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Posfácio: 8 anos depois

- E não se esqueçam de praticar a leitura. Aposto que os vossos pais vão gostar muito se lhes lerem uma história antes de dormir.

- Sim, professora.- Entreguei um livro de contos a cada um à medida que saíam.- Bom fim-de semana!- Desejaram antes de saírem sorridentes apesar das tarefas.

Há uns anos, apenas poucos meses depois de nos estabelecermos aqui, decidi abrir uma pequena escola em Londres para os filhos dos mais pobres. Porque não ensinar o filho da criada e do talhante? Podiam ter uma vida melhor que a dos pais.

De inicio eram muito poucos, apesar de ser gratuito. As pessoas receavam as minha intenções e outras acreditavam que os filhos eram mais úteis no campo ou a ajudar em casa do que a aprender. Curiosamente sempre tive mais meninas que meninos, o que me deixava profundamente feliz. Rapazes para um lado da sala, raparigas para o outro e toca a aprender! 

As crianças chegavam de manhã, assistiam à aulas, praticavam e ao inicio da tarde voltavam para casa. Poucos trabalhos lhes mandava, sabia que teriam imenso para se ocupar quando chegassem a casa.

Depois de verificar se estava tudo arrumado, também eu saí para voltar a casa. Estava a terminar o meu quarto livro e para a semana iria apresentá-lo à rainha. Temos falado imenso sobre ele, está ansiosa para me ouvir.

Os meus livros passavam pelo uso de metáforas e alegorias para explicar as injustiças e o que ainda devemos melhorar nos termos de direitos. O primeiro escrevi durante o primeiro ano cá acerca dos direitos da mulher, e este que estou a terminar será sobre as colónias e domínios. Que direito temos de nos considerar heróis por invadirmos um país de uma cultura e costumes diferentes dos nossos, apenas porque não usam armas de fogo, ou por não vestirem seda fina, por terem um tom de pele ou línguas diferentes?

- My lady.- Um dos criados ajudou-me a descer da sege. Após agradecer a gentileza subi os degraus do palácio e respirei aliviada por enfim estar de volta ao conforto do lar.

Até me inquietar; não se ouvia nada. Nada. Não se ouvir nada é suspeito quando temos quatro crianças em casa e um adulto que mal as sabe cuidar.

- Onde é que eles estão?- Perguntei preocupada para o mordomo.

- Na saleta, senhora.- Sorriu-me.

Entusiasmada, corri escada acima, deixado as luvas e o chapéu pelo caminho. Já perto, comecei a ouvir tolices:

- E então o pai salvou a mãe do rei mau, que espetou uma faca quente afiada...

- Tu morreste?- Parecia o meu Ethan.

- Sim.- Henry fez uma pausa dramática.- Mas sobrevivi.

- Eu no quelo que molas, papi.- A minha bebé chorou.

- Oh Elane, o papi vai estar aqui para sempre a cuidar de ti.

- Henry Hyde, não mintas aos teus filhos.- Fingi-me aborrecida.- Fui eu quem montou um dragão para salvar o pai!- Desmenti os enganos que o meu marido queria incutir às crianças.

- Mãe!- O Ethan saltou para os meus braços.- O pai deu-me uma espada de madeira hoje!! Eu vou ser o melhor cavaleiro que já existiu!

- Pois vais meu amor.- Abracei com força o meu bebé.

No dia em que fizemos 5 anos de casados, como prometido, pusemos mãos à obra. O Ethan é o nosso primeiro filho, e tem três anos feitos há pouco tempo, os segundos são a Elane, o Aaron e a Mary. Sim, era suposto vir mais um... e apareceram três, foi e ainda é caótico. 

- Brincaste com os teus irmãos?

- Não.- Abraçou o meu pescoço, pensado que ficaria triste.- O Aaron e a Mary passam o dia a dormir, mas a prima Vitória, a Clara e o Gustavo vieram brincar, na verdade o primo Gustavo também só dormiu.- Segredou no meu ouvido e sorri. O meu irmão costumava vir a Londres às vezes. Tinha um negócio de relojoaria em Bristol que adquiriu depois de se demitir do cargo de Governador.

- E fomos almoçar com a tia Hetty e o tio David, mas a prima Kimberly estava com os avós.- Henry chegou-se para o lado e sentei-me, pousando um dos meus amores e pegando no Aaron que tombaria muito em breve a dormir, assim como a Elane.

