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04|Senhoras Fofas, Rejeições, Lágrimas De Areia, Apelidos Caóticos e Anjos

Boa leitura!
😘

        Acordo tarde. Quando meus olhos se abrem para o quarto novo e emprestado, já são quase duas e logo percebo que estou com uma ressaca do cão que irá, provavelmente, me deixar de um mau humor horrendo pelo resto do dia.

        Quase chorando por conta da dor pulsante em minha cabeça, na forma como qualquer movimento brusco causa náusea e no suor grudado em minha pele, eu me levanto e vou direto ao banheiro adjacente ao cômodo designado pra mim. Depois de fazer minha higiene matinal, me sinto quase humana novamente e o alívio que surge é indescritível.

        Desço para um café/almoço e acabo por encontrar Xavier no meio do caminho.

        — Bom dia Xavier, ou seria boa tarde? Tô meio perdida no horário. — sorrio pequeno.

        — Boa tarde, senhorita.

        — Xavier, eu agradeceria muito se me chamasse de Audrey. Muito mesmo. — já estou acostumada a ser tratada como senhorita, mas não por empregados.

        Os dos meus avós eram parte da família, sem muita formalidade e fiquei mais do que contente em saber que ambos os meus criadores garantiram que eles teriam dinheiro o suficiente para uma vida confortável sem a necessidade de procurarem outro serviço após suas mortes.

        — Desculpe-me senhorita Audrey.

        — Argh! Você não tem jeito. Eu desisto! — reclamo, fazendo um biquinho e deixando que minha personalidade mimada apareça.

        Termino de descer os degraus escutando a risada gentil do mordomo que martela em minha mente. Xavier é simpático e logo de cara eu já gostei dele, nosso santo meio que bateu, como dizem por aí e ele me lembra um pouco do humor de meu avô também. Acho que eles teriam se dado bem se tivessem conhecido um ao outro.

        Pensar em meu avô não chega a ser tão doloroso quanto pensar em minha avó, ou na dor que senti quando ele morreu. Ainda dói, está ali a dor, a mesma de quando eu o enterrei, mas de alguma forma, sem que eu tenha percebido, ela se tornou suportável ou então eu me adaptei para conviver com ela. Torço para que a dor de perder minha avó também se torne suportável com o tempo ou que não demore muito para que isso aconteça.

        Quando chego na cozinha elegante e limpa, começo a preparar um lanche rápido e leve, algo que não me faça vomitar. Não sei se estou concentrada na tarefa que estou fazendo e em não vomitar minhas tripas no chão impecavelmente limpo ou simplesmente distraída para não perceber a presença da moça que surge de Deus sabe onde.

        — Hum... Bom dia...

        A senhora pula sobressaltada e me olha surpresa, acho que estava tão distraída ou concentrada quanto eu.

        — Bom dia, suponho que seja Audrey, sim? Eu sou a Sra. Tereza, mas pode me chamar somente de Tess se preferir. — Pego sua mão estendida e lhe ofereço um sorriso. Seu aperto é leve, mas as mãos calejadas mostram seu trabalho árduo — Eu prefiro tratamentos mais informais, mas irei me referir a você como preferir.

        Ela deve ter por volta de uns quarenta e tantos anos, é baixinha com sobrepeso, mas tem o sorriso mais lindo que já vi e olhos brilhantes de um azul rico. O cabelo castanho claro está preso em um coque firme.

        — O senhor Wells pediu para que eu avisasse que houve um imprevisto e o mesmo teve que viajar de última hora. — pisco para sua expressão empática — Voltará somente daqui uma quinzena de dias. 

        Olho pra ela decepcionada, nem sei porque eu estou surpresa, depois de me abandonar com cinco anos e novamente aos dezenove em uma conversa séria e necessária, era de se esperar algo assim, mas inexplicavelmente, meus olhos enchem-se de água e sinto a dor de ser rejeitada me atingir com força. Como é que eu posso me permitir ser afetada por isso ainda?

        — Não fique assim, querida. — sua voz é suave e odeio a pena que detecto em seu tom.

        Tess me surpreende ao me abraçar. Seu abraço é quentinho e materno e antes que eu perceba, solto um soluço alto. Eu sequer faço ideia de quando foi a última vez que recebi um abraço tão maternal assim.

