27) alumbramento
QUE SAUDADE DE VOCÊS 😭
eu já vou avisando que esse capítulo tá cheio de emoções, ok? e mais uma vez vou deixar o aviso ⚠️ pois vai ter a menção ao abuso de novo.
vai ter uma poesia, e sim, eu que escrevi 🥺 espero que vocês gostem, tô muito muito nervosa
quero ver a teoria de vocês no final hehe
usem a tag #PaletasePoesiasTK no tt por favoorrrr, e deixem o votinho!
boa leitura! 💙
Jeongguk tinha tanto guardado. Tanto. Não só emoções, mas também memórias. A cada soco distribuído na face do seu padrasto, uma memória vinha à tona.
Não batia com muita força na maior parte do tempo, estava mais chorando do que fazendo questão que seus punhos estivessem bem cerrados e o acertando bem. Taehyung tentou o puxar diversas vezes, porém Jeongguk não estava ali, não estava ouvindo, não estava sentindo o mundo. Estava sentindo seu interior.
Seu padrasto, pela surpresa, não reagiu nos primeiros minutos. Nunca esperou que Jeongguk o atacasse daquela forma, não esperava que ele tivesse coragem ou atitude.
E como um choque de realidade, Jeongguk parou de bater. Olhou bem para o rosto de seu padrasto e se recordou de tudo. Não havia choque pior.
Suas mãos começaram a tremer, seu corpo inteiro quis ceder. Como podia ter esquecido? Não sabia os segredos da mente, e talvez nunca quisesse saber, isso o assustava.
Taehyung finalmente conseguiu o segurar, e o abraçou forte, percebendo que Jeongguk estava sem reação, sem expressão ou força para se manter em pé. Com ódio em seu olhar e sua voz, ainda segurando Jeongguk, falou com o padrasto dele.
— Eu sei o que você fez com ele. – Sua voz saiu mais ameaçadora do que o planejado. — Eu sei que há mais do que ele me contou, e eu juro por Deus, ou por qualquer entidade que exista, saia daqui antes que eu continue o que ele estava fazendo. Eu não sei se poderei enfiar você dentro das grades, mas você vai pagar pelo que fez.
— Ele não tem prova alguma. – Dakho respondeu depois de um tempo em silêncio, se levantando do chão e enxugando o sangue em seu rosto. — Como você sabe o que eu fiz? Não há como saber.
— A prova é a reação dele de frente para o próprio abusador, seu imundo! – Cuspiu as palavras com nojo. — Não se faça de idiota. Eu já disse, suma daqui. Eu posso não ter a mesma força de Jeongguk, mas há uma diferença entre nós… – Encarou Dakho. — ele parou, eu não pararia.
Dakho captou bem a ameaça, e aos tropeços, foi embora.
Taehyung queria ir atrás dele, só os céus sabiam o quanto ele queria destruir aquele homem de alguma forma. Mas ter Jeongguk em seus braços, precisando de sua ajuda, era bem mais importante.
O carregou para dentro de casa, e parecia que ele dormia de olhos abertos.
Foi em busca de algum remédio ou bandagem para cuidar das mãos dele, e achou no banheiro tudo o que precisava. Durante todo o processo, Jeongguk continuou sem reação, deixando Taehyung fazer o que bem entendesse, não falou nada em nenhum minuto.
Terminando de cuidar dos machucados da mão, Taehyung o colocou em seu colo, de frente para o seu corpo. Uma perna de cada lado, o deixando encaixado, conectado. Deixou que a cabeça dele ficasse encostada entre seu ombro e seu pescoço, e mais do que nunca, torceu para seu cheiro o acalmar de alguma forma.
— Eu estou aqui… – Sussurrava baixinho para Jeongguk. — Você não está sozinho.
Depois de um tempo, sentiu as lágrimas dele molhando seu pescoço. Jeongguk tentava conter o choro, mas saía sem sua permissão.
— Ei, meu amor. – Taehyung chamou alto dessa vez, para Jeongguk escutar. O choro se intensificou, isso o preocupou. — O que eu posso fazer? Me diz…
Segurava o corpo dele como uma joia valiosa, e para Taehyung, era mesmo.
