13) tragado
Sabem aqueles capítulos cheios de tapas na cara...? No sentido figurado, é claro! Então... É esse.
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Boa leitura! 💙
No momento em que Jeongguk afastou-se de Taehyung, ele não quis mais ir de trem, foi andando. Caminhou rápido, para caso seu professor tentasse o alcançar. Seus passos eram duros, firmes, sua cabeça não parava de pensar mil possibilidades sobre o que deveria fazer, ou o que não deveria ter feito.
A chuva continuava e ele não se importou nem um pouco. Subiu seu capuz e deixou sua roupa ser encharcada. O celular estava protegido dentro da bolsa, e teve a leve impressão de o escutar tocar. Ignoraria qualquer um, principalmente Taehyung.
Parecia um jovem com sua primeira desilusão amorosa, e era. Não queria aceitar esse fato, mas interiormente já aceitava. Não sabia como conseguiu se iludir ao ponto de achar que aquilo resultaria em alguma coisa, que poderia não acabar em catástrofe. Claro que acabaria. Eram professor e aluno, nada além disso.
Gostava de chorar na chuva, e dessa vez não foi diferente. Chorou enquanto andava, sentindo o frio lhe incomodar. Minutos atrás estava sendo aquecido por Taehyung, tanto fisicamente, como emocionalmente. O escutou dizer um soneto lindo, o permitiu chegar mais perto, tão perto que acreditou que o beijo viria.
Queria apagar suas ações, não ter se permitido. Emoções não eram para Jeongguk.
Voltaria a estaca zero, faria de tudo para não sentir mais aquele aperto em seu peito. Se pudesse voltar no tempo, não aceitaria a monitoria, não deixaria Taehyung se aproximar, não pediria ajuda, tentaria não se encantar por ele.
Em sua mente, aquilo era resultado do seu desespero. Tentar beijar seu professor parecia somente isso: desespero. Era para ambos serem amigos, para confiarem um no outro, e Jeongguk sabia que estragou tudo com a droga de seus sentimentos. Se não tivesse fechado seus olhos após o soneto, tudo estaria bem. Estaria no trem com Taehyung, deitado no ombro dele. Entretanto, estava andando sozinho na chuva, chorando.
Por um milésimo de segundo, Jeongguk achou que aquela loucura em sua cabeça era recíproca. Realmente cogitou, pensou ser. Não era, e nunca seria. Sua carência falou mais alto todo o tempo, lhe fazendo pensar coisas que não eram verdade.
Seu lado impulso e explosivo se fizeram presentes novamente, não deu a mínima para suas reações, precisava externar. Bateu a porta quando chegou em casa, assustando Jihoon.
— Guk? – Apareceu assustado na sala. — O que foi? – Se aproximou dele.
— Eu não quero conversar, Hyung. – Tirou seus sapatos e bolsa, indo para o quarto tirar o restante das roupas e colocar para lavar.
— Você vai ficar resfriado assim! – O repreendeu. — Vivo dizendo para você usar o guarda-chuva, por que não me escuta?
— Eu escutei! – Gritou. — Por isso tô sentindo essa merda agora, eu escutei você, Hyung! Eu abri a merda do meu coração, tentei expressar isso dentro de mim e deu tudo errado!
— Ei, ei... – Sabia que aquele não era seu amigo, era uma versão raivosa dele. — Você não errou em ter feito isso. – Tentou abraça-lo, porém foi afastado.
— Claro que errei! Eu podia não ter muita coisa, mas poderia estar com a mesma relação agora, eu criei uma amizade com ele! Isso deveria bastar! Eu sou um idiota! – Gritou.
— Você não foi idiota, mas está sendo agora! – Jihoon desistiu de tentar toca-lo. — E está me magoando. Você só entende assim? Preciso dizer o que você está causando? Não percebe que quando tem essas explosões acaba nos machucando? Perdi as contas de quantas vezes vi você magoar Hoseok com isso.
— Hyung... – Rapidamente abaixou seu tom de voz.
— Eu aconselhei você e você seguiu o conselho porque quis. É claro que é melhor colocar para fora nossos sentimentos, eu avisei a você que poderia não ser recíproco ou algo do tipo, você não é criança para não entender isso. Todo mundo tem frustrações, Jeongguk, aprenda a lidar com as suas.
— Não é isso...
