comentou cansada após ver mais uma lista das obras novas.
— Tem artistas em todos os lugares, Eunbi. Por isso Namjoon-hyung criou a galeria, as pessoas precisam de oportunidades.
— E seus quadros, hum? Pensa que eu não sei que você foi convidado? – apontou, acusando-o. — Como você não me contou isso? Eu soube pelo Jongho!
— Você também não me disse como foi lá na casa dele. – Rebateu.
— Ah… – Riu. — Bem que você avisou sobre a mãe dele.
— Ela te tratou mal?
— Não, ela se esforçou pra ser simpática… o pai dele é bem apático. Sei lá, eles protegem tanto ele de tudo, não me surpreende eu ter sido a primeira namorada que ele apresentou.
— Ele viu em você a coragem que faltava nele, por isso deve ter dado tão certo, você o deixa mais solto, e ele te deixa segura.
— Você não falava tão sério assim antes… – observou. — Tá bem?
— Experiências negativas também são experiências, Eunbi. – Riu fraco, entendendo ao que ela se referia. — Não se preocupe.
— Você tá muito diferente desde que pintou esse cabelo, Jeongguk-ssi… você não tá sorrindo muito.
— Eu tô bem. – Reforçou. — Vamos continuar o trabalho.
Eunbi sabia que ele não estava nada bem. Perguntava para Jongho se ele tinha alguma notícia, ele dizia sempre o mesmo:
"— Jihoon diz que ele tá agindo do mesmo jeito, só que mais sério, mais distante. Parece tá fingindo ser algo que não é só pra ignorar um pouco do que tá sentindo. Querendo ou não, Taehyung o quebrou, e a única forma que Jeongguk encontrou de continuar inteiro é ignorando a falta que ele faz."
Ignorar, fingir. Jeongguk não gostava da frase "engolir o choro", e era exatamente o que fazia. Porque, no fundo, sabia que se se permitisse ser vulnerável, não iria aguentar.
Com o retorno do trabalho, suas aulas também retornariam em breve, iria para o penúltimo semestre. Com todos os acontecimentos recentes, Jeongguk explicou para Namjoon sobre não querer no momento expôr seus quadros.
— Ainda não me sinto pronto, Hyung. – Pediu para conversar em particular com seu chefe para poder dizer. — Sinto que tenho muito o que evoluir, e quero entregar meu melhor. Falta pouco para eu terminar a faculdade, esse tempo será ótimo para aprimorar… se o senhor, quer dizer, se você puder esperar esse tempo, eu agradeço muito.
— Eu disse que esperaria, Jeongguk. – Respondeu, sereno. — Está tudo bem, a arte é sua e você deve expôr quando achar que está pronto. Eu só tenho algo a dizer…
— O quê?
— Acredito que não seja esse o motivo. – Sorriu. — Mas não irei me intrometer em sua vida, eu só espero que, o que esteja dentro de você, do seu coração, você consiga libertar.
É, Jeongguk não conseguia disfarçar. O grande motivo por trás era seu bloqueio criativo, não pintava mais, não desenhava, não rabiscava nada. Toda aquela situação o fazia se sentir errado, e não queria ter sua primeira exposição nessas condições.
Jeongguk precisava cuidar de si, mesmo que não admitisse.
•
As consultas com o psicólogo tornaram-se um pouco mais complicadas. Jeongguk havia evoluído sobre expressar seus sentimentos, conseguia falar com mais clareza, mesmo assuntos que considerava delicado.
Com essa nova situação, não conseguia se abrir com Seungmin.
— Jeongguk, não podemos continuar dessa forma. – Seungmin disse, sério.
— O que aconteceu?
— Você está reprimindo uma emoção gigante dentro de seu peito. Estamos há quase dois meses com essas consultas, não foi isso que eu ensinei a você. Eu olho para você e enxergo sua dor, clara como água, e mesmo assim você insiste em tentar esconder. Nossas conversas não são mais objetivas, você não diz o que está lhe incomodando, parece querer evitar que eu o enxergue de verdade.
— Eu não consigo, Seungmin. – Admitiu com o tom de voz baixo.
— Não consegue o quê?
— Não quero que me enxergue. Ele também disse que queria fazer isso, queria me enxergar, e olhe minha situação agora. Se eu não permitia isso acontecer, era por medo, eu deixei meu medo de lado por ele. E o medo voltou...