- Foi um dia animado, pelo que vejo.

- Esta casa não estava cheia assim há gerações.- Henry recostou-se cansado e feliz ao beijar-me.- Ai!- Arfou quando o Ethan lhe saltou para o colo.

- Podemos ir brincar para o jardim?

- Hoje não. Tenho de trabalhar e ainda vai chover. Amanhã.- Henry fez-lhe umas cócegas.

- Oh está bem...- Entristeceu-se e saiu da saleta para o seu quarto de brinquedos, provavelmente.

- Oh Henry.- Descansei a cabeça no seu ombro deleitada com a minha vida, uma vida trabalhosa, preenchida, um total reboliço, porém a vida que eu amava e não trocava por nada.

João ainda me tentou procurar, no entanto não o deixei aproximar, eu tinha uma família a proteger. Além disso, ele agora também tinha uns quantos filhos para cuidar. Ouvi dizer que ergueria um convento em honra do nascimento da menina, a sua primogénita, de modo a agradecer a bênção a Deus. 

Engraçado, como a menina nasce primeiro e erguem-lhe um convento, mas é o irmão mais novo, e mais velho que os outros, que vai tomar o trono. 

- Dá vontade de ter mais um.- Sorriu pegando na Mary que dormitava abraçada a um cavalo de madeira do Ethan.

- Só quando estão assim.- Gargalhei prevendo a noite trabalhosa que teria em poucas horas.- A loja fechou, Henry.

- Amor, olha como os nossos filhos são lindos...- O seu sorriso desfez-se ao olhar em pânico para a Mary e só então senti o odor fétido.- A tua filha tem uma prenda para ti.- Estendeu-me a bebé.

- Pegaste é teu.- Ri enquanto o via a mudar aquela fralda mal-cheirosa.

Entretanto ouvimos algo partir-se:

- A vontade passa depressa.- Fui cuidar do Ethan, preocupada que se tenha magoado. Felizmente estava bem, sem um único arranhão. Partiu um jarrão chinês da minha tetravó, a jogar pallmall.

⭐👑⭐

- Mãe, porque é não podemos fazer uma surpresa e ir visitar o avô a Portugal?

Fiquei sem saber que dizer ao meu filho. O meu pai vinha passar todos os natais connosco e parecia tão feliz... preocupa-me que fique em Portugal sozinho com Beatriz.

- Ethan, nós não podemos ir a Portugal.

- Porquê?

Ele era pequeno demais para entender.

- Ethan, nós não somos bem-vindos lá. Promete-me não vais para lá nunca.- Pedi ao meu filho de apenas 3 anos.

Ele tinha todo o direito de um dia abrir as asas e voar para longe de mim, neste mundo vasto, mas não para Portugal. Eu não sei que faria João se um filho meu pusesse um pé em território seu.

- Mas porquê?

- Só promete à mãe, Ethan.- Insisti.

- Ok, eu prometo que nunca vou lá.

- Ótimo.- Beijei as suas bochechas gordinhas.- Agora dorme que já é tarde. Amanhã escrevemos os dois uma carta ao avô para que nos venha visitar, que achas?

- Sim!!- Entusiasmado, deixou o brinquedo na mesa de cabeceira para dormir. Sorrindo, soprei as velas nos castiçais.

- Não vens deitar-te?- Reparei que Henry ainda escrevia no meio daquela confusão a que chamava escritório quando vi as velas ainda acesas.

- Estou quase a ir.- Suspirou cansado rabiscando às pressas.- A vida de um primeiro-ministro é muito injusta.

- Olha, eu acho que te tens saído muito bem.- Encostei-me à parede vendo-o trabalhar. Já eu, tinha terminado o livro, só faltava rever umas coisas.

- Como tem ido a escola?

- Muito bem, eu acho. Nunca pensei que acabaria aqui assim. Nunca achei que me daria bem com crianças.

- Tens um talento nato Helena.

- O meu irmão e o meu pai devem rir-se tanto juntos.- Ri ao lembrar.- Eu disse que em circunstância alguma teria filhos.

- Pois então tenho de me reunir com eles para me rir também.- Pousou a pena.- Tu ias anulando o nosso noivado por isso e agora olha: temos quatro pirralhos lindos e travessos a saltitar atrás de nós. 

