Cartas de um grande imbecil
–Vocês nem sabem o que aconteceu!
Quando Susana Highwood chegou à mesa da Sonserina, Severus imaginou que ela tivesse um baita de um babado para contar. Aquela garota era a responsável por repassar as maiores fofocas da escola. Ela havia arrancado ele do armário. E que arrancada!
–O que aconteceu?--Uma garota, Severus imaginou se tratar de Katie Zabine, quase pulou da cadeira.
–James Potter caiu da escada ontem por causa de uma gosma medicinal do professor Slughorn e está na enfermaria. Falaram que ele quebrou as duas pernas e um dos braços!
Severus se levantou e, sem informar ninguém, saiu andando do Salão Principal. A carta em suas mãos estava meio aberta, mas ele não se importou em terminar de lê-la. O que Lucius estava dizendo era óbvio em apenas uma linha, não precisava de dez.
Caro Severus, sinto muito, mas, pelo bem de minha reputação, não poderemos mais nos ver à vista de todos...
Maldito! Como se Severus se importasse o suficiente com ele. Tudo bem que se imaginava com Malfoy, mas não passava de sexo. Seus sonhos envolviam apenas ato carnal. O idiota inventar de lhe mandar uma carta gigante, explicando que não poderiam mais se ver diante de outras pessoas era... Era...
Era horrível! Severus queria chorar.
Chegou a enfermaria sem entender o real motivo para ter andado até aí. Somente quando se deparou com Black e Lupin de braços cruzados e pés inquietos em frente à porta, que se permitiu entender exatamente o que Susan havia dito.
–Severus?--Remus pareceu engolir em seco.--O que faz aqui?
–Fiquei sabendo que Potter quebrou os dois pés e um braço...
–Somente um braço.--Sirius pareceu se segurar para não rir.--Madame Pomfrey irá liberá-lo em alguns minutos.
Um silêncio desconfortável se fez presente. Severus, quando ia voltar para o Salão Principal, foi barrado por um James sonolento que deixava a enfermaria como se tivesse lutado em uma guerra. Suas costas, Severus imaginava, estavam doloridas ao extremo.
–Sem tipoia?--Remus parecia culpado.--Curou totalmente?
–Eu estava pronto em duas horas, mas ela insistiu para mim passar a noite por medo de eu ter sofrido uma contusão na cabeça.
Quando ele nota Severus, sua postura cansada deixa de existir. Ele sorri, parecendo tão doido quanto alguém que havia acabado de bater a cabeça. O que realmente havia acontecido.
–Severus!--Ele se aproxima.--Eu amei a cena em que Cardan joga terra na comida da Jude e da irmã.
Severus segura a risada, mas acaba sendo inútil. Quando Remus afasta James de si, ele ri alto.
–É sério isso, Potter?
Ele esperava que o garoto fosse dizer qualquer coisa referente a qualquer outro assunto sem se tratar de livros, mas a primeira coisa que desceu seus lábios teve a ver com Príncipe Cruel. Eles realmente haviam feito o dever de casa.
–Eu acho engraçado o fato de eles montarem em sapos gigantes.
–É sério?--Remus coloca as mãos na cintura, debochando.--A Sociedade do Anel tem um bruxo muito parecido com o Dumbledore e eu acho ele um máximo.
–Isso é uma disputa?--Sirius escora na parede.--Minha saga tem um sátiro. Um cara meio bode meio homem.
–Quê?
James tenta continuar a brincadeira, mas Severus ria tão alto e tão claro, que eles pararam para olhá-lo. Snape teve a impressão de que eles sorriam, mas seus olhos estavam fechados.
–É muito bom saber que vocês leram.--Ele recupera o tom.--E é bom ver que você está bem, James.
Ele se vira para ir embora, mas James se coloca à sua frente antes que ele pudesse dar um passo sequer.
–Nós estávamos indo conversar com você quando eu caí.
–Sobre o quê?
–Sobre os livros.
Severus espera que ele continue, mas James parece ficar preso nas próprias palavras. Remus dá dois passos para frente e cruza novamente os braços, livrando James das palavras que ele desconhecia.
–Você gostaria de fazer um piquenique conosco?
A ideia não o entristece, para dizer a verdade, o deixa apenas nervoso. Não era de todo mal, ele estava triste por causa de Lucius e um piquenique com aquelas três criaturas o faria rir. Porém...
Porém ele pensaria nas consequências depois.
–Acho uma ótima ideia.--Ele força um sorriso-- Poderia ser hoje, depois das aulas?
Aquilo os pega de surpresa. Severus ri de suas expressões.