        — Não é culpa sua, meu anjo. Ele teve um problema no trabalho, apenas isso. Vocês vão se acertar e tudo vai ficar bem. — solto outro soluço e a abraço mais apertado — Shiii menina, vai tudo ficar bem...

        Deus, eu sou tão ridícula.

        Eu esperava o que? Que ele magicamente começasse a se importar comigo? Que agisse como um pai ou que tivesse um pingo de responsabilidade afetiva? Patética esperança tola.

        Eu me afasto cuidadosamente, tentando não mostrar o quanto estou me sentindo sufocada subitamente. Peço licença para Tess, me desculpando pelo meu descontrole sobre ela e vou em busca das chaves do meu carro. Dirigir sempre me foi uma coisa que eu fiz para me tranquilizar quando muito ansiosa. Sempre. 

        No rádio coloco Uptown Funk para tocar, uma música do cantor maravilhoso Bruno Mars que sempre me ajuda em momentos difíceis onde não quero ficar triste pelos cantos, mas nem mesmo o Bruninho está conseguindo me ajudar hoje.

        Dirijo sem destino ou rumo pelas ruas de Connecticut e canto inicialmente baixo, depois a plenos pulmões durante duas horas tentando bloquear qualquer pensamento que insiste em permanecer na minha mente turbulenta e agitada. Quando dou por mim, estou no litoral. Assim que vejo o mar, rapidamente estaciono e desço do carro, indo em direção a grande faixa de areia que antecede o oceano, me sento na areia de olhos fechados, deixando o vento e o barulho do mar me acalmarem.

        Abro os olhos e vejo a imensidão do Oceano à minha frente enquanto lágrimas descem gradativa e lentamente pelo meu rosto. Apoio meus cotovelos nos joelhos e deixo que minhas mãos segurem minha cabeça enquanto o choro se torna abundante. Me sinto tão sozinha… desde que minha avó morreu, parece que foi há anos e a horas ao mesmo tempo. Sinto-me desesperada por atenção e sei que isso pode parecer fútil, mas eu só queria alguém pra me abraçar e dizer que tudo vai ficar bem... Alguém que se importe o bastante pra cuidar de mim ou que apenas me faça cafuné... Alguém que ficasse e isso é tão insuportavelmente patético que quero vomitar. Quero pegar meus cabelos e puxar com toda a minha força, quero arranhar meus braços até ficarem marcas finas das minhas unhas e morder minhas mãos até o gosto alagado e metálico do sangue surgir em minha boca. Quero descontar em meu corpo toda a dor que sinto em meu peito.

        Choro pelos meus avós, por minha mãe, pelo pai que eu gostaria de ter tido, pela menininha de cinco anos que foi abandonada e pela mulher que foi despedaçada pela desesperança. Choro pela mulher que me tornei e pela que poderia ter me tornado. Choro por tudo e por nada, por todos e por ninguém. Simplesmente choro deixando o som do mar embalar, levando toda dor e sofrimento embora...

         Eu sou o próprio caos emocional e as emoções vem como um tornado; destruindo tudo por onde passam.

         A única coisa que me impede de ter uma crise de ansiedade grave é o mantra em minha mente: eu já passei por isso, eu não vou morrer agora. Eu já passei por isso, eu não vou morrer agora. Repito o mantra até que eu me acalme, o que pode ter levado horas ou minutos, não sei dizer.

        Quando a crise de choro passa, percebo que me machuquei, cravei tão forte as unhas em meus braços que me cortei com elas. Não foi uma crise de ansiedade das piores que já tive, mas ainda perdi o controle sobre meus sentimentos e atos, fazendo com que meu cérebro defeituoso procurasse ajuda em tortura e dor física. 

        Ao retornar para casa de Robert, parece que passaram uma lixa em meus olhos, posso sentir meu rosto inchado e meu nariz escorrendo pela crise de choro. Minhas roupas estão cheias de areia e sinto o desconforto a cada passo que dou.

        Entro no meu quarto e tomo um banho quente, colocando um moletom escuro e prendendo meu cabelo molhado em um rabo de cavalo frouxo e baixo. Olho pra mim mesma no espelho e sinto vontade de voltar a chorar, mas ergo a cabeça e pisco freneticamente enquanto abano meu rosto.

