37. 18 anos?! Isso não é nada.
- E porque... Uow.
Quando me voltei para o rei, estranhando o que me tinha dito, estava um grupo de guardas de espadas e pistolas apontadas para nós.
Puxei a minha irmã para trás de mim e desembainhei a espada, tal como Edward e António. Acho que o infante mais novo estava tão bêbado que não tinha a menor noção do perigo.
- Não se atrevam a apontar essas espadas para mim!- João rosnou e afastou uma pistola que lhe fazia mira.- Quem são vocês e como se atrevem a ameaçar o rei?!
Os homens olharam uns para os outros e deixaram-no, para se focarem em nós.
- Eu pensava que eram um povo hospitaleiro.- Edward murmurou para mim.
- Não durante a madrugada.- Desviei uma espada que se mostrava ousada perante mim.
- Amarrem-nos. O marquês há de saber o que fazer com eles.- O mais velho comandou e logo se ocuparam de encontrar amarras para nós.
- E... a este?
- Este?!- João indignou-se com o termo.- Este inverno a tua família vai passar fome. Eu vou certificar-me disso.
- Cala-lhe a boca.- Encolheu os ombros.
- Não podemos resolver isto com um duelo ou...
- Amarrem-no com mais força!- Ordenou.
- Bem, parece que não ireis olhar mais para Helena, quanto mais cortejá-la.- Edward riu.
- O que vale é que mesmo no fundo do poço, tu mantens esse teu humor doentio.- Zanguei-me.
- Eu sou uma dama!- Hetty batia com o leque qualquer um que tentasse amarrá-la.
- Não se atrevam a fazer mal à minha irmã!- Brami empurrando um.
- Levem-nos!
⭐👑⭐
Entrei pelas traseiras, de mansinho e tirei os sapatos para não fazer tanto barulho. Atravessei a sala de chá e a sala de recepções, porém bastou subir um misero degrau para o chão ranger:
- Onde estiveste?
- Papá...- Engoli em seco sem saber que dizer. Que desculpa arranjaria?
- Estava raladissímo contigo! Andei por toda a cidade à tua procura, tenho homens nas ruas...
- Eu... não estava a... gostar muito da festa, papá.- Admiti.- Fico muito agradecida, e fico feliz, de verdade que me quisesses agradar e festejar o meu aniversário, no entanto estava tudo tão aborrecido e formal...
- E era razão para fugires?! Para nos deixares a todos preocupados?
- Eu não podia dizer que ia embora, ou tu nem me deixavas sair!
- A rua e a noite não são lugares para jovens, Helena! É perigoso, há gente vil e mal intencionada...
- Senhor, peço desculpa, mas encontrámos um grupo de forasteiros no muro das traseiras. Deseja que os traga aqui?
- Que são?
- Um deles clama ser sua majestade, o rei de Portugal.
O papá parecia que tinha acabado de comer fel, tamanha careta.
- Traga-os. Envie a todas as patrulhas a mensagem de que Helena está de volta e bem.
- Com certeza, senhor.- Fez uma reverência e saiu.
- Rei? Tu saíste por aí com João, Helena?!- Grunhiu e estremeci. Nunca vi o papá tão zangado.
- Ireis acordar a Vitória.- Lembrei.
- HELENA!
Silenciei-me assustada com o seu comportamento.
- Tirem essas mãos imundas da minha casaca importada!
- Au...- Edward gemeu quando foi forçado a ficar de joelhos no meio da sala.
Estavam ali todos. João e Hetty eram os únicos de pé, embora firmemente agarrados por dois pares de homens.
- Ora, ora, ora...- O papá olhava ora para mim, ora para os prisioneiros.
Cocei a testa em busca de uma desculpa muito boa. Vá lá, meu bom Deus. Eu tenho rezado várias missas, jejuei e acendi velas por almas já idas, dá para retribuir a ajudinha agora?
