3) impremeditado
⚠️ conflito familiar; assédio.
tag: #PaletasePoesiasTK
boa leitura! 💙
Jeongguk estava inquieto em sua cama, sem conseguir dormir. Sua mente, barulhenta demais, o atormentava com afinco, lhe fazendo lembrar de todos os momentos que desejava esquecer. No auge da madrugada, a frieza assolando a cidade, Jeongguk sentia calor. A coberta o agoniava, o ambiente o agoniava, estava sufocado.
Cedendo ao cansaço, após horas em claro, adormeceu. Entretanto, sua agonia não se findou. Os pesadelos atormentaram seu inconsciente, deixando seu sono perturbado.
Dessa vez, não se encontrava dentro de um ambiente escuro e sem saída. Havia uma sala bem iluminada repleta de espelhos, e Jeongguk no centro. Não compreendia o significado e talvez estivesse com medo de compreender. Correu para longe dos espelhos, mas de nada adiantava, seu reflexo o seguia por todos os lados. Cansado de correr, caiu no chão, sem forças. Levantando a cabeça, se deparou com o que menos queria ver.
O reflexo de si mesmo. Nele, estava um Jeongguk de cabelo preto, olheiras bem marcadas ao redor dos olhos, e o que mais lhe incomodou: era sua versão criança, o pequeno Jeongguk. Desesperado com o que via, começou a gritar, de olhos fechados, pedindo para sair daquele lugar.
Jeongguk despertou encharcado de suor, assustado. Olhou ao redor, sem espelhos. Respirou em alívio. Pegou o celular para ver a hora e estava uma hora atrasado para seu trabalho. Já não queria ir, arrumou uma razão. Ligou para seu chefe informando que adoeceu e uma febre alta o derrubou, o homem compreendeu e o liberou sem problemas, pedindo para que Jeongguk se cuidasse.
Não costumava mentir, mas também não diria que não era bom nisso. Às vezes, você pega prática sem ao menos perceber. Mente tanto para si mesmo que mentir para as outras pessoas não é algo incômodo.
Mentiu sobre a febre, porém se sentia doente. Seu corpo cansado, a cabeça doendo, não era um bom dia. Foi ao banheiro lavar o rosto, e evitou encarar o espelho, não queria recordar do pesadelo.
Desceu as escadas devagar, torcendo para não esbarrar em ninguém, mas seu humor que já estava péssimo, iria piorar.
— Bom dia, meu filho! – Jeon Sohye abriu um grande sorriso. — Venha tomar café conosco.
"Conosco?" Jeongguk se questionou. E ao descer mais um degrau, viu que sua mãe não estava sozinha.
Imediatamente voltou a subir os degraus, sem olhar para trás.
— Vamos, Jeongguk, é só um café. – O homem sentado à mesa falou.
Jeongguk queria tanto ignorar, se isolar em seu quarto era sempre a melhor opção. Mas o que pensariam? Que era um fraco por não conseguir tomar um café da manhã tranquilamente? Não costumava dar uma chance a ninguém, muito menos para si mesmo, porém não tinha nada perder. O dia já estava ruim, dava para aguentar.
Voltou a descer e sentou à mesa, com o olhar preso no prato vazio.
— Sirva-se, filho! – Sua mãe parecia estar adorando o momento.
Pondo café puro em sua xícara e alguns pãezinhos que se encontravam no centro da mesa, Jeongguk ficou satisfeito. Estava quieto, silencioso, queria continuar assim.
— Olhe para mim, Jeongguk.
Ele não queria olhar.
— Olhe! – Ordenou alto.
Jeongguk olhou, sentindo seu corpo tremer em raiva.
— O que você quer?
— Fale direito com seu pai, moleque. – Disse com tom de desprezo.
— Certo, traga meu pai aqui que eu falo. – O enfrentou.
— Meu bem, eu já pedi... – Sohye suplicou para Jeongguk.
— Esse homem não é meu pai, e nem sei por que faz tanta questão de parecer ser. Pode me explicar? – Continuou o encarando com seus olhos inquisitivos.
— Quem pagou seus estudos pra você conseguir a porra de uma bolsa nessa faculdade, hein? – Elevou a voz. — Quem está sustentando essa casa enquanto você faz seu cursinho de artes? Foi o merda do seu pai? Fui eu! Você deveria beijar meus pés, moleque! – Bateu com o punho na mesa.
O sangue de Jeongguk fervia, borbulhava em ódio. Não era a primeira vez que escutava aquilo, já escutou com frequência até demais, por isso sempre evitou esbarrar com o homem, não o suportava. Ele enchia a boca para falar do sustento da casa como um passe-livre para ser um imbecil. A lógica dele era simples e sem nexo: sou o homem mais velho da casa, posso fazer o que bem entender.
A questão, é que Jeongguk nunca pegou dinheiro dele. Seus estudos foram pagos com o dinheiro de seu pai, se esforçou para conseguir a bolsa para não precisar mais do dinheiro de ninguém. Conseguiu o trabalho no museu e era o suficiente para comprar o essencial. Consumia o mínimo possível em casa, mal saía de seu quarto, aquele homem não deveria se gabar de nada.