        Quando finalmente desço, horas depois, encontro Daemon sentado à mesa enquanto mexe em seu telefone. O moreno veste um lindo conjunto de moletom bordô.

        — Boa noite, fugida. — o comprimento vem junto a um sorriso quando ele levanta os olhos do aparelho e me vê.

        — Boa noite, Daemon. — Ele não comenta meu rosto inchado e agradeço mentalmente por isso.

        Sento-me à sua frente e o encaro. Lentamente ele abre aquele sorrisinho sexy, inclina a cabeça e a apoia na mão antes de deliberadamente morder o lábio inferior. Semicerro os olhos pra ele.

        O desgraçado sabe que é lindo e não tem problema algum em usar seu charme. Como eu disse: desgraçado.

        Facilmente me perco em seus olhos que mais se parecem com um imenso oceano. O efeito que eles têm é incrível, e os cílios compridos dão um charme a mais aos olhos que me deixam perdida com uma facilidade assustadora. Parece que quanto mais eu olho, mais e mais desse azul aparece e me surpreendo quando percebo por completo a profundidade que eles carregam. É atordoante.

        Ele é como um oceano que leva tudo e não deixa nada para trás. Suga sua vida e você não percebe até que seja tarde e não há mais volta, você se afogou e então percebe que nunca antes esteve tão viva.

        Tereza entra com nosso jantar e finalmente posso voltar a respirar novamente. Não sabia que estava tão... Presa nesse olhar.

        Limpo a garganta e me remexi na cadeira de maneira desconfortável. Preciso transar. Rápido.

        — Então... — ele começa — Amanhã é o penúltimo dia para se instalar no dormitório da faculdade antes das aulas começarem. — concordo enquanto o jantar é servido.

        — O que você acha de sairmos para um lugar e eu te ajudar com a mudança amanhã? 

        — Eu topo. — respondo sem nem pensar.

        Existem poucas coisas que eu não aceitaria fazer em troca de ajuda com a mudança. Eu realmente tenho muitas coisas comigo, que estão pra chegar pelo meio da tarde de amanhã.

        — É assim que se fala, garota! — fazemos um high-five e então um suspiro me escapa.

        Sempre quis cursar na NKU, talvez pelo fato da minha mãe ter estudado aqui também. Talvez eu esteja procurando uma... conexão com ela, algo que me faça ter algum tipo de proximidade com a pessoa que nunca conheci, eu realmente não sei e sinceramente? Não fiquei o suficiente na terapia para descobrir.

        Minha mãe cursava artes cênicas, mas isso foi antes de se perder nas drogas que correm por trás dos bastidores. E infelizmente, ela nunca se achou novamente, não há tempo de me ver crescer ao menos.

        Paro de remoer esses pensamentos negativos, ignorando o incômodo que eles me trazem e volto minha atenção para Daemon. Seu cabelo está cuidadosamente bagunçado, veste uma camiseta branca e um jeans azul escuro com um tênis combinando com a camiseta. A correntinha de prata por baixo da gola dá um toque a mais em seu visual, assim como as tatuagens espalhadas por seus braços. Quando ele olha pro lado, vejo um alargador na orelha direita, grande o suficiente pra passar um cigarro.

        E Deus... Quando seus olhos se voltam em minha direção, parecem brilhar em um entusiasmo mal contido. Esse garoto tem uma vibe de malandro que acaba comigo.

        — E estão? Como vai funcionar nossa aposta? — questiona e suspiro.

        — O que você sugere que façamos? — inclino a cabeça.

        — Um encontro oficial por semana? — indaga e penso sobre isso antes de aceitar.

        — Tudo bem, parece justo pra mim. — Concordo com a cabeça, meus cachos se movimentando junto — Mas você precisa de um tempo limite. Não pode tentar me conquistar pra sempre. — tombo minha cabeça.

        — Vamos fazer assim, dez encontros. — ele sorri — Isso dá pouco menos de três meses e não vou precisar de tudo isso. — Semicerro meus olhos pra ele. Convencido.

        —  A gente não combinou o que cada um ganharia no final da aposta.

         — Nós vemos isso quando você se apaixonar por mim — reviro os olhos.

