Extra 2: Pais de menina
Já fazia alguns dias que Severus andava estranhando o James. Não queria fazer perguntas, tampouco sentia vontade de pressioná-lo a explicar-se, mas sentia que havia alguma coisa que Potter desejava contar. Para dizer a verdade, Severus estava assustado e era exatamente por esse motivo que temia pressioná-lo. E se James não o amasse mais? A ideia lhe dava calafrios. Calafrios intensos.
Na noite de segunda-feira, em um jantar quieto, coisa que não acontecia desde o episódio em que Remus havia arranhado o olho na noite de lua cheia de três meses atrás, Severus surtou.
Levantou-se e bateu na mesa, gritando a plenos pulmões:
–O que você está escondendo de mim, James Potter?!
Seu surto foi tão alto que fez Sirius largar os talheres e erguer os braços em sinal de redenção. James apenas olhou para Severus de aspecto confuso antes de perguntar:
–Como assim?
–Você mal tem olhado para mim!--Severus temeu o tom choroso em suas palavras.--Você parece estar me evitando, nem tem me beijado mais. Isso está me entristecendo, James!
Remus e Sirius olharam para Potter de sobrancelhas arqueadas, o rosto de Sirius parecendo levemente irritado e ansioso.
–É sério que você não contou para ele, James?--Black acusou.--Você prometeu que iria contar a, sei lá, três semanas atrás.
Agora Severus estava tremendo. O que James deveria ter contado a três semanas atrás?
–Você...–Snape engoliu em seco.--Você quer terminar. É isso?
–Quê?!--James quase gritou. Se tivesse um teto em cima dele, teria batido a cabeça com força.--Enlouqueceu, amor?!
Essas palavras acalmaram Severus, mas também o irritaram.
–Então conta de uma vez! O que pode ser tão difícil de falar, que está até te impedindo de transar comigo à noite?!
Remus poderia ter se levantado e socado James quando esse abriu a boca e a manteve aberta sem emitir qualquer som.
–Deixa que eu conto.--Lupin suspirou e olhou para Severus de maneira preocupada.--James contou a mim que uma garotinha de uns 4 anos foi encontrada nos escombros de uma casa atacada por Comensais da Morte inconformados com o final da guerra faz algumas semanas. Ela não tem família viva, pelo o que analisaram. James estava a visitando escondida na casa de adoção e a duas semanas atrás contou a Sirius e a mim que queria muito, muito mesmo, adotá-la, mas estava e está com medo de você dizer não e...
–Por que diabos eu diria não?!--Severus surtou, de novo (era o comum dele).--Eu não sou contra a ideia de termos filhos! Pensei ter deixado bem claro.
James arregalou os olhos e olhou-o de aspecto um tanto quanto assustado.
–Mas você não se dá bem com crianças...
–Pegou pesado, James.--Ele respondeu de rosto irritado.--Quando foi que você me viu interagindo com uma criança?
A verdade é que nenhum dos três já havia visto Severus Snape interagindo com uma criança.
–Bem...–Remus soltou um risinho.--Nós nunca o vimos interagindo com...
–Viu?! Tiraram essa informação só analisando o meu jeito! Eu gosto, sim, de crianças.
James poderia ter ganhado na loteria, porque pulou em cima de Severus e o encheu dos beijos que o pobre do ex sonserino não recebia a semanas.
–Podemos adotá-la, então?--Potter perguntou com os olhos brilhando em excitação.
Severus revirou os olhos antes de respondê-lo com o melhor sorriso que possuía. James não estava querendo terminar, afinal, apenas querendo uma criança.
–Podemos, James. Podemos.
Comicamente, eles mal haviam analisado a questão. Severus não fazia ideia de como se criava uma criança, tampouco os outros três.
