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47. A princesa austríaca

- A casaca não está como eu pedi!- Resmunguei ajeitando eu mesmo os punhos de renda.

- Está pois.

- Se eu digo que não está, é porque não está, António!- Brami enquanto me atavam os sapatos.

Era uma correria de lacaios por todo o aposento. O meu quarto estava mais bonito e frequentado que o habitual, características já difíceis de bater.

- Qual deseja, majestade?- O cabeleireiro perguntou apontando para um vasto conjunto de bustos que suportavam cabeleiras.

- A castanha.- Decidi.

- Posso aconselhar a mais solta e encaracolada? Dá-lhe um ar jovial.

- Se eu pareço dois anos mais novo fico um puto ao lado de Maria Ana.- Barafustei e os meus irmãos riram.- Vão ajeitar-se seus imbecis! Parecem maltrapilhos!

- Tu mesmo escolheste esta roupa!- O Manuel lembrou.- Eu não iria escolher cinzento e bordado.

- Ias escolher o quê? Verde?!- Ri com escárnio.- Vão ver de Francisca!

- Vai lá Manuel, que eu vou acalmar a noiva.- O António dispensou o mais novo.

No mesmo instante, tive vontade de estrangular os dois com uma força descomunal.

⭐👑⭐

- Eu pareço uma bonequinha!- A infanta saltitou excitadissima no vestido azul, com detalhes a branco, rendas e prata.

- Uma bonequinha muito fofa.- Admiti.

Uma autêntica princesinha.

O vestido tinha tanta roda e volume que parecia engoli-la.

As empregadas ajudaram-na a calçar os sapatos, enquanto Carolina lhe dava uma sandes de ovos mexidos. O cabelo tinha sido cuidadosamente encaracolado e adornado com pequenos ganchos de prata e diamantes.

- Será adequado?- Maria indagou quando Dionísia estava prestes a passar uma generosa camada de pó de arroz no rosto da princesa.

- Vai dar-lhe um aspeto muito pesado, é só uma menina.- Apoiei a ideia.

- Verdade.- Carolina concordou.

- Francisca, estas pronta?- O infante Manuel bateu à porta dos aposentos.

- Sim.- Saltou do baixo pedestal frente aos espelhos.

- O rei está à nossa espera.- Levou a irmã pela mão.

A infanta estava em pulgas para conhecer a cunhada, bem... pelo menos era o que eu pensava até ver o rei. João estava num estado de nervos extremo.

- Toma.- Emprestei-lhe o meu lencinho e aceitou sem hesitar, secando as gotas de suor na testa. Aproveitou até para alargar um pouco a gravata.

- Agradeço. Eu depois devolvo.- Sorriu embaraçado colocando o lenço no bolso.

- Tem calma, vai correr bem.- Encorajei-o.

Ele bem que endireitou a postura e encheu o peito, mas estava na cara, pelo menos para os irmãos, que João estava realmente em pânico.

- Majestade, está na hora.- O mordomo informou e recuou em seguida.

O rei olhou para os irmãos, que lhe lançaram um olhar encorajador e então bateu a bengala duas vezes no chão. Os guardas não hesitaram em abrir a porta enorme que dava para o Terreiro do Paço e todos, com o rei à frente e os irmãos logo atrás com os conselheiros, a infanta seguida por nós, aias de companhia, caminhamos através daquele mar de pessoas. A maioria eram fidalgos e grandes diplomatas, alguns vinham de longe, como distingui pelos turbantes de cores garridas, pela cor da pele, ou até mesmo pelo formato dos olhos.

Atravessávamos uma longa passadeira vermelha, protegida pelos guardas vestidos a rigor. Havia musica e flores por todo o lado, ainda assim a expressão do rei era severa.

Perto da Barca Real, reparei no sorriso de Henry não por todo aquele festejo e emoção, porém para mim.

Eu, Maria e Carolina embarcamos com a infanta, enquanto Dionísia ficou a ver em terra.

Bem-feito, víbora!!

Os conselheiros de maior confiança embarcaram também com o rei.

Subtilmente e apesar do sorriso presunçoso, reparei que João agarrava a bengala com uma força descomunal mal sentiu a barcaça avançar.

Todos soltavam vivas ao rei e acenavam entusiasmados.

A Barca Real, por sua vez, era protegida por uma firme corrente forrada com os mesmos enfeites de rosas e flores brancas do Palácio, e por guardas bem fardados prontos a proteger o rei.