        Vai sonhando.

        — Toque físico? — questiono porque sério, eu não me sentiria ofendida por ter que dormir com ele em prol de uma aposta.

        Me olha com um misto de surpresa e incredulidade. Seguro meu sorriso.

        — Só se acontecer naturalmente. — encolhe os ombros. — Não vou transar com você por conta de uma aposta. — ora, uma pena ele ser decente — Agora vem, vamos aproveitar nosso último dia de vagabundagem. — ele estende a mão e eu a pego, passamos pela sala pra pegar minha bolsa e entramos em seu carro.

        Desse modo Jarvis vai achar que eu o abandonei por completo.

         No rádio uma música desconhecida toca, mas a letra é linda e me imagino tocando violão e cantando. Fico quieta e tento marcar um pedaço na cabeça para pesquisar depois, mesmo sabendo que vou esquecer durante a noite.

        Minha avó sempre me dizia que eu devia cantar com os anjos e desde que me lembro ela desejava que eu estivesse cursando canto ao invés de direito.

        É outro ítem para a lista de decepções que eu ofereci à ela antes da sua morte.

🌻

        Quase duas horas depois, paramos em frente a uma cabana no meio de uma pequena floresta. Suas paredes são quase inteiras de vidro, os poucos lugares que não são, são feitos de madeira escura, mas que não deixa o chalé obscuro e sombrio. A cabana contém três andares e quando paramos em frente a sua entrada de cascalho, eu mal posso esperar para entrar na casa.

        Assim que descemos e entramos eu perco o fôlego. Ela é simplesmente impressionante! Essa arquitetura é incrível num nível surreal de qualidade e beleza.

        Volto meu olhar para Daemon que me encara com um sorriso satisfeito nos lábios, os braços e tornozelos cruzados conforme está apoiado na parede.

        — Sabia que ia gostar. Todo mundo gosta.

        — Quem não gostaria? É incrível! — sorrio largamente para ele. — Eu adorei a arquitetura dela. É maravilhosa. — ele olha para o pé direito alto da casa e acena.

        — Bem, com certeza é uma coisa a se admirar. — ele concorda comigo, pensativamente antes de negar com a cabeça.

        Sua expressão muda drasticamente e o vejo chegar mais perto de uma forma quase felina. Como um caçador se aproximando vagarosamente de sua presa, se deliciando com a emboscada. Sua aproximação está me deixando com a respiração acelerada e me mantenho parada, analisando seus movimentos. Se ele pensa que vou fugir, está muitíssimo enganado.

        Ele para muito, muito perto antes de pegar uma mecha do meu cabelo que se soltou e a colocar atrás da orelha. Clichê, eca. Sinto seu polegar passear em um carinho lento pelo meu rosto, fecho os olhos quase sem perceber e abro os lábios a espera da sua boca. É inevitável que isso aconteça. Eu quero beijar ele, quase tanto quanto quero memorizar seu corpo com minha boca.

        Normalmente eu sempre tenho a conversa antes de ficar com alguém, explico que é uma coisa de uma noite só ou se a pessoa for boa o suficiente e não ser do tipo sentimental, talvez se torne meu ficante, mas raramente isso chega a acontecer, com Daemon no entanto, estou tão ansiosa por seus lábios nos meus e seu corpo sob minhas unhas, que sequer me lembro de conversar com ele sobre isso.

        Quando sinto sua boca roçando na minha de uma forma dolorosamente deliciosa e lenta, o som alto e estridente de uma buzina se faz ouvir. Nos afastamos bem a tempo de ver outro carro chegar em frente a casa. Brian grita com metade de seu corpo para fora da janela do banco dianteiro do veículo.

        Santo inferno, que diabos! 

        Uma garota não pode mais beijar alguém gostoso não? Porra! Eu estou ficando sexualmente frustrada e reprimida!

        Acho que Daemon acaba percebendo meu estado de exasperação por que solta uma risadinha antes de se afastar, parecendo nem ao menos estar afetado. Faço biquinho. Isso é tão injusto.

        Os outros entram na casa e tudo vira um furacão pela procura dos melhores quartos. A cabana tem ao todo seis cômodos desse. O térreo abriga uma cozinha, sala de estar e jantar e dois banheiros; o segundo andar abriga quatro quartos e dois banheiros. O último andar tem dois quartos, uma sala de jogos e uma de cinema.