Isso foi o mais perto que Seungmin chegou de descobrir o que Jeongguk pensava sobre. A maioria das frases eram curtas, sem aprofundamento, Jeongguk se mantinha no raso.
— Você queria não estar sentindo isso, não é? – Seungmin voltou a perguntar depois de um tempo em silêncio.
— Não.
— Não esquecemos as pessoas dessa forma, Jeongguk. Acha que ignorar é a solução? Tentar bloquear memórias, qualquer coisa que lembre? Uma música, um objeto, um momento. Não é assim. Cada pessoa fica marcada em nós de alguma forma, umas de forma mais relevantes que outras, e Taehyung foi mais do que relevante para você.
— Então, não irei esquecer mesmo que tente?
— Não. – Foi sincero. — Você vai olhar para um cômodo da casa, e lembrar dele. Vai olhar para uma roupa, e lembrar dele. Vai escutar alguém falando sobre um assunto, e vai lembrar dele. Ele está em você, e você está nele. As pessoas gostam de se iludir de uma forma tremenda ao pensar que o tempo pode apagar alguém, nossa mente não funciona assim, nem nosso coração. O que acontece é você viver sua vida, e se ocupar de tal forma, que talvez não lembre com tanta recorrência, mas em algum momento ainda vai lembrar.
— Ele parecia machucado… – Desviou o olhar, afetado com o que Seungmin disse. — Eu sinto muita raiva dele, mas ele parecia tão machucado quanto.
— Gostamos de olhar só para nossas dores, não é? – Comentou, cauteloso. — Você sabe e viu o que Taehyung quis mostrar, não o que ele realmente queria passar. Você já me contou duas vezes, detalhadamente, como foi a discussão, e tudo o que eu percebi foi a falta de palavras dele.
— Eu sei que é difícil falar às vezes, mas ele tinha que falar, Seungmin.
— E ele não falou?
— Você já sabe que não.
— Esqueça a voz dele, Jeongguk. Estou perguntando se ele falou algo, de alguma maneira, que só você entenderia.
Jeongguk não conseguiu responder naquele instante. Apesar disso, Seungmin considerou aquela sessão melhor do que as outras, pois Jeongguk colocou para fora um pouco de sua angústia.
Era comum sair do consultório pensando muito sobre algo, reflexivo com alguma coisa, e Seungmin plantou a semente da dúvida na mente de Jeongguk. Taehyung "disse" algo que só Jeongguk entenderia?
Não sabia.
Ou não queria saber.
Lembrar da discussão doía, tentar captar algum sinal de Taehyung em sua memória era difícil. Jeongguk queria descansar, já que como Seungmin deixou bem claro, não poderia esquecer.
•
Em um final de semana os amigos de Jeongguk decidiram se reunir.
O motivo era: Seokjin e Jihoon finalmente oficializaram o namoro.
Nem assim, Jihoon ficou mais calmo com a chegada dos amigos (e de seu namorado). Jeongguk o ajudou como pôde, mas não podia controlar os nervos dele.
— Hyung, é só mais uma social, não é um jantar de noivado!
— Não é qualquer homem que é meu namorado, Jeongguk. É Kim Seokjin! – Falou pausadamente, dramático.
— Eu juro que vou te deixar sozinho aqui se você não parar! Tá quase quebrando os pratos de tanto que os carrega de um lado pro outro.
— Desde quando você ficou tão insensível? – Forçou uma voz triste.
— Desde que eu comecei a parecer o Hyung aqui. – Respondeu com um sorrisinho.
Mais farpas foram trocadas até os amigos chegarem. Seokjin, ao contrário de Jihoon, estava perfeitamente calmo. A teoria de Jeongguk se concretizava, as pessoas se apegavam ao seu complemento.
Era bonito ver os dois interagindo. Jihoon, mesmo tendo quase a mesma idade de Seokjin, não agia de acordo. Era responsável em determinados assuntos, mas no amor, era um bobo.
Seokjin era recluso sobre relacionamentos, suas experiências passadas não foram tão boas. Devido a isso, focou na sua carreira e evitou pensar no assunto. Por um tempo, fingiu estar ocupado demais lidando com Taehyung, mas ele já era um adulto, não poderia mais usar essa desculpa. Foi quando Jihoon apareceu, e Seokjin viu que não precisava fugir, não precisava se assustar com a ideia de um relacionamento.
