16) melodia desencadeada
Essa música aqui no início vai tocar no final do capítulo, aconselho que escutem e vejam a tradução!
Dedico esse capítulo para três leitoras muito incríveis que vão fazer aniversário semana que vem! Parabéns, Melly, Cami e Duda!!! Meus bebês.
Lembrem da tag #PaletasePoesiasTK
Boa leitura, aproveitem o fluffy! 💙
Taehyung passou a noite em claro mais uma vez, sua insônia lhe perturbava, principalmente quando recebia informações demais durante o dia. Tudo o que Jimin falou martelava em sua cabeça, um grande sinal de alerta soava e sabia que era um perigo.
Toda sua inquietação não se dava só ao fato do tal delinquente ter mexido com Jeongguk, mas sim com tantas outras pessoas e continuar impune. Taehyung não queria bancar o justiceiro, não queria se vingar, porém sua alma não se acomodava com tamanho absurdo, não conseguia aceitar.
Disse a Jimin que enterraria aquele assunto por enquanto, não merecia seu desgaste ainda. Primeiro, continuaria lidando com seus próprios demônios, suas próprias angústias por estar vivendo aquela paixão. Não doía, estava longe de doer, nunca se sentiu tão leve e seguro perto de alguém, entretanto sabia que ambos estavam andando em cacos de vidro, mas por ora, seus pés ainda se encontravam protegidos. Taehyung tinha certeza que não demoraria para seus pés serem cortados.
Jeongguk era um ótimo conforto para todos esses barulhos em sua mente. Falou tanto que ele era imaturo, e foi consolado por ele, abraçado e entendido. A maturidade dele de ir até sua casa para conversar lhe surpreendeu, lhe deu coragem. Tinha mais idade que ele, mas era um leigo em questões amorosas, ninguém nunca se esforçou para quebrar suas barreiras e conhecer o verdadeiro Taehyung, porém Jeongguk não só quebrou, como reconstruiu seu interior.
Percebeu como sentir medo era uma perda de tempo, temer tanto o futuro comprometia todo seu presente, o impedindo de viver como bem queria. Se dependesse de si, perderia Jeongguk, nunca teria sentido o que estava sentindo naquele momento. Andaria em círculos, viveria uma rotina cansativa, se envolvendo superficialmente com as pessoas, buscando a mesma sensação que tanto evitou. Não valia a pena.
Seu plano, quando aceitou internamente seus sentimentos, era esperar o contrato acabar, deixaria os três meses passarem até decidir fazer algo. Fazer isso seria perder três meses com Jeongguk, um tempo que não sabia se teria depois. Nunca agradeceu tanto pelo dono do cabelo azul ser tão impulsivo e transparente, não deixando que Taehyung cometesse a besteira de afastá-lo.
Um mês se passou, e deram o primeiro beijo. O beijo vermelho, cheio de sentimentos acumulados, desejos reprimidos, ações contidas. Uma confirmação entre dois lábios se tocando, a reciprocidade encontrando sua casa e habitando em dois corações teimosos. Um beijo que desmontou, mas que foi capaz de criar o vermelho mais vivo.
Cada pormenor empurrou os receios de Taehyung para debaixo da cama. Viveria aquilo, queria viver. Iria para um encontro com Jeongguk no dia seguinte, e se esforçaria para ser o melhor encontro de ambos. Seu lado romântico estava em festa, explodindo de felicidade por finalmente encontrar alguém tão inspirador para gostar.
Jeongguk era como sua musa, a divindade que inspira a poesia, aflorava sua capacidade artística, a exaltação da arte. Poderia desenhá-lo, poderia escrever sobre ele, suas possibilidades eram vastas, pois Jeongguk o fazia se sentir vivo, inteiramente vivo.
Olhando para o nada enquanto repassava em sua mente os beijos que trocaram, se assustou ao ver uma sombra na porta de seu quarto. Era Seokjin.
— Você parece um morcego, vai dormir. – Seokjin entrou no quarto, fechando a porta.
ㅡ Dormir não é tão fácil assim. – Rolou para o outro lado da cama, dando espaço para seu irmão.
ㅡ Pensando demais? – Deitou ao lado dele, ambos admirando o teto do quarto.
ㅡ Sempre...
ㅡ Quando eu saí do banheiro... – Deu uma leve tossida para falar. — Eu acabei escutando um pouco da sua conversa com o Jimin. Não queria me intrometer, mas... Só para avisar que eu escutei.
— Não me incomodo com isso. – Taehyung sentou, suspirando. — Você sabe tudo o que acontece comigo ou ao meu redor, eu ia te contar em algum momento.
