01|Divagações Sentimentais, Lutos Eternos, Picolés De Tanquinho & Pais Ausentes
boa leitura!
😘
Embora eu tenha crescido vendo o que muitos chamavam e acreditavam ser um caso de "amor verdadeiro", nada na vida me fez acreditar que o amor existe. Nada.
Não sei bem porque as pessoas tendem a tentarem me fazer mudar de ideia após saberem disso, ou então o que as faz pensar que tive uma grande e traumática decepção amorosa que me fez desenvolver um forte bloqueio emocional, mas por mais que doa em muita gente ouvir as palavras "o amor não existe" esse é, na verdade, um fato comprovado. O tal famigerado amor é apenas uma reação química do nosso corpo com o objetivo final de reprodução para que não sejamos extintos da face da terra — apesar dos nossos mais ativos esforços para isso, é só ver a situação global do nosso planeta azul. Simples assim, sem maiores revelações, dramas ou discussões.
Não sou uma cética completa, acredito mesmo que algumas pessoas amem as outras, mas não sou tola o suficiente para esquecer a biologia ou então para não pensar que muito disso vem da forma como a pessoa faz com que você se sinta. Exemplo: um usuário de heroína não ama a heroína, o usuário ama a sensação que ela causa, porque ela provoca um prazer alucinante ao qual o ajuda a fugir da realidade. Uma pessoa não ama a outra, mas sim a forma com que essa pessoa faz com que você se sinta. Desculpe acabar com a sua ilusão de amor verdadeiro, paixão à primeira vista, romance clichê ou qualquer outra coisa patética em que acredite, mas é a verdade. Simples, pura e real. Cruel até, alguns diriam, talvez até mesmo minha avó, mas não eu.
E de alguma forma, isso faz com que eu me sinta fodidamente culpada por afirmar isso, mesmo que minha parte racional diga que a culpa não é nem um pouco minha, ainda penso que a estou decepcionando e isso me entristece ao mesmo tempo que me causa náuseas, porém, ainda não consigo acreditar em toda essa baboseira romântica. E não estou pensando em começar a tentar agora.
Então, eu te pergunto: o que é o amor se não uma droga biológica feita para que nos multipliquemos?
— Bem, suponho que você tenha um ponto, mas e os homossexuais? — franzo o cenho.
Por um momento, enquanto estava perdida em meu devaneio, simplesmente esqueci que estava em ligação com Navi, minha única, mas não por isso, melhor amiga.
— Vadia, você também tem um ponto ai. — faço careta — Mas não importa realmente, a questão aqui é: o amor é uma reação química. — ouço seu suspiro pesado do outro lado da linha e sorrio.
Navi foi a grande aliada da minha avó na luta para mudar meus céticos pensamentos. Ambas falharam até o momento.
— Eu sei, mas continua sendo uma droga. — ela resmunga, ainda sofrendo pelo supracitado amor.
O segredo para evitar decepções é simplesmente não se importar. E quando me importo, sou muito boa em fingir que não o faço. Muito boa mesmo, mas Navi é a única pessoa no mundo que conseguiu transpassar suficientemente o muro emocional que tenho para me fazer sofrer por ela estar sofrendo. Acho que gosto tanto dela porque posso me afastar quando precisar de espaço e sei que, quando voltar, ela ainda vai estar aqui, sem se importar com minha necessidade quase constante de isolamento social.
— Eu sinto muito. — sou sincera.
— Eu também. — sussurra de volta e a conheço bem o suficiente para saber que está falando sobre vovó.
— Tô me sentindo perdida, totalmente. Sinto a dor me sufocar, Navi. Juro que às vezes sinto o ar faltar em meus pulmões e como a todo instante desde sua morte, sinto vontade de chorar e meu corpo tremer de uma forma incontrolável.
— Eu sei. Mas a gente aprende a lidar com a dor. Eu prometo. — sussurra.
O que eu não digo é que tenho medo dessa sensação nunca passar e eu enlouquecer com ela. Eu me encolho quando uma dor aguda atinge meu peito e me despedindo, desligo da ligação com a garota de cabelos curtos e cacheados do outro lado da linha.
Em um resumo prático e não muito detalhado da minha vida, fui criada por meus avós desde os cinco anos de idade. Minha mãe morreu por conta de uma overdose e meu pai me entregou para meus avós não muito depois.
