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Capítulo 01: borrão de tinta azul

Por favor, leiam as notas finais.
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Abro os olhos com relutância, uma dor latejante domina minha cabeça. As noites se estendem até altas horas devido a uma grande encomenda que exige minha atenção. É nesse período tardio que minha criatividade parece florescer, mas os efeitos colaterais dessa rotina exaustiva se tornam cada vez mais evidentes.

Respiro fundo, esforçando-me para me erguer da cama. Uma pontada de dor protesta em meu ombro direito, como se um pequeno punhal perfurasse a pele. Levo minha mão instintivamente até o local, enquanto inclino a cabeça para o lado e inicio uma massagem improvisada. A luz fraca que invade o quarto revela os contornos dos móveis e a sombra das cortinas dançando suavemente.

Enquanto meus pensamentos vagueiam pelo quarto, minha mão desfaz a tensão no meu ombro. Um suspiro involuntário escapa dos meus lábios ao pressionar com firmeza o músculo rígido, buscando alívio para a exaustão que parece pesar não apenas nos meus ombros, mas em toda a minha existência naquele momento.

Ser uma artista em um país como o Brasil não é como saborear uma bandeja de morango com calda de chocolate. Nossa profissão é subestimada, apesar da dedicação integral que investimos em cada obra de arte. Passamos incontáveis horas, dias e meses trabalhando em um único projeto, apenas para sermos frequentemente alvo de julgamentos injustos, como o rótulo pejorativo de "vagabundos". Além disso, muitos insistem que deveríamos possuir um diploma universitário.

Com um resmungo, levanto-me da cama. Em passos distraídos, atravesso o quarto, ainda meio envolta pela névoa do sono, coçando o olho esquerdo preguiçosamente. O destino prega suas peças quando meus pés desavisados se enroscam em um cavalete de madeira, iniciando uma sequência de eventos desagradáveis.

Em câmera lenta, diante dos meus olhos sonolentos, testemunho o desenrolar trágico: a tela do meu novo projeto oscila perigosamente antes de tombar com graciosidade para frente e para trás. O cavalete, fiel companheiro de tantas criações, cede ao chão, desencadeando um efeito dominó previsível. Como se a desgraça fosse pouca na minha vida, a lembrança tardia da tampa mal fechada do pote de tinta surge em minha mente cansada, enquanto sou espectadora involuntária do espetáculo caótico provocado pelo voo desgovernado do frasco de tinta acima da minha cabeça aturdida.

Em um instante, sinto o toque gélido da tinta azul cair sobre mim, tingindo meu cabelo e minhas roupas de dormir. Assim, sem aviso prévio, sou transformada em uma obra viva e acidental, o retrato vivo e palpável de uma pessoa destratada.

Ao deparar-me com o quadro caído no chão, uma intensa tontura me assola, fazendo o ambiente ao meu redor começar a girar lentamente, como se eu estivesse presa em um carrossel desgovernado.

Há dois dias, mergulhei de cabeça nesta nova pintura.

Uma encomenda singular transformou-se em minha obsessão artística:  a representação de uma magnífica borboleta azul repousando suavemente em uma exótica Dália Negra.

Cada traço, cada nuance de azul meticulosamente escolhido para capturar a leveza e elegância das asas da borboleta; cada pincelada precisa, carregada de intenção, para dar vida à textura sedosa e misteriosa da flor... Cada instante investido nessa obra-prima foi permeado por uma paixão avassaladora e uma dedicação sem limites. No entanto, em um breve lapso de atenção, todo o esplendor e minúcia do meu trabalho se reduziram a um único borrão de tinta azul, apagando em um instante o brilho de horas de esforço e inspiração.

Meu coração martela no peito com urgência, ecoando como um tambor em um ritmo frenético. Minha mão voa ao peito em um gesto dramático, capturando a essência fervorosa da ansiedade que me envolve neste instante. A pulsação dos batimentos que sinto sob a palma da minha mão é como um lembrete constante do tempo escorrendo entre meus dedos.

Essa era a última tela em "meu estoque", uma superfície destruída que agora me encara com deboche, zombando da minha falta de preparo. Sem material para trabalhar, sinto-me exausta e desamparada. A sensação de esgotamento me envolve, enquanto encaro o caos que se instaurou ao meu redor.

Um suspiro exausto e profundo se libertou de meus lábios, ecoando pelo quarto silencioso. Em um gesto automático, minhas mãos buscaram alívio coçando a cabeça, em uma tentativa vã de desfazer o emaranhado de preocupações que teimam em dominar meus pensamentos.

"Ok, isso não é o fim do mundo. Afinal, quem nunca passou por uma situação assim, né? Sei exatamente onde posso conseguir mais telas em branco... Mas porra, estou tão exausta que até minha exaustão está cansada!"