Fazia carinho no cabelo dele, o abraçava forte para ele lembrar que estava protegido.
— Eu lembrei… eu lembrei. – Com a voz quebrada, foi tudo que Jeongguk disse. — Tae… – Reagiu, o abraçando de volta. — Eu lembrei de tudo.
— Ele não vai encostar em você, meu amor… ninguém vai fazer isso, eu prometo.
— Promete? – Olhou para Taehyung com seus olhos cheios de lágrimas.
— Com todo meu coração.
Mais um tempo em silêncio, Taehyung sentiu o corpo de Jeongguk relaxar. Ele estava terrivelmente tenso, quase petrificado em seus braços. O corpo cedeu, completamente mole por cima de Taehyung, como gelatina.
— Se você quiser falar, está tudo bem… se não, está tudo bem também. — Achou bom assegurar isso. — Não se force a nada, My Sweetie.
A cabeça de Jeongguk doeu, doeu de verdade. Como se lembrar de todas aquelas coisas lhe causasse uma dor física intensa, e realmente causavam.
— Eu confio em você. – Jeongguk confessou.
Pelo modo que ele respirou fundo, tenso, Taehyung soube que ele começaria a falar, então só esperou o tempo dele.
— Ele… nunca chegou a me tocar, porque eu sempre corria, sempre me escondia.
Os pesadelos do escuro, do banheiro.
— Eu não sabia o que ele ia fazer, mas sabia que não seria algo bom, não depois do que vi aquele dia que te falei… ele começou a fazer aquilo todos os dias, todas as vezes que minha mãe saía. Eu tentava sair também, e ele não deixava, trancava a porta e escondia a chave. Quando eu não descia, ele subia as escadas e ia pro meu quarto. Ele dizia: "não tenha medo, garoto. Eu só estou me divertindo."
Se divertindo. Taehyung se arrependeu de não ter batido nele como queria minutos atrás.
— Ele ficava assim o tempo todo, eu não entendia… por que ele ficava? O que era tão bom assim? Ele falava coisas nojentas, coisas que se eu falar em voz alta, vou acabar vomitando. Mas sempre falava do meu corpo, de mim. E eu comecei a reagir um pouco, empurrei ele algumas vezes, me escondia. Eu me tranquei no banheiro inúmeras vezes, e ele ficava lá, batendo na porta, gritando…
Seus pesadelos mais frequentes, pois foi o que mais enfrentou.
— Eu não tive coragem de falar pra minha mãe ou ninguém, eu me sentia tão errado, mesmo sabendo que não tinha culpa… ele me olhava de uma maneira nojenta, quase que dizendo que eu provocava, que isso tava acontecendo por causa de mim. Isso durou dois anos, não acontecia todos os dias, mas sempre voltava a acontecer. Até eu ficar mais velho, e acho que pra ele fiquei mais forte, poderia tentar fazer alguma coisa de volta, reagir. Então ele parou… fingiu que nada aconteceu, simplesmente.
Taehyung digeriu, e pensou que poderia nunca digerir completamente. Mas fez o seu possível, absorvendo cada palavra que Jeongguk disse. Controlou sua raiva, mais uma vez, e continuou fazendo carinho nele.
— Obrigado por me contar, meu amor.
— Gosto que me chame assim… – Se encolheu mais nos braços dele. — Meu amor.
O silêncio era tão agradável para eles. Tudo o que importava era o contato, era a troca de carinho e de confiança. Gostavam dos momentos em que nada podia ser ouvido, só suas respirações.
— Sabe… – Jeongguk voltou a falar. — Quando Jimin me explicou sobre o que é ser demissexual, eu pensei que era por isso, pensei que não me sentia confortável com a maioria das pessoas por causa dele. Espalham muito por aí que pessoas como eu e o Jimin só somos traumatizados, sabia? Prestei atenção nisso recentemente, gostam muito de dizer o que não sabem. Mas não, não é… eu sempre fui assim, eu não era como os garotos da minha idade, que saíam dando beijinhos nas meninas e espalhando isso pela cidade, eu não fui um pré-adolescente cheio de hormônios incontroláveis, eu sempre me achei normal demais… ou no que as pessoas viam, estranho demais.