Perdi meu avô, um homem que gostava de trabalhos manuais como consertar carros na garagem de casa e carpintaria, logo após completar doze anos. Lembro que estava em um acampamento quando ele foi para o hospital e minha avó mandou que me buscassem. Quando cheguei, ele já havia partido. Eu não consegui me despedir e aquele foi o pior momento da minha vida, bem, até agora.
Aprendi que sempre vai ter um novo dia para se colocar no primeiro lugar no pódio de "piores dias da minha vida". Acredite, as coisas sempre podem piorar, não importa o quão ruim e fodidas elas já estejam e essa é a fodida e completamente verdadeira lei de Murphy.
Minha avó teve uma morte — espero eu que — pacífica ao auge de seus 83 anos, ela veio a falecer enquanto dormia e isso faz... Bem, apenas 32 horas, pois é.
Suspiro pesadamente.
Pela primeira vez na minha vida eu me sinto completamente sozinha e... Perdida. Totalmente desamparada, como se estivesse no vácuo, apenas ali, existindo, sem a gravidade para me prender ao chão. Um astronauta perdido pra sempre em um universo solitário. Deus, isso soou tão dramático que quase posso ver minha avó me dizendo para encerrar meu relacionamento com o drama, mas não posso evitar. Machuca tanto perder alguém próximo e eu não estava preparada para lidar com essa dor novamente. Eu a sinto me sufocando, interrompendo o caminho do ar até meus pulmões e como a todo instante desde sua morte, sinto vontade de chorar.
A sensação de estar sozinha no mundo é completamente nova e me apavora por que eu sei que dessa vez é verdade, mas nada chega perto do pavor que sinto com a possibilidade de que ela nunca passe. Com a possibilidade de estar completamente sozinha para o resto da minha vida.
É óbvio que eu sabia que algum dia esse dia chegaria, desde que nascemos somos preparados para a morte. É instintivo sabermos disto tanto quanto é instintivo lutar contra isso.
Vemos a morte todos os dias. Todos os dias malditos. Seja em jornais, ou amigos de amigos, filmes, livros, séries, mas nunca, nunca, estamos prontos para vivenciar o luto em primeira pessoa.
E como se vive o luto? Porque sinceramente eu não sei fazer isso. Acho que ninguém sabe na verdade.
Todos nós sabemos que parte da jornada é o fim, mas nos pegamos perguntando se precisava ser tão cedo assim. Mesmo sabendo todos os dias, mesmo vendo ela várias vezes, nós a ignoramos. Passamos por ela e nos negamos a reconhecer sua existência, vendamos nossos próprios olhos e quando ela bate à nossa porta, não avisa, apenas leva nossas vidas, ou de quem temos, nos acertando tão brutalmente que arranca o ar de nossos pulmões.
Percebo que não sei viver sem minha avó. Não mesmo.
Eles foram minha única família. Eles eram meu tudo. Foram aqueles que me deram amor mesmo que fruto de seus cérebros, que foram compreensivos e ao mesmo tempo severos na minha fase rebelde, quando aos dezesseis comecei a fumar maconha e a matar aula. Foram aqueles que me ensinaram a amar carros e a mecânica; a dar valor ao trabalho. Foram aqueles que me ensinaram a ter classe e a ser rígida como ferro, ser impenetrável como aço, mas a ser benevolente e empática com a dor alheia. E agora eu estou sozinha, perdida em uma mar de gente estranha e desconhecida.
Completamente sem rumo.
O pensamento me faz voltar a chorar e tristemente percebo que só sei fazer isso ultimamente; chorar.
🌻
Já se passaram cinco dias desde a morte da vovó. Em seu velório uma pequena multidão de pessoas apareceu, incluindo suas odiosas amigas de chá e a imprensa, mas o que realmente importa é que o velório e o enterro foram lindos. Ela teria gostado.
Nunca em minha vida havia sentido tanta angústia quanto no momento em que colocaram seu caixão em um maldito buraco no chão. Era como se meu coração estivesse literalmente sendo arrancado pouco a pouco de meu peito, e eu juro, pude sentir minha avó beijar meu rosto ao passar como uma brisa.
É difícil se permitir desmoronar quando não há ninguém para ajudar a segurar seu mundo no lugar. Quando não tem ninguém para segurar as pontas por você.