Completamente salpicada de tinta, percorro o quarto em direção ao banheiro, deixando pegadas azuis marcadas pelo caminho. Antes de sequer cogitar colocar ordem na bagunça que é minha vida, sinto a urgência de me livrar da sujeira que me cobre, tanto literal quanto metaforicamente.

Após fechar o registro do chuveiro, percebo horrorizada que o box está completamente manchado de tinta azul, parecendo que eu ali dentro protagonizei um verdadeiro cenário de crime contra o Papai Smurf, com direito a múltiplas facadas imaginárias.

Ao sair do chuveiro e me envolver em uma toalha felpuda, permaneço estática diante do espelho embaçado por alguns instantes. Com um simples movimento, dissipo o embaçamento e encaro meu reflexo. Entre meus cabelos dourados, percebo sutis mechas azuladas dançando e um leve brilho azul em minha pele, contrastando com sua tonalidade usual.

— Dona Madalena, por que precisava me vender uma tinta tão resistente? — Lamento em voz alta, fazendo um bico infantil.

De volta ao quarto, deparo-me com a bagunça que eu mesma havia provocado. No ar, flutua um suave aroma de tinta fresca.

As paredes do meu quarto se transformaram em uma galeria viva, onde cada desenho narra uma história singular e envolvente. Uma cama de casal simples, porém acolhedora, destaca-se no ambiente, enquanto o guarda-roupa, antes imaculado em seu branco original, tornou-se agora uma tela viva da minha expressão criativa, enfeitado com desenhos espontâneos e marcas de tintas que refletem meus diversos estados de espírito.

Sobre a mesa, um emaranhado de encomendas caprichosamente embaladas aguarda pacientemente para ser despachado, cada pacote contendo não apenas um produto, mas um pedaço da minha alma entregue ao mundo com carinho e dedicação.

No piso de mármore branco, agora manchado por um azul profundo como o oceano em noite de tempestade, jaz o cavalete desmantelado, o quadro borrado e o pote de tinta aberto e vazio. Uma expressão de frustração se desenha em meu rosto ao sentir a dor latejante em meu ombro direito, uma lembrança constante do árduo trabalho dedicado àquela pintura agora arruinada.

Através dos meus olhos de artista, percebo que a situação não é tão catastrófica quanto aparenta. O chão do meu quarto se metamorfoseou em um oceano improvisado, onde a tinta flui de maneira harmoniosa por baixo da cama, espalhando-se suavemente pelo piso como uma dança líquida e hipnotizante. Existe uma beleza singular nesse caos aparente, uma coreografia inesperada que transforma a bagunça em uma expressão artística surpreendente, como se cada gota de tinta fosse uma pincelada de genialidade em um quadro abstrato e cativante.

É fascinante como até as pegadas azuis que deixei no chão estão me envolvendo. Apesar de ter consciência de que deveria limpar toda essa desordem, simplesmente não encontro ânimo para lidar com isso neste instante. Afinal, algumas bagunças merecem ser apreciadas antes de serem reorganizadas.

Desprezo a toalha que me envolvia e a lanço displicentemente sobre a cama. Com passos cuidadosos para evitar os respingos de tinta no chão e o cavalete no caminho, dirijo-me em direção ao guarda-roupa. Vasculho pelas portas e gavetas, procurando por algo para vestir.

Sem hesitação, seleciono a primeira calça ao alcance dos meus dedos, apreciando a sensação familiar e reconfortante do tecido sob minha pele. A camiseta branca estampada com "Lírios de Água", uma obra de Monet capaz de despertar em mim uma serenidade profunda, é minha escolha instantânea. Com movimentos ágeis e calculados, visto-me com rapidez, focando na praticidade e conforto.

No canto do guarda-roupa, onde a tinta não alcançou o chão – graças a Deus –, encontro meu tênis casual preto, cujo solado incrivelmente confortável abraça cada passo com delicadeza, amarrando os cadarços com precisão. Diante do espelho, com um pente em mãos, desembaraço os fios loiros levemente azulados do meu cabelo, sentindo a doce fragrância do condicionador de Pitaya se mesclar ao aroma de tinta no ar.

Também não posso evitar franzir a sobrancelha ao notar a peculiaridade do subtom da minha pele. Sinto-me como se tivesse acabado de sair de um filme infantil, lembrando os personagens azulados de "Os Smurfs". Encolho os ombros resignados, ciente de que não há muito a ser feito a respeito. Afinal, sei que a tinta irá se dissipar gradualmente com o passar dos dias, à medida que tomo meus banhos diários.