Sendo assim, Jeongguk não quis responder, não com palavras. A mesa era quadrada, pequena, estavam próximos, de frente para o outro. Encarou sua xícara de café, percebeu que não estava mais tão quente. Em um só movimento, jogou tudo no rosto dele, jogando a xícara junto, que bateu nele e se quebrou no chão.
Sua mãe ficou em choque, seu corpo continuava a tremer, e o homem, por alguns segundos, não esboçou nada. Pegou um pano para limpar o rosto e encarou Jeongguk.
— Saia da minha casa! – Não gritou, mas sua voz era recheada de rancor e ego ferido.
Jeongguk não pensou duas vezes em levantar da mesa e ir até seu quarto, guardando o máximo de coisas que conseguia nas bolsas velhas que tinha. Cogitou deixar os quadros para trás, porém não aguentaria. Guardou os únicos três quadros que não estavam pintados, suas tintas e pincéis, e ligou para Hoseok.
"Pode vir me buscar?"
"Te buscar? Tá tudo bem? Tá aonde?"
"Em casa, tô cheio de bolsas, preciso ir pra algum lugar rápido!" - Falou mais alto para Hoseok entender a situação e como estava falando sério.
"Entendi, tô indo"
Encerrou a ligação, guardou seu celular e juntou todas as bolsas, indo para fora de casa.
Não avistou o homem, mas sua mãe estava perto da porta, o esperando.
— Você não deve ir... Me deixe falar com ele, posso fazê-lo voltar atrás... – Pediu segurando o braço do filho.
— Continuar aqui pra ele ficar me humilhando quando quiser?
— Filho, já conversamos...
— É por isso que vou embora. – Arrastou as bolsas até a porta e a abriu.
— Pra onde você vai? Eu preciso saber! – Gritou como uma última tentativa frustrada de demonstrar seus sentimentos.
Jeongguk a ignorou e continuou andando até ficar na calçada e aguardar Hoseok. Sua mãe continuou pedindo para ele dizer alguma coisa, mas ele fingia não escutar. Pouco tempo depois Hoseok chegou, e com muito esforço, conseguiu segurar todas as bolsas e pediu para o amigo o tirar daquele lugar.
Hoseok, sabendo que se Jeongguk não citou nenhum lugar, era porque não tinha pra onde ir, o levou até sua casa, não dando a mínima importância se seus pais iriam se incomodar quando soubessem.
•
Chegando na casa, Hoseok o ajudou com a bolsas, e foram entrando, encontrando só a irmã dele na sala. Ela, sem costume de falar muito, viu o estado dos dois e continuou o que estava fazendo, sem se intrometer. Eles subiram, jogando as bolsas no quarto e Jeongguk, em um momento de rompante, chorou.
Seguiu assim por um longo tempo, chorando desesperadamente sentado na cama de seu amigo. Hoseok sentou ao lado, sem dizer nada. Esperaria ele se acalmar sozinho e dizer o que aconteceu.
— Eu posso fumar? – Perguntou em meio ao choro.
— Fique à vontade.
Jeingguk tirou o cigarro e isqueiro do bolso, ascendeu com dificuldade por conta de sua mão trêmula, e ficou assim, chorando e fumando ao mesmo tempo.
Hoseok detestava o cheiro da fumaça, seu nariz coçava, pessoalmente repugnava. Mas naquele momento, seu incômodo foi empurrado para debaixo do tapete, por Jeongguk sentiria a fumaça de quantos cigarros fossem precisos.
Terminando de fumar o primeiro, Jeongguk levantou e foi até o banheiro do amigo para limpar o rosto e fingir para si mesmo que não chorou por vários minutos seguidos. Voltou forçando um sorriso e ascendendo outro cigarro.
— E então? – Hoseok questionou.
— Fui expulso. – Tragou e soltou a fumaça. — Por ele.
— O que você fez?
— Joguei café na cara dele.
— Estava quente? – Não se surpreendeu com o ato.
— Não. – Tragou o cigarro mais uma vez.
— Uma pena.
— Pois é. – Soltou seu primeiro riso do dia.
— E sua mãe?
— Pediu pra eu ficar, mas foi tão forçado, meio que "é meu filho, tenho que pedir pra ele não ir embora, mas quero que ele vá." Ela insiste que eu fale com ela, mas a real é que ela não dá a mínima.
— Não sei como é isso, e sinto muito por você saber. – Os relatos de Jeongguk sobre sua mãe sempre incomodaram Hoseok.
— É a vida. Eu sei que não posso ficar aqui, mas foi o único lugar que pensei em ficar pra me acalmar e pensar no que fazer.
— Eu sei que meus pais não gostam de você, mas não hesite em vir pra cá ou até mesmo ficar aqui o quanto precisar, eu sou seu melhor amigo.
— Aceita um abraço meu com fedor de cigarro?
— Pode vir, eu prendo a respiração.
Jeongguk se jogou nos braços de Hoseok, praticamente ficando em cima de seu colo. Eles não achavam aquele tipo de contato estranho, não havia malícia, apenas tinham carinho demais um pelo outro e isso ficava explícito em abraços como aquele.
— Eu nunca te vi chorando, Jeon. Isso me assustou. – Disse ainda preso no abraço.
— Eu sou fraco, só não costumo demonstrar.