        Brian fica no segundo andar com Bianca e Daemon, Nath e Gu dividem um quarto no terceiro andar, assim como Anna e eu. Depois de dividirmos os quartos, Anna e Bianca vão preparar o jantar enquanto eu e os meninos vamos jogar sinuca na sala de jogos. Nath foi deitar um pouco por conta de uma enxaqueca que está a debilitando e faço uma nota mental para ir vê-la depois.

        — Eu quero o Gu! — Daemon diz assim que entramos na sala.

        — Filho da mãe! — Brian exclama.

        — Ei! — reclamo ofendida.

        — Não é nada pessoal, gatinha. É só que o Gu aqui tem um dom para jogar sinuca. — ele chacoalha Gu pelo ombro.

        Sei. Começamos o jogo e eu sou a última a jogar. A dupla de Daemon estoura as bolas e o Gu encaçapa a bola 5, ficando com as bolas lisas. Ele tenta mais uma, mas erra e perde a vez. Brian é o próximo e encaçapa a bola de número 2 e a 10 antes de errar. Daemon nem ao menos acerta alguma bola e então é a minha vez. 

        Me abaixo e posiciono o taco entre meus dedos para firmar e arrumar o ângulo certo.

        — Você vai errar a bola nesse ângulo. — Daemon diz e bufo.

        — Não, eu não vou.

        — Está nitidamente torto.

        — Isso vindo do cara que nem sequer acertou a bola. — torço meus lábios em diversão quando Brian assovia pela minha resposta ácida — Me desculpe por não confiar em suas habilidades com o taco. — minha voz é um suspiro sexual e ouço Brian se engasgar atrás de mim em uma risada disfarçada de tosse — Olhem só como se joga. — olho para os rapazes e dou um sorriso acertando a bola sem nem olhar uma segunda vez.

        As bolas 4, 12 e 14 entram em duas caçapas diferentes.

        — Você só pode estar de brincadeira. — Brian resmunga, incrédulo. 

        — Como você aprendeu a jogar? — Gustavo pergunta chegando perto. 

        — Meu avô gostava de jogar e me ensinou, tínhamos uma mesa na garagem, passávamos duas horas todos os dias jogando. Quando tive uma fase rebelde na minha adolescência — rio de leve pensando naquele tempo, eu era terrível —, eu ia para bares e apostava para jogar. Claro que sendo mulher qualquer um apostava contra mim. — digo com certo rancor lembrando de algumas situações em específico — O segredo é apostar bastante e perder, depois vai para o dobro ou nada e você ganha. — respondo me levantando e apoiando o taco no chão.

        — Quer ver uma coisa legal? — pergunto e sem esperar posiciono duas bolas perto da caçapa no canto superior da mesa, revirando os olhos ao ouvir suas reclamações pela interferência no jogo.

        Procuro pelas gavetas da estante com bebidas e livros no canto da sala, sorrindo ao encontrar uma carteira velha de cigarro, eu não me demoro em a abrir e pescar de dentro um tubinho de nicotina antes de o colocar entre as duas bolas que eu havia arrumado próximas a caçapa. Os meninos, a pedido meu, já tiraram as outras bolas da mesa, deixando apenas a branca e as duas que eu já havia organizado. Vou até o outro lado da mesa e me posiciono, arrumo o ângulo do taco e respiro fundo. Observo bem o ângulo de novo e inspiro; quando solto o ar, impulsiono meu braço e acerto a bola com o taco, a bola branca acerta a bola azul, a encaçapando sem derrubar o tubinho de papel ou a outra bola.

        Gustavo assovia.

        — Você é minha próxima parceira. — Daemon exclama. Rimos.

        Logo chega a noite e estamos no terraço onde uma mesa para dez pessoas foi posta e um jantar maravilhoso feito pelas meninas enquanto cuidávamos da organização foi servido. 

        A iluminação é feita com lâmpadas penduradas em um cordão e algumas luminárias antigas que são um charme a mais para a decoração rústica, simples e aconchegante do lugar.

        Daemon está na ponta da mesa com Bianca de um lado e Brian do outro, fico no meio do Brian e Gu, Anna está de frente para Brian e Nath a minha frente.