Havia um toldo de veludo vermelho com detalhes a dourado que protegia os passageiros do sol e calor, enquanto uns quantos empregados se preparavam para perambular cá e lá com bebidas frescas.

Até eu estava nervosa!

A rainha seria mesmo como o arquiduque me falou? O retrato que João tinha era realmente fidedigno? A rainha seria gentil e cheia de graça? Culta?

Deixei que a brisa de Verão me acalmasse, eu precisava de permanecer tranquila. Se Francisca me visse nervosa, ficaria ainda mais alterada.

Cada vez mais ficávamos próximos do navio ancorado ao largo do rio, grande demais para aportar no porto apinhado de outros tantos vindos de fora. Estava também muito festivo, todo enfeitado com fitas e flores.

- Oh bem...

A sombra do navio enorme contrastava com a pequena Barca.

A escada de madeira e corda foi estendida quando a barcaça roçou no navio.

O rei ficou a encarar a escada por algum tempo até respirar fundo.

- É agora.- Entregou a bengala a Manuel sem olhar para trás.

Subiu, seguido por António e depois por uns tantos conselheiros. Espero que não demorem... Aff!! Queria tanto ser mosca!!

⭐👑⭐

- Senhora, está muito quieta.- A minha camareira comentou ajeitando o meu vestido e verificando se o cabelo estava perfeito.

- Estou nervoso.- Admiti assustada.- Estou bem?- Voltei-me para as minhas aias.

- Majestosa.- Sorriram.- E é nervosa, alteza.

- Oh Mila.- Peguei a minha bebé no colo, ela parecia bem tranquila. 

Agradaria a D. João? Teria de esconder a minha falta de prática na língua bem depressa.

- Ah! Que foi isto?- Gritei assustada com o estrondo.

- Os canhões outra vez. A Barca Real deve já ter saído do porto.- Cora sorriu recompondo o meu pó de arroz.

- Alteza?- Bateram na porta pouco depois e gelei instantaneamente.

- Sim?- Engoli a fragilidade.

- Está na hora.

- Só mais uns minutos.- Pedi mais alto.

- Não vale a pena, alteza, por favor...- As minhas amigas pediram-me quando viram que estava prestes a chorar.

Eu não queria desiludir-me, não queria que o rei que amei em pensamento fosse um desastre na realidade.

- Calma, muita calma.- Cora insistiu.

Ouvi bater na madeira, um pouco longe.

- Está na hora e vai correr bem!- Garantiram.

- Sim, vai sim.- Eu ia ser feliz aqui! Vou ser rainha de Portugal e ponto final.

Num ímpeto de coragem abri a porta de madeira e aceitei o braço que o embaixador me estendia.

- D. João está aqui.- Sorriu-me.

- Imaginei que sim.- Admiti.- Se eu descubro que me mentistes, embaixador...

- Seria um pouco tarde demais para isso.- Riu.

- Nunca é tarde para acabar com a vossa carreira, principalmente agora.

- Com certeza, alteza.- Sorriu e ajudou-me a descer as escadas.

Ele estava ali!

Havia musica e pétalas de flores e tiros de canhão...

Era tal e qual como imaginei... excetuando João, era mais bonitinho no retrato, mas tudo bem. Tem com certeza um grande coração.

Vilar Maior deixou-nos a três largos passos de distância e fez-se silêncio de imediato.

Ouviam-se apenas as pessoas na margem, como estiveram toda a manhã.

Escondi as minhas mãos atrás das costas, talvez não reparasse em como estava nervosa.

Reparei que todos olhavam para mim. Teria de ser eu a começar? De verdade?!

Arght!!

- Vossa Majestade.- Fiz uma profunda vénia.- É uma honra vir de longe para me tornar vossa esposa, espero que possamos conviver com mútuo respeito e entendimento e...

O seu rosto severo recebeu um pequeno e modesto sorriso.

- E que possa ser-vos útil num auxílio à coroa.- Repeti a muito profunda reverência.

Reparei no rapaz a seu lado e sorri-lhe, fazendo-lhe uma reverência também. Seria com certeza um dos irmãos.

- Vossa alteza real.- Começou. Até que tinha uma voz bonita.- Imagino como deve ter sido difícil para vós ter feito todo este longo caminho sozinha, rumo a um desconhecido. Agradeço vossa coragem e desejo profundamente que vos sintais bem-vinda em vossa casa, no seio de vossa nova família.- Fez uma vergada reverência.