— Você é demais para qualquer pessoa, My Sweetie. Eu tive sorte de você ter deixado eu me aproximar, de conhecer você, de saber como você é único. Você é mais do que um trauma, ou traumas que já teve na vida, mais do que qualquer problema. Você constantemente se supera e nem percebe isso. Você é meu amor… e um homem corajoso demais.
Jeongguk precisou beijar Taehyung. Mesmo que desajeitado, cheio de lágrimas, precisava. Não foi um beijo profundo, foi um beijo em forma de declaração, como todos os outros.
Era tão fácil amar Taehyung.
Sentiu na ponta da língua as palavras, e mais uma vez não disse. Não que precisasse dizer para Taehyung saber. E ele disse de volta, beijando sua testa escondida pelos fios azuis.
— Eu não quero dormir sozinho essa noite… – Jeongguk segredou.
— Quer que eu durma aqui?
— Não… eu prefiro seu quarto.
— Por quê?
— Tudo nele tem seu cheiro… eu amo seu cheiro. – Encarou Taehyung. — Eu amo… tanto.
Era mais fácil ainda para Taehyung amar Jeongguk. O jeito que ele se expressava, os olhos aumentando de tamanho quando ele se animava ou queria dizer algo importante, o quanto ele não gostava de falar, mas quando se sentia confortável, falava melhor do que ninguém. Os pensamentos únicos, o jeito impulsivo, era lindo.
Ficava tão feliz ao ver ele se soltando, dando pequenos passos. Se sentia honrado em ter a confiança dele. Em ter o amor dele.
Jeongguk foi arrumar suas coisas na bolsa para poder dormir fora e ir trabalhar no dia seguinte, aproveitando para avisar Jihoon que não estaria em casa quando ele chegasse. Provavelmente ele estaria passando a noite com Seokjin em algum lugar, e isso o deixava feliz.
Não queria, mas Jeongguk sabia que seria uma noite difícil. Foi fácil falar com Taehyung, desabafar, porém deitar e dormir era algo completamente diferente. Ao fechar os olhos, precisava se encarar mais uma vez.
Para ser mais suportável, preferiu dormir nos braços de Taehyung.
•
No decorrer da noite, Jeongguk se remexeu na cama, inquieto. Taehyung despertava e via que nitidamente ele estava tendo algum pesadelo, e isso machucava seu coração. Não sabia se devia acordá-lo, entretanto, como reação, preferiu o acordar. Passaram uma parte da madrugada conversando sob a luz do abajur.
— Eu queria ajudá-lo a dormir, Sweetie… – Taehyung disse, apoiando a mão na testa de Jeongguk. — Você parece tão cansado, quero que fique melhor.
— Eu dormi bem quando você recitou aquele soneto... – Jeongguk recordou, sonolento.
— Um soneto não seria suficiente hoje… quer escutar uma poesia minha?
— Você vai me mostrar o que escreve? – O rosto de Jeongguk se iluminou.
— Nenhuma que eu tenha guardado é boa o suficiente, quero fazer uma agora.
Jeongguk poderia jurar que as batidas de seu coração ficaram descontroladas.
Taehyung não ficou diferente.
— Não quero fazer uma rima, só quero expor meus sentimentos… quero expor o que sinto. – Se aproximou mais de Jeongguk, olhando bem para o rosto dele.
— Eu irei amar qualquer coisa que você disser.
Taehyung sorriu com a confissão tão sincera, e não parou de olhar Jeongguk. Se manteve assim, olhando em silêncio por um tempo, como se captasse a poesia em cada traço de Jeongguk.
— Tudo que vem de você é poesia.
Não me sinto poeta, me sinto amador
Um mero amador incapaz de traduzir em palavras tão limitadas
Cada sentimento que você tem o poder de me causar.
Eu sou um apreciador, um entusiasta de cada mínimo pedaço seu. Um amador, que ama, que é amante de todo e qualquer ato seu.
Seus olhos, tão escuros, refletem o que há de mais bonito em você. Seus sorrisos, seja o tímido, o espontâneo, ou o de mil intenções escondidas, carregam uma mistura deliciosa do veneno letal, e alma inofensiva.
Você é cheio de nuances, repleto de tonalidades diferentes, brilha em cada forma de cor, em cada parte de seu corpo, o corpo que dá vida e sentido à palavra "belo".