        O jantar ocorre bem e depois começamos a brincar e nos implicamos uns com os outros. Os meninos me contam histórias antigas e as meninas me contam a verdade por trás das histórias:

        — Mentira Audrey! Não acredite em nada que sair da boca desses idiotas. — Anna exclama segurando uma taça de sorvete de baunilha caseiro que a mesma fizera para a sobremesa.

        — O Brian subiu no carro alegórico, pegou o microfone e disse em português: EU SOU UMA VADIA! enquanto estava vestido de bailarina zumbi.

        Rio imaginando a cena.

        — Foi muito cômico porque ele começou a dançar uma música de uma das nossas cantoras mais populares, só que ele não tinha jeito nenhum pra dançar. Fez sucesso infelizmente.

        Não resistindo jogo minha cabeça pra trás soltando uma risada bem humorada.

        — Eu tenho o dom, querida. Para de ser invejosa! — Brian joga seu cabelo inexistente por cima do ombro, cruza os dedos das mãos depois de apoiar os cotovelos na mesa e bate os cílios rápida e dramaticamente.

        — Sim, o dom de passar vergonha. — Bianca diz e me pego rindo junto com os outros.

        A loira até então só está me ignorando, o que não faço questão nenhuma de mudar contando que ela me deixe em paz e pare com sua vibe totalmente passivo-agressivo.

        — Já sei algo vergonhoso sobre a Nath, o Gu e agora Brian. Ainda falta você e Daemon. — aponto para Anna, devolvendo a gentileza da loira e a excluindo também.

        — Não tem nenhum momento vergonhoso meu. — ela dá de ombros e Brian olha para ela indignado.

        — A não? Tem certeza? — pergunta sugestivamente e Anna arregala os olhos.

        — Não ouse! — ela exclama e Brian se vira pra mim.

        — A senhorita aqui estava bebendo em um churrasco que fizemos na casa dos pais do Gu, no aniversário dele no ano passado, até então beleza. Eu disse pra ela parar de beber, mas pergunte se a bonita me escutou? — ele lança um olhar de "eu te avisei" para Anna que bufa e revira os olhos — Ela começou a passar mal quando coloquei ela pra dormir. Assim que ela deitou na beirada da cama, se virou e vomitou, por pouco não pega no meu tênis novo. — Brian olha impaciente para a mesma — Segurei o cabelo dela enquanto Daemon ia atrás de um balde. Quando ela parou de vomitar, se levantou cambaleando e foi até a janela. Ela tirava a saliva da boca e jogava com a mão pra fora da janela. Limpou o vômito da boca com a mão e me agradeceu por cuidar dela advinha como? Com um aperto de mão!

        Me jogo pra trás rindo na cadeira. Anna se levanta e dá a volta na mesa antes de abraçar o pescoço de Brian por trás.

        — Obrigada por cuidar de mim. — ela beija estalado a bochecha de Brian.

        — Alguém tinha que fazer, pirralha. — ele faz um cascudo nela que se afasta com um tapa na nuca dele.

        — Você não fez isso! — ele grita e se levanta enquanto ela corre pelo terraço atrás dele, os dois agindo como duas crianças atentadas.

        — Desculpa! — Anna grita mas já é tarde demais, Brian a pega e por muito porco não a derruba no chão.

        Alguns minutos se passam quando olho para Daemon que está com os rapazes perto da beirada do terraço e simplesmente perco o fôlego. 

        Ele está absurdamente lindo à luz de velas com uma mão dentro do bolso da calça jeans e com a outra segurando uma taça de vinho tinto. Sentindo meu olhar, ele se vira pra mim e abre um sorriso preguiçoso e leve. Meu coração acelera quando uma música lenta começa a tocar de Deus sabe onde e ele caminha em minha direção. Sem nunca quebrar nosso contato visual, delicadamente retira a taça da minha mão e põe ao lado da sua, na mesa próxima a nós.

        No meio do terraço ele me puxa até seu peito, uma mão em minha cintura e a outra na minha mão, ele dita o ritmo e eu simplesmente o sigo em uma dança lenta. Encosto minha cabeça no seu peito e respiro seu cheiro de mata, colônia masculina e perfume. 