- Um rei, dois infantes e um embaixador. Alguma reunião de ultima hora? Vieram pessoalmente convocar-me, foi?
- Eduardo, humor sarcástico não combina convosco...
- Silêncio!- O papá rosnou furioso e nem mesmo João se atreveu a dizer algo mais.- Qual de vocês teve a ideia de sair daqui?!
João foi rápido a apontar para Henry.
- Quê?!
- Foi ele!- Defendeu-se, com as mãos literalmente atadas.
- Eduardo, conheceis-me bem. Jamais desencaminharia Helena das virtudes.
- Aham.- Henry resmungou zangado com o tom de João.
- Sei que quereis dar o bote.- Rosnou baixo, frente a frente com João.- Não confio em vós perto de Helena. Filha minha não foi feita para ser puta de um rei. Nós somos os Lencastre, somos dignos e orgulhosos.
- Cuidado Eduardo.- O tom de João mudou.- As vossas palavras ofendem a minha honra, se ousardes falar mais alguma vez assim comigo, bem podeis acreditar que não haverão mais Lencastres em breve.
- Ousais retirar o meu titulo de fidalguia?! A mim?! À minha família, que lutou junto de vosso avô por um Portugal melhor.
- Os ingleses também, e olha onde estão agora.- Ousou lançar um sorriso arrogante ao apontar para Edward e Henry no chão.
- Tens razão, o cabrão é mesmo folgado.- Edward comentou ofendido.
- Nem me digas. Negociar com ele é como falar para uma pedra.- Henry bufou.
- Eduardo, nunca quisemos preocupar-vos. Queríamos apenas que Helena se divertisse um pouco, é o seu aniversário. Garanto-vos que nunca correu perigo.
- É. Helena esteve sempre segura.- Henry levantou-se com alguma dificuldade e soltou-se bruscamente da mão de um dos guardas do papá.
- Por vós, presumo.- O papá riu com escárnio.
- Ei!- Hetty pôs-se entre eles dois.- O meu irmão é a pessoa mais honrada que conheço. Não se atreva a denegrir o nosso nome!
- Helena...- O meu irmão entrou disparado e veio abraçar-me.- Não repitas a gracinha.- Pediu no meu ouvido com algum humor.
- Não sei que faço convosco.- O papá olhou para cada um deles.- Helena vai deitar-te.
- Papá, eu não...
- Eu disse para ires!- Estremeci e soltei-me do meu irmão.- Amanhã decido o que fazer contigo.
O papá nunca tinha falado assim comigo, como se fosse um cavalo ou um cão.
- Tenho 18 anos, eu mesma tomo as minhas decisões agora.
- 18 é apenas um número que significa que podes ser cortejada ou casada, com este comportamento ninguém te quererá.
- Que problema.- Suspirei deleitada com a ideia.
- Só para ti minha menina, porque ainda esta semana vais para o convento de Odivelas!
- Convento?!- Senti-me desfalecer.- Eu tenho cara de santa?!- Rosnei furiosa.
- Por isso ireis para lá, como pecadora.
- Convento...- Voltaram a repetir abalados.
- Eduardo, estás zangado, sei. O melhor é ires deitar-te um pouco, beber um copo de água... amanhã lá decidireis como castigas...
- Não irei reconsiderar. Podeis voltar à Ribeira. Soltem-nos.- O papá sentenciou a contra-gosto, controlando toda a sua raiva.
- Pai...
- Cala-te Lucas, ainda sou eu que mando nesta casa!
- Eu acho que ele vai desmaiar.- Edward comentou com Hetty, que abanou o leque para Henry. Ele estava tão branco que assustava.
Convento...
É uma piada de mau gosto, um sonho mau?
O meu irmão agarrou a minha mão com força.
- Eduardo...- João tentou articular algo.- Quereis mesmo enviá-la para Odivelas? É um prostíbulo para fidalgos.
- Conventos não faltam por aí.