— É isso sim! Toda vez que você se frustra, explode. Reprime tanto seus sentimentos, que quando os expõe, coloca expectativas nos outros, e se as pessoas não corresponderem, você surta! Eu sei que você não se apaixonaria por qualquer pessoa, Jeongguk. Para isso ter acontecido, eu duvido que tenha sido tão ruim quanto você está fazendo parecer ser.
Jeongguk ainda estava parado no meio da sala, apenas trocou as roupas, continuava molhado.
— Eu não tô com raiva dele, tô com raiva de mim! Não era pra isso ter acontecido, Hyung, eu te disse! Não era, não era! Eu estraguei tudo. – Balançou a cabeça negativamente.
— E você não vai me dizer quem é? Eu não entendo o que pode ser tão ruim ou tão proibido assim!
— Ele é meu professor! – Disse de uma vez. — Meu professor de Desenho Digital, Kim Taehyung, é ele!
— Oh... Isso muda tudo. – Jihoon falou paralisado. — Você está apaixonado pelo seu professor?
— Já falei pra não dizer em voz alta. – Foi atrás de uma toalha para secar o cabelo. — Eu não quero acreditar nisso.
— Não tem como você ignorar a verdade, Guk.
— Ele é tão legal comigo, Hyung... Por que eu fiz isso? – Suspirou pesado.
— Foi ele que te ajudou naquela noite, não é? – Se aproximou do amigo.
— Sim... Ele sempre agiu tão genuíno comigo, nunca vi maldade em nenhum ato dele, eu sei que ele não se aproximou com segundas intenções, sempre quis ajudar, não pra pagar de bom moço, esse é só o jeito dele... ele é tão inocente com isso.
— Wow – Jihoon sabia que não era o melhor momento, porém deixou escapar uma risadinha. — Você está muito apaixonado.
Jeongguk percebeu que falou demais e corou com sua declaração.
— Enfim... Eu não acho que você tenha estragado tudo, se ele insistiu tanto em estar perto de você, deve ter os motivos dele, pode não ser que o sentimento seja mútuo romanticamente, mas ele gosta muito de você, Guk. Não o conheço, entretanto não é difícil de saber...
— O que eu devo fazer?
— Não vou mais te dar conselho nenhum – Riu. — Está na hora de você escutar suas vontades. – Apagou as luzes da sala e trancou a porta. — Tenho que ir dormir, amanhã acordo cedo. Você vai ficar bem?
— Vou sim...
— Certo, boa noite, azulzinho. – Bagunçou o cabelo molhado dele e foi para seu quarto.
Pegando sua bolsa que ficou na sala, Jeongguk pôde ver as chamadas perdidas. Cinco ligações de Taehyung. Pensou em ligar de volta, porém não saberia o que dizer, nem teria coragem para tal.
Por mais que a conversa com Jihoon tenha esclarecido muitas coisas, não conseguiria agir normalmente depois do que aconteceu. Ainda não possuía o dom de fingir que estava tudo bem. Foi deitar em seu quarto, mas sua mente, barulhenta como sempre, não se acalmou para dormir.
Se dirigiu até sua gaveta e tirou do fundo dela o casaco de Taehyung. Por sorte, o cheiro continuava na roupa, mesmo que fraco. Jeongguk deitou, abraçando o tecido, e assim conseguiu dormir.
O cheiro de Taehyung era como seu apanhador de sonhos. Nunca tinha um pesadelo quando dormia agarrado a algo dele.
Tudo que sonhou foi com um sotaque bem específico recitando poesias perto de seu ouvido e lhe deixando com borboletas no estômago.
•
O celular não saía da mão de Jeongguk no Museu. Conferia se tinha mensagens, ligações, mas não tinha nada. Continuou com vergonha de contatar Taehyung e decidiu que conversariam à noite, depois da monitoria.
— Por que você tá olhando tanto pro celular, Jeongguk-ssi? Tá se distraindo muito pra apresentar os quadros. – Eunbi pontuou.
— Eu sei, eu sei... Me desculpa, só tô ansioso.
— Esperando mensagem de alguém? – Deu um sorriso ladino e arqueou as sobrancelhas.
— Vamos falar de você hoje. – Guardou o celular no bolso. — Alguma evolução no caso com Jaebum?
— Fala baixo! – O puxou para o cantinho reservado deles. — Eu tenho vergonha!
— Você com vergonha?
