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48. Não a percam de vista!

- Maravilha!- Eliza estendeu-me o colar de pérolas.

Queria que D. João me achasse a mais bela da noite.

Passei um pouco de perfume e respirei fundo.

- O embaixador austríaco deseja falar convosco amanhã.- Cora disse enquanto escovava o pêlo médio da Mila.

- Que deseja ele?

- Apenas garantir que vos encontrais bem e definir uns quantos pontos.

Pontos?

- Bom, vamos.- Decidi depois de pronta.

D. João já estava ao fundo corredor, aquele que abria para o grande salão de baile. Não sabia ainda o caminho, na verdade foi uma empregada que nos guiou.

Ouvia-se a música e o som de conversas desconexas abafadas pela porta.

- Boas noites, majestade.

- Boas noites, senhora.- Sorriu dispensado o homem com quem falava.- Disseram-me que explorastes o palácio esta tarde, foi de vosso agrado?

⭐👑⭐

- Lara Pires Mascarenhas.- Reparei a prostituta do outro lado do salão, sempre com aquele sorriso convencido e superior.

O que é que ela fazia aqui?! João tinha-a expulsado de Lisboa!

- O rei!- O mordomo falou alto, interrompendo a música e o convívio. Todos se afastaram do caminho, permitindo a passagem de sua majestade, com a nova princesa de Portugal.

Todo o salão de curvou à passagem das duas figuras reais, que simplesmente caminhavam lentamente apreciando a sensação de poder.

Depois, com imensa calma, sentaram-se nos tronos: primeiro o rei, depois a futura rainha.

João acabou por fazer um sinal ao maestro e logo se prosseguiram as danças.

- Reparaste que se sentou de lado?- Henry murmurou no meu ouvido.

- Não.- Admiti.

- Eu diria que o rei está bêbado.- Riu e bebeu ele mesmo o seu champanhe.- Não olhes agora, mas está uma loira de olhos verdes e vestido vermelho a olhar para ti.

Lara!

- Deu para ver daqui a cor dos olhos?- Impliquei com ele.

- Ela está a espetar-te adagas imaginárias. Um cego conseguiria ver o ódio ali.

- Mas não a cor.

- Não tinha noção que vossa graça poderia ser tão ciumenta, milady.

- Não são ciumes, é cuidado.- Suspirei.- É Lara, a primeira paixoneta de João.

- A primeira amante?- Engasgou-se.

- Pelo menos desde que cheguei do Brasil.

João parecia ter um apetite insaciável no que toca às mulheres, não me choca nada que Lara não seja nem a décima com que se deitou.

- E o que quer contigo?

- Envenenou-me a mim e à infanta e o rei proibiu-a de voltar a Lisboa.

- Parece que não foram medidas bem implementadas.- Reparei que segurou a espada lentamente.

- Por amor de Deus, Henry. Não aqui. Não há necessidade de uma coisa dessas!- Afastei a sua mão dali.

- Concedes-me uma dança, milady?- Mudou de assunto.

- Continuas a demorar imenso tempo a perguntar.- Diverti-me, deixando-me ser puxada para o centro do salão.

- Talvez continue a temer receber um não como resposta.- Sorriu.

- Isso é impossível.- Garanti enquanto dançávamos.

Cheguei a pensar que nunca mais dançava com ele... que nunca mais o veria sorrir para mim.

- Não penses mais nisso. Estamos aqui agora, e estamos bem.- Lançou-me um sorriso encorajador.- Foi uma lição preciosa para todos.

- Sim.- Concordei.

Aproveitar cada momento como se fosse o ultimo e lembrar que a felicidade estava no presente e não apenas no passado.

⭐👑⭐

Ele ia convidar-me para dançar ou não?! Ia mesmo ficar aqui a noite toda a ver estes pares de batolos à roda?!

- Cheirais a álcool.- Olhei para os músicos e falei num tom baixo, para que só ele ouvisse.

- Que observadora.

Hum... então ele era irónico... Que péssimo modo de começar!

Queria perguntar-lhe quem era aquela loira que tanto o olhava, porém achei que não fosse gostar muito da resposta. D. João parecia ignorá-la e prestar atenção na rapariga morena, aquela que estava com a infanta da Barca Real, acho que o pai dela faz parte do conselho pessoal do rei ou assim.