Mesmo sendo mais calmo, mais centrado, também tinha suas fraquezas, e também tinha um lado não tão maduro. Jihoon teve acesso a todas essas áreas, e quando viu que ele ficaria apesar de o conhecer bem, decidiu oficializar.
Jeongguk achava incrível ambos juntos. Assim como achava Jongho e Eunbi, e Hoseok e Jimin. Poderia até ficar chateado por ficar meio deslocado entre tantos casais, mas Yoongi apareceu para o salvar.
Todos chegaram juntos, a interação não era limitada por causa dos casais, eles tinham suas individualidades e assuntos próprios. Jeongguk achou Jimin um tanto quieto, ele costumava falar bastante, porém naquela noite parecia preocupado, o viu sair diversas vezes para falar no telefone com alguém.
Nunca foi seu forte conter sua curiosidade, então quando Jimin levantou mais uma vez do sofá para atender uma ligação, se aproximou dele para tentar entender o que acontecia. No fundo, queria saber se era sobre ele.
— Ele ainda não melhorou? Eu sei, eu mantenho Seokjin atualizado, mas é bom não falar diretamente com ele sobre isso, pode continuar falando comigo. – Houve uma pausa, provavelmente a outra pessoa da ligação falando. — Eu lido melhor com as informações, Seokjin fica muito afetado por saber que ele está assim. A senhora tem certeza que não houve uma piora significativa? – Outra pausa. — É, ele vai ter essas recaídas, não o deixe sozinho.
Por não ter certeza, Jeongguk não sabia o que pensar. Porém, só de cogitar que poderia mesmo ser sobre ele, sentiu o estômago embrulhar. Preferiu sair de perto, já havia invadido demais a privacidade de Jimin, deveria se conter.
Voltou para a sala, e sentou ao lado de Yoongi, onde estava anteriormente. Os assuntos acabaram se dividindo, então teve somente a companhia de Yoongi, que também estava um pouco deslocado.
— Você está com aquela cara de assustado. – Yoongi comentou.
— Só um pouco preocupado. Quer me distrair? – Sorriu. — Você é ótimo nisso.
— Ainda é estranho ver você com o cabelo preto de novo. – Mudou de assunto, como foi pedido. — Parece que voltei no tempo.
— Não ficou bom?
— Não sei o que não ficaria bom em você, Jeongguk. – Riu, tímido. — Mas eu estava acostumado com o azul.
— É bom mudar às vezes. – Deu de ombros. — Lembra daquilo que você comentou sobre a casa? – Também quis mudar de assunto.
— Lembro sim. Pensou sobre?
— Sim… eu vou querer. – Suspirou. — Só me dê mais um tempinho, mas prometo que vamos tirar a casa deles.
— É assim que se fala! – Sorriu, orgulhoso. — Tenha coragem, você vai conquistar muita coisa ainda.
Jeongguk gostava muito daquele sorriso de Yoongi, por isso, em reflexo, o abraçou. Yoongi estava se acostumando com esses abraços repentinos, pois era a maneira de Jeongguk mostrar como ficava confortável em sua presença, com seus toques. O abraçou de volta, e permaneceram assim por um tempo.
A troca de carinho era singela, Yoongi alisava o cabelo de Jeongguk com seus dedos, o deixando mole em seus braços. Jeongguk mostrava seu carinho se aninhando no peito dele.
Bem que Seungmin falou que até momentos aleatórios fariam suas lembranças surgirem.
Disposto a não se incomodar, não saiu do abraço. Precisava lidar com aquelas memórias, precisava fazer novas memórias de novo.
Era uma noite fria, Dezembro estava chegando ao fim. Faltavam poucos dias para as festas, poucos dias para o ano novo, poucos dias para o retorno das aulas de Jeongguk. O clima era aconchegante, apesar de espalhar sua melancolia junto com a chuva e a temperatura abaixo de zero.
Quando todos se organizaram para ir embora, Jeongguk não conseguiu se segurar e chamou Jimin para conversar.
— Aconteceu alguma coisa? – Jeongguk perguntou direto.
— Alguma coisa o quê? – Jimin estranhou a pergunta.
— Você parece preocupado, Jimin-Hyung. Aconteceu alguma coisa com ele? – Enfatizou no final da pergunta.