Agora me observo pelo espelho de meu banheiro e vejo o quão acabada estou: meus olhos estão vermelhos de choro, fundos de cansaço e com bolsas de olheiras das minhas últimas noites mal dormidas, meus cabelos negros e cacheados que estavam oleosos antes do banho agora se encontram molhados e cheios de nós e meu rosto moreno está tão pálido que se assemelha ao de um fantasma ou mais possivelmente com um cadáver.
Suspiro enquanto penso que não sei o que vou fazer. Não faço ideia de como agir ou quais são meus próximos passos a partir de agora e percebo o quão dependente de minha avó eu sempre fui. Quase rio quando lembro que costumava me orgulhar de ser uma pessoa independente.
Doce ilusão.
Tem tanto que tenho que fazer... Tenho que vender a casa, cuidar da empresa, tentar entrar em uma faculdade e bem, tudo está tão confuso e sufocante que simplesmente não consigo me focar em nada, eu não quero ter que pensar em nada, ter que tomar alguma decisão.
Eu só quero me deitar em posição fetal e chorar, ou sentar num cantinho escuro para me balançar e murmurar coisas incoerentes... Eu só queria minha avó de volta.
Só queria minha vida de volta; queria não me sentir sozinha e principalmente; só queria que a dor parasse.
três meses depois
"É hoje o dia em que vou conhecer meu pai." O pensamento vem carregado de sarcasmo e escárnio.
Depois de apenas duas semanas da morte de minha avó, um advogado apareceu na minha porta enquanto eu vestia o mesmo pijama há três dias, tinha os cabelos emaranhados e travessas de comidas recebidas dos vizinhos espalhadas por toda parte, de qualquer forma, o advogado foi logo dizendo um monte de baboseiras, como:
"Sua avó assinou um contrato de testamento deixando tudo para você, senhorita Wells. Mas a senhorita só irá desfrutar desses bens se conviver seis meses com seu pai.
Ela disponibilizou um valor total de 70 mil dólares para você sobreviver aos seis meses com seu pai, após esse período, todo o resto deve passar para seu nome, incluindo a empresa de seus avós, os imóveis, carros e barcos.
Existe também um conjunto de cartas que sua avó separou para a senhorita, mas deixou declarado por escrito que as cartas só deveriam ser entregues em mãos para a senhorita quando os seis meses de convivência com seu pai estiverem acabados."
Bem, era de se esperar que ela deixasse sua fortuna para mim, assim como a empresa, mas me forçar a passar seis meses com o homem que me abandonou? Vovó não era conhecida por seu senso de humor.
Bom, isso resume bem o porquê da minha presença na porta de uma casa imensa nos arredores de New Kersey em Connecticut, com uma mala de cada lado e uma tremenda ânsia de vômito no estômago.
Toco a campainha, quase torcendo pra que ninguém esteja em casa para me atender, assim posso voltar para meu carro, o Jarvis, um lindo Chevy Impala 67 que meu avô deixou de herança assim como seu gosto por carros clássicos. Minha avó devia ter aprendido com ele sobre testamentos, assim eu não estaria aqui quase a ter um ataque de pânico ou no mínimo prestes a vomitar na entrada de uma bela mansão. Estou uma pilha de nervos e ansiedade.
Neste momento recebo uma mensagem de Navi: boa sorte hoje, estou aqui se precisar. Vai dar tudo certo, gatinha.
Deus, ela aparece nos melhores momentos. Eu amo essa garota.
Eu não sei o que esperar desse encontro. Nem ideia. Posso ser expulsa, posso nem ao menos ser reconhecida como filha, ele pode nem ao menos morar aqui ainda e confesso que uma grande parte de mim está torcendo por isso. Será que você poderia me ajudar com isso, Deus? uh? eu quase nunca te peço nada!
"Você já mandou um e-mail pra ele através do advogado. Um e-mail que por sinal foi respondido" — minha Audrey interna e realista diz enquanto revira os olhos.
"Vai dar tudo certo!" — meu "eu" positivo exclama.
"Não, não vai." — confesso que estou inclinada a concordar com minha versão negativa.
Meu realismo e positivismo me encaram magoados, mas não posso lidar com eles e seus sentimentos frágeis agora enquanto infelizmente estou de acordo com a minha Audrey interna que é totalmente negativa.