— É... Ele me chamou pra sair. – Deu pequenos pulinhos de felicidade. — Vai ser esse fim de semana.
— Nossa, sério? E como aconteceu? – Abriu um grande sorriso.
— Já que você não percebe nada mesmo, tenho que explicar... – Se sentou. — A gente tá sempre trocando olhares e sorrisos, vez ou outra chego mais perto dele pra puxar assunto, e ontem ele pediu meu número! Eu não sou boba, né? Anotei na hora pra ele, e aí foi ele que começou a puxar assunto por mensagem!
— Isso tudo aconteceu e eu não vi?
— Você só vê o que quer, Jeongguk-ssi. E parece ser desses que entende o que quer também.
— Por quê? – Questionou ofendido.
— Dá pra ver que você é birrento!
— Eu? Birrento? Você me chamando de birrento? – Riu.
— Você é! – Virou o rosto. — Fica aí esperando sua mensagem, eu apresento dessa vez.
— Certeza?
— Sim, tô ficando cada vez melhor! – Saiu saltitando em direção à entrada.
Jeongguk agradeceu internamente a pausa que Eunbi lhe deu, pois assim pôde respirar um pouco. Não mandaria mensagem para Taehyung, mas responderia as mensagens de Hoseok, que eram muitas.
“Você nem me avisou quando chegou em casa, tive que perguntar para o Jihoon!”
“Tá tudo bem? Sabe que pode conversar comigo, né? Sobre qualquer coisa...
“Eu sei que você não gosta de falar muito, mas sou seu melhor amigo... Sempre vou te entender”
As mensagens abaixo praticamente eram do mesmo jeito, com palavras diferentes. Jeongguk conversaria com Hoseok, mas esperaria um pouco mais. Não era ingênuo ao ponto de achar que seu amigo não notou nada, deveria ser o que mais havia notado. Lembrou perfeitamente da conversa que tiveram dias atrás, onde ele o alertou dizendo para ter “cuidado”.
Não entendeu na hora, ainda se fazia de bobo e desentendido, se recusava a compreender, mas não tinha como fugir, sabia bem qual tipo de cuidado Hoseok o alertou. Talvez se tivesse o escutado desde esse tempo, não estaria nessa situação, arrependido de não ter sido cuidadoso.
Pensou em estar tendo, costumava ser cauteloso em suas ações. Foi cauteloso com Eunbi, tentou fazer o mesmo com Taehyung e falhou.
Desde que ficou sem palavras na frente dele e deixou escapar “você é lindo”, teve ciência que não tinha mais volta. Para ter permitido aquele contato, aquela proximidade, para ter dito tudo o que disse, já estava envolvido mais do que imaginava.
Não era uma mera atração física, afinal era demissexual, precisava de muito mais para se encantar verdadeiramente por alguém. Era mais do que atração. Foi jogado no ar quem se atreveria a dar o primeiro passo, e ambos deram. Ambos se aproximaram simultaneamente, Jeongguk com seus desenhos, Taehyung com suas poesias. Abraços espontâneos, toques singelos, olhares intensos, a formação da ruína pessoal de cada um. E o que havia em comum? Arte. A arte era a essência, o caminho que os aproximou e o que os conectou, nada mais. Arte na pura forma com seu sentido amplo de transpassar emoções. Arte de se apaixonar.
Jeongguk se recusava a dizer que estava apaixonado, que o nome de seu sentimento era paixão. Usando outras palavras, dizia para si mesmo que Taehyung era sua arte particular. Era o mesmo que dizer que estava perigosamente apaixonado.
Respondeu Hoseok, dizendo que conversariam depois, e prometeu não guardar nenhum segredo. Aproveitou para conversar com Jongho também, ele respondeu mais amigavelmente, não repeliu Jeongguk. Também prometeu falar de seus sentimentos, mas faria isso depois, precisava se preparar um pouco mais.
Sua vida parecia estar toda nos eixos, se não fosse aquele grande detalhe. Por ter ficado estressado, voltou a arrancar a pele de sua boca, assim como estralar seus dedos compulsivamente. Chamou Eunbi para almoçar afim de se distrair, porém não adiantou muito, só conseguia pensar no que faria à noite.
Controlou sua vontade de fumar – e o maço continuava em sua bolsa –, queria pôr um cigarro na boca para amenizar todas aquelas reações, mas não podia ceder.