Com um suspiro de aceitação, encaminhei-me até a mesa onde as demais encomendas repousavam, ilesas do caos que minha desastrada persona artística havia causado ao sair da cama. Peguei meu notebook e ao sentir o peso do aparelho em minha mão, meu pulso protestou vigorosamente. A tendinite, fiel companheira de anos, resultante dos movimentos repetitivos de desenhar e pintar, fez-se sentir mais uma vez. Sem dar atenção à pontada de dor, segui em frente, deixando o quarto para trás.

A fragrância suave de lavanda, com seu aroma floral delicado e reconfortante, me envolve à medida que avanço pelo corredor. Moro sozinha no mesmo apartamento desde os meus dezoito anos, um espaço que testemunhou minhas alegrias, tristezas e crescimento ao longo dos anos.

Desde que eu me entendo por gente, desenhar sempre foi meu abrigo secreto, um universo onde as texturas dos giz de cera, lápis coloridos e tintas se transmutavam em pura magia. Recordo vagamente da transição da inocência infantil na creche para os primeiros passos na escola primária, com suas disciplinas sérias como matemática, história e geografia. No entanto, era nas aulas de artes que meu coração batia mais forte, ansiando por aquele momento mágico de libertação. Ali, diante das folhas em branco, eu encontrava um portal para um mundo de infinitas possibilidades, onde minha imaginação podia correr livremente.

Na adolescência, eu ganhava alguns trocados ao retratar realisticamente os meus colegas de escola em desenhos. Cada traço cuidadosamente desenhado capturava a essência única de cada pessoa: os olhares curiosos, os sorrisos tímidos, as expressões de concentração durante as aulas. Detalhes minuciosos que escapavam aos olhares desatentos de outras pessoas, mas que eu conseguia enxergar e transpor para o papel sem dificuldade. Foi com um desses retratos que uma chave se virou nas engrenagens do meu cérebro. Percebi, com uma certeza inabalável, que aquele era o meu destino: ser uma artista.

Quando contei aos meus pais que queria ser artista e fazer disso a minha principal fonte de renda, a reação deles foi desastrosa. Não aceitaram bem a minha decisão. Para eles, a arte não era vista como uma profissão legítima, mas apenas como um passatempo sem futuro garantido. Nos dias que se seguiram, até o último dia do ensino médio, fui inundada por constantes cobranças para que eu ingressasse em uma faculdade tradicional e seguisse um caminho mais "seguro" aos olhos deles.

Sentia-me como uma prisioneira, enclausurada em um aquário transparente, lutando freneticamente por ar, enquanto me afogava em um oceano de expectativas e pressões externas. Cada respiração era um suplício.

"Vá para a faculdade ou busque um emprego estável, com carteira assinada." — repetiam meus pais sempre que tinham a oportunidade.

Os ecos dessas palavras reverberavam em minha mente como correntes invisíveis, teimando em me puxar em direção a um destino já traçado, afastando-me sorrateiramente do fulgor da minha paixão pela arte.

Após assistir um episódio inspirador de One Piece em uma madrugada qualquer, tomei uma decisão. Aquela história de determinação, coragem e amizade mexeu comigo. As palavras dos personagens ressoaram na minha alma, lembrando-me da importância de seguir meus próprios sonhos, independentemente dos obstáculos. Naquela noite, decidi assumir o controle da minha vida, traçando meu caminho em direção à superfície;  a realização do meu desejo mais profundo.

Era o momento de me permitir ser genuinamente quem eu sou e abraçar a incerteza do porvir, confiando plenamente que a arte seria minha guia, minha bússola nesse mar desconhecido.

Nos meses seguintes, entreguei-me de corpo e alma à arte em segredo, no santuário tranquilo do meu quarto. Entre pincéis e cores, dei vida a criações originais pulsantes de emoção, assim como a reproduções fiéis de artistas que sempre me inspiraram. Com ousadia, compartilhei essas obras no mundo virtual, expondo-as em plataformas de comércio eletrônico. A confiança dos clientes, conquistada dia após dia, tornou-se minha cúmplice, impulsionando-me para novas conquistas. Com os frutos desse incansável trabalho, ergui do zero meu próprio site: um refúgio digital onde minha paixão transbordava em cada pixel. Cada venda bem-sucedida não era apenas um número, mas sim um passo firme na construção do meu legado, onde cada centavo guardado representava um sonho mais próximo de se realizar.

Meus pais estavam completamente alheios ao que se passava debaixo de seu próprio teto.

E assim, como uma gestação de aproximadamente nove meses, a oportunidade perfeita finalmente se apresentou. Sem pensar duas vezes , abandonei a suposta comodidade – que já não me acolhia – do lar dos meus pais para mergulhar de cabeça em uma existência dedicada inteiramente à minha arte.