- Eu não quero que cresçam Henry.- Choraminguei, sabendo como passava depressa.

- Mas vão, e vão deixar-nos orgulhosos.- Apagou o castiçal a seu lado e veio abraçar-me.- Vem, amanhã quero que me contes tudo sobre o livro.

- Não sei... preciso de uma noite mimada.

- Uma noite mimada... Muito bem, tudo para a esposa perfeita.- Pegou-me ao colo e beijou-me, marchando até ao quarto.

Pousou-me sobre a cama e desfez-se da camisa e dos culotes às pressas, e quando já podia sentir os seus lábios novamente...

- Pai!!! Tenho um monstro debaixo da cama!!!

- Humpft.- Resmungou e sorri.- Não demoro nada.

⭐👑⭐

- Majestade, devo de aconselhá-lo. Esta é uma péssima ideia.- Frei Gaspar insistia a meu lado.- E se a caravela naufragar? Os franceses têm ousado na nossa costa, e se atacam? Vossa majestade não pode morrer aqui assim.

- Eu tenho ministros da maior confiança na regência e filhos suficientes para aguentarem um trono quando e se for necessário.- Declarei sem o encarar encerrando o assunto.

- Deixai que vos diga que não foi de bom tom deixar a regência nas mãos de outros se não nas de vossa esposa, a rainha.

- Eu deixo o meu país nas mãos de quem confio.- Embarquei de capuz posto e rumei ao meu camarote, donde mal saí pelos seguintes meses.

Para todos, estaria na termas das Caldas da Rainha. O médico disse que tinha uma crise de melancolia e sei que não são uns litros de água que me vão curar. Eu precisava de rever Helena, nem que de relance, nem que me fechasse a porta.

Uma só vez seria suficiente, espero.

- Majestade, estamos em Inglaterra.- O confessor veio informar-me.

Aqui o céu era escuro, e tudo tinha um ar mais triste e pesado. Não admira que os ingleses sejam sempre tão sérios.

- Majestade, não sabemos se continua por cá sequer.

- Eduardo não embarcaria para aqui todos os Invernos sem razão alguma.- Lembrei um dos meus melhores conselheiros que perdi há anos.

- Sois pai agora. Não podeis...

- Eu posso sim! Mais uma palavra, atiro-vos ao rio para ver se é fundo!- Rosnei farto de o ouvir.

Que fala barato!

Não me dirigi à embaixada. Permaneceria incógnito. Lembro-me de ler algures que a minha tia tinha um palácio para o norte de Londres. Não sei se é dos Bragança, dos de cá, ou do esquecimento.

Dirigimo-nos para lá, de qualquer modo. Deixaram-nos ficar, todavia tive de me identificar, e isso com certeza correria por aqui à velocidade do vento.

Não esperei ganhar raízes e parti em busca do que me trouxe a este país herege.

Onde estaria? Junto da rainha? Onde seria a sua casa? Londres é enorme!

- Parem!- Impus ao cocheiro e criados, que obedeceram.- Irei a pé.- Como fazia na minha cidade.

⭐👑⭐

A rainha não gostou deste meu trabalho como gostou dos outros, contudo não ousaria enfrentá-la. Posso escrever mais, mas não posso pôr a minha família ou a nossa amizade em cheque.

Apressei-me para a escola, onde os alunos me esperariam; demorei mais do que previa com a rainha:

- Hoje faremos contas.- Declarei depois de ter os meninos todos sentados e atentos.

A frustração e fúria foram-se acalmando, pelo menos a fúria. Ainda tinha algo que gostava, ainda fazia a diferença nos mundos de cada um.

Perto do fim da aula, vi que Henry me acenava pela janela. Não devia de estar no Parlamento por esta hora?

⭐👑⭐

- Fica aqui Ethan. O pai vai buscar a mãe.

- Mas eu quero ir contigo.- Pedi vendo as pessoas todas lá fora.

- Ethan...!

- Tudo bem.- Amuei e mesmo assim o pai saiu.

Deixou-me aqui dentro. Bom, parece que vou ter de ir até lá sozinho! Eu já sou grande!

- Au!- Alguém me empurrou na multidão que caminha ali à volta.- Ei!- Gritei para alguém que me pisou.- Iue!!!- Enojei-me quando caí no cocó dos cavalos.