— Eu gosto muito do Jeongguk, Tae... É o tipo de pessoa que você quer manter perto o tempo todo, quer proteger, cuidar... Amar. Qualquer coisa que envolve ele é algo intenso. – Dizia as palavras como um aviso.
— Eu sei muito bem disso, acha que estou nessa situação por quê? – Encarou o irmão. — Você me conhece melhor do que ninguém, sabe que não quero me envolver, não quero me apegar, mas com ele... Eu quero.
— Tem certeza que não é passageiro? Magoar ele seria tão... Não consigo encontrar palavras. – Falou receoso.
— Eu quero ele. – Disse firme.
— Pensei que nunca iria ouvir você dizer algo assim... – Sorriu. — Por muito tempo eu me perguntei como alguém tão romântico como você não viveu um romance. Agora tenho certeza que você esperou todo esse tempo por alguém bem além das expectativas.
— Eu achava que era um castigo do Universo – Riu irônico. — Logo ele... Um castigo? Impossível. É o melhor presente que já recebi. Meu drama me cegou um pouco, eu não quis olhar para além da situação, só aceitei que estava perdido. Que bom que ele veio até aqui me encontrar.
— Eu queria muito ter conversado com você antes, ter tentado aconselhar... Você não iria me escutar de qualquer jeito – Fez careta para ele. — Pelo que entendi, sua cabeça dura quase te afundou no poço, mas Jeongguk apareceu para te resgatar. Desde que o vi a primeira vez eu senti isso...
— Sentiu o quê?
— Que ele iria mudar sua vida. Aqueles olhinhos dele são capazes de derrubar cidades inteiras, você sabe... Olhando de fora, parece que foi ele quem se rendeu, mas foi você.
— Eu já admiti isso... Literalmente. – Sorriu ao lembrar. — Eu vou me esforçar nisso, Handsome. Pode confiar, não planejo sair de perto dele tão cedo.
— Você tem um encontro amanhã, não é, bonitão? – Levantou da cama. — Escutei você falar para o Jimin também... Boa escolha do lugar, você está muito disposto mesmo a encantar aquele garoto.
— Primeiro, não escute a conversa dos outros assim – O repreendeu rindo. — E sim, vai ser incrível, espero que ele goste.
— Ele já gosta de você... – Andou até a porta. — Gostar disso será só um detalhe. – Fez o sinal de “legal” com a mão. — Boa sorte, americano metido.
Gargalhando com a fala de seu irmão, Taehyung relaxou mais e o sono chegou. Precisava dormir bem para passar o dia inteiro mimando Jeongguk.
•
Acordar animado não era parte de sua rotina, mas saiu da cama radiando bom humor. Seokjin saiu àquela manhã para ajudar um abrigo de animais, e Taehyung estava sozinho.
Sozinho não. Ninho era sua companhia.
Passou pelo Hamster – ainda sem nome – e deu bom dia para a bolinha gorducha que adormecia. Pegou Ninho no colo e foi colocar a ração para o felino, o deixando à vontade enquanto se dirigia até a cozinha para preparar seu café da manhã.
Desde que chamou Jeongguk para o encontro, não mencionou o lugar, queria fazer uma surpresa. Se achava bobo por ter tantas ideias consideradas adolescentes demais, porém era algo que queria experimentar: a euforia da primeira paixão.
Terminando de comer, pensou no que faria a seguir. Queria passar longe de qualquer coisa que remetia a faculdade, isso só lhe estressava, não era um dia para aborrecimentos. Teria toda manhã e tarde livre, precisava fazer algo para não morrer de tédio.
Cogitou ler um livro, assistir um filme, escrever nem que fosse duas linhas sobre qualquer coisa... Aquele bloqueio criativo lhe dava nos nervos.
Quando Jeongguk pediu para escutar uma poesia que Taehyung escreveu, ele soube desviar do assunto só para não dizer: não escrevo algo coerente há vários meses, não tenho nada para mostrar.
Em algumas semanas, se forçava a escrever, se prendia no quarto até sair alguma palavra, e nunca gostava de nada que saía. Escrevia em inglês, coreano, não importava a língua, achava terrível.
Ser um romântico que não vive romances tem seus prós e contras. Os prós, é que você pode deixar sua mente vagar à diversas situações hipotéticas, sem se importar se faz muito sentido ou não, afinal não viveu aquilo, está vivendo em sua cabeça. O contra, é a falta de sentimento. Você pode imaginar, mas nada chega aos pés de viver algo intenso.
Por muito tempo, Taehyung escreveu suas vivências rasas, e pensou ser ruim no que fazia, pois nada lhe parecia bom aos olhos. A questão é que não era ruim, e sim completamente inexperiente. A escrita pode ser impecável, as palavras podem ser refinadas, aguçadas, mas se não há uma história por trás, não encanta.