***
Era odiável pensar que o sistema de adoção só aceitou que eles adotassem a Catherine após a menina só aceitar que James a segurasse. Outros casais haviam tentado adotá-la, mas a garotinha, que parecia ter um gênio forte, negou-se fortemente a abraçar qualquer outra pessoa que não fosse James Potter.
A felicidade em seu rosto não poderia ser maior, porque após seis longos meses de burocracia intensa (que envolveu muita conversa do conselho tutelar com os conhecidos dos quatro, análise da casa e no emprego de cada, além do fato de o emprego de professor de Remus tê-los ajudado em parte na adoção, já que Remus, teoricamente, sabia lidar com crianças, não importava que elas tivessem de 11 a 18 anos), os quatro adentravam a porta da casa com uma menina de cinco anos nos braços de James.
Catherine negou-se fortemente a aceitar os abraços de Sirius, mas sorriu para Remus e segurou o dedo de Severus. Para piorar a situação, ela ficava assustada quando Severus revirava os olhos para um dos três e quando Remus estava com os olhos amarelos (se tivessem contado para o Conselho Tutelar dos bruxos sobre o fato de Remus ser licantropo, não estariam com Catherine em casa), ela costumava esconder-se atrás do sofá.
Foram semanas de intensas tentativas, brincadeiras e comidas gostosas, até ela aceitar que Sirius a segurasse no colo. Foram mais semanas até ela ficar perto de Remus e três meses até Severus conseguir pentear o cabelo dela (coisa que ele gostava de fazer com o cabelo de James, principalmente).
No final, Catherine se tornou o motivo para eles ficarem ansiosos para todos os finais de semana.
–James, traz a maldita cesta de piquenique, Catherine está com fome!--Sirius gritou e Severus tampou os ouvidos de Catherine, que sorria para o céu azul no colo de Remus.
–Este morro é alto, beleza?!--James gritou enquanto subia em direção ao topo duma colina verde.
Todos os finais de semana, eles se divertiam de alguma forma com Catherine, que parecia gostar principalmente de locais calmos. Severus imaginava se tratar de algum trauma, porque crianças de cinco anos costumavam gostar de brincar com outras crianças e ela se escondia atrás deles com grande frequência quando alguém da idade dela demonstrava querer brincar.
Estavam trabalhando para ajudá-la nisso, levando-a em Parques de Diversão Trouxas e em pracinhas, mas, ainda assim, valorizavam o tempo sozinhos com ela.
Catherine largou-se em frente à cesta de piquenique quando James a largou em cima do pano e retirou um pedaço de bolo de dentro, o mordiscando. James riu ao vê-la lambuzada de chocolate.
O grande problema de eles serem pais de menina, era que James costumava ter pesadelos à noite. Como seria quando ela crescesse? Eles saberiam lidar com a primeira menstruação dela? Saberiam explicar sobre os perigos de uma gravidez quando ela aparecesse namorando um cara? O que aconteceria se ela precisasse urgente dos conselhos de uma mulher?
Bem... Não era só o James que andava tendo pesadelos. Geralmente Severus sonhava com um grande idiota partindo seu coraçãozinho. Não era muito diferente para Sirius e Remus, que, a algumas semanas atrás, olharam melancólicos para as canelas de Catherine fora da calça que lhe servia certamente a apenas um tempo atrás. Crianças cresciam rápido demais!
No final das contas, era um desafio para os quatro serem pais de menina, mas não parecia tão importante deixar a ansiedade destruir suas cabeças. A vida era feita de fases e, inevitavelmente, Catherine cresceria e os deixaria para seguir a vida dela. Por enquanto, porém, eles a aproveitariam e seriam os pais babões que haviam se tornado após a linda garotinha cruzar a entrada de casa.
–Querida, coma mais devagar, vai acabar se engasgando.--Remus riu ao vê-la enfiar um sanduíche quase inteiro na boca, o que ela respondeu com uma risada adorável.
Não importava que ela fosse um fato recente de suas vidas, eles já a amavam de todo o coração.
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