Espero mais alguns segundos e amarelo enquanto covardemente tento voltar para o conforto e segurança de Jarvis e é justamente nesse momento que a porta da casa se abre atrás de mim. Temendo o que vou ver, lentamente me viro. Para minha surpresa, a porta dá espaço para um corpo mais lambível que um picolé em um dia no deserto do Saara.
Meu Deus, que perdição é essa?!
O olho descaradamente dos pés à cabeça: pés descalços, usando uma calça cinza de moletom quase caindo na cintura, o que dá uma visão mínima de sua cueca preta, abençoado seja seu abdômen desnudo que daria até a uma senhora de noventa e cinco anos vontade de lavar roupa. No braço esquerdo algumas tatuagens tribais e frases que não consigo ler daqui.
Puta Merda! É impressão minha ou a temperatura acabou de aumentar?
— Vai ficar me encarando?
Sinto um calafrio quando sua voz aveludada chega até mim, meu corpo totalmente ignorando a frase grossa que saiu por aqueles deliciosos e completamente beijáveis lábios. A boca cheia e rosada inclinada numa expressão que não consigo decifrar, mandíbula definida e bem marcada, nariz mediano alcalino, olhos incrivelmente intensos de cor indefinida, sobrancelhas escuras acompanhados de lindos cabelos negros e sutilmente ondulados.
— Sim, eu vou. — respondo sem nem ao menos pensar ou prestar atenção ao que digo.
Arregalo meus olhos quando o moreno levanta as sobrancelhas e cruza os braços, claramente tão surpreso quanto eu. Isso que dá se deixar ser distraída pela visão do Adônis que até onde eu sei pode ser a porra do meu irmão.
Deus, e se ele for? O Senhor me perdoa? Sei que tenho uns fetiches meio assim, mas incesto nunca esteve nessa lista, eu prometo e o Senhor sabe!
— Olha, se você pedir com carinho, pode tocar também. — responde com um sorriso de lado e sinto minhas bochechas quentes.
— Eu, ahn... Eu... — ok, primeiro praticamente me jogo em cima dele e agora nem ao menos consigo formular uma frase coerente.
Ele vai pensar que sou retardada, no mínimo, mas é que sua presença me pegou totalmente de surpresa.
"Ele provavelmente já pensou isso" — e Audrey negativa ataca novamente.
"Não diga isso, voz irritante. Ela está indo bem." — incentiva meu eu positivo, fazendo pequenos "beleza" pra cima com seus dedos.
"Uhm, vindo de Audrey, poderia ser pior". — e aí está a realista, parecendo esquecer que somos todas a mesma pessoa.
— Você? — ele instiga, claramente se divertindo com a minha hesitação e confusão e demora para responder.
Desgraçado.
— Eu estou procurando por Robert Wells. — finalmente o respondo, mas a afirmação sai mais como se fosse uma pergunta.
Audrey, nada de flertar com o sorvete aqui sem antes saber dos laços sanguíneos dele, me lembro.
— Ele não se encontra, volte mais tarde. — diz logo antes de começar a fechar a porta, mas eu o interrompo.
— Eu sou... Eu... — respiro fundo e levanto os olhos encarando aqueles olhos desconhecidos, falando como se estivesse arrancando meu coração pra fora do peito — Eu sou a filha dele. — a frase tem um gosto amargo como fel na minha boca. — Talvez ele tenha comentado que eu viria? — digo com esperança, torcendo para não ser vergonhosamente mandada embora ou expulsa daqui.
Um lampejo de surpresa passa por seus olhos, mas logo é substituído por outra coisa que não sei como denominar.
Será que ele é filho de Robert? Deus, e se eu tiver descaradamente secado meu irmão?
Oi, Deus, sou eu de novo. Eu quase nunca te pedi nada, mas por favor, não permita que ele seja meu irmão, amém.
— Como vou saber se você é quem diz ser? — levanta uma sobrancelha novamente e sério, ele já está me dando nos nervos.
— Não vai saber porque isso não diz respeito a você. — respondo de maneira petulante fazendo com que ele me dê um sorrisinho e abra ainda mais a porta em um convite mudo.
— Eu sei quem é você, só queria saber a sua resposta. — encolhe os ombros.
Reviro os olhos, não faço ideia do que ele quis dizer ou qual a necessidade de ser um idiota, mas não vou perder meu tempo e perguntar.