— Oh… – Jimin foi pego desprevenido. — Pensei que não era para falar sobre isso.
— E não é… eu só quero saber isso.
Jimin soltou um riso soprado.
— Vocês são iguais mesmo.
— Por quê? – Estreitou os olhos.
— Ele também diz que não é para falar disso, e fala.
— Ele fala de mim? – Jeongguk perguntou surpreso.
E Jimin o encarou desacreditado.
— Você ainda pergunta? – Riu. – Mas não posso entrar em detalhes sobre isso. E respondendo sua pergunta, estou preocupado sim, porém não é nada demais, não precisa ficar preocupado também.
— Ele não tá bem hoje? – Insistiu.
— Hoje é o aniversário dele, Jeongguk. – Jimin disse, de uma vez. — Ele não gostava muito da data, e agora isso piorou um pouco.
Tinha muito o que explicar, mas Jimin escolheu dizer o mínimo possível, Taehyung pediu isso. Apesar de não concordar, não queria expor seu melhor amigo.
Mesmo que, no meio disso, Jimin tenha aberto uma exceção. Uma pequena exceção para tratar sobre Junseo. Só precisava de um pouco mais de tempo, e do apoio de Seokjin posteriormente.
— Ah… – Jeongguk ficou sem respostas. — Eu não sabia…
— Ele vai ficar bem! – Jimin tentou o animar com um sorriso.
Jeongguk acabou se despedindo de maneira atônita de seus amigos. Ainda processava a informação de que era o aniversário dele, de que não sabia disso, e de que não podia encontrá-lo para parabenizá-lo, ou fazer qualquer coisa.
Sentia a costumeira vontade de chorar, mas nenhuma lágrima descia. Se despediu de Jihoon com um "boa noite" e foi para seu quarto, ficar sozinho.
Encarou a janela, o frio, sua cama. Lembrou da última vez que esteve com ele ali.
Podia ignorar a ausência à vontade, porém ela voltava a aparecer para apertar seu peito. Quando isso acontecia, desenterrava o sobretudo de sua gaveta e o abraçava. Foi tudo que restou dele.
Abraçou o tecido como se o abraçasse. Não tinha mais o cheiro dele. Não era a mesma coisa. Mesmo assim, abraçou mais forte.
Em sua mente, o ofendeu um pouco. Chamou de idiota, e outros termos. O chamou de idiota por ele ter feito aquilo, por estar fazendo Jeongguk sentir aquilo. E por, provavelmente, estar do mesmo jeito, triste. Um completo idiota.
Jeongguk agarrou seu celular e procurou sua lista de contatos, o número dele ainda estava lá. Sabia que ele devia ter mudado de número, era o mais esperado. Uma mudança de país exigia isso.
Entretanto, Jeongguk ligou. Ligou porque queria tentar, queria sentir que estava tentando.
Chamou, chamou, e chamou. Ninguém atendeu. Não podia dar um feliz aniversário para Taehyung. Nem sabia por que queria dar, já que estava com tanta raiva, tanta mágoa.
Mais uma lembrança o assombrou.
"— Soube que o aniversário de uma certa pessoa está chegando. – Taehyung disse, fazendo Jeongguk sorrir.
— Ainda bem que você sabe.
— Achei muita maldade você esperar eu descobrir, vou fazer o mesmo quando o meu estiver perto."
Ele havia feito mesmo. E Jeongguk não podia fazer nada sobre isso.
Por isso, sussurrou baixinho, talvez algo ou alguém o escutasse e fizesse Taehyung ouvir. Jeongguk gostava de acreditar nessas coisas.
"Feliz aniversário… queria que você estivesse aqui."
•
As festas no final do ano não tiveram o mesmo brilho para Jeongguk. Foi a primeira vez que passou longe de sua família, o que não era triste, só diferente. Jantou com a família de Jihoon, e seus outros amigos ficaram com suas famílias. Gostava do ano novo, a emoção de entrar em um tempo desconhecido, onde você vai escrever sua história, mas não estava com cabeça para pensar naquilo e no que queria fazer em todos aqueles dias que estavam por vir.