As músicas e histórias tristes fazem sucesso por isso, pois levantam a empatia, conectam o espectador ou leitor, e essa ligação não era sentida por Taehyung.
Seria um forte clichê dizer que seu lado romântico voltou a acordar com Jeongguk, mas sendo clichê ou não, era a verdade. Não escreveu uma poesia, entretanto, estava vivendo uma. Enxergava Jeongguk como lindos versos de uma poesia muito bem escrita, que mesmo sendo transparente, Taehyung se considerava o único intérprete fiel àquelas palavras tão únicas.
Com certeza escrevia algo sobre ele, sua inspiração era um infinito vai-e-volta, quando se sentisse mais estável, seria poesia dos pés à cabeça.
Sentiu o primeiro flash no meio de toda a escuridão quando o beijou. I’m completely surrendered by you. Se fez poesia com sua declaração.
Enquanto as palavras não apareciam, decidiu desenhar. A parede de seu quarto estava muito branca, precisava de traços.
Posicionado ao lado de sua cama, visualizou o que queria: árvores com galhos secos. O desenho combinaria com os tons marrons em seus móveis, realçaria a estética. Pegou sua caneta própria para os desenhos na parede e começou a fazer as primeiras linhas, os troncos das árvores.
Habilidade não era algo que faltava em si, só precisava de paciência. Era um processo demorado e cansativo, desenhar uma parede inteira não era fácil.
Sua manhã inteira foi ocupada por isso, nem sentiu o tempo passar. Ninho lhe fez companhia no quarto por um tempo, brincando com algumas bolinhas, depois se entediando e voltando para seu próprio mundo felino, dormindo de barriga para cima.
Por ter perdido a noção do tempo, se esqueceu do almoço. Seokjin ligou para avisar que sairia com os amigos que eram donos do abrigo que foi visitar e não tinha nada preparado em casa para Taehyung comer. Seu escape foi o famoso fast-food, o poupando de definhar com fome.
Terminando os últimos detalhes, ficou orgulhoso do resultado. Se tivesse mais tempo e disposição, faria desenhos pela casa inteira, Seokjin já havia dado o aval para isso. Guardou seus materiais, alimentou os dois bichinhos da casa, e começou a ficar inquieto, querendo que o horário do encontro chegasse logo.
Não falou com Jeongguk o dia inteiro, isso parecia aumentar o suspense. Observando de sua varanda o sol indo embora aos poucos, recebeu outra ligação.
— Oi, Tae... Tô atrapalhando? – Jeongguk, desde que acordou, segurou sua vontade de ligar para perguntar sobre o local que iriam.
— Hey, My Sweetie... Você nunca atrapalha. Passei o dia desenhando, e pensando em você...
— Tae! – Sorriu largo no outro lado da linha. — Pensei muito em você também... E no encontro.
— Quer perguntar alguma coisa? – Percebia a curiosidade dele mesmo estando longe.
— Sim... Pra onde a gente vai? Eu preciso saber como me vestir... Preciso levar alguma coisa? Preciso... Ah, não sei! Quero saber onde é... – Disse ansioso.
— Não precisa levar nada, blue. O local é surpresa, se quiser se vestir mais formalmente será uma boa ideia, mas se não quiser... Tudo bem também, quero que fique confortável. Eu sei que irá gostar do lugar.
— Blue? – Tudo que Jeongguk escutou foi essa única palavra.
— Eu fiquei envergonhado de falar “amor”... Blue parece mais apropriado, não? – Aguardou ansioso pela resposta.
— Ah... Então Blue é amor?
— Sim, blue é amor. É muito bom dar apelidos para você, Sweetie... Todos se encaixam com seu jeitinho.
— Eu liguei pra saber do lugar, não pra você me deixar envergonhado! – O repreendeu sentindo suas bochechas quentes.
— Já falei, é surpresa. Passarei para pegar você às 18h, tudo bem? – Olhou o relógio em seu pulso vendo que faltava um pouco mais de uma hora para o horário que combinou.
— Ok... Tô ansioso. – Confidenciou.
— Eu também, blue...
Sorrindo mais uma vez ao celular, Jeongguk desligou a ligação para se arrumar. Não sabia se iriam para um restaurante, ou qualquer outro lugar mais arrumado ou reservado, se vestiria mais formal, como foi sugerido. Caso não fosse um restaurante, faria questão de chamar Taehyung para sua casa, só para poder cozinhar para ele. Conversou com Jihoon mais cedo, e o amigo disse que não queria atrapalhar o momento, então os deixaria a sós, indo visitar sua mãe.
E Taehyung, igualmente ansioso, foi separar sua roupa. Enquanto Jeongguk sentia um frio em sua barriga, Taehyung sentia o calor, a ardência, quentura em sua pele, que nada indicava uma febre, alguma doença, e sim representava o quanto estava vivo. Eles não sabiam, mas ambos estavam focados em surpreender um ao outro, em cada mínimo detalhe durante toda a noite.