A descarada sorria abertamente enquanto desfrutava excessivamente da dança com um ruivo. Que pouca vergonha!

Era com certeza uma das amantes de D. João; a maneira que lidava com o par dizia tudo.

- Os bailes são mais barulhentos aqui.- Observei.- Parecem mais divertidos que os da corte donde vim.

Tentei esconder o quanto me incomodava aquela algazarra de conversas.

- Duvido muito.- D. João endireitou a postura no trono.- Aqui os bailes são mais do mesmo. Para ser honesto nem apareci no ultimo.

Ele dava um baile e não comparecia?! Qual era o sentido disso?

De qualquer maneira o silêncio que se restabeleceu deixou-me os nervos em franja. Com certeza havia algo que dizer, só não sabia bem o quê. Como reporia a conversa? Será que o rei queria mesmo falar?

- Não tendes nenhuma pergunta que me queirais fazer?- Indaguei e tranquei a boca de imediato muito embaraçada. Talvez fizesse perguntas que me deixassem desconfortável.

Não sabia muito dele, apenas o que li e me contaram. Para ser honesta, pensei que D. João fosse um pouco mais... sociável.

Olhou para mim e divertido, abriu a boca, para a voltar a fechar. Não foi realmente uma boa ideia perguntar.

- Deixai, teremos muitos anos.- Dispensei uma resposta e riu-se.

O meu constrangimento divertia-o?! Mas era idiota?!

- Acho que existem tantas perguntas que para ser honesto, prefiro nem saber e ir descobrindo.

Queria muito saber a que perguntas se referia.

- Reparei que o meu quarto tem vista para uma secção do jardim com camélias...

- Disseram-me que gostáveis de de camélias, verdade?

- Sim, muito. São as minhas flores favoritas.- Entusiasmei-me, feliz por saber que se interessava por mim o suficiente para procurar os meus gostos.

- Quereis dançar?- Sorriu estendendo-me a mão enluvada.

Ele não teria um modo mais subtil e educado de perguntar? É que... é que é tão direto que se torna grosseiro.

- Dar-me-ieis a honra da próxima dança?- Suspirou tentando novamente.

- Sim, teria todo o gosto.- Aceitei a sua mão com um sorriso. D. João foi muito gentil em tentar uma vez mais.

Levantou-se e fiz o mesmo, deixando o manto da mesma cor do vestido ali, enquanto era encaminhada para o centro do salão. Todos os pares se afastaram e então a música recomeçou apenas para nós dois.

⭐👑⭐

- Ele não meteu a pata na poça, ele não meteu a pata na poça!!- Helena animou-se quando João desceu as escadas com a rainha e esperou a música recomeçar.

- Meteu pois.- Bufei zangado entrelaçando o braço no dela. O rei tanto olhava para a rainha como olhava para a minha futura mulher.

- Olha para eles.- Murmurou.- Este casamento vai correr bem. Ele está a tentar, ela está a tentar...

- Pensar na minha esposa enquanto dança com a dele, não é tentar!- Bem, quase esposa.

- Ele não está a pensar em mim, resmungão.

- Helena, eu só não te conto uma coisa porque seria grosseiro!- Cerrei os punhos para não saltar para o pescoço daquele galo da Índia.

Vão dizer-me que na noite de núpcias ele iria conseguir cumprir as suas funções como marido com uma esposa com aquela cara?! Poupem-me! Eu bem sabia quem estaria dentro daquela cabeça conspurcada!!!

- Eu preciso de apanhar ar, vens?- Perguntei no seu ouvido.

- Só mais um pouco, eles ficam queridos juntos.- Decidiu ficar ali a apreciar aquele show de horrores.

Sozinha é que não a ia deixar, sabe-se lá do que é capaz um homem carente, ciumento e desesperado como ele...

- Aff... tudo bem.- Recuou com cuidado, sem perturbar ninguém e puxou-me pela mão.- Não quero que tenhas um ataque.

Ela estava chateada. Helena estava chateada por me preocupar com ela?!

- Não confias em João e muito menos em Maria Ana...