- Precisas de ajuda?- Um homem perguntou-me. Estava tão bem vestido quanto o pai, talvez até melhor.

- A minha mãe diz que não devo falar com estranhos.

- Embora ela não esteja aqui, não é?- Sorriu. Quando me pôs de pé limpou-me a cara com um lenço bordado que tinha.

- Deve estar a chegar. Obrigado.

- Queres vir comigo?- O estranho convidou.

- Onde?

- Para o meu palácio, claro. Temos muito a conversar. O teu pai chama-se Henry, e a tua mãe Helena, não é?

- É.

- Ah, nós éramos melhores amigos há muitos anos.- Estendeu-me a mão e aceitei, seguindo-o até ao seu coche.

- A sério?

- A sério! Vou adorar revê-los. Podemos fazer-lhes uma surpresa, que achas? Gostas de surpresas?

- Sim!!!- Saltitei entusiasmado.

- E como te chamas?- Pois, nem nos apresentamos.

- O meu nome é Ethan e tenho estes anos!- Abri os dedos das mãos como o pai me ensinou.

- Oh, estás muito grande!

⭐👑⭐

O miúdo tinha adormecido durante a viagem. Emanava um cheiro nauseabundo, por isso providenciei que lhe dessem um banho mal chegámos.

Esta peste era o chamariz perfeito para os trazer até mim. Era terrivelmente parecido com Henry!

Cabelo ruivo, olhos azuis e achava piada em tudo. Que nojo!

Eu imaginava que teriam uma família, como todos têm, porém ver com os meus próprios olhos, um fruto deles. Encarar nos olhos uma criança proveniente do ventre de Helena que não seja minha é... angustiante.

- Não tens família?- O rapaz estava irrequieto no sofá, brincando com as almofadas, balançando os pés, ou fazendo a cambalhota.

Mas tiveram um filho ou um primo do Demónio?!?!?

- Tenho. Está em Portugal.

- Tu és de lá?!?- Aquietou-se.- Como é?

- Tu nunca... foste até lá.- Suspirei sabendo que isso era culpa minha.

- E nunca irei.- Entristeceu-se.- Prometi à mãe, e um Hyde não quebra a sua palavra.

- Claro que não.- Sorri saturado dele.- Tenho uma filha e dois rapazes. Adorarias brincar com eles.

- É. Isto aqui está chato.

A magnifica frontalidade da mãe. Oh Helena...

- Tens irmãos?- Hesitei.

- Sim. Mas ainda só comem e dormem. Bebés são aborrecidos. São o Aaron, a Mary e a Elane. Um dia vou ensinar o Aaron a ser um cavaleiro e então vamos os dois lutar para a Escócia.

- A guerra mata. É terrível.

- Já lá estiveste?

- Fui eu quem a financiou.- Suspirei. Finalmente tinha saído da Guerra da Sucessão Espanhola.

- O pai está a tentar terminá-la.

- O teu pai tem de obedecer a uma rainha. Mulheres não sabem dessas coisas.

- Isso é mentira.- Cruzou os braços.- A mãe diz que a rainha é bem mais capaz, sábia e experiente do que alguma vez o rei de Portugal foi!

Pousei a chávena de chá com força e até lascou um dos lados.

- Ai a tua mãe diz isso? Que diz mais a tua mãe do rei de Portugal?

- Ela não gosta muito dele e o pai não gosta nada, mas gostam do país.- Sorriu.- O pai diz que ele é um gordo gabarolas.- Riu.- Não vais dizer isto ao teu rei, pois não?- Preocupou-se de imediato.

- Não, não. Fica só entre nós.- Cerrei o punho furioso.

⭐👑⭐

- E vamos almoçar com... O Ethan?

- Claro Henry. Eu adoro os nossos almoços em família, só temos de ir buscar os gémeos.

- Não Helena.- Procurei esbaforido à volta.- O Ethan não está aqui.

- O quê?!?- Procurou ela mesma.- Ethan?- Procurou comigo. Os empregados da carruagem também não o viram sair.

- Onde é que ele está, Henry?- Perguntou de olhos molhados.

- Nós vamos achá-lo, se calhar foi brincar com os teus alunos.

Não foi. Não o achávamos por nada. Perguntamos aos meus pais, a Lucas, a Hetty... ele não estava com nenhum deles.