De um modo estranho, Jeongguk passou a mostrar sua fraqueza apenas para si. Sozinho, sentia falta de Taehyung. Sentia vontade de vê-lo, de tentar conversar mais uma vez. Na frente de outras pessoas, demonstrava rancor por ele, afirmavava veemente não querer mais encontrá-lo, que a distância estava sendo boa.
E a distância acabava com Jeongguk.
Por mais focado que estivesse em seu trabalho, com todas as novas tarefas que tinha em sua função, ainda assim conseguia pensar nele. Nas consultas com seu psicólogo, o assunto voltava para ele. Quando saía com seus amigos, lembrava dele.
Isso começou a irritá-lo, pois não conseguia fingir quando sentia tanto. Imaginava se Taehyung estava na mesma, e sua mente o tentava convencer de que não, Taehyung não sentia tanta falta assim, que ele escolheu ir embora e que estava bem melhor.
O único assunto que conseguia ocupar um pouco de sua mente era a casa, a casa de seu pai. Não iniciou nada com Yoongi, porém tinha ideias do que fazer para redecorar, para voltar com a essência de seu pai, para pendurar novamente os quadros dele pelas paredes.
O estilo de pintura do seu pai parecia um pouco com o seu. A questão de preferir demonstrar sentimentos era a característica parecida. Contudo, seu pai fazia isso não somente em sentimentos abstratos, retratava rostos também, corpos, expressões de todos os tipos. Seu pai era expressivo, Jeongguk também.
Lembrou de uma vez que teve medo de uma pintura, e não gostava de olhar para ela, até que seu pai explicou:
"Não precisa ter medo, filho. Isso é uma representação do medo, está vendo como o rosto dessa mulher está assustado? Ela só está com medo, e é completamente normal sentirmos isso. Não tenha medo dos seus sentimentos, ou de enxergá-los nas outras pessoas."
Seu pai o ensinou demais. Não podia acreditar que a vida tinha o levado, e deixado sua mãe. Não que desejasse o mal para ela, mas não desejava nada, era indiferente. Enquanto seu pai o ensinou a enfrentar o medo, sua mãe deu todos os motivos para Jeongguk não superar seus medos.
Com a cabeça tão cheia, convidou Yoongi para o visitar novamente. Jihoon chegaria tarde naquele dia, queria uma companhia. Todos os seus amigos estavam ocupados com suas vidas pessoais ou seus namoros, não queria atrapalhar.
— Então, você escolheu chamar o solteirão aqui? – Yoongi perguntou, rindo.
— Eu gosto de ficar com você, Hyung! – Riu em resposta. — Mas, sim… acho que você é a melhor opção no momento.
— Pois serei a melhor opção por um bom tempo, não pretendo namorar nem tão cedo.
— Por que não?
— Ainda não me sinto pronto. – Suas bochechas coraram de leve. — Não me imagino com ninguém.
— Acho que você faz bem em esperar… as pessoas são complicadas. – comentou, amargo. — Às vezes é melhor ficar sozinho.
— Se acha melhor ficar sozinho, me chamou por quê? – Yoongi quebrou o clima tenso, fazendo Jeongguk rir novamente.
— Você é muito chato! Essas falas na ponta da língua parece ser coisa de advogado.
— Já falei, sou um ótimo advogado. – Se gabou. — O suficiente para arrancar aquela casa da sua mãe.
— Confio totalmente em você. – apertou o queixo dele, levantando do sofá em que estavam sentados. — Mas não quero falar disso, quero me distrair. — Quer comer alguma coisa?
— Oh… vai cozinhar? – Perguntou animado.
— Sim….você se importa?
— Faz tempo que não provo da sua comida! Vamos ver se você melhorou ainda mais. – O desafiou.
— Claro que melhorei!
Jeongguk, com seu lado competitivo, fez um dos melhores jantares só para provar que seus dotes culinários estavam melhores, sim.
Yoongi realmente sentia falta desses momentos com ele, Jeongguk costumava cozinhar frequentemente, era um momento especial deles.
E como costumava fazer anos atrás, Yoongi o elogiou muito. Para deixá-lo mais feliz, afirmou que a melhora foi muito significativa.
Por Jeongguk não querer conversar assuntos sérios e querer se distrair, após o jantar decidiram assistir um filme. Jeongguk deixou Yoongi escolher, por isso não foi mais um de terror, e sim de ficção científica.
Ambos sentaram próximos no sofá, enrolados em um cobertor, e no decorrer do filme, Jeongguk acabou se apoiando no ombro de Yoongi.