- Na verdade não confio nada em Maria Ana e muito menos em João.- Corrigi-a quando chegamos ao jardim. Estava um pouco mais fresco que no salão de baile apinhado de pessoas e de cheiros desagradáveis.- Eu preocupo-me contigo, Helena. Se os rumores da corte chegam aos ouvidos da rainha, ela vai afastar-te e não vai ser pacifico e João está desesperado para se livrar da esposa, não pensará duas vezes em...

- Em quê, Henry?!- Bramiu de mãos nas ancas.

Eta porra, agora ela estava zangada.

- Amor, que farias se houvesse uma amiga minha do qual não gostavas?

- Engolia a situação.- Encolheu os ombros aborrecida.- Eu vou casar-me contigo, Henry.- Tentou relaxar um pouco.- Eu vou casar-me contigo porque te amo. Eu espero que não passe pela tua cabeça que foi uma escolha sem saída.

- Eu jamais pensei nisso!- Ofendi-me.

- Ótimo, então porque estamos a discutir?!

Porque eu estava a ser ciumento e controlador. Arght!!

- Henry...

- Eu estou a tentar.- Jurei quanto ao meu feitio.

- Eu entendo que estejas preocupado.- Pegou na minha mão e acarinhou-a.- Mas não te esqueças que te amo, vou sempre amar.

Puxei-a para um beijo sem pensar duas vezes, estava louco para o fazer.

- Sempre foste de poucas palavras.- Corou e sorri-lhe.

- Só podes estar a brincar! Eu fui afastada da corte, para tu ficares com um embaixador?! Que burra, Helena!

- Lara... sempre gentil.- Helena empertigou-se.

- Eu fui afastada do rei por tua causa e mesmo assim não soubeste aproveitar!- Indignou-se.

- Estás a ser grosseira e ridícula.- Cruzou os braços.- E o vermelho não te fica bem.

- Invejosa.

Helena riu com o insulto.

Se há algo que aprendi é que numa discussão de mulheres não é para homens intervirem, ou ainda levam por tabela.

- Helena, é melhor voltarmos para dentro...

- Ainda não Henry.- Afirmou bem fixa na loira.

- Então a brasileira será inglesa em breve. Decepcionante.

- Eu serei sempre portuguesa, sua víbora indecente.

A rapariga parecia ser uns poucos anos mais velha que Helena, porém não tantos quanto eu. Mesmo vendo o ar defensivo de Helena, ousou aproximar-se.

- Espaço pessoal, Lara...- Helena sibilou, parecia um predador prestes a atacar.- Eu não sou tão ingénua quanto antes.

- Helena...- Eu não sabia quem daria o primeiro estalo, contudo a minha noiva estava perto de ser a tal que o faria.

- Eu não acredito em ti, linda. Aposto que te enrolaste com ele num canto, como dois cachorros no cio.

Sem tempo de reagir, Helena pegou na minha espada e com o cabo deu uma pancada forte e firme no estômago da loira, que se contorceu por completo.

- Ganha modos!- Endireitou as alças do vestido e voltou a guardar a espada na minha bainha, pegando na minha mão e voltando para dentro.

Que raios tinha acabado de acontecer?!

- Eu odeio-a.- Tirou um copo de champanhe da bandeja e bebeu de uma vez.- Odeio-a tanto!- Bebeu outro.- Rameira! Nunca gostei dela!

- Tem calma.

- Não me peças para ter calma!- Ladrou.

Tudo bem, tudo bem...

- Porque é que não lhe deste um soco no estômago? Ou uma joelhada? Ou...

- Porque os corpetes são feitos de ossos de baleia, Henry, ou madeira ou prata, e isso ia magoar-me mais a mim do que a ela.

- A sério? Pensei que fossem varetas de cobre.- Assustei-me. Helena andava todo o dia comprimida em algo tão apertado e desconfortável?!

- Já despiste tanta mulher e nunca reparaste?!

Corei com a sua frontalidade.

- Ah... agora ficas vermelho.- Cruzou os braços indignada.- Devias era ter vergonha de o fazer, agora não vale a pena ficares assim.

- Não fales assim que me feres.- Levei a mão ao peito.

- Helena, podeis conceder-me uma dança?