        Santa perfeição olfativa!

        A música muda para A Thousand Years e eu passo minhas mãos envolta do seu pescoço enquanto ele me traz pra mais perto, logo em seguida colocando o rosto no meu pescoço, me arrepiando por inteira quando deposita um beijo na curvatura que separa meu ombro de meu pescoço. Inspiro fundo. Ergo o rosto e vejo um sorriso enfeitar seus lábios quando se aproxima, nessas horas eu estou pouco me fodendo pra quem está vendo. Quero beijá-lo desde quando o vi parado na porta da casa de Robert e apesar de gostar desse jogo de espera, eu nunca fui uma garota muito paciente. Ele roça a boca na minha e eu abro a minha antes que algo aconteça de novo, puxando sua cabeça em minha direção para aprofundar o beijo. Ele ri contra a minha boca pela evidente impaciência que demonstro e aproveito disso para começar a usar a língua. Sua boca explora a minha e eu exploro a sua, nossas línguas se conhecendo e dançando uma com a outra ao mesmo ritmo lento da música. Ergo minha mão até segurar a parte de trás de sua cabeça e puxar seu cabelo. Ele mordisca meu lábio inferior e deixo um gemido baixo escapar por entre meus lábios. Sua mão sobe e paralisa na minha nuca antes de erguer de leve minha cabeça, o que aprofunda ainda mais o beijo.

        Ouço alguns sons de gozação que posso apostar serem de Brian e sorrio sem afastar nossas bocas. O beijo é tão quente quanto a tensão sexual que sinto várias vezes em que ele está por perto, mas de uma forma mais intensa e densa, como lava queimando e correndo lentamente sob minha pele.

        Nesse momento se Daemon  me pedisse pra pular de um prédio, acredite... eu pularia, porque ele acaba de desligar minha mente de uma maneira inexplicável e simplesmente quero arrancar suas roupas e cavalgar nele até não aguentar mais.

        Chupo seu lábio inferior apreciando o gosto de vinho que sua boca tem e o mordisco fazendo com que ele solte um grunhido antes de recomeçar o beijo ao apertar e puxar minha cintura, suspiro e me afasto assustada quando somos interrompidos por um grito de dor. Estou completamente sem ar e dou um passo pra trás, atordoada.

        Olho em volta e vejo Brian ao lado de Bianca com um pano em sua mão. Ela machucou a mão em uma taça quebrada, estávamos tão envolvidos no beijo que nem ao menos ouvimos o cristal se quebrar. Daemon me solta na hora e corre para ajudar a Bianca, que está com cara de dor. Instantaneamente sinto falta do calor de seu corpo junto ao meu. Observo todos descerem pra ver o machucado, ficando apenas eu, Anna e Nath.

        — Você acha que ela se machucou de propósito? — Encaro surpresa a Anna que agora está do meu lado.

        — Ahn?

        Acho que meu cérebro ainda está enevoado por causa do beijo. Nath sorri pra mim como se soubesse o que estou sentindo.

        — Acha que ela se cortou de propósito?

        — Ahn... Não, claro que não. Por que ela se machucaria de propósito? 

       Nath revira os olhos e bufa, mas permanece quieta.

        — Jura que você não sabe mesmo? Ela sempre foi apaixonada pelo Daemon e nunca conseguiu mais do que um selinho e ele tava bêbado na hora. Você chegou e em menos de uma semana ganha um beijo de cinema? E ela se corta bem na hora? Que conveniente, não?

        Olho pra Anna ainda sem entender, e tentando digerir o que ela disse.

        — Você acha que ela seria capaz? Você a conhece há mais tempo do que eu.

        Quem me responde é Nath.

        — Acho que ela seria capaz de qualquer coisa para conseguir o que quer. O único cara que a rejeitou até hoje foi ele, e ela é orgulhosa e vaidosa demais para deixar passar em branco.

        Pego minha taça da mesa e viro o vinho em um único e longo gole.