Apesar de ser um filme longo e cheio de informações, Jeongguk gostou, mantendo sua atenção presa do começo ao fim.
Yoongi estava igualmente focado, e quando acabou e os créditos começaram a subir, eles continuaram na mesma posição. Instalou-se um silêncio, Yoongi apenas perguntou se Jeongguk tinha gostado e ele disse que sim. Fora isso, mais nada.
— Está tudo bem? – Yoongi decidiu perguntar vendo que Jeongguk não quebraria o silêncio.
— Sim… só tô pensativo.
— O filme foi tão reflexivo assim?
— Não é isso. – Riu soprado. — Tô pensando em outras coisas.
— Quer que eu vá embora? Já está bem tarde, você deve querer descansar.
— Não, fica. – Desencostou do ombro de Yoongi para poder encará-lo. — Gosto de ficar com você.
— Você tem falado muito isso ultimamente. – Desviou o olhar, estranhando Jeongguk estar o encarando tanto.
— Você não sente o mesmo?
— É claro que eu gosto de ficar com você, Jeongguk… acredito que isso é óbvio. Por que está agindo assim?
— Tem certeza? – Insistiu, com a voz triste. — Não sente vontade de ir embora?
— Agora? Não… só comentei porque está tarde, mas se quiser posso ficar mais um pouco.
— Não é isso… – Jeongguk estava frustrado. — Você não entende.
— Tem certeza que você não quer conversar? – Yoongi ficou preocupado. — Você parece muito cabisbaixo.
— Hyung… – Jeongguk respirou fundo. — Se eu te beijasse agora, o que você faria?
Yoongi congelou ali mesmo, sentado. Jeongguk perguntou de cabeça baixa, sem olhar diretamente, parecia envergonhado.
— Jeongguk… – Sua boca abria e fechava sem saber exatamente o que dizer. — Eu realmente não estou entendendo você…
Jeongguk continuou aguardando a resposta, que não veio. Yoongi não conseguia dizer mais nada, tampouco se mover. Com isso, aos poucos, Jeongguk se aproximou, se aproximou o suficiente para ver se Yoongi iria recuar, e ele não recuou.
Assim, fechou seus olhos e o beijou.
Suas mãos, seu corpo, sua mente estavam perdidos. Não sabia o que fazer. Tentou mover os lábios, e percebeu que Yoongi o imitava. Continuou dessa forma, tentando aprofundar, tentando se conectar, tentando sentir alguma coisa.
Não sentia nada.
Com exceção da angústia que se instalou em seu peito no momento em que decidiu fazer aquilo.
Yoongi levantou sua mão para segurar o rosto de Jeongguk, e sentiu a bochecha dele molhada. Não pensou duas vezes em interromper o beijo.
— Jeongguk, olhe para mim. – Pediu, tentando enxugar as lágrimas dele.
— Me desculpa… – Sua cabeça continuava abaixada, de olhos fechados. — Me desculpa.
— Não peça desculpas para mim, quero que você me olhe e me escute.
Devagar, Jeongguk levantou a cabeça e o encarou. Seus olhos estavam vermelhos, e as lágrimas insistiam em cair.
— Eu queria beijar você, e não tenho vergonha de admitir. Por isso, eu que peço desculpas por não ter me afastado logo, isso era dever meu. Você não queria fazer isso, e me dói ter deixado você fazer só por causa dos meus sentimentos. Eu gosto de você, Jeongguk… e eu sei do carinho que você sente por mim, mas sei que não é recíproco, você não sente o mesmo.
— Eu queria sentir, Hyung… – Admitiu com a voz trêmula.
— Não… você não queria. Você foi impulsivo, passando por cima do que você é e do que você sente. Me beijar não vai fazer essa dor em você parar, Jeongguk. Eu sei disso porque, quando você me deixou, eu fiz o mesmo, e não adiantou. Não vai adiantar.
— Por que não? – Chorou mais intensamente, com o peso da sua atitude caindo em si mais forte a cada segundo.
Yoongi o abraçou, o fazendo deitar em seu peito, na tentativa de acalmar o choro. Manteve-se daquela forma por alguns minutos, e respondeu:
— Porque eu não sou o Taehyung. Seu coração pede por ele, Jeongguk.
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