- Um momento.- Henry pediu enquanto secava a testa e massajava os pulsos.- Dissestes que Helena tinha de ir para um convento, pois não casaria. Não é assim.
Agarrei Lucas com mais força, para o caso das pernas me falharem.
- Henry... olha lá o que vais fazer...
- É. Olha lá!- João advertiu zangado e António tapou-lhe a boca.
- Eu quero pedir-vos para cortejar a vossa filha.
Ai meu Deus...
- Pois pedido negado.
- Pelo contrário.- João endireitou a postura.- Dissestes que Helena iria para noviça se não casasse, Henry quer casar. Sois homem de palavra ou não, Lencastre?
- Não o ouvi pedir casamento, apenas cortejo.
- Pode ser casamento então.
- Nem sonhando, não para já.- Arfei sem ar nos pulmões com tudo o que acontecia.
- Cortejo então.- Henry tentou firmar-se. Estava a acontecer tudo muito depressa, numa altura conturbada, onde atingir a maioridade se transformou do meu sonho para um dos meus maiores pesadelos.
- Pai, um cortejo só acaba de uma maneira. Não apresses as coisas.- Lucas tentou argumentar.
O papá estava irredutível, como nunca antes o vi.
- Aparece aqui amanhã. O meu advogado vai cá estar. Têm 5 minutos para sair de minha casa.- O papá declarou e subiu as escadas.
Respirei finalmente, como todos. Parecia que tínhamos parado de o fazer por horas.
Fazia o quê agora?
- O que é que acabou de acontecer aqui?- Hetty estava tão chocada quanto eu.
- Eu peço... imensas desculpas pelo comportamento do meu pai, eu não sei como... Aff.- Suspirou frustrado sem saber por onde começar.
- Pelo menos não vai para um convento.- António tentou enumerar os pontos a favor.
- Helena vai casar com um inglês, achais que é melhor que um convento?!- João bramiu, enquanto eu continuava congelada.
- Qual é o vosso problema com ingleses afinal? Vai casar e muito bem casada!- Edward elevou o tom.
- Na verdade é cor... cortejo.- Manuel soluçou.
- Diz alguma coisa, por favor.- Henry pediu ao meio de todas as idiotices que diziam.
Mexi a boca várias vezes, mas não consegui dizer nada.
Obrigada? Como te atreves? Vamos ser felizes? Não estou pronta?
Não foi especial. Henry não sorria, não me fez o pedido a mim ou de livre e espontânea vontade. Foi algo forçado, hesitante... Fui despachada, vendida, quebrando todas as promessas que fiz a mim mesma há anos.
Baixou o olhar e obriguei-me a mover os pés do lugar, mesmo que não os sentisse. Não tinha chão no momento sequer.
- Borrei as calças.- Manuel riu.
- Cala-te.- António ladrou.- Não voltas a beber.
- Eu...- Aproximei-me e tentei organizar as ideias e decidir o que dizer.- Eu só... tu não tens de...- Caí no choro e tentei secar as malditas lágrimas.- Desculpa.
- Milady...- Abraçou-me com força.- Está tudo bem.
- Não está nada.- Sussurrei.- Nós vamos...
- Pois vamos. Foi o que sempre quisemos, certo?- Afastou-se e sorriu hesitante.
- Não assim. Foste obrigado.- Entristeci-me.
- Bem... ia acabar por acontecer. Só não foi nas melhores circunstâncias.- Apertou as minhas mãos com carinho.- Está tudo bem, não tens com que te preocupar.
- Claro, não há mesmo nada para se preocupar, não achais Henry?- João barafustou.
- Ele é melhor a estragar o clima, que a governar.- Edward resmungou.
- Posso convidá-los a sair?- O mordomo chegou, exatos 5 minutos depois.
- Vou estar aqui amanhã. Prometo fazer as coisas, com... mais classe.- Henry sorriu.- Como mereces, Helena.- Beijou a minha testa e saiu, pondo a casaca sobre os ombros de Henrietta.