Uma parte de mim reconhecia a insanidade total daquela ideia; um impulso louco e desenfreado. No início, o medo era avassalador. Entretanto, agora, após dois anos desde então, as coisas parecem fluir de maneira surpreendente. Tão bem-sucedido que, por vezes, me vejo sobrecarregada pela quantidade de pedidos. A organização se tornou um desafio diante do caos em que minha rotina se transformou (não que antes eu fosse uma pessoa organizada). A cada nova encomenda, surgem expectativas elevadas, colocando-me constantemente à prova na busca por superar a pintura anterior.

Ao adentrar a pequena cozinha, os armários também exibem minhas artes. Como artista, não posso deixar nenhuma superfície em branco.

Coloco delicadamente o notebook sobre a mesa, abrindo-o com destreza e reiniciando-o enquanto me apresso para preparar meu café da manhã. Minha mão esquerda repousa com elegância na cintura, enquanto a direita segura o canecão fumegante, despejando a água quente com cuidado no coador. Com um pé levemente à frente do outro, pondero sobre a melhor forma de comunicar à cliente o pequeno atraso em sua encomenda. Para mim, o verdadeiro desafio da minha profissão não está em criar obras-primas, como um extenso quadro realista de uma família, mas sim em lidar com um público tão exigente em suas solicitações.

Com um copo americano de café quente e perfumado ao meu lado, acomodo-me na cadeira, cruzando as pernas enquanto massageio brevemente meu ombro, que ainda estava rígido e dolorido. Ao abrir o navegador, acesso meu site de vendas, carinhosamente batizado de "AMEART", uma combinação das iniciais do meu nome, Amélia, com a palavra "arte" em inglês.

Deslizando o dedo indicador suavemente pelo mouse com a mão direita, trago o café à boca e imediatamente sinto o amargor invadir meu paladar.

— Falta açúcar. — resmungo, franzindo a sobrancelha em descontentamento.

Respiro fundo, preenchendo os pulmões antes de clicar na caixa de entrada da conversa com a cliente que fez a encomenda do quadro, agora tragicamente reduzido a um borrão de tinta azul. A ansiedade aperta meu peito, e sinto o peso da responsabilidade enquanto me preparo para explicar a situação; cada palavra que digitar precisa ser escolhida com extrema cautela.

Posiciono o copo na mesa por um momento e começo a digitar com agilidade e precisão. Na mensagem, informo que, devido à escassez de material, a entrega da pintura terá um pequeno atraso. Porém, para compensar esse contratempo, ofereço um desconto especial. Opto por silenciar o fato de que sou uma artista desastrada, responsável por arruinar um quadro que estava finalizado; devo preservar minha imagem profissional.

Após saborear o último gole do café amargo, que arrepiou cada pedacinho de mim, deixo o copo sujo na pia. Com um suspiro profundo, fecho o notebook, permitindo que ele descanse em paz sobre a mesa. Ao pegar a chave do apartamento, que repousa em um porta-chaves fofo que personalizei com tanto carinho, saio do meu lar;  um reflexo da bagunça criativa que habita minha mente artisticamente caótica.

É hora de voltar à papelaria, comprar mais uma tela e recomeçar tudo novamente.


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NOTA DA AUTORA:  Estamos de volta ao clichê! "A ARTE DE TE AMAR" é um conto que escrevi em 2022. Sim, faz dois anos e o mantive escondido até agora. Refleti bastante se deveria publicá-lo ou não, afinal, ele não é extenso e também não apresenta um enredo excepcional; é apenas algo que nasceu em uma madrugada comum, mas que carrega um pedacinho de mim.

Não seria justo com a Amélia, afinal, Jane e Jack, de "Tudo Acontece Como Deve Ser" – uma obra que você pode encontrar facilmente no meu perfil entre as demais – também não tinham um enredo absurdo ou super elaborado. Amélia e Felipe merecem ter sua história publicada.

Espero que as pessoas se encantem pela minha artista desastrada! Ela é um reflexo da minha própria personalidade, que adora desenhar. A dor no ombro que ela sente é a mesma que eu enfrento sempre que passo horas imersa em alguma criação.

Os dias em que publicarei os capítulos ainda não estão definidos, pois tudo vai depender muito do meu humor. A parte mais chata de escrever, sem dúvida, é a revisão! Mas não se preocupem, vocês não ficarão sem saber o final. Esse conto já está concluído nos rascunhos; estou apenas revisando e adicionando detalhes que deixei passar na primeira versão. É um processo que pode ser cansativo.

Dito isso, não esqueçam de deixar alguns comentários e votar! E, claro, obrigada por abraçarem mais uma história!

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