Continuou com Eunbi uma parte da tarde, passearam pela cidade e Eunbi lhe encheu de informações sobre Jaebum. Isso o distanciou um pouco de seus conflitos, dando atenção à animação de sua amiga. Ela contava com brilho nos olhos sobre as conversas que eles tinham e como imaginava que seria o encontro. Jeongguk torceu muito por ela, afinal, alguém tinha que se dar bem com relações amorosas.
Como não pôde fugir para sempre, Eunbi precisou ir para casa e Jeongguk ficou sozinho. Jihoon estava em casa, porém não quis o abusar com mais uma de suas conversas sem sentido, a noite anterior foi o suficiente.
Se forçou a cochilar para o tempo passar mais rápido – ou mais devagar –, queria tanto sair de casa, na medida que queria ficar e esquecer o mundo. Queria receber uma ligação de Taehyung ao mesmo tempo que queria esquecê-lo. Queria ir para a faculdade para o ver de perto mais uma vez e queria fugir.
Era irônico dizer que Taehyung tinha contradições quando se encontrava naquela situação. De tanto embolar na cama, o tempo passou. Precisava encará-lo. Vestiu sua melhor versão de desinteresse e saiu de casa, tudo para fugir da realidade e encontrar um escape naquela saia justa. Para todos os efeitos, não ultrapassaria a linha professor e aluno.
•
Taehyung chegou mais cedo para a aula. Jeongguk apareceu depois dele, e o esperou na entrada para o ajudar com os materiais. Pela demora, cogitou que ele tivesse faltado, mas resolveu checar na sala e o viu sentado, ligando o projetor para passar um slide para a turma.
A sala se encontrava cheia, Jeongguk ficou constrangido automaticamente. Por causa do projetor, as luzes estavam apagadas, isso diminuiu um pouco sua vergonha, pois os alunos não o veriam direito. Se aproximou com cautela de Taehyung, falando mais baixo do que deveria.
— Boa noite, Senhor Kim!
— Boa noite. – Respondeu sem o olhar, mexendo no notebook procurando por seus arquivos.
— O que eu devo fazer...?
— Sente aqui, faça a chamada e passe os slides para mim. – Levantou da cadeira, ainda evitando contato visual.
— Só isso? Não é pra pegar o café?
— Já tomei.
— Ah... Tudo bem. – Sentou na cadeira, pegando a caderneta e começando a chamada.
A aula foi tensa. Jeongguk não conseguia prestar atenção em Taehyung, só fazia algo quando ele pedia para passar o slide.
A História da Arte não era passada de maneira cronológica, Taehyung queria explicar dos assuntos mais fáceis até os mais difíceis. Nessa aula, iniciou o Simbolismo e Impressionismo, ambos se passando nos séculos 18 e 19. Também eram assuntos de fácil entendimento, e utilizou os slides para mostrar alguns exemplos das obras de cada movimento.
Jeongguk ficou com o olhar perdido, não se sentia confortável. A dureza no tom de voz de Taehyung foi notável, ele não o queria por perto. Jeongguk percebeu que não deveria ter ido para a monitoria naquele dia, era demais.
Guardando a caderneta de volta na bolsa de Taehyung, percebeu algo quase caindo de um dos bolsos. Não queria ser curioso, mas precisou pegar para guardar de volta. Era um envelope de carta rosa, e estava escrito:
“Para: Professor Kim
De: sua admiradora secreta”
Para estar na bolsa, deveria ser de alguma aluna da faculdade. Talvez uma aluna daquela sala. Jeongguk revirou os olhos, guardando o envelope com raiva e querendo mais do que nunca que o tempo passasse rápido para sair dali.
Longos minutos se passaram e a aula foi finalizada. Jeongguk desligou o notebook e o projetor, organizou sua bolsa e se levantou para ir embora.
— Não precisará de mim hoje, né?
— Preciso organizar o sistema com a frequência dos alunos. – Respondeu ainda evitando o contato visual.
— E precisa de mim?
— Sim, Jeongguk.
Não, não precisava.
Colocar a frequência dos alunos era algo extremamente fácil, não levava meia hora para ser feito, porém Taehyung não diria isso.
Ambos subiram as escadas em silêncio e Jeongguk decidiu que não falaria nada, faria o que precisasse e iria embora sem hesitar.
Taehyung retirou novamente seu notebook da bolsa, o posicionando na mesa à frente do sofá. Sentaram lado a lado, Jeongguk com as cadernetas e seu professor organizando as informações no sistema.