- Não, não pode não.- Resmunguei com o rei.

- Henry...- Helena fuzilou-me com o olhar.- Claro, majestade.- Entregou-me o copo.

Eles dois vão dançar e deixam-me aqui com o copo! É preciso ter lata!

⭐👑⭐

- Sim, alteza?- Cora apressou-se a chegar-se a mim, mal lhe fiz sinal.

- Descobre quem é ela, o que faz, o que fez, a relação dela com o meu marido.

- Alteza, é apenas uma dança...- Sorriu.

- Faz o que te mando.- Dispensei-a.

Aquela morena era muito suspeita. Desapareceu com o amante, provavelmente para se enrolarem, chegava aqui vermelha e agora vinha aqui seduzir o meu marido para se esfregar nele... comigo não cola.

⭐👑⭐

- A rainha está a olhar-me como se me quisesse matar.

- Não está nada.- João desvalorizou.

- Está sim. É o olhar que lanço às austríacas que vão falar com Henry.

- Só eu posso condenar à morte.

Sentia-me bem mais aliviada agora!

- Lara está cá.

- Eu sei.

- Soquei-a no jardim.- Admiti antes que um guarda viesse aqui abrir um escândalo.

- Helena, não parece comportamento vosso.- Riu.

- Ela envenenou-me e saiu impune.- Sorri zangada.

- Maria Ana adorou as camélias.- João mudou de assunto, para variar.

- Sabia! Eu sou com certeza o vosso anjo da guarda!- Vangloriei-me.

- Eu não me admiro nada que seja verdade.- Sorriu de uma maneira que me deixou constrangida.

- Ham... e como é sua alteza?- Retomei a conversa, matando aquele silêncio estranho.

- Eu quero o reembolso.- Riu e pisei-o com força.

- Umpft!- Gemeu.

- Isso não são modos de um cavalheiro falar de uma dama, muito menos quando se trata da sua esposa.

- Futura esposa.- Corrigiu.

- Não, esposa. Maria Ana já casou!

- Ela é tão... exigente!- Bufou.

- Exigente?- Ri.- Olha quem fala!

- Tive de a convidar duas vezes para dançar, é uma puritana insuportável e tem uma cachorra sarnenta.

Afinal as coisas não estavam a correr assim tão bem no paraíso.

- Não me inspira confiança. Simplesmente avalia a situação calada, impassível, ouve sem responder ou demonstrar o que pensa. As suas palavras são extremamente ponderadas. Fala apenas o que quer que eu ouça sem a comprometer.

- Já fazia falta alguém assim por aqui.- Respondi prontamente.- Sois um doido impulsivo.

- Se fosse impulsivo já teria a cabeça dos reis de Castela numa estaca!

- Tudo bem...- Tentei acalmá-lo.- Não posso criticar-vos. As inglesas também são assim, ficam caladas e ouvem atentas, nunca sei o que estão a pensar. O teu caso é diferente, a rainha estima-te muito, quer apenas o melhor para ti e para o reino.

Fechou os olhos e respirou fundo por um curto instante.

- Maria Ana é firme, forte, decidida e ponderada. É tudo o que precisais, além disso sabe de números. Não estragues tudo na primeira semana.

- Eu não chego a velho.

- João!- Apertei-lhe o braço com força, porém o rei apenas riu ainda mais.- Têm com certeza muito em comum.

- Acreditas que me perguntou se tinha alguma pergunta a fazer-lhe?

- E o que é que respondeste?

- Eu ri e depois compus o ramalhete.

Grunhi de modo muito pouco elegante. João era um imbecil, tenho a certeza.

- Ela quer conhecer-vos, quer que a conheças também. Aposto que quer passar algum tempo contigo.

- Sou ocupado.

- Ela é a tua esposa.- Contive-me para não o pisar outra vez.- Demonstra algum interesse, João.

Suspirou e prossegui.

- Amanhã, se és realmente um cavalheiro, vais ceder-lhe pelo menos duas horas para esclarecer todas as suas dúvidas.

- Mas é que nem...

- Duas horas, ou 50 anos de um casamento infeliz!- Lembrei.

- Henry também perde duas horas convosco todos os dias, é?