•
Taehyung lamentou copiosamente por não ter passado por aquilo antes. Se tivesse vivido, não estaria tremendo em nervosismo estacionado na frente da casa de Jeongguk. Sabia que não precisava daquela reação, era apenas Jeongguk, dono de todos os seus batimentos cardíacos mais acelerados e suspiros apaixonados, iria ficar tudo bem.
Descendo do carro, parou em frente à porta olhando para seus trajes, vendo se estava apresentável. Escolheu usar um terno cinza, há tempos não usava, queria inovar. Não colocou gravata, e deixou o primeiro botão de sua camisa branca aberto.
Bateu no vidro e prendeu suas mãos atrás das costas, aguardando. A ansiedade também estava presente em Jeongguk, o fazendo abrir a porta mais rápido do que o planejado.
— Tae! – Seu sorriso foi diminuindo à medida que descia seu olhar. — Porra! – Soltou impulsivamente, tampando a boca em seguida. — Desculpe... Você tá muito bonito. – Manteve o olhar preso no chão, com vergonha.
— Se o seu intuito era acabar comigo... – Chegou perto, tocando no sobretudo que ele vestia. O seu sobretudo. — Teve êxito. Você está tão maravilhoso...
Por baixo do sobretudo, Jeongguk também vestia uma camisa xadrez e uma calça jeans, não tinha calças sociais, fez o que pôde. Conseguiu um par de sapatos que Jihoon emprestou, já que não tinha sapatos sociais.
Com uma dor aguda em seu coração, teve que lavar o sobretudo para usar. Porém, não seria um problema, pois passaria a noite inteira perto de Taehyung, sentindo o cheiro dele.
Acompanhando Jeongguk até o carro, segurando sua cintura, Taehyung o acomodou e foi para o banco do motorista.
— Está pronto, Sweetie? – Questionou animado.
— Eu só vou saber onde é quando a gente chegar? – Mordeu os lábios.
— Vamos ouvir música... Nessa noite, ouviremos muita música. – Fez um carinho na bochecha dele e voltou sua atenção para frente, ligando o carro.
Jeongguk pensou nas possibilidades, e se concluiu certo, estava mais do que animado.
Como foi dito, naquela noite eles ouviriam muitas músicas. Taehyung deixou o som do carro ligado, e no meio do percurso, cantarolava algumas músicas com Jeongguk, ambos não se importando se suas vozes estavam no tom ou não, o importante era que cantavam juntos.
Parados em frente ao edifício, os olhos de Jeongguk brilhavam.
— Uma orquestra!? – Saiu do carro em transe. — Tae... Eu nunca fui em uma. Será que vim bem vestido? – Se preocupou, fechando o sobretudo com insegurança.
— Ei... Você está perfeito. Aqui há pessoas de todos os tipos, vestidos como bem querem, isso é o que menos importa. Gostou da minha escolha? – Segurou sua vontade de o puxar para seus braços.
— Eu amei! – Olhou de novo para o prédio. — É tão lindo por fora, deve ser ainda mais por dentro...
— Então vamos entrar, Sweetie. – Sorriu afetuoso, e mesmo se contendo, não deixou sua mão longe da cintura dele.
Entregando seus ingressos, Taehyung levou Jeongguk para conhecer cada espaço, fazendo o dono do cabelo azul se encantar com os lustres e as decorações.
Tão envolto no brilho que Jeongguk irradiava com seu primeiro contato em uma orquestra, Taehyung não percebeu uma movimentação atrás de si.
— Kim Taehyung! – Escutou a voz lhe chamar e virou surpreso.
— Hyungsik? Quanto tempo! – O abraçou saudoso.
— Você sumiu! Desde que parou de trabalhar naquele curso de inglês eu não te vejo. Como você está? – Se manteve perto, deixando Taehyung em um meio abraço.
— É, eu costumo sumir – Desconversou. — E estou bem... Resolvi tirar uma folga hoje. – Ficou um pouco sem graça ao perceber como Jeongguk estava afastado, deslocado.
— E está sozinho?
— Não... Eu vim com ele. – Olhou para Jeongguk pedindo para ele se aproximar. — Esse é meu... É... Esse é Jeon Jeongguk... – Se soltou do abraço para ficar ao lado dele. Gaguejou por sentir uma extrema necessidade de apresentar Jeongguk como namorado.
— É um prazer! – Mesmo envergonhado, Jeongguk era sempre respeitoso, se curvou para Hyungsik enquanto apertava sua mão.