Finalizando, Jeongguk não perdeu tempo.
— Terminamos, agora já vou. – Guardou suas coisas e foi para a porta.
— Está com pressa?
— Estou.
— Não está. – Taehyung levantou do sofá, subindo as mangas de sua camisa de botão.
— Você não vai me fazer falar o que eu não quero. – Deu seu aviso.
— Eu não preciso fazer nada, você fala por si só. – Prendeu os botões no cotovelo, deixando seus braços de fora.
Jeongguk continuava de costas, e Taehyung se aproximava pouco a pouco.
— Se quer tanto que eu fale... Não quero conversar sobre o que aconteceu, quero ir embora.
— Diga olhando para mim e está liberado, Jeongguk.
Sentindo algo dentro de si efervescer, o universitário virou para encarar seu professor.
— Por que você faz isso? – Jogou sua bolsa no chão. — Por que usa esse tom de voz pra falar comigo, me intimidando? Acha graça nisso? Se diverte? Isso é uma brincadeira, Taehyung?
— Se está tão irritado, deve se sentir afetado com isso.
— É claro que eu me sinto e você sabe disso! – Disse alto, também se aproximando. — Não me orgulho de sentir, na verdade eu odeio, mas o que eu posso fazer? Eu posso evitar você, posso fingir que o dia de ontem não existiu, posso sumir, então me deixe fazer isso!
— Qual sua interpretação sobre ontem? – Aumentou seus passos, fazendo Jeongguk recuar e encostar suas costas na porta.
— Minha interpretação? Que eu fui, sou e sempre serei um idiota! – Respondeu no mesmo tom raivoso, mas se sentia acuado com a proximidade.
— Por que você nunca me espera dizer nada?
— Pra que eu vou esperar? Pra escutar o óbvio? Eu não quero escutar! Eu não quero sentir nada, Taehyung! E a culpa disso tudo é sua! Eu tentei evitar você, tentei me esquivar e você não deixou, agora eu tô nessa situação parecendo um otário! Sabe como eu me sinto? Me sinto louco, louco! A única explicação pra isso tudo é essa, não tô no meu juízo perfeito.
— E ainda não me deixou falar. – Arqueou uma sobrancelha, passando a língua entre os lábios abertos.
— Se eu for escutar você, terei que fumar. Quer mesmo que eu fume na sua sala?
— Abra a janela. – Deu espaço para Jeongguk passar.
No mesmo instante, ele pegou sua bolsa do chão, tirando o maço e o isqueiro, indo para a janela. A sala tinha ar-condicionado, o ar não deveria sair, mas nenhum dos dois ligou para isso no momento.
Jeongguk se sentou no parapeito, acendeu o cigarro e tragou. Quebrou sua própria regra de não ceder à droga, estava desapontado consigo mesmo, porém, em sua cabeça, a única maneira de lidar com aquilo era fumando.
— Fale.
— Me escute calado. – Ordenou.
— Ok, Senhor Kim. – O olhou de canto e depois para o horizonte, vendo o céu noturno.
— Você se chamou de louco... Sabe o que é loucura, Jeongguk? Jimin me ensinou muito sobre isso. A loucura é a doença do ser, essa doença vem da palavra grega pathos, que você deve conhecer como doença, mal-estar, sofrimento. Entretanto, o pathos em seu significado real, não o deturpado pelo tempo, é espanto, paixão, afeto, essência, tanto é que compõe a palavra empatia, simpatia, entre outras. Essa loucura que você se refere é uma pulsão, seu destino, quem sabe até um exagero, porém, isso faz parte de você, o sofrimento é um dos nossos destinos, é algo que está dentro de nós, sua loucura é inevitável. Sua loucura te torna humano, Jeongguk.
— O que isso tem a ver, Taehyung? – Seus olhos ardiam prendendo o choro.
— Calado! – Desabotoou os dois primeiros botões de sua camisa. — Escute tudo o que eu tenho a dizer... – Passou suas mãos pelo pescoço, agoniado, sentindo o mesmo calor de dias atrás quando estava a sós com Jeongguk em sua casa. — O que eu quero dizer é que todos nós somos loucos, todos temos nossas próprias loucuras. Se você se considera louco, então eu também sou.
Andou até a janela, parando perto de Jeongguk.