- Não, na verdade perde bem mais que isso. E não é perder tempo, muito pelo contrário.

- Vou pensar na situação.- Admitiu quando me deixou ao lado de Henry.- Está inteira, não temas.

- Se continuardes a ser engraçadinho assim, sois vós quem não permanecerá inteiro por muito mais tempo.

Dei um subtil encontrão em Henry. João era rei. Ele tinha ameaçado o rei!

- Sir Hyde, tende tento na língua. Se não tiverdes, sei quem o porá.- João retribuiu.

- Henry estava só a brincar.- Ri para afastar o clima pesado.

- Boas noites, Helena.

Henry fez uma careta e para ser honesta, o seu feitio implicativo e infantil divertia-me.

⭐👑⭐

Fiquei a orar depois da missa da manhã. Rezava com toda a força por um casamento feliz, abençoado por filhos e felicidade.

Hoje Vivien tinha-se juntado a nós. Ficou no navio, a garantir pessoalmente que os meus bens não eram estraviados ou perdidos.

- O embaixador austríaco deseja falar-vos, alteza.- O mordomo do rei anunciou quando destapei o rosto depois de sair da capela.

- Disseram-me ontem. Onde está?

- Siga-me.- Pediu sempre sério.

Ouvi dizer que portugueses eram mais abertos e calorosos que nós.

Percorremos um longo caminho até o mordomo parar e fazer sinal para os guardas abrirem as portas.

Decidi ir apenas eu. As minhas aias não fariam falta nesta conversa.

Para falar a verdade foi aborrecido e frustrante. Sim, eu sei quando será a data do casamento e sim, sei o que é esperado que faça e também já sei que tenho de ter um varão depressa.

Quando finalmente me deixou falar, pedi-lhe que me mantivesse informada sobre quando Carlos regressasse a Lisboa.

Quando tentava conter o meu ataque de fúria e frustração, o mesmo mordomo, que entretanto soube que se chamava Sebastião, veio informar-me que o rei gostava de almoçar comigo. A sós.

Como negar um convite destes a meu esposo?

Tentei manter-me calma, fria e imparcial, contudo, quando as portas se abriram para a sala, fiquei sem saber que fazer.

Pensei que iria para um enorme salão de jantar, no entanto era uma sala mais pequena, muito bonita sim, porém mais familiar. A mesa não tinha lugar para 12 pessoas sequer, e as suas intenções deixavam-me feliz.

Ele estava a fazer um esforço para isto funcionar. Eu não estava a remar sozinha.

- Boa tarde.- Sorriu levantando-se e acompanhando-me ao meu lugar.

- Boas tardes.- Respondi e foi sentar-se.

- Como correu a viagem?

- Foi bastante tranquila na verdade, o mais desgastante foi atravessar todo o Império até alcançar a costa.- Confessei.

- E o casamento?

- Preenchido.

A resposta não pareceu satisfazê-lo.

- Eu gostava de vos dizer pessoalmente o quanto me agradou o vossa presente.- Referi-me ao colar de diamantes.- É a peça mais bela que já alguma vez vi.

- Não tendes de agradecer. Donde esse veio muitos mais virão. A rainha de Portugal deve usufruir de todas as riquezas do seu império.- Sorriu enquanto levava o copo de vinho à boca.

- Possa propor um brinde?- Elevei o copo que o empregado tinha acabado de encher.

- A nós?- Sugeriu.

- Por quem mais, se não nós?- Diverti-me.

D. João sorriu de lado e brindou comigo. Foi uma refeição muito agradável, o rei tinha imenso sentido de humor, embora também de responsabilidade.

Cada vez mais ficava feliz em saber que o que tinha pensado em relação à sua pessoa, afinal era real!

Após a refeição teve de se retirar para as audiências que começariam em breve.

Ele era tão lindo...

- Parem com isso!- Arreliei-me com as minhas aias, que me provocavam em alemão.- Estamos numa biblioteca, respeitem!

- Perdão.- Acabaram por dizer.

Havia livros tão bons aqui... teria de encontrar tempo de os analisar a todos.

Ouvimos cantarolar baixinho e pedi em silêncio para Cora ir ver discretamente quem era.

Veio contar-me que era a rameira que ontem dançou com D. João.