🌻

        Após cuidarem de Bianca, decidimos assistir um filme na sala de cinema. Sentados da direita para a esquerda, ficamos na seguinte ordem: Anna, Brian, Bianca, Daemon, eu, Nath e Gu. Depois de vários minutos para decidir qual filme iremos ver, o vencedor fica com “O amor é cego”, um clássico da comédia romântica, de acordo com Daemon. No meio do filme minha pipoca acaba e decido fazer mais, então me levanto em silêncio e saio da sala. Na volta, com quatro baldes grandes de pipoca sendo dois doces e dois salgados eu me deparo com Bianca.

        — Quer ajuda com as pipocas? — pergunta com um sorriso simpático.

       Eu estranho sua atitude, já que a loira deixou seu posicionamento sobre mim mais do que claro. Ela não gosta de mim. Ponto.

        — Claro, seria bom! — sorrio — Como está sua mão? — pergunto por mera educação, não realmente preocupação.

        — Bem melhor, obrigada. — Me responde pegando dois baldes. 

        Caminhamos lado a lado até o corredor da sala. Acho que o que a Anna disse não passa de cisma com a garota. Quem sabe eu não acabo gostando dela? Minhas esperanças caem por terra quando vou entrar na sala e ela põe seu corpo na minha frente. Olho pra ela em uma interrogação.

        — Eu acho que você devia parar de se atirar em cima do Daemon, sabe? Ele não gosta dessas coisas. — Bianca solta seu veneno e a encaro com vontade de rir.

        Louca.

        — Do que diabos você está falando? — dou um passo pra trás, já que ela está tão perto que se a situação fosse diferente, pensaria que ela quer me beijar. 

        — Daquela ceninha no terraço.

        Meu sangue começa a esquentar. Eu não tenho culpa se ele me beijou. 

        Ele. Me. Beijou!

        Não o contrário.

         — Foi só um beijo. Não tô pedindo ele em casamento. — respondo ao revirar os olhos.

        — É, mas você não conhece ele como eu conheço. Ele não deveria sair por aí beijando qualquer uma.

        Meu sangue antes quente agora borbulha de raiva.

        Quem essa garota acha que é?

        — Até onde eu sei, você é só mais uma das vadiazinhas que se jogam em cima dele por interesse.

        Juro por Deus que se eu não tivesse com essas pipocas na mão eu quebraria a cara dessa nojenta. Mas continuo calada, só escutando enquanto ela fala o que deseja. Talvez assim ela finalmente me deixe em paz. Minha avó teria orgulho por eu ainda não ter dado na cara plastificada dela (eu reconheço uma rinoplastia de longe!) como teria feito em outros tempos, como a Audrey de quinze e dezesseis anos faria. Realmente não me importo com o que ela diz, não preciso de sua aprovação ou algo assim, ela e nada é a mesma coisa pra mim, mas isso não diminui o quanto essa garota é irritante.

        Minha avó sempre disse que se você der bola para alguém que espalha o mal, então ajudará ela a continuar espalhando esse sentimento por aí e não quero ser alguém assim. O silêncio às vezes é a melhor resposta.

        — Você não passa de uma aposta… Uma maldita aposta! Acorda pra vida, cadela! — Subo as sobrancelhas, surpresa com sua baixaria. Estamos novamente nos anos 2000? — Ele nunca, mas nunca mesmo, vai ficar com você. Sabe com quantas garotas ele fica em média por semana? Oito! Mais de uma por dia!

        Olho pra ela e abro um sorriso cínico.

        — É meio deprimente você contar quantas fodas ele tem por semana, você sabe disso né? — inclino a cabeça, demonstrando piedade — Em todas as vezes que nos beijamos, ele começou. Se sou mais uma entre dez, vinte ou trinta na semana, posso saber o que você tem com isso? Ou o por que desse showzinho de ciúmes? 

        Nós nos beijamos apenas uma vez, mas eu não vou falar isso pra ela. Nego com a cabeça e me afasto, voltando para a sala de cinema.

        Eu lá quero saber dela marcando território? Parece cadela no cio. Louquinha pra dar.

        — O que aconteceu? — Daemon pergunta assim que me sento. 

        — Nada. — dou de ombros, não querendo prolongar o assunto.

        Passo um balde de pipoca pra ele e me acomodo no mini sofá, ignorando a pequena aceleração cardíaca que meu coração sofre quando ele apoia sua mão em meu joelho e a deixa ali, até o filme acabar.

...


Até mais seres humanoides!
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