— Você olhou somente para si nessa situação, não é? Ao menos me notou? Percebeu algo? Não mudou seu ponto de vista, não quis entender.
As lágrimas teimosas escaparam, Jeongguk as sentiu descendo pelo rosto, mas ignorou. Continuava olhando para o céu e tragando o cigarro.
— Eu só quero entender por que você tá me dizendo isso.
— Mesmo que eu esteja explicando, você simplesmente não entende!
— Não entendo o quê? – Gritou. — Que você não me quer? Que não quis me beijar? Que eu entendi tudo errado, confundi tudo e transformei nessa bagunça por que sou um estúpido? Um carente, desesperado? Eu entendi, Taehyung!
Seu professor chegou perto, muito perto, colocando a mão em sua boca, o calando.
— Fale baixo! – Mandou em um sussurro. — Essas paredes são finas demais para você gritar assim.
Sua mão desceu para o pescoço dele, e assim, suas duas mãos se posicionaram naquele local.
— Como você pode ser tão cego e imaturo? – Perguntou olhando dentro dos olhos de Jeongguk. — Estávamos em um local público, eu não queria que acontecesse ali, só isso! Mais uma vez você não me esperou dizer nada, interpretou do jeito que quis e me deixou sozinho, preocupado. Agora está com toda essa raiva, sendo explosivo, porque não sabe canalizar seus sentimentos e olhar para além do seu umbigo. Se não quer que eu não chame você de imaturo, não aja como um!
Jeongguk empurrou seu professor com força, o fazendo cambalear para trás.
— Me desculpe se não tenho a mesma maturidade que a sua! – Tentou maneirar seu tom de voz. — Me desculpe se não tenho a mesma empatia que a sua e a mesma capacidade de me colocar no lugar do outro. Mas o que você queria, Taehyung? O que você espera de mim? Eu nem sei o que esperar de você!
Perdendo sua paciência, Taehyung segurou os dois pulsos de Jeongguk, o puxando para perto.
— Vou tentar falar de uma maneira que você entenda... – Segurou mais forte. — Eu sinto o mesmo que você, o mesmo sentimento, o mesmo desejo. Essa loucura que está tirando você do sério, é a mesma que vem me assombrando. Eu pensei o mesmo que você, que confundi a situação, que estraguei tudo, que não deveria estar sentindo isso. Está claro o suficiente? Preciso falar mais o quê para você entender que também quero o beijar?
Estavam tão próximos que Taehyung pôde perceber como Jeongguk prendeu a respiração.
— V-você não... – Fraquejou na voz.
— Se você acha tão errado, imagine eu. Imagine o que eu andei e ando pensando. Eu sou seu professor, você é meu aluno. Já cogitei ser um pervertido, um sem noção, já quis inúmeras vezes me afastar de uma vez, mas eu não consigo! – A conversa continuava sendo em sussurros. — Eu tenho certeza que sou bem mais louco que você.
— Tae... – Ainda tremia. Sua mente se recusava a acreditar na confissão, era surreal demais para si. — Isso é verdade...?
Taehyung respirou fundo, deixando de apertar os pulsos de Jeongguk. Suas duas mãos foram parar na cintura dele.
— Se você soubesse... se tivesse noção do tamanho da minha vontade, sentiria pena de mim. Há algum tempo tenho esse desejo, e ele só fez crescer. Ver você de olhos fechados e boca entreaberta bem na minha frente, esperando uma ação minha, acabou comigo. Eu quis tanto beijar você, Sweetie... – Encostou suas testas. — Eu quero tanto.
Dizer que Jeongguk não se arrepiou por inteiro com a declaração seria um absurdo. Nunca sentiu seu coração tão acelerado.
— Me desculpe... Eu realmente não fazia ideia, eu pensei que você não me queria, que nunca iria querer... Por um momento achei impossível você se interessar por mim por causa de tudo que nos rodeia. – Sua respiração estava ofegante.
— Deveria ser impossível, deveria... – Levantou sua cabeça. — Esse é meu local de trabalho, eu não posso estar perto de você assim. Eu não posso estar pensando no que eu estou pensando. Não posso fazer o que eu quero.
Jeongguk também se afastou um pouco, dando espaço para ele. Taehyung não reclamou, e o universitário entendeu que ele queria esse tempo para ele. Voltou para a janela, acendendo outro cigarro, e fechou seus olhos passando toda a conversa em sua mente. Realmente foi um tolo, mas um tolo que não enxergou o óbvio. Seu professor deu sinais claros, assim como ele, e Jeongguk achava tão impossível aquilo ser real que não acreditou.