— Igualmente! Adorei o cabelo, os jovens gostam de inovar, não é? – Sorriu. — Tenho que ir, Tae, espero te ver na saída! – O abraçou de novo, indo embora.
Taehyung ficou um pouco desnorteado com a falta de atenção de Hyungsik com Jeongguk, nem o cumprimentando direito e nem se despedindo. Ele citar o cabelo colorido foi um modo indireto de dizer que ele era jovem demais. Foi uma fala indesejada, porém iria relevar, não deixaria nada afetar a noite.
Subiram para o primeiro andar, onde aconteceria a apresentação. Era um local enorme, maior do que Jeongguk imaginou, e com mais pessoas.
— Tem um coral também? – observou maravilhado. — Pensei que seria só os instrumentos...
— Vão tocar “Mozart: Great Mass in C minor, K.427”, é uma das maiores obras dele, o coral é fundamental.
— Mozart? Nosso primeiro encontro e me trouxe para ouvir Mozart, Tae? Sabe que é golpe baixo... – Não conseguia parar de sorrir.
— Eu sei. – Piscou um olho. — É uma apresentação de quase uma hora, espero que não ache cansativo.
— Sem chance! – Começaram a se organizar no palco e Jeongguk não parava de se chocar com a quantidade de pessoas, tanto no palco como na plateia.
Taehyung não resistiu e o abraçou mesmo sentado, querendo assistir a apresentação daquela forma. O maestro deu início, e os instrumentos começaram a soar, violinos, violoncelos, flautas, trompetes, trombones, o órgão, e as vozes. O coral tinha à frente dois sopranos, um tenor e um baixo.
Durante toda a apresentação, ficaram calados. Taehyung queria ter conversado sobre a história da orquestra, ter comentado mais sobre Mozart, entretanto, aquele era um momento para ser apreciado em completo silêncio.
Com Jeongguk ainda encostado em si, percebeu ele mexendo no rosto, e ao olhar, viu que ele enxugava uma lágrima.
Ainda quieto, o abraçou mais firme, acariciando o cabelo azul. O momento não poderia ser mais perfeito, a sensibilidade dos dois permitindo que sentissem a música em sua totalidade, envoltos para genialidade de Mozart, envoltos pela poesia em forma de partituras.
No final, permaneceram calados enquanto a plateia se retirava. Jeongguk continuava deslumbrado, imerso na música que ouviu. Imerso naquela noite.
— Gostou, My Sweetie? – Se levantaram e seguiram abraçados até a saída.
— Sim! Foi tão perfeito... Não há como explicar.
— Eu sei, blue... Por isso você chorou. – Sorriam cúmplices.
Taehyung agradeceu internamente por não ter esbarrado com Hyungsik, e Jeongguk só conseguia pensar na pergunta que queria fazer.
— E-então, Tae... Vamos pra minha casa? Q-quer dizer... A casa do Jihoon.
— Você também mora lá, blue – Não queria que Jeongguk sentisse vergonha disso. — Seu amigo não vai se incomodar?
— Eu já avisei... Ele não tá em casa.
— Você planejou o restante do nosso encontro, então? – Pararam ao lado do carro, e Taehyung adorou saber daquela informação.
— Sim, eu quero cozinhar pra você... Se importa?
— Tudo que vem de você é uma honra. – Abriu um grande sorriso e ambos controlaram suas vontades de se beijarem em público mais uma vez.
•
Taehyung tremia sentado no sofá. Toda a situação parecia simples demais, mas considerava muito íntimo o que estavam fazendo. Nunca havia ido na casa de alguém assim só para jantar, geralmente os encontros eram em sua própria casa, um restaurante ou um motel.
Estar ali com Jeongguk significava muito. Ofereceu sua ajuda para cozinhar, e foi veemente negado, ele queria cozinhar sozinho. Além disso, ficava muito concentrado, sem conversar nem se distrair de uma maneira geral, parecia um verdadeiro chef de cozinha. Taehyung, se possível, sentiu seu coração amolecer mais.
Sem muito o que fazer, observou a casa e a achou adorável. Era menor que a sua, porém parecia mais bonita, com muito mais detalhes e cores. O piso de madeira, os tapetes, os quadros nas paredes, e o que mais chamava a atenção: os respingos de tinta no chão. Automaticamente sorriu, imaginando Jeongguk pintando, se sujando todo de tinta, deveria ser uma cena indescritível. Queria ver.
Cedendo ao tédio, arriscou ir até a cozinha e perguntar mais uma vez se ele já estava finalizando.
— Você é tão apressado! – Rolou os olhos enquanto desligava o fogo. — Sim, tá pronto! Eu demoro um pouco porque gosto de fazer com cuidado, com carinho...
Não tinha para onde correr, então Taehyung deixou um selar na boca dele. Rápido, simples, mas necessário.