Por isso que, para você, não sou poeta, serei sempre amador. Perderei as palavras, o ar, a razão, toda vez que te olhar.
E eu posso perder todos os sentidos
Porque sei que ganharei todos de volta ao te tocar.
Para os outros, sou poeta.
Para você, sou seu.
Taehyung recitou de olhos fechados. Não sabia o que iria falar, mas sabia que seria intenso, sabia que ficaria um pouco envergonhado em ver a reação de Jeongguk.
Não foi em inglês, foi na língua de Jeongguk, para ele entender cada palavra sem dúvidas.
Falar em forma de poesia o deixava extasiado. Parecia que um peso enorme de seu coração era retirado, que sua alma estava tendo voz e se fazendo ser ouvida. Era como um pedaço seu fora de seu corpo. E entregou essa parte para Jeongguk.
Sua respiração ficou pesada, apesar do corpo estar leve. Abriu os olhos com aflição, e encontrou o próprio universo lhe encarando de volta.
Jeongguk chorava.
Não um choro triste.
Sua boca ficou aberta enquanto Taehyung falava, tamanho deslumbramento. Sua mente parecia ter dado um nó, não conseguia formular nenhuma frase coerente. Era impossível descrever cada reação de seu corpo à cada palavra proferida. Sentiu um tremor, uma onda infinita de sensações boas, eletrizantes. Sentiu amor. Sentiu que, possivelmente, Taehyung era bom demais para ser real. E por isso, se sentiu infinitamente sortudo.
Já que as palavras não saíam, deixou seu corpo falar. Sua mão direita parou no cabelo de Taehyung, a esquerda no rosto. Levantou da posição em que estava para ficar em cima do corpo dele.
Estava tão ofegante que mal se reconhecia. Ofegante pelo próprio sentimento. Por estar próximo, pôde sentir o coração de Taehyung batendo rápido, e sorriu. O seu batia igual.
Queria beijar Taehyung, e beijou. Não beijar os lábios, um contato entre bocas, não era nada disso. Queria beijar ele.
Foi a vez da sua boca agir sozinha e ser guiada pela vontade.
Afastou o cabelo de Taehyung da testa, e começou a beijar. Passou seus lábios por todo o rosto dele, cada parte, cada detalhe. A boca se movia com tanta leveza, entreaberta, provando o gosto do que tanto desejava.
Fez o mesmo no pescoço, se demorando mais na região por causa do cheiro. Queria colar seu corpo no de Taehyung, queria que ele soubesse exatamente o que seu corpo estava sentindo, queria passar sua reação para ele.
— Eu entendo porque é você… – Jeongguk disse ainda com o rosto no pescoço de Taehyung. — Entendo porque sinto tudo isso por você. Ninguém pegou minha dor e a transformou em arte, era só lamento e frustração. Você vê cada falha minha, cada trauma, cada medo, e ainda consegue ver além, ver coisas que não vejo. O que não tem sentido, você faz ter. Eu acredito que algo mais íntimo que o sexo, mais do que qualquer contato físico, é o que eu tô fazendo agora, é o que você fez agora. Não há ninguém como você… ninguém com seu talento, ninguém com seu coração. E você é meu. E eu… – Voltou seus olhos para o rosto de Taehyung. — sou seu.
Por consequência, Taehyung inverteu a posição, deixando Jeongguk abaixo de si. O beijou, e beijou, beijou com a mesma intensidade que recitou a poesia.
Para ter sua declaração completa, subiu a camisa de Jeongguk, e beijou a tatuagem no peito esquerdo. I am art. Desde que viu a primeira vez quis beijar.
Descendo um pouco mais, chegou na outra tatuagem. art is not what I create, what I create is chaos. Bem posicionada na linha do quadril, Taehyung a cobriu de beijos.
Ambos estavam ofegantes.
Como Jeongguk revelou, aquilo era mais íntimo do que sexo. Era estar com a alma nua na frente de outra pessoa, era entregar e receber o que se tinha de mais valioso.
— Você merece todas as poesias do mundo. – Taehyung falou, voltando a se deitar ao lado de Jeongguk.