— Chorar não é fraqueza. – O cutucou na cintura.
— Pra mim qualquer coisa é. – Saiu do abraço, sentando ao lado dele novamente. — Não vou ficar aqui... Não era bem-vindo lá, não quero ficar em outro lugar que também não sou bem-vindo.
— E vai fazer o quê?
— Eu tenho um dinheiro guardado, sempre achei que seria expulso por aquele merda, então me preparei um pouco. Não é o suficiente para comprar uma casa ou sei lá, mas acho que dá pra dividir o apartamento com alguém.
— Você podia falar com Jihoon-hyung, nunca cogitou morar com ele? Ele mora sozinho...
— Sim, mas não queria atrapalhar nem nada, com você eu não ligo muito porque temos mais intimidade, vou atrapalhar você pra sempre. Ele já é outra coisa...
— Nada disso, eu sei que não vai ter problema. Fale com ele, engula esse orgulho. – Seu olhar o repreendia pela teimosia.
— Eu falo depois, mas vamos parar de falar disso, minha cabeça não para de doer.
— Quer dormir?
— Melhor viver no pesadelo do que dormir e ter um. – Pegou outro cigarro, e acabou se recordando da sua conversa com Taehyung. — Você contou pro professor sobre meus pais, não foi?
— Em minha defesa, eu não falei nada demais. – Levantou os braços, em sinal de rendição. — Contei porque queria que ele te entendesse um pouco.
— Ele nunca vai. – Sorriu, sem achar graça alguma daquilo. — Posso ir pra varanda?
— Vai acabar com esse maço, né?
— Vou.
Em outras ocasiões, Hoseok tentaria impedir, mas não naquele momento. Não sabia exatamente como Jeongguk se sentia, mas observando o olhar dele dava para ter uma noção. Dor, era apenas isso que estampava seus olhos.
Nunca o viu chorando, assim como nunca o ouviu desabafar sobre nada. Jeongguk engole seus sentimentos e decide que deve seguir sua vida assim, ignorando todas as rachaduras que há em seu corpo. Hoseok sabia que ele era uma bomba-relógio ambulante, há um limite para a quantidade de dor que alguém consegue suportar, Jeongguk estava próximo da sua linha.
Observando o mundo a fora juntamente com a fumaça que exalava de sua boca, Jeongguk chorou mais um pouco, em silêncio. Encarava a cidade e o mundo à sua frente como um enorme quebra-cabeça, e sua peça não se encaixava em nenhum lugar. Observou os pássaros voando, as crianças correndo pela rua, as folhas das árvores balançando o vento. Jeongguk invejava a liberdade de cada pormenor.
Já desejou ser fumaça, para durar um tempo e sumir, sem deixar resquícios. Mas queria mesmo era ser vento. Calmo, às vezes feroz, imprevisível, completamente livre.
Seul estava fria, como o coração de Jeongguk. Não por não sentir nada, mas porque sentia tudo. Sentia tanto que uma hora o coração adormece, e assim fica em um estado de letargia.
Não estava nos seus planos ser expulso de casa, mesmo que sentisse que poderia acontecer. Por vezes teve que encontrar um novo caminho e improvisar, continuar do jeito que dava, e teria que fazer isso de novo. Trabalhou em "bicos" por muito tempo em sua adolescência, sentia necessidade de ter seu próprio dinheiro e não depender de ninguém. Conciliava com dificuldade os estudos, mas soube se virar, afinal, era o que costumava fazer cotidianamente. Saber se virar.
Enxugou as lágrimas que ainda insistiam em cair pelo seu rosto, pareciam queimar. Não lembrava a última vez que tinha chorado daquele jeito e nem queria lembrar, se esforçaria para esquecer desse dia também, enterraria os dias em que suas emoções falaram mais alto.
Perdido nesses pensamentos, mal notou que passou horas sentado na varanda, até Hoseok lhe chamar.
— Ei! De hoje que te chamo e você não olha. – Parou em sua frente. — Tenho que me arrumar pro trabalho, vai ficar bem sem mim?
— Irei me esforçar!
— Minha irmã disse que meus pais só voltarão à noite, não precisa se preocupar.
— Não estou preocupado.
Hosoek sorriu, um sorriso de pura apreensão. Queria escutar, ao menos uma vez, Jeongguk falar o que sentia.
O deixou sozinho novamente e foi se arrumar, cogitou faltar o trabalho, mas sabia que o amigo precisava de um momento sozinho para absorver a situação. Apenas sem ninguém por perto ele demonstraria como estava se sentindo de verdade.
Saindo do banheiro e se arrumando logo depois, Hoseok decidiu fazer um último pedido a Jeongguk.
— Não faça besteira. Nenhuma, de nenhum tipo.
— Por que tá falando tão sério?
— Você sabe. E tente dormir, você precisa. – Pegou seus pertences e foi embora, deixando o amigo sozinho em seu quarto.
Jeongguk não sabia o que fazer. Não queria pensar, não queria dormir, não queria existir. Procurou outro maço de cigarros na bolsa e viu que acabou, não tinha mais nenhum. Seria questão de tempo até o estresse tomar conta de seus nervos sem nenhuma droga amenizando o efeito.
Tomou a liberdade de ir até a cozinha de Hosoek procurar alguma bebida, mais uma vez Jihyo, a irmã dele, o ignorou. Viu Jeongguk descendo as escadas e decidiu ir para seu quarto, não queria se envolver.
Jeongguk abriu todos os armários, geladeira, e nada encontrou. Não tinha sequer uma bebida barata. Não se considerava viciado em nenhuma droga, nunca experimentou droga ilícita, a bebida e o cigarro eram seus únicos aliados. Tentava maneirar, porém em dias como aquele, não havia como.
Encontrou um licor de marca cara em uma cristaleira, não serviria muito, só o suficiente para deixar seus demônios dormentes. Subiu para o quarto e lembrou de suas bolsas jogadas, avistou seus quadros, já tinha esquecido que eles estavam ali. Pôs um no chão, pegou suas tintas e pincéis, e decidiu pintar alguma coisa.
Tomou, de uma vez só, cinco doses de licor, e seus sentidos ficaram alterados. Jogou tinta preta na tela, depois azul, branco, vermelho. Não sabia o que estava fazendo, suas mãos se moviam por vontade própria, ou o licor movia.
Fez uma bagunça de cores, e sem ao menos notar, uma lágrima caiu na tela. Depois outra. Várias lágrimas caindo. Tomou o outro copo de uma vez, aceitando sua derrota. Estava chorando, sentindo dor, angústia, agonia, e o pior, medo. Jeongguk odiava sentir medo.
Olhando para o caos que pintou, entendeu que representava o que sentia. Sentia o inferno.
O azul se misturou com o vermelho formando violeta. O preto se fundiu ao branco e formou o cinza, e o cinza naquele meio violeta, ou o violeta no meio de todo o cinza, representavam a essência de Jeongguk sendo destruída pouco a pouco.
Não acreditava que pintou uma fraqueza sua, se irritou com isso. Numa fração de segundos, quebrou a tela ao meio, rasgou, jogou no lixo. Alcoolizado não era bem seu estado, desesperado era. Ligou para Jihoon, e por sorte ele estava em casa, não teve aula na faculdade. Pegou suas bolsas, e tropeçando em seus próprios pés, foi andando até a casa dele. Não era perto, mas talvez andar trouxesse sua consciência de volta.
•
Parado na porta de Jihoon, com suas bolsas no chão, Jeongguk hesitou em bater. Não admitia, mas seu orgulho se feria ao estar naquela situação. Ter que pedir abrigo a um amigo porque foi expulso de casa. Lamentável. Cogitou dar meia volta, porém era tarde depois, Jihoon abriu a porta.
— Você esquece que a porta tem um vidro e dá pra ver, né? Entra. – Ajudou a pegar as bolsas e as colocou no sofá.
— Eu... – Inalou fundo, tenso. — Não sei como pedir isso, Hyung...
— Não me considera seu amigo? Sei que Hoseok é seu melhor amigo, mas somos um quarteto, Jeongguk! Somos amigos há anos, me ofende você estar assim pra falar comigo. – Disse demonstrando toda sua chateação.
— Me desculpa... – Se rendeu. — Eu fui expulso de casa, acho que você sabe o porquê. Fiquei na casa do Hobi-hyung, mas os pais dele iriam chegar alguma hora, não queria os ver, não sei o que fazer... – Abaixou seu tom de voz para não deixar tão claro sua vontade de chorar.
Jihoon o abraçou, de repente. O abraçou e o puxou para o sofá, ainda abraçados.
— Você pode ficar aqui. – Acariciou de leve os fios azuis. — Eu cuido de você, Guk.
Por ser o mais velho do grupo, Jihoon tinha um instinto protetor. Ele era o mais responsável, o mais carinhoso, o mais atencioso. Jeongguk sabia que podia confiar nele seja em qualquer situação, só era receoso em pedir ajuda.
— Prometo não ficar muito tempo, só vou dar um jeito de arrumar mais dinheiro. E também não vou ficar aqui de graça, vou te ajudar em qualquer coisa, eu juro... — Disse rápido demais, ainda temoroso.
— Shhh... Não precisa pensar nessas coisas agora. – Puxou o rosto dele para o ver melhor. — Vou preparar algo pra você comer, seu rosto tá pálido.
Levantou do sofá, deitando Jeongguk para ele poder descansar mais e foi até a cozinha preparar o lámen que o amigo tanto amava.
Minutos depois, com o prato em mãos, Jeongguk sentou na mesa com Jihoon para comer e o agradeceu repetidas vezes.
— Por que não foi pra faculdade?
— Só falta entregar o TCC, basicamente... A maioria das minhas disciplinas já acabaram, então tenho ficado mais em casa.
Ele cursava Direito, e Jeongguk o admirava por isso. Não pelo curso em si, mas o quanto Jihoon se dedicava aos estudos. O achava inteligente demais, às vezes tinha vergonha de conversar com ele por isso. Para Jeongguk, ele estava num patamar a mais.
— E sua faculdade? Você não fala muito disso.
— Tô quase terminando o sexto período, já já saio de lá, eu espero. – Deu uma pausa para mastigar e engolir. — Não sou como você.
— Como eu?