- Obrigada.- Sorri mais tranquila.

- O meu irmão embarcou comigo, D. António, infante de Portugal, bem como os meus maiores conselheiros, os restantes esperam fervorosamente por vós na Barca Real.- Sorriu.- E obrigada conde, por ter cuidado tão bem da futura rainha.

- Foi uma honra, majestade.- Vilar Maior sorriu vergando-se.

Ouviram-se mais três tiros de canhão.

Trouxe-se o cravo e o melhor dos castrati austríacos logo ali nos presenteou com uma bela canção.

Eu estava simplesmente deleitada com aquela voz tão perfeita. Todos aplaudiram maravilhados e o rei pareceu gostar muito também.

⭐👑⭐

- Não acredito que se estão a divertir lá em cima sem mim!- A infanta cruzou os braços aborrecida e amuou.

- O António deve estar à seca!- O infante voltou a encher ele mesmo o copo de champanhe e a provar mais um aperitivo de salmão.- Se fosse assim tão mau, João já se tinha atirado à água.- Riu de boca cheia.

- Não sejas grosseiro, isso é nojento.- Até a menina repreendeu o comportamento do irmão.

O papá e os conselheiros começaram a descer a escada de corda e tábuas de madeira e aí Francisca não pôde aguentar mais. Sorri divertida com os seus pulinhos.

- Vá lá!!- Rosnou aborrecida com a demora.

Por último, João desceu e auxiliou a rainha com a tarefa.

O tempo pareceu parar nos dois últimos degraus. A tensão era enorme, e então o rei estendeu a mão à sua nova rainha que se voltou e sorriu para todos a bordo que soltaram uma sonora salva de palmas.

- Iue!!- Tapei a boca de Francisca bem depressa. A careta que fez já não consegui evitar.

- Algum problema?- António ergueu uma sobrancelha.

- Um peixe enorme.- Apontou para o rio muito envergonhada.

A rainha dirigia-se para cá.

- Comportai-vos.- Maria exigiu num murmúrio.

- Alteza.- A menina pegou nas saias e fez uma vénia à futura cunhada.- É uma honra.

- Posso dizer-vos o mesmo, alteza.- A rainha sorriu imitando a o gesto honroso.- Creio que nos vamos dar muito bem.

- Sim, acho que sim.- O sorriso da infanta tornou-se mais largo e entusiasmado.

- Tendes um vestido muito bonito, estais adorável.

- Obrigada, vós também!!- Entusiasmou-se e Maria Ana sorriu.

Houve cantores e instrumentistas e tudo o que havia de melhor.

O convívio a bordo estava agradável, tal como a conversa com Maria. Tinha um menino afinal, um matulão. Disse que tinha de vir brincar com Vitória quando crescesse. Maria estava deleitada com Pedro, dizia que era a única alegria que tinha e isso deixou-me triste por ela.

Um bebé era uma grande razão de alegria, concordava, contudo o quão má pode ser a vida de alguém para uma criança ser a única fonte de felicidade e razão para viver? Sem aventura, ou ambições ou...

- Estou curiosa com as aias da austríaca.- Admitiu.

- Não é a minha principal preocupação, mas sim.- Bebi um sumo de laranja fresco. Afinal de contas algo me diria que iríamos passar algum tempo juntas.

A rainha tentava enquadradar-se entre a panóplia de conselheiros, já que João parecia dar mais importância à conversa com António, do que com a mulher do qual nada sabe, e que conhece apenas à uma hora e meia.

Vai ter com ela, imbecil!

Deixa-me em paz!

João Maria de Bragança!

Não te atrevas a olhar-me assim menina!

Vai ter com a rainha de uma vez!

ESTÁ BEM!

Eu adorava quando ganha estas discussões visuais...

- Eles são adoráveis.- Maria comentou.

Aham.- Pensei e bebi o resto do copo. A vontade do rei aparecer na noite de núpcias deve ser enorme!

- Oxalá. Só espero que a diferença de idades não seja um impedimento...

- Ou as amantes.- Maria terminou e tive de lhe dar um encontrão rápido para não se rir.

- A rainha deve permanecer na ignorância quanto a esses assuntos.- Impus.

- Não permanecerá por muito tempo. Com certeza é inteligente.

As pessoas eram más.

- Tudo bem?- O papá veio ter connosco.- Maria.

- Sr. Eduardo.- Cumprimentaram-se.

- Presumo que já tenhas falado do noivado com Henry a Maria.

- Sim.- Corei contente e olhei para terra. Henry estava ali algures com Edward e Hetty à espera de Maria Ana, tal como todo o reino.

- Só não me disse ainda para quando ficou o casório.

- Que casório?

Quase me engasguei quando João se intrometeu na conversa.

- Ham...

- Oras, de Helena com Henry.- O papá contou com um sorriso orgulhoso.

- Ah...- O rei demorou a sorrir e ficou tão branco que temi que desmaiasse ali mesmo.- Faz... há quanto tempo?

- Uma semana.- Tentei sorrir perante a situação constrangedora.

- Não sabia...

- Isso é óbvio.- Maria murmurou baixinho, porém todos a ouvimos.

- Muitos parabéns, Helena. De verdade, desejo-vos muitas felicidades.

- Obrigada.- As palavras iam-me ficando entaladas na garganta.

- E eu não posso deixar de vos desejar o mesmo, afinal tendes uma esposa maravilhosa a vosso lado.

- Sim. Sim tenho.- Anuiu tentando juntar às pressas as pecinhas do seu orgulho estilhaçado.

- Pensei que essa ideia já lhe tivesse passado...

- Tu sabias?!- Indignei-me com o papá pela falta de tato com o rei.

- Como não saber? Sou teu pai, passo os meus dias com ele.

Eu não queria ser o pé esquerdo neste matrimónio.

- Vamos voltar.- Ouvi alguém dizer bem alto.

Eu não lhe queria estragar o dia. Não queria ser a pedra no seu sapato. Eu amo Henry, o rei tem de interiorizar isso de uma vez.

- Helena, Maria é tão simpática! Prometeu que me ajudava com o cravo, não é gentil?

- É sim, alteza.- Concordei. Felizmente havia alguém nesta família que apoiava a união, alguém não muito grande, ou sem opinião alguma nos assuntos, porém ainda assim, a favor.

Quando a Barca Real aportou no Terreiro, o povo foi à loucura! Era uma emoção ensurdecedora.

O rei saiu da barcaça e com delicadeza auxiliou a futura rainha.

Era fácil esquecer o "futura", uma vez que já se tinha casado, só faltava ele.

O rei então afastou-se e exibiu a figura, não muito bela, da sua futura esposa.

Caminharam de forma rápida, porém ordeira em direção ao Palácio enquanto cumprimentavam todos com simpatia e acenos.

Quando os portões fecharam atrás de mim, suspirei aliviada por sentir o fresco palaciano. O calor tornava-se insuportável já.

Seguimos a infanta e a restante comitiva, agora com mais membros, ansiosos por conhecer a nova soberana, pelos corredores. Lá à frente o rei parecia cochichar algo com ela, o que me deixou mais tranquila acerca do recente e embaraçoso episódio.

- Continuaremos sozinhos a partir daqui.- O rei falou bem alto para que todos ouvissem, fazendo apenas sinais aos irmãos para que o acompanhassem.

A rainha que parecia maravilhada com o tamanho, as cores e a decoração em sua honra, pareceu concentrar-se novamente no que acontecia.

⭐👑⭐

- Deveis estar cansada, não pretendo incomodar-vos pelo resto do dia. Logo à noite haverá um baile em vossa honra.

- Obrigada.- Sorri para o meu marido, parecia um pouco sério e taciturno para a idade.

Talvez tenha uma personalidade mais reservada.

- Os vossos bens já começaram a ser descarregados pelo que sei.

- E quanto aos que me acompanhavam?

- Estão à vontade. Há espaço de sobra no Palácio.- Sorriu.- Mudai o que desejardes em vosso quarto. Podeis torná-lo um pouco mais... austríaco e confortável.

- É o que pretenda fazer.- Sorri.

- Os meus aposentos são ali.- Apontou para o fundo do corredor e quase precisei de pedir os meus binóculos de ópera para ver a porta bem guardada.

Era bem longe! Se daqui a umas semanas tiver de percorrer este corredor regularmente irei emagrecer com certeza.

- Vossa majestade!- Ouvi Cora e Eliza e sorri ao ver a Mila com elas, de banho tomado e toda cheirosa.