— Nunca pare de criar… nunca pare de escrever, seria uma perda enorme não ter mais suas palavras…
— Eu tenho uma fonte inesgotável de inspiração bem ao meu lado, não irei parar, Sweetie. – Não conteve o sorriso pelo elogio, corando enquanto falava.
— Me abraça pra dormir? – E lá estavam os olhos pidões.
— Vai conseguir adormecer, blue? – Encostou seu corpo no dele, o abraçando por trás.
— No momento, me sinto extasiado demais… vou sim.
Não restaram muitas horas de sono, porém Jeongguk dormiu tranquilamente, e Taehyung também.
Jeongguk não sentia menos dor, mas não sentia apenas isso. Sentia tudo, e deveria sentir tudo. A dor não precisa ser um tormento, precisa ser enfrentada.
E seus pequenos passos se direcionavam para isso, já conseguia enfrentar o que tanto doía.
•
Se fosse por Jeongguk, acordaria todos os dias ao lado de Taehyung.
Ambos ficavam com manha para se levantar, misturando beijos castos e abraços apertados. Jeongguk não queria sair do quarto, não queria sair da casa de Taehyung. Ao sair, precisaria lidar com sua vida pessoal, e apesar de estar lidando bem com suas lembranças e a agressão que aconteceu, não queria voltar para essa realidade.
Estava cansado, muito cansado de tudo que envolvia sua família. Queria esquecer da existência deles, sabia que só teria dores de cabeça, não queria se desgastar. Por um tempo, acreditou que denunciar seu padrasto lhe traria paz, mas quando conheceu mais do mundo, mais desses casos, e como a maioria das denúncias nunca levam a nada, e você ainda fica passível de ter que lidar com pessoas que não acreditam na sua história, Jeongguk desanimou.
Essa foi a conversa que teve no café da manhã com Taehyung.
Explicou seu ponto de vista, explicou como estava cansado de tudo, e era melhor deixar no passado, e focar em seu tratamento para melhorar.
— Eu entendo o seu lado, My Sweetie. Só fico preocupado com você… e ainda não aceito que ele fique impune.
— Continuar com isso significa ter mais contato com ele, seja indireto ou não, e eu não quero… só quero que ele suma, e minha mãe também. A única coisa que me deixa triste é não voltar pra aquela casa, tem tanto do meu pai ali… mas uma hora passa, vai ficar tudo bem!
Jeongguk estava muito positivo, e isso alegrava Taehyung. Era possível ver as marcas ao redor dos seus olhos pela noite mal dormida e o choro que teve, porém ele estava bem melhor, resgatando sua confiança.
Sobre a casa, Taehyung não esqueceria esse detalhe. Tinha planos de conversar com Yoongi sobre isso.
•
Após mais beijos trocados com Taehyung, Jeongguk foi para seu trabalho. Namjoon entrou em contato com ele quando soube do atestado, dizendo que ele poderia ficar em casa a semana toda, Jeongguk sabia que Eunbi tinha dito alguma coisa para seu chefe.
Aceitou ficar em casa na quinta, mas queria se distrair, então mesmo sendo o último dia da semana para ir, foi.
Eunbi o recepcionou com olhos arregalados e preocupados.
— Jeongguk-ssi! Por que tá aqui? Era pra tá descansando! – Exclamou brava.
— Não queria fazer nada o dia todo… eu gosto de trabalhar.
— Teimoso! – Formou um bico em seus lábios. — Eu tava tão, tão preocupada com você… posso te abraçar?
— Oh… – Jeongguk estranhou ela pedir permissão antes. — Pode sim.
Não foi como os abraços de sempre, foi mais cuidadoso. Eunbi não deu pulinhos, abraçou Jeongguk com força, com preocupação. Pensou nele a semana inteira, não conseguia esquecer a cena que presenciou, as coisas que escutou no dia do aniversário.
— Você tá bem? Tipo, bem mesmo… não mente pra mim! E meu Deus, suas mãos estão machucadas, o que é isso?! – Perguntou assustada.
— Nada, não se preocupe… – Sorriu com a agitação dela. — Eu tô bem, Taehyung cuidou de mim de ontem para hoje, e Jihoon-hyung fez muito também.