— Que ama estudar e ama estar na faculdade.
— Eu amo? – Riu soprado. — Eu gosto de aprender, é diferente. Também tô contando os dias pra sair. – Viu que Jeongguk terminou o prato e puxou a mão dele. — Agora você vai dormir.
— Não, não, tô bem... – Insistiu.
— Não está. – Continuou puxando. — Fique aí no meu quarto, não vou sair de casa, pode ficar tranquilo.
— Hyung...
— Guk, por favor. Está estampado em seu rosto o quanto você chorou, deve estar mais do que cansado.
Jeongguk odiou Jihoon ter notado, mas não podia fazer nada, seus olhos deveriam estar ridiculamente inchados e vermelhos, qualquer um notaria. Entrou no quarto sem dizer mais nada, fechou a porta e desabou na cama.
•
Os pesadelos se fizeram presente, mas devido ao cansaço, Jeongguk os ignorou, já estava acostumado. Foi o pesadelo do escuro e sem saída, sua mente parecia acompanhar seu humor e seu estado de espírito para projetar seus sonhos.
Acordou sem o seu celular por perto, não sabia o horário. Percebeu que estava de noite, abriu a porta e se deparou com o escuro. Andou pela casa e encontrou Jihoon deitado no sofá, de olhos fechados e com o fone de ouvido.
O cutucou de leve, para não o assustar, mas não surtiu efeito, ele ainda levou um susto.
— Não tô acostumado a ter outra pessoa aqui. – Respirou devagar para regular seus batimentos. — E aí? Melhorou?
— Consegui descansar, mas ainda sinto minha mente agitada... Quero fazer alguma coisa.
Jihoon se levantou para ligar as luzes e esperou Jeongguk sugerir algum lugar.
— Você tem algum compromisso agora de noite?
— Não... Quer ir pra onde?
— Não sei, algum bar. – Disse olhando para o nada, distraído.
— Bar? – Riu. — É isso que vai acalmar você?
— Tecnicamente.
— Vai faltar a faculdade?
— Não tô com cabeça pra isso – Procurou seu celular pela sala e o achou. — E mesmo que eu quisesse ir, já tô atrasado. Então... Vai comigo?
— Se formos, acho que só vai ser nós dois. Hoseok não falta na faculdade e o Jongho, bem... Os pais não o deixam sair pra lugares assim.
— Ele é já maior de idade, deveriam parar com isso. – Revirou os olhos.
— Existem pais superprotetores, existem os pais chatos, os legais e existem seus pais, a escória.
— Bem explicado. – Sorriu e foi até em uma bolsa procurar uma roupa para sair. Pegou uma das únicas camisas brancas que tinha, uma calça, e as botas de sempre.
Primeiro, Jeongguk quem usou o banheiro, depois Jihoon, e se vestiram para ir até o bar. No caminho, Jeongguk parou para comprar cigarros, fumar e beber ao mesmo tempo era o significado de êxtase para ele.
Procuraram um bar 24 horas, ainda era cedo para a maioria estar aberto. Encontraram um lugar que parecia ser mais uma casa de show, tinha open bar e uma grande pista de dança com um palco mais a frente. Eles sentaram nos bancos próximos ao bar e ali mesmo ficaram, sem intenção de dançar.
— Tá meio vazio, né? – Jihoon olhou em volta.
— Melhor assim. Mas sei que daqui a pouco começam a chegar, infelizmente. – Pediu o primeiro drink da noite.
Jeongguk e Jihoon eram bons parceiros para beberem juntos e conversarem. Jihoon não costumava beber muito, mas assim como Hoseok, cedia às vontades de Jeongguk.
Depois de uma hora entre conversas, risos, álcool e alguns cigarros de Jeongguk, notaram que o local estava enchendo. Mais pessoas ficaram no bar, e a pista de dança continha um número considerável de gente.
— Que horas são?
— Quase 20h. Quer ir embora? – Jihoon perguntou.
— Claro que não, nem tô bêbado ainda. – Virou mais uma dose.
— Você me prometeu que não ia exagerar! – O lembrou da conversa que tiveram no caminho.
— E eu pedi pra você não pegar muito no meu pé. – O lembrou de volta.
Depois da conversa, Jeongguk começou a beber mais. Pediu doses atrás de doses, alguns drinks eram leves, sem muito teor alcoólico, mas outros eram puro álcool, Jihoon percebeu que ele já estava alcoolizado.
— Ei... – Segurou a mão dele quando Jeongguk ia pedir mais uma dose. — Não precisa disso.
— Preciso. – Encarou o amigo com determinação.
Jihoon abriu mão e deixou ele fazer o que bem entendesse. Não queria ser o amigo chato, porém sabia que aquilo não acabaria bem.
— Vem dançar comigo. – Jeongguk ficou de pé.
— Você odeia dançar.
— Odeio nada. – Riu alto e pegou na mão de Jihoon, o levando até o meio do local.
As músicas eram eletrônicas, não muito boas, mas quem estava alcoolizado não se incomodava com isso. Jeongguk ria alto para qualquer coisa, falava alto, e sua dança era totalmente fora do ritmo. Jihoon achou um pouco de graça disso e tentou se soltar um pouco também para aproveitar o momento.