Quando peguei a minha bebé no colo, reparei que o infante mais novo olhava Eliza de modo grosseiro, bem de alto abaixo e reparei também no imediato encontrão do mais velho.

- Sejam bem-vindas à Ribeira. Agora, perdoem os meus modos, mas tenho de me retirar.- Lá percorreu o longo corredor até os guardas lhe abrirem a porta.

Era gentil à sua maneira...

- Vossa cadela é adorável, como se chama?

- É a Mila.- Sorri com o interesse da princesa. Era adorável.- E gosta muito de ser mimada.- Fez-lhe umas festinhas.

- Eu tenho uma gata, chama-se Diamante. Manuel deu-ma no meu aniversário.- Sorriu fofa demais.

Cora e Eliza começavam a parecer impacientes demais, portanto acabei por me despedir com a desculpa de estar cansada demais.

Eu estava tudo menos isso!

- Como foi?

- É gentil?

- Disse que vos ama?

- Gostastes dele?

- Beijou-vos?

- Cora!- Interrompi.- Não seja, mal-educada.- Olhei pela janela. Empregados carregavam os meus baús e guardavam as minhas roupas, sapatos e acessórios. Eu mesma arrumaria os livros e as partituras.- São todos tão calorosos.

- Sie schreien viel!- (Eles gritam muito!)

- Português, Eliza. A partir de agora só português.- Repreendi.- Desculpem, podem deixar-nos a sós? Deixem o restante na saleta.- Dispensei os lacaios que se curvaram antes de sair.

Olhei pela janela, vendo já manchas vazias entre o vasto público no Terreiro.

Era todos tão queridos...

⭐👑⭐

- Hum, também falais alemão, Henry? Sois dotado, vós...- Odiei a loira de olhos verdes mal lhe pus os olhos em cima.

Henry repetiu mais qualquer coisa naquela língua severa e estranha, até que a dama foi embora.

- Não gosto delas.- Mirei o salão apinhado de austríacas e austríacos. A maioria de cabelos loiros e olho claro, doidinhas para se atirar de cabeça no meu Henry.

- Não sejas ciumenta que não há razão para isso.- Sorriu provocador.- Que aconteceu? Quero saber tudo!

- Oras, Sir Hyde, estais a usar-me como fonte de informação? Não sou uma espia.

- Só um detalhe ou outro...- Pediu exibindo aquele sorriso que me derretia por inteiro.

- Não aconteceu nada de mais na verdade. O rei subiu no navio, desceu com Maria Ana e estiveram todos num convívio geral.

- No navio, ou na Barca?

- Na Barca. Só alguns diplomatas austríacos desceram, os mais importantes. Subiram antes de rumarmos à costa.

- Então a rainha esteve praticamente no meio de estranhos sozinha?

- Sim.- Encolhi os ombros.- E... o papá contou a João sobre o noivado.

- Eu queria ter lá estado para ver a cara daquele...- Henry estava contente demais com o sucedido. Eu não era um troféu, não era uma vitória, não era uma disputa!- Desculpa, de verdade.- Recompôs-se.- Como é que ele está?

- Como se quisesses mesmo saber.- Cuspi desconfiada, sabendo que se estava nas tintas.

- Na verdade, não quero mesmo.

Ele conseguia ser tão...

- Gostaste da rainha?

- Sim.

Ficou bastante sério.

- E da batata que tem no lugar do nariz?

- Henry! Isso é grosseiro!- Olhei ao redor, porém não podia criticá-lo pela honestidade.

- De verdade, afasta-te dela Helena. Não é boa rez.

- Henry, as pessoas mudam, além disso pode ter-se dado mal contigo, mas bem comigo. Eu sou simpática.

- E eu não?!- Indignou-se.

- Acabaste de dizer que a senhora tinha uma batata no lugar do nariz!- Rosnei baixinho.

- E é mentira?

- Não me olhes assim, Henry Hyde.- Censurei-o e o seu sorriso só cresceu.

- Se toda esta gente não estivesse aqui eu beijava-te.

Recuei só para ter a certeza que não se atrevia a isso e o desgraçado riu.

⭐👑⭐

- Majestade, não me parece sensato.- Sebastião ousou abrir a boca quando enchi o terceiro copo de vinho.

- Eu não me lembro de ter perguntado.- Encolhi os ombros sem mudar de posição, vidrado em todos aqueles lá em baixo.

Dei mais uma tragada no charuto.

A austríaca tinha um sotaque esquisito e ainda trocava o feminino e o masculino. Como é que a rainha de Portugal não fala português decentemente?!

- É gorda demais.- Bebi o copo de uma vez e pousei-o com força na mesa de mármore.- O retrato não era o mais belo, e ainda assim conseguiram enganar-me.

- Oras majestade...

- Deixa-me Sebastião.- Ordenei e sem o encarar apontei a porta.

- Com certeza majestade.- Suspirou desgostoso e então a porta foi fechada.

- Ela vai casar...

O inglês levou a melhor. Que ódio!!

Mordi a mão com toda a fúria que tinha contida. Estava a um fio de bom senso, bem frágil, para pegar numa pistola e ir até ao salão, onde sabia que aquele traidor estaria com ela, e então iria matá-lo, deixando-o ali a sangrar, como um javali depois da caçada.

- Aquele arrogantezinho de merda.- Bebi do gargalo da garrafa.

Não era justo doer tanto...

Também não é justo ter a formosa, esbelta e corajosa Helena a um par de passos e ter de comprar uma mulher lá nos confins da Europa, simplesmente porque sabe ler livros e porque empoleira um bocado de prata na cabeça.

A vida é injusta demais.

⭐👑⭐

- A sala de música é simplesmente adorável.- Deleitei-me com o tamanho reduzido e o ar mais intimista do espaço, com uma larga porta de vidro, que dava para o jardim verde e florido.

Sem dúvidas que é o meu cantinho favorito aqui até agora.

- Que partituras são estas?- Estranhei a extremamente cuidada e adornada capa que protegia as páginas amareladas com notas.

- Eram do nosso avô, ele mesmo as compôs.- O infante que subiu a bordo com D. João sorriu de mãos nos bolsos, encostado no batente da porta. - O rei costuma pedir que um bom instrumentista toque para ele por vezes.

- Eu também toco muito bem.- A pequena infanta pareceu indignada com os caprichos do irmão mais velho.

- O avô tinha muita experiência quando as compôs, é normal que ainda não estejas à altura.- Respondeu à irmã e voltou-se para mim novamente.- Gostastes do palácio?

- Sim. É muito bonito.- Sorri arrumando novamente as partituras com todo o cuidado.

Na verdade pensei que o rei viesse à minha procura. Com certeza havia imensas perguntas a serem feitas, eu tinha.

Com certeza está ocupado com assuntos de Estado.

⭐👑⭐

Soltei lentamente o prazeroso bafo fumacento do charuto, analisando o leão.

Estava claramente desconfortável, a pensar numa possível tática de ataque, rondando a cela enquanto me olhava. Provavelmente deliciando-se com a ideia de conseguir uma refeição tão substancial quanto eu de uma só vez.

Tinha uma juba bonita, um porte majestoso. Com certeza que a sua fama de Rei da Selva não era em vão.

- A apreciar a nova mascote?

Fumei o charuto uma vez mais e sorri presunçoso:

- Eu não te tinha proibido de voltar a Lisboa, Lara?

- Oras, não faltaria a vosso casamento.

- Sabíeis que vosso primo me tentou matar?

- Lamento imenso.- Encolheu os ombros desinteressada.- Sabeis, os Távora não são humilhados em praça pública sem retribuir a gentileza.

Sorriu devassa e tirou o charuto da minha boca, para ela mesma o experimentar uma vez e devolver ao lugar.

- Bom, as coisas com Helena não foram como pensastes, verdade?- Riu.- É preciso estar no auge do desespero para dormir com Luísa.- Cruzou os braços.

- Vai embora, bruxa.

- Ah... mas fui a única de quem gostastes verdadeiramente dos feitiços.- Passou a mão pelo meu braço e afastei-a repugnado.- Além disso nunca vos importunei com uma criança...

- Porque sofrestes um aborto.

Pareceu surpresa, contudo logo recuperou a postura.

- Pois é, eu sei tudo, minha linda.- Toquei no seu nariz.- E sei que foi intencional...- Tombei a cabeça, divertido com a sua reação.- Afasta-te da Ribeira, Mascarenhas. Não há mais nada para ti aqui.- Soltei o fumo no seu rosto e virei costas, caminhando vitoriosamente para dentro.

Quem ri por ultimo, ri melhor!

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