— Se não fosse pelo Jongho, eu ia saber nada de você! – Jeongguk entendeu a indignação dela, afinal, não tinha respondido as mensagens que ela mandou.
— Fiquei meio afastado do celular, desculpe. E você e o Jongho, hum? – Deu um sorriso ladino.
— Ei! – Corou. — Ele é um bom amigo, ok? Muito gentil…
— Já chamou ele pra sair?
— Não! Tô com medo de estragar tudo. – Desabafou. — Ele é diferente dos outros caras que já gostei… não quero estragar as coisas…
— Sabia que eu não via ele conversar com alguém daquela forma há anos? Ele sempre fala só com a gente, não gosta de conhecer pessoas novas. Eu acho que ele gostou de você também, não fique com medo.
O rosto de Eunbi se avivou.
— Mesmo?! Então vou esperar um pouco… não vou apressar nada, não é, Jeongguk-ssi? Tô aprendendo a ser paciente, olha!
Ela falava em tom de brincadeira, mas Jeongguk percebeu que tinha um fundo de verdade. Eunbi estava agindo bem diferente com Jongho, mesmo que não soubesse como estava a situação deles nos últimos dias, notava que a garota falava de uma forma diferente, mais séria, mais decidida.
Sorrindo orgulhoso, a abraçou de novo. Via no olhar dela o quanto ela realmente estava preocupada com sua situação, e o quanto ela se esforçou para não perguntar nada sobre. Imaginou que assim que chegasse no museu, ela pediria detalhes, algum esclarecimento, mas não, ela só perguntou se estava tudo bem. Uma linda paleta amarela mesmo.
Sendo assim, conversaram assuntos aleatórios até o primeiro grupo de visitantes se formar na entrada do museu. Eunbi os recepcionou com seu carisma de sempre, e Jeongguk se preparou para a apresentação.
Após mostrar a maioria dos quadros, Jeongguk costumava escolher um em especial para encerrar sua apresentação, um que fosse mais diferente, mais interessante.
— Esse quadro chama-se A persistência da memória, do surrealista Salvador Dalí. Uma obra de 1931, e como podem ver, é um quadro bem pequeno, com proporções de 24 x 33 cm. É óleo sobre tela, e por mais que não seja o quadro original, segue sendo uma réplica fiel. Vocês já ouviram alguma história sobre a pintura?
— Eu pesquisei uma vez e achei que ele pintou o quadro em apenas cinco horas, porque recusou um passeio e ficou em casa. É verdade? – Um rapaz perguntou.
— Sim! Em menos de cinco horas, na verdade. E somente nesse tempo ele criou uma das maiores obras da história. – Jeongguk respondeu sorrindo. — Vocês conhecem o Surrealismo? Como eles gostam de retratar os sonhos, o inconsciente, bem relacionado ao mundo psíquico.
A maioria acenou positivamente.
— Então, foi o que ele fez aqui. Os famosos relógios derretidos mostram essa ideia do tempo materializado, mostrando que ele passa sem poder ser controlado. Há outros elementos na pintura relacionados à vida pessoal do artista, como a paisagem de fundo e esse galho seco. Os insetos nos relógios, como as formigas, passa a ideia de apodrecimento, o tempo é devorado por elas. E no outro relógio, que tem uma mosca pousada, é sobre a passagem subjetiva do tempo, bem aquilo de "o tempo voa."
— E aquela figura deitada ali no canto? – Foi a vez de uma moça perguntar.
— Ah, é a própria representação de Dalí. É como um rosto disforme, mas é possível ver cílios grandes, uma língua, nariz. Salvador Dalí se pintou dormindo, mais uma vez mostrando isso do sonho que existe no Surrealismo. Basicamente mostra que nossa mente comanda tudo.
Os visitantes continuaram a admirar o quadro e agradeceram a explicação.
Jeongguk aproveitou para também admirar, e refletir sobre, interpretando a obra ao seu modo. A persistência da memória, a persistência em um tempo que já passou, um tempo que não vai voltar. A realidade de que os minutos e horas não param de passar. Jeongguk não podia ficar preso às memórias, elas faziam parte de uma versão antiga sua, não precisava se castigar por isso, precisava apenas continuar.