— Estou ansioso para provar seu carinho, My Sweetie...
— Você já provou. – Corou, abaixando o olhar e servindo os pratos.
Taehyung entendeu. Provou o carinho em cada detalhe, desde o primeiro toque de mãos até o beijo.
Durante todo o jantar, Jeongguk foi inundado de elogios, Taehyung não poupou palavras para dizer o quanto estava bom e o quanto Jeongguk era talentoso. O prato era de certa forma simples, um frango bem picante, acompanhado de batata doce e vegetais; tem um arroz como acompanhamento, com pitadas de gergelim e queijo, e cada sabor foi elogiado com afinco.
Depois de Jeongguk ficar extremamente vermelho e agradecer cada comentário feito por Taehyung, eles conversaram assuntos leves, falaram de suas rotinas, de seus gostos pessoais. Eles apreciavam essas conversas onde a relação aparenta evoluir, você conhece mais e mais sobre a pessoa, sobre o que ela gosta ou não, e isso era o mais especial para ambos: conhecer um ao outro.
Ao terminar o jantar, Taehyung proibiu Jeongguk de lavar a louça, dizendo que ele fez todo o trabalho pesado e tinha que descansar. Jeongguk não contestou, mas não deixou Taehyung sozinho na cozinha, e nem poupou contatos, por vezes o abraçando enquanto ele lavava os pratos.
Imersos ainda sobre a conversa que iniciaram enquanto comiam, quiserem continuar ao descansarem no sofá. Taehyung em uma ponta, Jeongguk na outra, e suas pernas entrelaçadas.
— Há um tempo eu queria te contar uma coisa, Tae... – Comentou enquanto admirava o contato deles, íntimos e domésticos. — Sobre minha sexualidade.
— Você pode me contar qualquer coisa, Sweetie.
— Jimin-Hyung clareou muito minha mente depois de uma conversa, e eu pude me entender mais. Eu estava com um pouco de receio para contar, algumas pessoas não entendem ou julgam... Mas agora que conheço você, digo, conheço e adoro o que conheci até esse momento, eu quero contar.
— Sabe... – Desviou um olhar com um sorriso. — Eu adoro quando diretamente ou indiretamente você me elogia. Sua demonstração de confiança agora está me deixando muito feliz.
— Você tem essa cara de bravo, mas é tão derretido. – Admirou. — Eu me sinto totalmente confortável com você, por isso te beijei e por isso quero contar algo tão pessoal... Eu sou demissexual.
Contou numa facilidade impressionante, não parecia contar um segredo, apenas disse uma característica sua, e notar essa liberdade e facilidade para se expressar o deixava muito contente.
— Entendo... Pensou que isso me afastaria? – Taehyung tratou o assunto com a mesma naturalidade.
— Sim, muitos nunca se envolveram com alguém assim, ou tem uma ideia deturpada sobre, estereotipada... Porém, como eu disse, eu sei que você não é assim.
— É, não sou. – Continuou a sorrir. — E Jimin quem clareou sua mente?
— Ele disse que sentiu uma identificação comigo naquele dia no shopping, e depois conversou comigo sobre... Ele é tão legal, os conselhos dele são incríveis! Me senti mais confiante depois disso. – Seus olhos brilhavam ao contar.
— Jimin tem esse poder de nos confortar mesmo... Fico feliz que você teve essa ajuda.
— É... – Ficou meio aéreo. — Queria te perguntar uma coisa.
— Fique à vontade, blue.
— Você já se envolveu com alguém assim? – Sua pergunta foi recheada de timidez e uma pitada grande de curiosidade.
— Então – Endireitou sua coluna, sentando ereto. — Eu já namorei o Jimin. E adiantando, não sentimos nada um pelo outro romanticamente, eu só tentei namorá-lo para ter a experiência, eu nunca consegui namorar ninguém. Ele sempre foi meu melhor amigo desde que cheguei na Coréia... Mas enfim, não durou muito.
— Oh. – Jeongguk não disfarçou sua expressão estarrecida. — Hobi-hyung sabe disso...?
— Sabe sim. Jimin contou para ele depois que nos encontramos no shopping.
— Ah... – Tudo fazia ainda mais sentido para Jeongguk. A conversa sobre “cuidado” que Hoseok teve com ele poderia ser por um motivo ainda mais além, poderia ser sobre Taehyung não se envolver sério com ninguém.
— Espero que você não fique chateado com isso. – Se preocupou. — Não contei porque minhas histórias passadas são uma tragédia, nada muito relevante. Tentar namorar o Ji foi quase uma medida desesperada, não parecia nem um pouco certo. Mas... Voltando para sua pergunta, namorar ele abriu minha mente sobre a demissexualidade, pude aprender muitas coisas.