O ar na sala estava quente, denso. O cheiro dos perfumes deles junto ao cigarro se impregnava em cada canto. Observando Jeongguk com o cigarro, Taehyung teve a ideia mais inusitada de sua vida, talvez sem sentido, mas estava determinado a fazer.
Se aproximou mais uma vez do universitário, com os olhos fixos no cigarro.
— Sabia que eu odeio cigarro, Sweetie? Odeio o odor, a fumaça, os efeitos que ele causa. Você não deveria estar fumando isso, porém não serei hipócrita de te condenar nesse momento. E mesmo que eu odeie... – Pegou na mão de Jeongguk, a mão que segurava o cigarro. — Nesse momento é o máximo que poderei encostar em você.
Jeongguk não compreendia. Estava estampada em sua face uma expressão confusa, sem saber onde Taehyung queria chegar.
— Trague.
— M-mas por quê...?
— Trague, Jeongguk.
Ele fez o que foi mandado, prendendo o filtro em seus lábios e puxando a fumaça para dentro de seus pulmões. Nesse exato momento, Taehyung segurou sua mão novamente, colocando seus dedos por cima dos dedos de Jeongguk. Os mesmos dedos que prendiam o cigarro. Taehyung abaixou os dedos dele, pegando a droga em sua mão, e nesse intervalo de tempo, seus dedos resvalaram na boca de Jeongguk.
Pegando o cigarro para si, Taehyung o prendeu em seus lábios. Os mesmos dedos que cobriram a boca de Jeongguk. O mesmo cigarro que estava preso nos lábios dele, estava nos seus. Com dificuldade, o tragou, evitando tossir. No final, devolveu para os lábios de Jeongguk.
— Esse é o beijo que eu posso lhe oferecer agora.
Mesmo se esforçando muito para não acontecer, Jeongguk corou, avermelhou totalmente. Taehyung fez questão de tocar em sua boca e encostar na dele. Fez questão de pôr em sua boca o que estava na boca de Jeongguk. Não podia fazer o ato, mas podia fazer parte dele, um contato indireto.
Jeongguk acendeu o cigarro, e Taehyung acendeu Jeongguk. O tragou, o consumiu, pôs fogo em seu ser e o guardou em seu peito.
Taehyung buscou a mão livre de Jeongguk e colocou sobre seu coração.
— É assim que eu me sinto... – Os batimentos cardíacos estavam acelerados. — Esse sou eu, Sweetie.
Jeongguk agarrou a camisa dele, jogando a bituca do cigarro e fazendo o mesmo gesto, puxando a mão dele para pôr em seu peito esquerdo.
— Eu tô assim por causa de você. Só você. – Prendeu seus dedos aos dele.
— Não sei se isso me fere ou me conforta. – Murmurou olhando para o chão.
— Você sempre me confortou...
— Eu sei. – Sua voz ficou embargada. — Mas até quando isso não se transformará em dor? Sabemos que não deve acontecer, eu e você sabemos...
— Ei... – Nunca tinha visto seu professor com uma expressão tão triste. Tocou no rosto dele e percebeu que ele chorava. — Taehyung, por favor...
— Eu tenho uma ética a seguir, eu tenho uma profissão...
— Tae, por favor...
— Nunca pense que a culpa é sua. — Desvinculou-se do contato, enxugando suas lágrimas, abotoando a camisa e pegando sua bolsa posta no sofá. — A culpa é unicamente minha.
— Agora você tá sendo imaturo! – Exclamou desesperado com a atitude dele.
— Não poderei voltar de trem com você hoje, me desculpe. – Limpou seus óculos que molharam pelo choro.
— Você não é errado, não fez nada de errado! – A agonia lhe consumia. — Me escute! Você não tá sozinho nisso, foi o que você disse! Eu e você somos loucos, eu e você sabemos!
Taehyung ignorava o apelo de Jeongguk, não por que queria, mas porque precisava. O olhando uma última vez, foi embora.
Jeongguk ficou na sala dos professores com um nó em sua garganta e o cheiro da fumaça do cigarro misturado com o perfume de Taehyung, sendo essa a única prova do momento íntimo e intenso que compartilharam.
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