- Peço imensa desculpa peço sucedido Helena, não fazia ideia que correria tão mal.- João tentou justificar-se.
- Eu é que tenho de pedir desculpa por ter confiado em vós.- Atirei magoada.- Uma vez mais.- Suspirei.
- Helena, eu...
- Adeus João.- Voltei costas enquanto saíam.
- Oh Helena...- Lucas veio abraçar-me com força e desabei nos seus braços.
Era uma péssima recepção.
- Como é que saio desta?
- Shh... vai tudo resolver-se.- Garantiu-me.- Não chores Helena.
Ficamos ali mais algum tempo, não o suficiente para me conseguir organizar, apenas o das lágrimas secarem.
- Catarina deve estar preocupada contigo. Vai ter com elas.- Afastei-me.
- A Catarina e a Vitória estão bem e seguras, tu não Helena.
- Não vou acabar num bordel vestida de noviça.- Engoli em seco. Fazia-me sentir um pouco melhor, esse pensamento.- Vou tentar descansar, faz o mesmo Lucas, e obrigada.- Beijei a sua bochecha.
- Boa noite, Helena.
⭐👑⭐
- Coitada. Não quero nem imaginar como está neste momento.- Henrietta comentou olhando pela janelinha da carruagem.- Aconteceu tudo tão depressa e tão...
- O pai dela é horrível. Uma péssima maneira de começar, boa sorte para cuidar do sogro.
- Eu não sei, eu...- Olhei para os pulsos ainda marcados da corda.- Tive tanto medo quando disse que ia para um convento... perder Helena seria...
Atirei a cabeça para trás e observei o raiar do dia. O céu esquecia o negro e tomava tons laranja e rosa. Já não se viam estrelas agora, ficaram para trás, como o nosso momento esta noite.
- Ah pá!- O Edward esmurrou o coche.- Acabei de perder o meu melhor amigo para um casamento!
- Cala a boca.- Hetty deu-lhe um encontrão.
- Mulheres casadas não deixam os maridos sair por aí. Acabaram-se as nossas noites, as apostas, as mulheres...
- Sim, porque eu não pretendo ficar com outras.- Garanti-lhe.
- E não fazes mais que o teu dever, irmão.- Hetty falou como se tivesse razão.
- Eu amo Helena, não iria desrespeitá-la assim.
- Podemos, pelo menos, sair ao fim-de-semana.
- Edward, não estou casado ainda.- Suspirei imaginando no pouco tempo de descanso que teria até estar pronto para voltar ao palacete de Eduardo.
O velho odeia-me, odeia a filha e odeia a saída.
Aquele maldito rei só traz problemas, tanto para a Inglaterra, quanto para mim.
Às vezes, no quentinho da minha cama, e no escuro da noite, fico a pensar como seria matá-lo; depois lembro-me que desencadearia mais uma crise de sucessão e mais ingleses teriam de morrer por uma causa inútil que não lhes pertence.
Quando tivermos um filho, será que terá os olhos de Helena, ou os meus?
- Dizia ele que ainda não estava casado... Daqui a bocadinho vais perguntar-se como se muda uma fralda!
- Edward!- Hetty riu desta vez.
Para a próxima coso a boca, só para ter a certeza que coisas assim não me escapam.
- Eu vou descansar. Peçam para me acordar cedo e engomar a minha melhor casaca.
- Vai correr tudo bem, mano.- Hetty prometeu subindo para o seu quarto.
- Creio que não queres saber agora dos namoriscos da tua irmã ou...
- Por muito que me preocupe com ela, não estou com cabeça para isso agora. Mais logo falamos.
- Queres que vá contigo até lá?
- Não. É algo que tenho de fazer sozinho.
⭐👑⭐
Meu Deus que molho de brócolos que para aqui vai...
Este mês o meu tempo está contado ao segundo, portanto não vou conseguir atualizar com tanta frequência. Tirem a barriga de misérias agora, princesas!
Até depois!
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