— Fico aliviado por isso. – Absorveu toda a informação. — Não estou chateado, é só uma surpresa... Mostra a confiança que vocês têm um no outro e como são maduros para lidar com isso. Seria meio infantil da minha parte me incomodar, o Ji é tão legal... – Sorriu. — Isso também mostra a intimidade que vocês têm para o Jimin ter se aproximando assim.
— Exato, por isso Jimin aceitou. Por sermos muito próximos, ele conseguiu ter um contato físico mais íntimo comigo, porém como citei, não parecia certo, era estranho o ter como namorado. Considero que foi uma experiência valiosa, eu conheci os limites dele, entrei em um universo que não tinha ciência.
— É bom isso... Conhecer alguém e seu universo. Tenho certeza que eu e Jimin-Hyung temos diferenças, os demissexuais não são todos iguais. Sempre depende do que a pessoa quer, do que ela tem vontade. Muitos acham que a gente não sente desejo, que somos totalmente retraídos, ou até “santos”... É tanta falta de informação. – Disse frustrado.
— Estão acostumados a colocarem as pessoas dentro de um único segmento, my sweetie. Eu fico muito feliz por ver que você se conhece e se aceita, você é um universo tão incrível... É um privilégio estar conhecendo cada parte sua. – Sua sinceridade tocou Jeongguk, o deixou emotivo.
— Sinto que tô me declarando – Soltou uma risada nervosa. — Os beijos que trocamos... Preciso estar sentindo algo bem forte pra me envolver assim. – Suas bochechas esquentaram.
Lisonjeado, Taehyung se moveu no sofá para se aproximar mais de Jeongguk, sentando entre as pernas dele.
— Eu nunca me conectei com alguém assim antes, algo sempre me impedia, ou eu simplesmente não queria. – Também quis abrir seu coração.
— E você me quer? – Jeongguk se manteve deitado, encarando Taehyung com sua famosa faceta.
— Devo demonstrar o quanto eu quero? – Pendeu seu corpo para frente, colocando suas mãos apoiadas no braço do sofá, ficando em cima de Jeongguk.
— Eu gosto quando você demonstra... Gosto quando você fala. – Ergueu suas mãos, tocando o rosto de Taehyung. — Gosto do seu beijo, gosto de sentir você.
— Você mexe com meus sentidos, sweetie... – Passou seu polegar nos lábios rosados de Jeongguk.
— O quanto eu mexo? – Levantou sua sobrancelha, sorrindo ao perceber que Taehyung vacilou com a pergunta.
As respostas verbais eram cada vez menos precisas. O beijo iniciou com urgência, Taehyung se encontrava afetado demais para calcular seus movimentos e tentar mascarar sua necessidade.
Jeongguk o puxou para perto, o fazendo perder o equilíbrio e cair por cima de seu corpo.
As coxas de Taehyung encostavam na parte interna das coxas de Jeongguk, a posição não podia ser mais agradável – e íntima. Jeongguk com suas apenas abertas, Taehyung no meio em contato com seu corpo, e o beijo.
Em alguns momentos de sua vida, Jeongguk sentiu aquele desejo, a vontade em sua forma mais crua. Não havia nada mais sensual ou erótico para si do que dois corpos estarem rendidos, quentes, incontroláveis.
Taehyung começou a deixar mordidas na boca pequena e bem desenhada, enquanto passava suas mãos pelos braços dele, depois alternando entre o pescoço e o início do peitoral. Suas mãos não queriam parar.
Em uma situação não muito diferente, Jeongguk deslizava suas mãos pelas costas de Taehyung, seu cabelo, seu rosto, tudo que seus dedos pudessem alcançar.
O ar faltou, todavia suas bocas não queriam parar de se mover. Taehyung desceu os beijos para o pescoço, e timidamente, Jeongguk soltava arfadas, se remexia abaixo dele.
Todos os estímulos foram demais para ambos. Taehyung, em um rompante, se afastou do beijo, completamente vermelho.
— Desculpe... E-eu exagerei. – Saiu do sofá, ficando em pé, olhando para pontos aleatórios, sem querer olhar para Jeongguk.
— Exagerou? Não... Eu tava gostando! – Sentou-se com um bico em seus lábios.
— Eu não deveria fazer... Assim. – Colocou a mão em sua testa, mantendo o olhar perdido.
— Assim como? – Ficou em pé para se aproximar dele. — Não tô entendendo!
— Assim, Jeongguk! – Apontou para si mesmo, especificamente, para sua virilha.
— Mas... Você tá com vergonha? É sério? – Prendeu o riso. — Minutos atrás eu falei que não sou nenhum santo, Tae.
— Eu sei, eu sei! Eu só não queria transformar esse momento nisso... E-eu ainda não conheço seus limites.