- Levaram o meu filho, Henry.- Em casa, Helena embalava a Mary que chorava.

Eu sentia-me um irresponsável. Eu descuidei-me com ele, não protegi o meu filho.

- Um bilhete, senhores.- O mordomo acorreu à sala onde estávamos. Li o papel às pressas, era sobre o Ethan.

- Quem deixou isto?- Rosnei.

- Não... não sei, senhor. Parecia um pastor. Estava vestido de negro.

- O que é Henry?- Pegou o bilhete e leu-o ela mesma.- Pensava que já não morava ninguém nesta morada.

- Somos dois, então. Cuida deles, eu vou buscar o Ethan.- Declarei ordenando ao mordomo que começasse a reunir homens.

- Nem pensar, eu vou contigo.

- Helena, se correr mal...

- Henry, eu quero as bolas ou o cabelo de quem se atreveu a levar o meu filho de mim.- Advertiu entre dentes, deixando a Elane, o Aaron e a Mary ao cuidado da ama.

Fomos de sege, sempre era mais rápido. Eu tinha um mau pressentimento quanto a toda esta situação... sinto-me horrível.

- Vamos achá-lo.- Helena apertou a minha mão. Os seus olhos estavam secos agora. Havia um brilho de vingança ali, um brilho que não via há anos.

- É aqui.

- Não os façamos esperar.- Subiu as escadas e socou a porta furiosa.

Era muito estranha esta situação. Nem um pedido de resgate?

- Sim?

- Estão à nossa espera.- Resmunguei com o mordomo que nos abriu a porta.

- Onde está o meu filho?- Helena pegou o homem pelos colarinhos ouvindo-o balbuciar.

- Por aqui.- Uma outra voz, calma e pragmática informou.

- Frei Gaspar?- Helena lembrou o nome do padre. A cara dele não me era nada estranha.

Espera!! Ele estava sempre com o rei!!

- Ethan?- Entrei esbaforido. Se o rei se apanha com o meu filho então...

- Parece que os teus pais chegaram.- Reconhecemos uma voz que não ouvíamos faz anos.

- Mãe!!

- Ethan!!- O meu filho correu até nós e Helena pegou-lhe no colo.- Oh meu amor... estás bem? Comeste alguma coisa que te fez mal? Alguém te magoou? Eu já te disse que não se fala com estranhos!!

- Não é um estranho. Vocês eram amigos.- Apontou para trás e então notamos João, como esperado.

- Olá.

- Seu grandessíssimo...- Helena pousou o Ethan e tentou socar o rei, porém contive-a.

- Não.- Murmurei.- Da última vez correu mal. Temos filhos para cuidar agora, Helena.

- Ele raptou o meu filho!!- Rosnou ansiando por vingança.

- Cuidei bem dele. Só precisava de te rever.- Declarou com uma tranquilidade que me enraivecia. Como se atreve a dizer tais obscenidades na minha frente?! Este desgraçado não aprende.

- Olha aqui seu...

- Henry!- Foi a vez de Helena me agarrar.

Bastava um de nós perder a cabeça que ia tudo pelos ares.

- Nunca respondeste às minhas cartas.- D. João teve a ousadia de dizer.

- Como te atreves a dizer-me isso depois do que nos fizeste?! Como te atreves a aparecer aqui agora?!- Rosnou furiosa.- Como te atreves a raptar o meu filho?!- Segurei a minha esposa antes de se tentar atirar para cima dele à porrada.

- Eu não raptei ninguém. Deviam ter mais cuidado, o mundo é perigoso lá fora.

- Um par de estalos nessa cara. Isso acalmava o perigo.- Cuspiu sentida. Nós éramos uns pais-galinha, e este rei meteu-se na capoeira errada.

- A menos que tenhas algo a dizer à rainha Ana em pessoa, podeis embarcar de volta. Não sois bem vindo aqui, e se vos demorardes muito, arranjo maneira de proibir a vossa entrada e a de todos os vossos descendentes em Inglaterra.- Adverti zangado. Eu tinha poder para isso agora.

- Pensei que pudesses ter sentido saudades.- Suspirou ele, ignorando-nos por completo.