A dança de Jeongguk ficava cada vez mais frenética, Jihoon não conseguiu acompanhar muito bem, mas se esforçava. Encharcado de suor, Jeongguk avisou que iria pegar uma água e logo retornava.
Ao beber a água, notou que a dança fez o efeito do álcool se dissipar, não gostou disso. Queria ficar dormente, em transe, esquecer seu nome e o porquê de estar ali. Pediu três doses de uma vez e tomou todas antes de voltar a dançar.
Vista embaçada, não conseguia ficar em pé, e por vezes se apoiava em Jihoon para não cair de uma vez.
— Melhor você sentar, Guk.
— Não! – Gritou. — Eu quero continuar, quero cair nesse chão por não aguentar mais!
Jihoon o ignorou totalmente e o levou até o banco. Pela quantidade de bebida ingerida, deixou o amigo sentado para ir ao banheiro.
— Eu vou ali rapidinho, não sai daí, ouviu? – Falou perto do ouvido de Jeongguk.
— Vai lá! – Gritou em resposta.
Jeongguk ficou rindo à toa no banco, vendo as pessoas à sua frente borradas, até distorcidas, achou graça nisso.
De repente, uma mulher sentou ao seu lado, colocando a mão em sua coxa.
— Oi, gatinho. – Se aproximou mais para ser ouvida. — Tá sozinho?
Mesmo bêbado, Jeongguk sentiu aquele toque em sua coxa queimar. Não de um jeito bom.
— Acho que tô... – Respondeu confuso.
— Que bom! – A mulher loira sorriu largo e se aproximou mais e mais, até encostar sua boca no pescoço dele. — Posso ficar um pouquinho com você?
Jeongguk ficou em choque. Estava odiando a situação, repudiando cada toque, mas simplesmente não conseguia a afastar. Ela entendeu o silêncio como consentimento e beijou o pescoço dele, enquanto sua mão continuava na coxa, se aproximando da virilha.
— Para... – Jeongguk pediu com a voz embargada.
— Ah... Por quê? – Continuou.
— Eu não gosto disso... – Fechou os olhos tentando parar a tontura que sentia.
Quando a mulher insistiu com o toque, Jeongguk não aguentou mais, e por impulso, se afastou bruscamente, caindo do banco.
— Sai de perto de mim! – Vociferou.
No mesmo instante, Jihoon voltou do banheiro e se assustou ao ver Jeongguk no chão.
— Guk? O que foi? – O ajudou a se levantar.
— Ela... – Apontou enquanto tremia. — Ela ficou me beijando, tocando em mim... – Chorou. — Me tira daqui, Hyung... Me tira daqui...
Jihoon cogitou ainda brigar com a mulher e a denunciar por assédio, mas Jeongguk estava caindo em seus braços, chorando. Cuidar dele era prioridade.
Apoiou ele em seu ombro, e ao voltar seu olhar para os bancos, a mulher havia sumido. Os seguranças que estavam perto ignoraram a situação, fazendo vista grossa.
Mesmo explodindo de raiva, tentou ignorar por um bem maior e saiu do local, chamando um táxi para eles dois.
•
No quarto, Jihoon tentava acalmar Jeongguk, mas falhava. Ele estava muito alcoolizado, nervoso, mais confuso do que nunca.
— Guk, me escuta, olha pra mim – O segurou para ele parar de se mover. — Antes de tudo, preciso cuidar de você. Você precisa tomar uma água, vou buscar remédio, te jogar numa água gelada, e só depois disso a gente faz alguma coisa, tá?
— Hyung, eu tô me sentindo tão mal – Fungou. — Tão, tão mal. – Abraçou Jihoon.
— Eu imagino, Guk, aquela mulher não tinha direito de tocar em você, sinto muito por não estar perto na hora. – Abraçou Jeongguk de volta, sentindo o peso da culpa. — Você vai querer denunciar?
— Não adianta – Enxugou suas lágrimas na camisa. — Eu nem sei o nome dela... Nem lembro mais do rosto. Ninguém vai levar a sério...
— Vai ficar tudo bem, eu prometo. – Plantou um beijo na têmpora dele e foi atrás das coisas que ele precisava.
Depois de tomar vários copos de água, remédios para aliviar as dores físicas e tomar os remédios, Jeongguk vomitou um pouco no banho, mas já se sentia um pouco melhor.
Voltando a se deitar com Jihoon ao seu lado, sentiu necessidade de desabafar.
— Eu não gosto dessas coisas, sabe, Hyung... – Falou baixo. — Daqueles toques, beijos...
— Ser assediado é algo horrível mesmo, Guk.
— Não só isso... Mesmo que ela não tivesse sido tão... Sei lá, invasiva – Embolou um pouco as palavras pelo álcool ainda presente em sua corrente sanguínea. — Eu não gosto de beijar alguém por beijar, não gosto que me toquem sem me conhecer, sem eu gostar da pessoa, ou nem saber o nome... – Manteve seu olhar perdido em um ponto específico no quarto.
— Não gosta de relações casuais, então?
— Sim... Detesto. Me sinto tão mal, tão... Desconfortável.