Jeongguk testemunhava seu professor gaguejando e a vergonha o consumindo, nunca imaginou presenciar essa cena, ou causar isso. Não era, nem de longe, algo bobo, Taehyung se preocupou, teve medo de deixar Jeongguk desconfortável, de ter feito algo errado. Perceber isso deixou o universitário mais apaixonado – ou louco.
— Tae... Pra conhecer meus limites, você só precisa perguntar. Se eu não tivesse gostando de como estávamos, teria interrompido ou demonstrado de alguma forma. Eu confio muito no que meu corpo diz, e instantes atrás ele só dizia para você continuar o que fazia... Eu me sinto totalmente à vontade com você, entendeu?
— Eu entendo sim, my sweetie. Talvez seja uma insegurança minha, ou uma falta de conhecimento... Eu sei muito bem que você tem desejos, mas agora, por eu ter ficado assim, pensei se você ainda não se sentia dessa forma, que ainda não tinha essa atração, sabe... Sexual. – Taehyung era um adulto experiente, mas sua fala regada de timidez o deixava parecendo um jovem descobrindo algo novo.
Em toda sua vida, Jeongguk carregou o papel de ser o “inseguro da relação.” Vivia com medo de não ser compreendido, de ultrapassaram seus limites, e naquele momento estava diante de alguém com medo de o machucar de qualquer forma. E, com toda certeza, não merecia menos do que esse gesto. Taehyung era incrível, sua atitude de recuar e perguntar é o que sempre deveria acontecer, em todas as relações.
Mais um passo de intimidade foi dado, mais uma parede derrubada.
Taehyung continuava tenso, apesar da conversa esclarecedora. Para quebrar esse clima e fazê-lo entender de uma vez, Jeongguk se aproximou por trás dele, o virando para si.
— Você não tá sentindo isso sozinho. – Direcionou seu olhar para baixo, fazendo Taehyung olhar para o mesmo lugar.
Poderia ser considerado algo constrangedor, entretanto foi mais libertador. Taehyung respirou fundo, e puxou Jeongguk para um abraço. Sentiram um ao outro, suas reações físicas, seus sentimentos. Ambos distribuíram beijos no rosto um do outro.
— Se sente melhor? – Jeongguk questionou.
— Muito melhor. Eu disse que conhecer você é algo incrível... – Deu um breve selar nos lábios dele. — Gostar de você é incrível.
— Hum... Então gosta de mim? – Sorriu arteiro.
— Na minha teoria, é impossível conhecer e não se apaixonar, seja de qualquer jeito. – Pôs suas mãos na cintura dele, e Jeongguk entrelaçou seus dedos no pescoço de Taehyung.
— Digo o mesmo pra você, Senhor Kim... – Encostou suas testas. — Você é muito apaixonável. – Ambos riram com o termo usado.
— Parece que estamos dançando. – Taehyung observou. — Quer dançar?
— Agora? Aqui?
— Sim, agora e aqui. – Se afastou só para pegar seu celular, e deixar próximo para pôr a música. — Me concede essa dança, Senhor Jeon?
Estendendo sua mão para Jeongguk, a música Unchained Melody começou a tocar.
Sorrindo largo, com seus dentes sobressaltados, Jeongguk aceitou e voltaram para a posição inicial, mãos no pescoço e mãos na cintura.
— Um romântico incurável, Senhor Kim.
— Ah, e como sou. – Passos para a direita e para a esquerda eram dados, e seus olhos não desviavam um do outro. — Já falei o quanto você é lindo?
— Não comece! – Abaixou o rosto, envergonhado.
— Olhe para mim, Sweetie... É bom te olhar. – Jeongguk, apesar da vergonha, o encarou de novo. — Posso beijar cada pintinha em seu rosto?
— Gosta delas?
— Com certeza. – Começou pela testa, depois a bochecha, o nariz, e enfim a pintinha abaixo da boca. — Essa é minha preferida, ela me inspira.
— Esse momento é o meu preferido. – Jeongguk deitou sua cabeça no ombro, fechando seus olhos e sorrindo. —Você é o meu sentimento preferido. – Sussurrou tão baixo, sendo o único capaz de ouvir.
Duas almas dançando ao som de uma das maiores músicas românticas da década de 60, duas almas se conectando.
Taehyung também deitou sua cabeça no ombro de Jeongguk, fechando os olhos e cantarolando a música baixinho. Seu tom de voz e sotaque deixaram Jeongguk extasiado, o impedindo de parar de sorrir.
Continuaram a dançar pela sala, sem olhar para o relógio, sem ver o tempo passar. Seus passos e corações estavam ritmados.
Colocaram todos os problemas para fora de casa, e se refugiaram um no outro.
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