- Eu sinto saudades do meu pai, chorei a morte do meu avô a centenas de quilómetros de distância e casei longe da minha família por tua culpa. Por tua causa deixei a minha família para trás para sobreviver e agora, que sou bem sucedida, que me firmei aqui, atreveste a encarar-me de frente, como se tivesses esse direito. Eu não te devo nada!!

- Ele era o rei mau?- O Ethan escondeu-se atrás das saias da mãe, assustado com o nosso comportamento furtivo. Acho que nunca nos tinha visto tão zangados.- Ele foi simpático.

- Não te deixes enganar, meu amor. Ele adora ser simpático até ter o que quer.- Pegou o nosso filho no colo.

- Desculpa?! Eu sempre fui genuíno e honesto contigo!

- Eu também, e arrependi-me profundamente.- Admitiu Helena com amargura.- Devia ter deixado o teu irmão matar-te.- Praguejou.- Aposto que aquele idiota não me expulsaria do meu próprio país.

- Não tens uma família para cuidar agora? Volta para lá, e deixa a minha em paz.- Pronunciei-me.

Estava claro na cara do rei que esta não era a recepção que esperava. Queria o quê? Que depois do que nos fez, Helena aceitasse uma possível amizade de volta?! Helena foi a chacota desta sociedade por anos, teve de limpar e reescrever a sua reputação por causa dos boatos, veio de parar no seio de uma família estranha de uma sociedade estranha! Eu cheguei a crer que não suportaria tudo ao mesmo tempo, quase a vi cair numa crise de melancolia!

- Tu mataste mesmo o meu pai?- O Ethan perguntou a seu lado.

- Ethan...- Repreendi.- Este não é o momento.

- Sim, quer dizer, não. Eu tentei, mas a tua mãe salvou-o com os amigos dele.- Admitiu.- E eu envergonho-me disso, porque o fiz por ciúmes, e... acabei por afastar a tua mãe de mim. Arrependo-me disso todos os dias.

- Que bom, já tens uma história para contar ao diabo. Boa viagem!- Helena sorriu e dando a mã a Ethan, virou costas para voltarmos a casa.

- Espera...

- Escuta bem o que eu vou dizer, porque se tiver de o repetir, será a minha espada a dar a sentença, e ela não quer saber se tens filhos, esposa, ou um reino.- Helena voltou-se tão depressa, que pensei que fosse um furacão.- A nossa amizade, João Bento de Bragança, terminou no dia em que me queimaste as cartas de Henry, eu só não o vi. A relação que tínhamos acabou quando embarquei para Inglaterra para não mais voltar à minha pátria. Eu refiz a minha vida, mais feliz e realizada que antes, porque não passo o meu dia a falar com uma cabeça oca que nunca me respeitou. 

- Isso não é verdade, isso não é verdade! O tempo e a distância fizeram-te mal, fizeram-te cega!

- Eu amo Henry, sempre amei e vou sempre amar. Eu adoro aprender, e posso fazê-lo aqui, assim como posso ensinar. Aqui eu tenho a minha própria voz, não a do meu pai ou do meu irmão, a minha! Ah e não tenho uma rainha louca atrás de mim.

- A tua vida lá está assim tão caótica para teres de fugir para aqui?- Perguntei incrédulo.

- A minha está aqui, veio contigo.- Isto foi a gota de água. Segurei-o pela gravata, e quando estava prestes a socá-lo:

- Henry, espera. Não na frente do Ethan.- Helena pediu.

Eu estou a ensinar ao meu filho a pedir desculpa e a perdoar, ensinei-lhe que os problemas se resolvem a falar e não com os punhos e no entanto aqui estou.

Revoltado, e com o maior auto-controle soltei o rei e apenas lhe dei um empurrão.

- Vamos embora.- Suspirei pegando o Ethan no colo, e como travesso que era mostrou a língua numa careta ao rei.

O maior soco de luva branca que D. João podia ter era a nossa indiferença. Da mesma maneira que nos dispensou, nós retribuímos o favor.

Nessa noite, Helena estava mais pensativa e fechada que o habitual. Parecia mais calma quanto ao que aconteceu com o Ethan. Claro que tivemos uma conversa muito séria com ele, porém não conseguimos ser muito duros, era só uma criança, e foi enganada. Aproveitaram-se da sua ingenuidade, e isso era muito baixo. 

Mais tarde, quando nos deitámos, ainda de velas acesas e com a cabeça descansada no meu peito, pensou alto:

- Será que apesar de tudo o que fiz, as pessoas vão lembrar-me como amante de um rei com quem nunca me deitei sequer?

- Não, claro que não, milady.- Garanti-lhe.- Vais entrar para a história como uma revolucionária. Uma visionária à frente do nosso tempo. O mundo lembrará que foi uma portuguesa a trazer ideias vanguardistas ao nosso país.

- Achas mesmo?

- Claro que sim, Helena. Tu lutas todos os dias por aquilo em que acreditas, tu ensinas aos que não podem ir à escola. Tu ensinas raparigas, tu estás a passar os teus ideais de mudança para elas também, e um dia, todas as mulheres poderão fazer e dizer o que pensam sem serem queimadas, perseguidas ou gozadas.

- Isso é o que mais quero, sabes? Eu sei que não verei acontecer, mas um dia, quem sabe, nós mulheres possamos ser livres.

Considerações finais

Antes de mais, muito obrigada por me acompanharem até aqui, por me apoiarem neste que foi o meu primeiro romance histórico.

É um tema que gostei muito de escrever e como repararam ao longo do livro, serviu principalmente para ressaltar os nossos direitos como mulheres. Para estarmos aqui agora, a ler, houve quem antes de nós, lutasse por isso; se vamos para a faculdade, há quem tenha lutado por isso; se votamos, já quem tenha lutado para tal. Hoje ainda temos de lutar para que no futuro, mulheres continuem a ter direitos e adquiram mais. Todos os dias somos deparadas com situações que nos deixam constrangidas e que nos fazem erguer a voz, poderia enumerá-las, porém todas sabemos que precisaria de beemmm mais espaço. 

Nunca se esqueçam da força que têm e jamais duvidem dela.

Depois é importante esclarecer a origem das personagens. D. João V, existiu claro, e este livro surgiu por ele mesmo. Só depois pensei no rumo que queria que tivesse. É uma piada entre mim e as minhas amigas.

A família Brotas Lencastre não existiu. Havia um Brotas de Lencastre, no entanto não eram próximos da corte de D. João, e muito menos se chamavam Helena, Lucas, ou Eduardo, ou ainda Catarina. Foram personagens que inventei, portanto não eram Governadores ou conselheiros.

Ah, mas D. João tinha tantas amantes...! Sim, o rei teve. E nós nunca saberemos se houve uma Helena Brotas de Lencastre, afinal de contas, o rei apenas assumiu três filhos bastardos, e não assumiu os restantes por achar as mães dos mesmos de ascendência indigna. Uma traidora sem pátria não parece alguém com que um rei deva legitimar relações ou filhos...

A D. Francisca, D. Francisco, D. António e D. Manuel tentei ser fiel quanto à sua personalidade. Não nos podemos esquecer que D. João aqui tem cerca de 17 ou 18 anos, então os irmãos ainda são bem novinhos.

Quanto a Henry... sim, existiu um Henry Hyde, que tinha Henrietta como irmã entre outros irmãos, no entanto tinha idade para ser pai ou avô de Helena, portanto digamos que lhe retirei uns quantos anos de vida, visto aqui ter cerca de 22 ou 23 anos e ser na mesma familiar da rainha de Inglaterra.

D. Maria Ana, era sim conhecida por ser ligeiramente cruel com as amantes do marido, há quem diga que obrigava as mulheres a beber um chá para abortar os filhos bastardos, e era ainda extremamente religiosa, mais ainda que D. João. Claro que sua majestade pagaria a alguém para dar uma surra a uma amante se quisesse, mas quis dar uma pitada de drama à situação! 

Há registos de um espião na corte ter relatado que a rainha não se importaria se o marido se deitasse com duas ou três, mas cinco ou seis era intolerável. O pessoal era vida louca naquela altura!

Ou seja, à verdade acrescentei pitadas de mentira para consolidar a minha história, que espero que tenham gostado tanto de ler, como eu de escrever. Obrigada a todas que votaram e comentaram, e que me fizeram rir e continuar a escrever. Quem sabe, talvez nos encontremos num futuro próximo, em mais um livro meu. Muito, muito obrigada!

Um abraço especial à @AnaPorto674 que sempre me fez rir desde o início e à @BORBOLETA_AZUL14 que lia e votava nos meus capítulos desde o começo! 

Vemo-nos por aí!

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