Era a primeira vez que Jeongguk se abria sobre esse assunto para alguém, além de Hoseok. Para a maioria, dizia que não gostava de namorar, e que preferia estar sozinho. Não era de todo mentira, mas sempre omitia a parte de ficar desconfortável em beijar desconhecidos, julgava ser algo incomum, já que os jovens faziam isso em festas ou socialmente, porém Jeongguk não compactuava com isso, achava absurdo se envolver fisicamente com alguém sem sentir nada.
— Que bom que você está conversando sobre isso comigo, Guk. – Continuou acariciando o cabelo dele para fazê-lo dormir. — Sei que amanhã vai esquecer, mas agradeço a confiança.
Jeongguk sorriu, apreciando o contato em seu cabelo, e caiu no sono, completamente exausto.
•
Assim que amanheceu e Jeongguk despertou, Jihoon apareceu no quarto, o chamando para ir no hospital.
— Não tô tão ruim, Hyung... – Disse com os olhos fechados, querendo voltar a dormir.
— Você não foi ontem pro trabalho e não vai hoje, tem que pegar um atestado. – Colocou uma roupa limpa que achou na bolsa de Jeongguk próximo a ele na cama. — Vista, eu te levo lá.
Jeongguk não tinha argumentos para ir contra, então se arrumou lentamente, ainda zonzo e muito enjoado.
No hospital, soro e outros dois remédios foram colocados em sua veia e a melhora foi quase imediata. Jeongguk estava desidratado, com dor de barriga, dor de cabeça, e ao sair do hospital, se sentia mais leve. A médica informou que ele deveria tirar o resto do dia para descansar e tomar muita água, e foi o que Jihoon fez. Proibiu Jeongguk de sair da cama, com exceção das idas ao banheiro, e deixou garrafas de água ao lado dele para ele beber todas. Jeongguk poderia mentir e dizer que não gostava de ser paparicado, porém adorava aquele tratamento, o lembrava de sua infância, de como seu pai cuidava dele.
Anoitecendo, se recusou a faltar mais um dia na faculdade. Estava se sentindo bem o suficiente para sair, perderia muita coisa faltando dois dias seguidos, muita matéria acumulada.
Hoseok o buscou de moto, e logo estavam na faculdade, com Hoseok insistindo em dizer que Jeongguk deveria ter ficado em casa.
— Sua cara tá muito ruim, Guk! Tá com cara de doente.
— Eu já tô melhor! As dores passaram, o enjoo que tá sendo mais insistente, mas vai passar.
— Quando vi aquela garrafa jogada no meu quarto e as marcas de tinta pelo chão tive uma noção do seu estado. Só não falei nada porque você foi até o Jihoon-hyung, inclusive ele deve tá te tratando como o bebê dele, né? – Zombou.
— Você deveria aprender a ser mais cuidadoso como ele, seria um amigo melhor. – Deu língua.
— Tá, linguarudo, vamos pra sala? – Se levantou do chão, onde estavam sentados conversando.
— Vou já, tenho que encher a garrafa. – Se dirigiu até o andar debaixo, indo para o bebedouro.
Terminando de encher, se virou para subir as escadas, e bateu de frente com Kim Taehyung.
— D-desculpa... – Reparou em quem tinha esbarrado. — Ah, senhor Taehyung. – Seu tom de voz foi indiferente.
— Está doente? – Notou as olheiras profundas e sua boca sem cor alguma.
— Isso é relevante para o senhor?
— Você quem determina o que é ou não relevante para mim? – Estreitou seus olhos.
— Isso se encaixa no "não se envolva na minha vida", mas pra sanar sua curiosidade, tô só cansado. Tenho que me cuidar pra não roncar na sua aula. – Deu um sorriso irônico e virou as costas, continuando a subir as escadas.
A aula foi tranquila, Jeongguk lutou contra o sono, tentou manter o foco e não desviar a atenção, estava determinado a ser um aluno melhor em todas as aulas, sem exceção. Decidiu que nunca mais um professor falaria com ele como Taehyung falou.
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O final de semana foi monótono, Jeongguk estava melhor, mas algumas memórias da noite desastrosa no bar retornaram, e ele se lembrou da mulher. Jihoon respeitou o silêncio dele e prometeu não contar para Hoseok e Jongho, não queria os preocupar.
No domingo, o quarteto se reuniu. Hoseok e Jongho não sabiam por que Jeongguk estava para baixo, mas queriam animá-lo. O dia foi reservado para tentativas falhas de pratos especiais na cozinha com a maioria queimando, e filmes de terror - gênero favorito de Jeongguk - para distrair a atenção dele o máximo possível.
Jeongguk era grato pelos amigos que tinha e gostava de deixar isso claro, agradecia o apoio constante deles em qualquer situação ruim em sua vida. Jeongguk podia não se abrir, não falar o suficiente, não demonstrar o suficiente, mas eles estavam lá por ele. E ele sempre estaria lá por eles também.
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A segunda-feira chegou e só significava uma coisa para Jeongguk: aula de Desenho digital. Aula de Kim Taehyung.
Voltou a trabalhar normalmente, agradeceu aos céus por não ter nenhum estresse com os turistas que apareceram por lá, e ao largar, foi para casa de Jihoon.
Ficaria sozinho aquele dia, pois seu amigo precisava sair para fazer pesquisas acerca do seu TCC. Jeongguk aproveitou a tarde para pintar alguma coisa, mas notou que pela primeira vez, nada vinha a sua mente. Nem a bagunça, nem seus sentimentos conturbados. Nada. Sua inspiração se esvaiu por inteira, e não era para menos.
Focou em colocar as matérias da faculdade em dia, passou a tarde fazendo trabalhos e anotando os assuntos que perdeu nos dias que faltou. Hoseok se ofereceu mais uma vez para levá-lo até a faculdade, e Jeongguk com certeza não negaria. Além de ser uma ótima carona, era seu melhor amigo. Gostava de ficar perto dele.
Jeongguk ignorou do jeito que pôde a presença de Taehyung. Acompanhou a aula, mas não o encarava, por vezes ficou com a cabeça abaixada só o escutando, não queria o olhar nos olhos.
Em determinado momento, Taehyung passou uma atividade em dupla, e prontamente Hoseok arrastou sua cadeira para ficar ao lado de Jeongguk. Já que a aula era teórica, precisariam ler páginas e páginas sobre técnicas de desenho, resumir de uma forma explicativa para poder aplicar na aula prática.
No final, quando terminaram seus resumos, Taehyung chamou atenção de todos os alunos para dar um aviso.
— Então, turma, eu sou professor do primeiro período noturno também, ensino História da Arte. Vocês devem ter ciência de algumas bolsas aqui na faculdade para a monitoria de determinadas disciplinas, e essa disciplina está inclusa. Eu ensino só essas duas turmas, eles e vocês, e essa é uma turma do sexto período, a experiência que já adquiriram pode ser de muita ajuda agora. – Pegou alguns papéis e pediu para um aluno distribuir pela sala. — Nesta folha diz o assunto que estará na prova que vou realizar para ter um monitor ou monitora. Gostaria de que todos tivessem a chance, mas é uma bolsa remunerada, só um aluno poderá ser escolhido.
Os burburinhos começaram automaticamente, era uma chance única de trabalhar com algo de sua especialização para adquirir experiência, além do estágio.
— Professor. – Um aluno interrompeu o barulho da sala. — Não entendi o assunto da prova...
— Eu não sou muito a favor das provas tradicionais, múltipla escolha ou algo do tipo. Gosto de provas orais, sinto que o aluno consegue se expressar melhor dessa forma, e também sou capaz de julgar melhor assim. O assunto é óbvio, História da Arte, vocês devem saber que é um assunto vasto, especialmente por isso será oral. Não irei determinar um tópico específico, quero saber todos os conhecimentos que vocês têm sem delimitações.
Isso era o suficiente para metade da turma desistir. Poucos arriscariam fazer uma prova oral, e a porcentagem seria muito menor para uma prova oral com Taehyung sendo o avaliador.
— Cada candidato ficará comigo em uma sala, irei fazer algumas perguntas, e o meu método de avaliação é simples: quem demonstrar mais espontaneidade, mais domínio do assunto e uma fala fluida, sem parecer que decorou um texto para conseguir explicar, será escolhido. Posso parecer exigente, mas o monitor é como um segundo professor, terá contato direto com a turma, irá me auxiliar em provas, planejamento de aulas, até me substituir caso for necessário. Preciso de alguém preparado. E detalhe, qualquer aluno pode participar, seja bolsista ou não, todos têm a mesma chance. – No mesmo instante, encarou Jeongguk, e o aluno olhou para o lado, fingindo que não notou.
Com isso, Taehyung encerrou seu aviso, e os alunos continuaram a conversar, perguntando um ao outro quem teria coragem de fazer a prova.
— Você tem que fazer! – Hoseok começou a falar. — É a chance perfeita, você gosta do assunto, é uma bolsa remunerada!
— Hyung, eu não vou ser monitor dele.
— É uma bolsa remunerada!!! – Reforçou, com animação na voz.
— Hobi-hyung... – Disse impaciente.
— Jeongguk, dê um jeito de engolir esse orgulho enorme e faça essa prova. Você precisa de dinheiro, dias atrás disse pra gente que procuraria um jeito de ganhar mais pra conseguir morar sozinho, tem chance melhor que essa?
— Vai bater com meu horário no Museu. – Disse a primeira desculpa que conseguiu lembrar.
— É de noite! Não sei o dia da aula, mas monitores são dispensados das disciplinas pra poder trabalhar, fora que a gente tá cheio de horário disponível, só tá tendo uma aula por dia praticamente!
— Você não desiste mesmo. – Esfregou seu rosto, agoniado.
— Vai!!! Você vai se arrepender se não for, eu sei!
— Tá! – Respondeu ríspido. — Mas duvido que eu passe.
Hoseok sorriu vitorioso e voltou a olhar para Taehyung, que parecia querer falar mais alguma coisa.
— Me desculpem a desatenção, preciso saber quantos candidatos vão ser para poder marcar o dia. Quem estiver interessado, por favor, levante a mão.
Jeongguk levantou a mão a contragosto, e olhando ao redor, viu que era a única pessoa com a mão levantada.
— Oh... – Taehyung disse surpreso. — Nos vemos depois da aula na quarta-feira, Jeon Jeongguk.
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