— Xavier! — Grita, me fazendo pular no lugar.
Meu Deus, estou assustada como o inferno, pareço uma corça filhote.
Um homem de terno aparece de sabe-se Deus onde e pega minhas malas no carro enquanto ficamos eu e o garoto em um silêncio levemente incômodo e desconfortável conforme prefiro observar o jardim aparentemente muito bem cuidado ao lado da casa. Minha avó gostava de plantar, sempre havia um vaso de flores colhidas por ela mesma na escrivaninha do meu quarto. Isso deixava Lincoln, o jardineiro, com os cabelos arrepiados.
— Leve-a até seu quarto e avise seu pai que ela já chegou, por favor.
O garoto simplesmente me dá às costas e vai embora, sem me dignar um segundo olhar ao me deixar com o senhor de aparência simpática que trabalha como o mordomo da casa aparentemente. Bom, pelo menos isso.
Entro na residência, ou melhor, mansão de móveis claros e modernos. A sala de estar contém três sofás cinza e de aparência confortável, organizados em forma de "U", no chão um tapete felpudo na cor de um bordô escuro e intenso, quase preto e na parede branca como nuvem, uma TV enorme está ligada no filme Como Perder Um Homem Em 10 Dias e me questiono quem é a garota que está assistindo. Nunca assisti, então não sei se é bom, mas sei que Navi ama.
Xavier sobe as escadas de vidro comigo apenas um passo atrás antes de parar em frente a primeira porta do lado esquerdo, o corredor contém mais três portas e outra escada. Nas paredes, quadros coloridos são as coisas mais — e talvez únicas — alegres da casa.
O mordomo com roupa como a de um pinguim abre a porta e entra com as malas, logo depois saindo, o que me faz chamá-lo de volta.
— Ahn... Olha Xavier, isso? — pergunto hesitante.
— Sim, senhorita. — o homem de meia-idade responde de forma respeitosa, mas ao mesmo tempo amável.
— Chame-me de Audrey, por favor.
— Como quiser, sen... Audrey.
Sorrio para o senhor baixo que aparenta ter em torno de uns 50 anos, mas em forma. Ele é bem charmoso. Quando o mesmo sorri, pequenas rugas aparecem ao redor dos olhos castanhos carinhosos e gentis.
— Pode me indicar onde o Sr. Wells se encontra por gentileza? — melhor tirar logo esse band-aid penso.
— É claro, o senhor Wells pediu para que a sen... Você vá ao seu encontro assim que possível.
Sinto meu estômago se remoendo por dentro.
— E onde... — pigarreio — Onde o Senhor Wells se encontra?
— No jardim, senhorita.
Reviro os olhos e posso ouvir minha avó reclamando por minha deselegância, mas nunca gostei de tratamentos formais. Deixo um suspiro triste escapar enquanto sinto uma pequena dor instalar-se em meu peito de novo. Acho que a dor nunca vai embora, é só que às vezes eu esqueço que ela tá ali e então relembro da sua existência nos momentos mais inusitados possíveis.
— É Audrey, Xavier. Apenas Audrey. — digo com um pequeno, porém autêntico sorriso fazendo o senhor sorrir também. — E obrigada pela informação. Pode me levar até lá?
— Claro, por aqui.
Sigo o mordomo até o jardim mais lindo que já vi, o que diz muito, já que minha avó tinha um amor especial por jardinagem e não economizava dinheiro para deixar o seu pequeno oásis ainda mais bonito e verde. Hesito em continuar a andar quando vejo o homem que me deu a vida sentado elegantemente numa mesa com um café à postos.
Noto algumas semelhanças entre nós, mas esse homem que vejo não é meu pai, ele não é nada pra mim a não ser um verme que abandona uma garotinha de cinco anos com os avós enquanto vive confortavelmente sua vida sem responsabilidades paternais.
Não que eu não ame meus avós, mas eu não era responsabilidade deles e no fim, acabei por ser um fardo. Uma responsabilidade que nenhum dos dois merecia, mas que ainda assim, tiveram de carregar no lugar do homem que me espera nesse momento.
Respira fundo, Audrey. Tá na hora de enfrentar um dos seus maiores medos.
...
fim de jogo
primeiro capítulo já foi, faltam só 9282738383
novamente: cuidado com os spoilers, sim?
Até mais seres humanóides!
👽
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro