58. Um kilt com pernas de menina
Aquele jogo era muito idiota. Servia apenas para descobrirem os podres uns dos outros e aborrecerem-se.
Henrietta já dormia tranquila, portanto aproveitei para decidir o que vestiria amanhã. Talvez o vestido verde com o colar da mamã, ou o... O COLAR DA MAMÃ!
Não, não! Eu tenho de voltar atrás!
Pela pequena janela olhei o mar, talvez ainda se visse Portugal. Ainda podemos voltar!!!
- Henry?- Saí do meu camarote para ir até ao dos rapazes.- Estás a dormir?
- Ainda não.- Bocejou.- Que aconteceu, amor?
- Temos de voltar para trás.- Declarei preocupada e sentou-se de repente.- O colar da mamã, João ficou com ele.
Esfregou o rosto frustrado. Não tinha intenção de o aborrecer.
- Aquele colar é muito importante para mim, é a única lembrança física da mamã. É o que tenho de mais importante, Henry!
- Helena, não dá para voltar. Lamento muito.
- Mas... por favor Henry, eu não te volto a pedir mais nada, prometo. Eu juro!- Segurei as suas mãos.
- Desculpa, Helena. Não está ao meu alcance, e mesmo que estivesse... não o alcançaríamos. Queimaríamos antes de o teres.- Segurou as minhas mãos.- Eu dou-te um colar assim que chegarmos.
- Não é esse o ponto.- Zanguei-me com o seu animo leve, como se algo assim fosse fácil de resolver.
- Oh milady, eu lamento muito.- Abraçou-me com força e retribui.- As coisas vão melhorar, prometo.
- Eu sinto-me uma fugitiva, Henry...- Murmurou.
- É isso que somos, Helena.- Anthony respondeu do nada.
Senti o animo pesar, ele tinha razão. E eu sabia das consequência ao libertar Henry e não me arrependo.
- Desculpa. Eu vou deitar-me.- Levantei-me como a idiota que era. Há problemas maiores agora.
- Não tens do que te desculpar.- Segurou-me antes de ir.- Queres ficar aqui?
Ia dizer que sim, até reparar nos vários beliches e...
- É melhor não. Oportunidades não hão de faltar.- Beijei a sua bochecha antes de ir.
⭐👑⭐
- O que aconteceu ontem à noite não é para se repetir.- Firmei a voz furioso com a rainha.
- E o que aconteceu há duas noites também não!- Respondeu fechando o livro que lia à janela.
- Deveis-me um filho!- Rosnei.- Se não o souberdes fazer, outra ocupará o vosso lugar.
- Vós deveis-me respeito, senhor! E não é o que tem acontecido ultimamente. Sem respeito, sem crianças!
- Se quereis respeito, tendes de fazer por merecê-lo. Ou pensais espancar e mandar para longe todas as minhas amantes?!
- Sempre admitis que aquela rameira se enrolava convosco, então.- Afirmou certa de si.
- Não me provoques Ana, eu sou de pavio curto.
- Eu sei, ainda tenho as marcas.- Respondeu de volta.- Entende uma coisa João, as concubinas que usas têm a duração de uma noite, mais tempo e começam a fazer-te mal. A única mulher com quem podes ter filhos sou eu!
- Ah porquê?!- Ri-me dela com escárnio. A pior coisa que fiz foi casar-me, maldição!- O que cabe em vós, cabe noutras que o saibam apreciar de verdade.
- Sois um porco!- Rosnou enojada.
- Diz a quase assassina.
- Saí!
- Logo à noite virei outra vez. Se vos doer a cabeça novamente, é bom que aprendeis as orações que a Virgem fez para lhe nascer no ventre um varão.- Saí com a sentença dada.
- É verdade?- O António apareceu à minha frente tão de repente que me assustei.
- O quê?
- Tu...- Olhou ao redor e murmurou.- Deste com o cinto na tua mulher?
- E isso é da tua conta?
- Santo Deus, João Bento! E se ela escreve ao irmão? Vai tudo pelos ares!
- É a minha mulher, António, faço o que quero com ela. Quando é que vais para Vila Viçosa, o sonho de padre já te passou?
- Vou daqui a uns dias, mas adio se continuares fora de ti. Sempre pensei que fosses o único homem sério e integro o suficiente para não fazer o que fizeste. O mais esperto. Não o filho da mãe que te acabaste de tornar.
⭐👑⭐
- Então hoje o embaixador levantou-se com um mood mais melancólico ou nostálgico?
- Eu já não sou embaixador, Edward.- Levantei-me da mesa aborrecido. Hoje não estava com cabeça para lidar com as piadinhas deles.
- Definitivamente melancólico.- Edward suspirou depois de Henry sair.
Elsbeth parecia preocupada com o filho, e eu também estava. Qual a razão deste humor de Henry? Espero que não tenha sido o assunto de ontem à noite. Não queria preocupá-lo.
Decidi segui-lo. Talvez quisesse conversar.
- Amor?
- Eu preciso de pensar, Helena. Deixa-me sozinho, por favor.
O meu nome é milady!! Porque não me chama milady agora?
- Está tudo bem? Estás bem? Queres que te traga um agasalho?
- Eu estou bem.- Sorriu e abracei-o antes de o deixar.
O que andará a passar por aquela cabeleira ruiva? Terá notado que talvez não seja suficiente para ele? Os seus olhos estão preocupados. Não estavam assim ontem.
Desde que embarquei que sinto o coração pesado, pelo menos achava. Não é nada comparado ao que sinto agora.
- Talvez tenha caído em si.- Eu estava farta dos comentários maldosos de Anthony. Ele era horrível.
- Se o meu marido tivesse caído em si, não te voltava a dirigir palavra.- Enervei-me.
- Mulheres vêm e vão, Helena. A amizade fica.
Foi a gota de água!!
- Olha aqui, seu inglesinho de...- Peguei no cinto de Henry e tirei a espada da bainha, apontando-a bem para o pescoço de Anthony. Hesitei em prosseguir, pois era isso que o rei chamava a Henry e eu achava terrível.- Eu sou a mulher! É bom que entendas isso de uma vez! Deves-me respeito!- Avancei e ao tentar recuar, a cadeira cedeu e caiu de cabeça no chão.- Todos devem! Eu nunca vos quis prejudicar, sempre quis conhecer-vos... porque me têm tanto ódio?- Encarei Richard.
- Eles não te odeiam, Helena.- Edward tirou a espada da minha mão antes que magoasse alguém.
- Homens são idiotas e têm medo do que não conseguem controlar.- Elsbeth continuou o seu bordado tranquilamente.
- Eles têm medo que Henry se afaste, que fique em casa aos fins de semana a limpar vomitado de bebé da casaca ao invés de se divertir connosco, têm receio de crescer e de que as coisas mudem.- David segurou o meu ombro.- Perdoa os meus amigos.
- Vocês acham mesmo que eu quero enclausurar Henry para o ter só para mim?!- Surpreendi-me.
Eles só tinham receio de mudar, de perder o amigo para mim.
- Eu não quero roubar-vos Henry.
- Então ele vai poder sair connosco na mesma para...
- A igreja?- Edward pisou William e continuou o que dizia.
- Desde que não existam mulheres nuas ou seminuas.
- Isso corta metade dos planos.- Richard amuou.
- Podem continuar a ir ao clube juntos. Henry disse-me que gostava muito de ir lá convosco.
⭐👑⭐
- Problemas no paraíso?
Permaneci em silêncio perante as provocações do meu pai. O mar estava inquieto, e as nuvens cobriam o sol. A tormenta estava para breve.
- Oh, vá lá. Não pensavas que ia ser perfeito, certo? Embarcavas e estava feito? Pobre inocente.
- Porque vós sabeis muito do assunto.- Resmunguei.- Eu amo Helena, respeito-a. Respeito as suas crenças e as suas vontades. Pensava em cada passo que dava duas vezes, só para ter a certeza que não a prejudicaria.
Até que perdi a cabeça no pior momento.
- Adorarei saber o que dirás à tua tia.
- E quem disse que vos contaria?- Diverti-me.
- Quando chegar a Londres vou preparar-me. Está uma outra guerra por vir.
E saiu. Saiu assim como se não tivesse dito nada demais!
Valeria a pena?
Se eu morresse, era apenas um. Em breve milhares morrerão.
Como é que pude ser tão imprudente?!
- Não sei o que vos disse o tolo de vosso pai, espero que não lhe tenhas dado ouvidos, como de costume.
- E se ele tem razão desta vez, mãe?- Assustei-me.- O pai é um bom diplomata, ele sabe o que acontecerá em breve melhor que eu.
- Vosso pai é bruxo?
- Eu sei lá.- Aborreci-me.
- Eu estou orgulhosa de vós, do que vos tornastes.- Encarei a minha mãe, chocado com as palavras que nunca esperei ouvir da boca dela.- Então agora é bom que saibas que é tarde demais para voltar atrás. Se te casaste é porque melhor que ninguém, sabes o que significa e o que implica. Sabes que não é fácil.
- Não é disso que me arrependo.- Admiti.- Arrependo-me dos meus atos. Daqui a dois dias casaríamos. Podíamos estar tranquilos a beber chá, a festejar, em vez de... pensar que vou naufragar cada vez quem o barco abana. Por minha culpa pus todos em risco.
- A vida não tem riscos? Se não tivesse não se chamava vida. Sempre testaste quem estava do teu lado.- Sorriu-me e correspondi o sorriso.
- Eu nunca duvidei.- Suspirei.- Não é maravilhosa?- Sorri lembrando Helena.
- Olha... tu não escolheste mal, para variar. É um bocado... masculina, mas tudo bem.
- Eu não lhe chamaria isso.- Lembrei as aulas de esgrima que prometi e foram interrompidas com isto tudo do navio.
- Eu só quero que sejas feliz, Henry. Se tu estiveres feliz, eu também estou.
- Então estamos os dois felizes, mãe.- Abracei-a.
⭐👑⭐
- Pensava que estavam todos na sala de lazer do capitão.
- Ham... não todos.- Senti um embaraço súbito quando ouvi Henrietta.
- Tu estás a arrumar as coisas deles, David?- Estranhou.
- Sim.
- Porquê?
- Bem... houve um jogo, e eu perdi.- Murmurei.
- Queres ajuda?- Pegou num cobertor e começou a dobrar.
- Oh não, não há... necessidade.- Peguei no cobertor e dobrei-o eu.
- Estás a fazer mal.
- Creio que não seja necessária muita ciência para o fazer.- Ri de nervoso. Sentia o suor formar-se-me na testa.
- Então e qual foi o jogo que perdeste?
- Foi um...- Corei atrapalhado.- Jogo ou não tenho de cumprir a minha palavra.
- São sempre poucas, portanto não há mal.- Riu e senti-me mal. Eu só... eu não sabia que dizer quando ela estava presente. Era como se tudo o que fosse dizer perdesse o sentido.
- Eu estava a brincar.- Confessou pouco depois.- Desculpa.
- Não... não disseste mentira nenhuma.
- És de poucas, mas sensatas palavras, e isso é melhor que o idiota do William ou o James, ou Edward ou... todos eles.
Ela acha-me sensato?
- Estás bem?- Ficou meio assustada a olhar para mim.
- Queres casar comigo?
- O quê?
- Se queres arrumar comigo.- Recuperei o juízo.- Há cobertores para os dois.
- Ham... claro.- Sorriu, contente por ajudar, e eu sorri também, por tê-la a meu lado.
⭐👑⭐
- Este jogo não presta.- Bufei pela terceira vez que as bolas mudavam de lugar na mesa devido ao balanço do navio.
- Eu estou a adorar!- O James festejou os pontos gratuitos.
- Realmente não tem graça.- Nem Edward que já tinha metido duas bolas pela ondulação festejava.- Morro de tédio antes de sentir a corrente do Tamisa.
- Expectativas quanto ao vosso novo país, my lady?- William sentou-se num cadeirão e acendeu mais um charuto pelo aborrecimento.
Fumar assim tanto deve fazer mal, espero que Henry não tenha desses vícios.
- Não sei. Não faço ideia.- Admiti temendo o desconhecido.- A Inglaterra que conheço sei-a pelos livros.
- Deve ser horrível então.- James sentou-se em cima da mesa de jogo.- A Inglaterra dos livros é tão... medieval.- Cuspiu a palavra com asco.
- A de agora não é assim tão melhor.- Edward sentou-se no ombro do cadeirão de William.- Para ser honesto começava a gostar mais de Portugal do que de Inglaterra. Tinha a minha casa de frente à praia, e via a outra margem. Era pacifico, pacato.
- Eu prefiro a chuva.- Richard falou pela primeira vez.- O prazer de cavalgar por horas debaixo da tempestade ninguém mo tira, e depois umas pantufas quentinhas à lareira.
- O meu avô costuma fazer isso.- Anthony provocou o amigo e Richard deu-lhe um soco de leve.
E Henry? O que costumava fazer?
- Acho que assim que chegar vou uma boa temporada para a Escócia. Caí nas boas graças do avô de Henry.- Edward imaginou o seu futuro.
- Isso é porque o coitado do velho te acha um bobo da corte quando usas um kilt com essas pernas de menina.
A minha mente vai regredir se passar mais de um mês com este bando de batolos!!!
- Ei, o David?- James lembrou.- É muito tempo para arrumar um só quarto.
- Vocês vivem todos em Londres?- Indaguei.
- A maior parte do ano não.- Richard sorriu-me.- A temporada do parlamento abre na primavera e encerra no fim do verão, por isso o resto do ano ficamos no campo.
- Vocês mudam de casa?- Achei estranho.- Pensava que usavam o campo para... sei lá, um fim de semana, férias...
- Às vezes também.
- Outras... para festa rija.- William riu antes de fumar o charuto uma vez mais. O seu sorriso denunciava as festas imorais e comportamentos indecorosos. Eu não acredito que o meu marido frequentava estas coisas. Casei-me com um prostituto?
- Em Portugal não temos disso.
- Men... tira.- Edward tossiu e olhou pela janela, como se ninguém tivesse entendido.- Deixai-me dizer que aquele duque de Cadaval tem bom gosto para festas.
- Eu não vou ter esta conversa convosco.- Era incrível como a conversa com eles tomava o rumo errado em 5 minutos!
- Não acredito que partilham de uma orgia de conhecimento sem mim.- Henry entrou com um sorriso e beijou-me os cabelos. Estava gelado e tinha a casaca húmida da brisa do mar.
- Dizei-nos Henry, que conhecimentos tendes a mais que nós.- James desafiou-o.
- Oras, se vos contasse deixariam de ser conhecimentos meus.- Piscou o olho aos amigos e não soube ao certo que aquilo significava.- Podemos falar?- Encarou-me.
- Ham... sim.- Despedi-me dos rapazes e saí. Pouco depois Henry saiu também e fomos juntos até ao nosso habitual dormitório. Quando entramos, David e Hetty conversavam tranquilamente enquanto disputavam uma partida de cartas. David parecia estar a ensinar Henrietta.
- Continuamos depois.- Não se importaram de sair.
- Que foi? Hoje tens estado estranho. Foi pelo que disse ontem à noite?- Indaguei quando ficamos finalmente sozinhos.
- Não, milady.- Sorriu e sentou-se numa cadeira, puxando a que estava frente a ele.
- O quê então?
- Coisas minhas...
- Acho que o casamento significa que problemas são coisas nossas e isso que aí tens parece-me um problema.
Sorriu-me antes de continuar.
- Eu sinto-me um pouco mal por todos vocês, só isso. Principalmente em relação a ti.
O que é que isso significava ao certo?
- Por minha culpa... eu sei lá... algum dos rapazes podia ter morrido. Os meus pais... tu estás aqui. Mal te despediste da tua família, deixaste as tuas coisas para trás por mim...- Fez uma careta de incompreensão pela situação.- Vem uma onda grande e mata-nos a todos, por mim! Eu que sou sempre cabeça fria, fui perdê-la na pior altura.
- Oh Henry...- Sorri abraçando-o.
- Nós amamos-te, é por isso que não nos importamos.- Tentei fazê-lo sorrir.- Não quero que penses nessa maneira. Pensa antes que estamos num recomeço, os dois.- Acarinhei o seu rosto.- Além disso está a ser bom passar tanto tempo com os rapazes e com a tua família, posso conhecê-los melhor e vice-versa. E tu também. Não os vias há meses.
Pareceu refletir nas minhas palavras até abrir um sorriso:
- Bom, agora que cumpriste o teu papel como esposa afável, é a minha vez de cumprir o papel de marido preocupado e acalmar o teu receio quanto ao que encontraremos em Inglaterra.- Sorri mais aliviada e ri com ele.
Contou-me quem encontraríamos, sobre quem poderia confiar ou não, e quem tentaria aproxima-se para nos prejudicar. Disse que ficaríamos uns dias na corte em St. James ou no palácio da família em Londres. Depois de tudo acertado iremos para a propriedade no campo até ao inicio da primavera.
Era estranho passar o Natal apenas com ele e com os meus sogros. Parece que vai ser uma festa mais taciturna este ano, os ingleses são pessoas... contidas.
- Eu prometo que te vais habituar depressa.
- Espero mesmo que sim.- Desabafei preocupada e abraçou-me com mais força. No momento, a alegria e força dele eram contagiantes para mim.
Mais que nunca, vê-lo feliz fazia-me feliz.
⭐👑⭐
Olá princesas!!!
Literalmente escrevi e publiquei!!
Muito obrigada por serem tão pacientes e por comentarem e votarem tanto. Adoro falar convosco!
Está a ser muito dificil para mim publicar devido estar na época de exames. Prometo que assim que que tiver mais tempo, farei as coisas com mais calma.
Além disso... preparem os vossos hearts, que estamos quase no fim!!
Ah e podem falar comigo, fazer as vossas perguntas... no Tumblr, o meu user é LeitoraCriativa. Até já!
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