Sim, o piquenique o ajudaria a esquecer Lucius.
–Ótima ideia!--Quem fala é James. Sirius estava com os olhos arregalados a quase um metro de distância.--Combinaremos com os elfos!
Severus dá meia volta, andando com passos largos em direção ao Salão Principal. Os marotos sorriam bobamente.
–Obrigado por quebrar o braço, James.--Sirius o puxa para um abraço de lado.--E obrigado por ter nos forçado a descer até Severus e convidá-lo para o baile, Remus.--Ele tenta fazer o mesmo com o licantropo, mas esse o empurra para longe.
–Pare de ser idiota!--Remus começa a andar em direção à entrada das masmorras.--Precisamos conversar com os elfos antes das aulas começarem, senão eles não farão as comidas!
***
Severus poderia ter soltado uma risada alta, talvez apenas levantado os lábios. O que ele fez, porém, foi continuar andando em direção ao pano e à cesta dispostos no chão na beira do Lago Negro com um olhar indiferente. Os três estavam vestidos em ternos negros, muito mais belos do que os do dia do baile, mas, ainda assim, vergonhosos.
Quando estava próximo o bastante para eles notarem a sua presença, realmente riu. Lupin, com todo o seu esplendor, sorriu da forma mais vergonhosa possível. No mesmo instante em que a risada saiu de seus lábios, ele se arrependeu amargamente.
–Desculpa!--Severus tentou controlar-se.--É que é desnecessário se arrumarem dessa maneira para atrair a minha atenção. Ainda mais para me fazer querer vocês por serem... Bem... Ricos? Ou estarem se fingindo de ricos.
Ufa! Um alívio do tamanho de Hogwarts tomou o corpo de Severus ao finalmente soltar as palavras que guardava desde o dia do baile. Porém, isso não o fez se sentir melhor a respeito de outros fatores.
Sirius tem o rosto mais corado do que um pimentão quando se permite olhar para o rosto agora calmo do Sonserino. Os três se fitam, antes de, com um pequeno bufo, Potter rir.
–Nós achamos que assim...
Lupin o interrompe:
–Você fosse nos achar parecidos com personagens de livros.
Potter o interrompe dessa vez:
–Eu não pensei por esse lado. Achei que fosse nos achar autênticos... Já que você é autêntico.
Sirius, que não havia falado nada até aquele momento, pigarreia.
–Eu achei que fosse nos achar galanteadores, apenas.
Severus parece uma criança quando se senta sobre a toalha do piquenique e morde um pedaço de bolo. Ele os chama para se sentarem também, o que os três fazem de forma relutante.
–Tudo bem, mas não é assim que vocês vão me conquistar.
Vocês nunca vão me conquistar, mas são tentativas maravilhosas.
–É tão óbvio assim?--Lupin limpa a garganta.--Fomos óbvios demais?
Severus termina de mastigar antes de responder:
–Com toda a certeza. Falta vocês se matarem!
Uma coruja, voando em alta velocidade e parecendo tonta o suficiente para destruir uma janela, caiu acima da cesta de piquenique. Severus a segura antes que pudesse destruir o que tinha lá dentro.
James abaixa a cabeça para poder ler o nome preso ao pescoço do pássaro e se retém a bufar quando lê em letras chiques e bem escritas o nome "Malfoy".
Serverus retira a carta do bico do animal. Sirius teve a impressão de que as suas mãos tremiam.
–Foi mal.--Severus limpa a garganta. Parecia desejar chorar.--Eu não sabia que ele iria mandar uma carta.
–Tudo bem.--Sirius sorri forçado.--Pode lê-la.
Severus sorriu docilmente, um sorriso capaz de desfigurar os três aí em sua frente. Antes que ele se levantasse totalmente e os deixasse a sós, James lhe entregou outro pedaço de bolo, o qual ele segurou de bom grado.
Quando Snape estava afastado o suficiente para que pudessem conversar sem ser escutados, Sirius sentiu a sua garganta coçar.
–Eu. Odeio. Lucius. Malfoy.
Remus parecia meditar.
–Eu também odeio Lucius Malfoy.
James comia furiosamente um sanduíche.
–Vou colocar Lucius Malfoy numa panela fervente.
Na outra beira do Lago Negro, Severus sentia a carta tremer em suas mãos.
Caro, Severus.
Devo tê-lo magoado com a carta de hoje cedo, não foi a minha intenção. Gostaria de encontrá-lo hoje à noite. Poderia sair escondido à Hogsmeade para podermos conversar em paz? Estarei esperando-o em Três Vassouras.
Com carinho, seu Lúcius.
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