- Francês, inglês... mais vale prevenir.- Murmurava enquanto passava os dedos atrevidos pelos livros.- E matemática, sim senhora.- Sorriu sozinha.

A portuguesa era louca.

Tentamos todas agir naturalmente quando chegou ao nosso intervalo de prateleiras.

- Vossa alteza.- Atrapalhada, tentou a melhor vênia, era torta e disforme.- Perdoai, não prentendo incomodar-vos.- Sorriu envergonhada, passando por detrás de mim.

Se fica vermelha é porque esconde algo.

- Acho que não fomos devidamente apresentadas.- Encaixei o livro que tinha em mãos no seu devido lugar.

- É normal, no meio de tanta gente eu não sou assim tão importante.- Sorriu de ânimo leve.- O meu nome é Helena Brotas Lencastre e sou dama de companhia de D. Francisca.

E de D. João, presumo.

- É uma honra, senhorita Helena.

O seu semblante ficou mais carregado.

- Perdão, não quero ser intrusiva ou indelicada, mas... quem é o vosso professor de português?

- Porquê?- Onfendi-me.

- Porque o termo "senhorita" é usado em português brasileiro, não no nacional. Não é errado usá-lo claro. Aqui em Portugal diz-se menina, senhora é para mulheres casadas. Embora concorde convosco, "senhorita" é bem melhor. É ridículo uma mulher com 20 anos ser chamada de menina só porque ainda não se casou.

- E como sabeis vós tanto disso?- Ri incrédula com o seu abuso. Quem era ela para me dizer o que era certo ou errado?!

- Eu cresci no Brasil.

Naquela terra de selvagens! Não admira que seja uma herege pecadora, está aqui apenas para tentar os homens, ser alvo dos seus desejos! Porca!

- Oh... lamento muito, deve ter sido complicado.

- Não lamentai, eu gostei. Não tem tantos luxos como Lisboa, porém era um sítio pacato. Lamento, mas tenho de voltar para a infanta, até mais logo!- Despediu-se com uma extrema falta de elegância.

- Não lhe tirem a vista de cima.

⭐👑⭐

- Eu sabia que ia dar certo!- Quase pulei no sofá quando João me disse o quão bem tinha corrido o almoço com a rainha.

E tinha de concordar com ele, Maria Ana era um pouco reservada, parecia estar sempre à defesa, para ser honesta.

É normal, está numa terra estranha, com pessoas estranhas no qual não confia.

- Ireis convidá-la para a ópera, hoje?

- Credo, não! Ainda pensam que me apaixonei por ela. Tenho coisas combinadas.

João era um porco!

- Desde quando é que ficou fora de moda amar a esposa?

- Desde que se é rei e há uma reputação a manter.

Eu não era mãe dele para o obrigar a convidar a rainha.

- Podieis pelo menos pensar nisso. Sabeis que é amante da música.

- Como vão as coisas com Henry?

Ele adorava mudar de assunto quando lhe convinha.

- Muito bem.

- Ele leva-vos flores?

Porque perguntava isso?

- Nem sempre, às vezes traz-me livros. Gostamos de ler juntos no jardim, é bom.- Corei lembrando esses momentos confortáveis.

- Será que a rainha gostava de ler comigo?

- Olha, era uma boa ideia.- Sorri surpresa.- Uma ótima maneira de se conhecerem. Os livros que cada um lê dizem muito sobre a pessoa.

- Acho que vou esperar pelas camélias.

Bebi mais um gole de chá para não começar a resmungar com ele.

- Não me olhes assim.- Implorei baixinho e senti-me culpada.

Ele devia olhar assim para a esposa e não para mim.

- É impossível Helena. Eu às vezes deito-me e antes de adormecer lembro-me como vos vi ser ungida moribunda.- Parou, recuperou o fôlego e então continuou.- E agora estais aqui, completamente diferente, enérgica, de sorriso no rosto e bochechas rosadas...

- João, eu vou casar. Respeitai-me e não dizei mais essas coisas.

- Não sou capaz.- Admitiu.

- Pois eu também não. Lamento muito.- Levantei-me do sofá e saí da sua sala privada.

Eu não tenho de ser desrespeitada deste modo.

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