Encerrando seu turno, sentia-se ainda melhor. Sabia que ir trabalhar o faria bem, estar em contato direto com a arte era sua própria terapia. E falando em terapia, não via a hora de se consultar novamente e contar de seus novos passos dados.
Estava bem, mas ainda queria continuar a se distrair. Por isso chamou Eunbi para sair, e aproveitou para perguntar sobre tudo que aconteceu entre ela e Jongho durante a semana, sabia que a deixava feliz contar, era contagiante.
É, Jeongguk não deveria mesmo persistir em suas memórias, deveria fazer novas, e era o que estava fazendo.
Sua memória favorita seria o momento que teve noite passada, ouvindo a poesia de Taehyung. Eles não conversaram sobre isso quando acordaram, entretanto sentiam algo diferente, mais um passo para a intimidade que tinham. Jeongguk só queria guardar momentos preciosos.
•
Taehyung pegou a carta que Jeongguk recebeu. Não pegou sem consentimento, pediu para Jeongguk dizendo que queria ler novamente para entender quem poderia ser.
Jeongguk não apoiava muito a ideia de descobrir quem era, assim como o assunto sobre seu padrasto, preferia deixar de lado. Mas com a teimosia de Taehyung, cedeu.
Antes de ir para a faculdade, Taehyung buscou o envelope e foi dar sua aula. Não iria para a turma do primeiro período ou do sexto, que era a turma de Jeongguk. Precisava resolver alguns assuntos, e aproveitou para aplicar a prova da moça que o procurou dizendo que faltou a avaliação.
Desde que ela o contatou, Taehyung não conseguiu esquecer. Esperou a primeira brecha para poder aplicar a prova o mais rápido possível, e conseguiu.
— Boa noite, professor! – A aluna o aguardava na recepção, e Taehyung percebeu que ela estava ansiosa.
— Boa noite! Está pronta?
— Um pouco nervosa… – Riu. — Mas tô sim.
Não queria sorrir para ela, mas querendo ser solidário, Taehyung sorriu.
Foram juntos para a sala, e por ter sido somente ela que perdeu a prova, estavam a sós.
Taehyung foi direto, não prolongou nenhum assunto. Entregou o papel, e a moça estranhou, pois era espalhado pela faculdade que nessas situações o professor gostava de fazer prova oral, por isso ela estava tão nervosa. Mas Taehyung não queria ouvir a voz dela, só quis ouvir a voz de Jeongguk.
Ele determinou o tempo e aguardou, aproveitando para corrigir outros trabalhos.
A aluna demorou uma hora e meia para finalizar, e entregou a prova para Taehyung dando um suspiro aliviado.
Finalmente sozinho na sala, Taehyung pegou a carta e deixou ao lado da prova. Primeiro, leu o nome. Lee Chaeryeong. Não reconheceu, nem que tivesse uma boa memória.
Focou no rosto da garota em sua memória para tentar lembrar de alguma coisa, e nada.
E por fim, comparou a letra. Não era igual.
Taehyung ficou frustrado, irritado. Pensou estar conseguindo resolver o problema, e mal tinha começado, continuava na estaca zero, sem nenhuma pista.
Jogou o papel longe, passando suas mãos pelo cabelo, tentando se acalmar. Já tinha problema suficiente, queria se livrar daquele logo.
Quando fechou os olhos, lembrou do que tinha acabado de ler na carta e resolveu ler de novo, podia ter deixado algo escapar.
Nos três parágrafos escritos, não notou nada. Leu de novo. E só então reparou.
"E sendo bem sincero, ele merece coisa melhor. O que você pode oferecer a ele? Não sei o que está acontecendo, o que ele viu em você, mas isso não vai durar. Você sabe, não é?"
Parecia ter nada demais, até Taehyung notar bem o começo do parágrafo. E sendo bem sincero. Sincero. No masculino.
Poderia não lembrar direito de muitas coisas, mas sabia que em todas as cartas que recebeu, a pessoa se referia a si no feminino, sempre.
Por que para Jeongguk estava assim? Ainda por cima, uma carta com uma óbvia raiva descrita. E se a pessoa cometeu esse deslize sem ao menos notar? Havia a chance de ser um erro bobo, porém para Taehyung, não era.
E se fosse um garoto?
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro