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36. À minha maneira

- Peço desculpas pelo atraso.- Sacudi o provável pó na casaca branca que ganhei ao saltar o muro alto.

- Hum, fica-vos realmente muito bem.- João analisou como me assentava o seu presente.

Já Henry revirou os olhos com tanta força, que achei que nunca mais voltassem ao sitio.

- Por que estamos aqui?- Perguntou.

- Porque aquela festa aborrece-me. É Agosto, Lisboa deve estar cheia de romarias.- Encarei o rei à espera de uma boa sugestão.

- Para a Mouraria. Com certeza teremos com que nos entreter por lá.

- Deixa ver, a ideia brilhante de sairmos foi de sua majestade, D. João, o V.- Henry resmungou e cruzou os braços.- Quando esta noite der para o torto, é a mim que o marquês vai culpar.

- Henry, foi para isto que vim.- Edward massajou ligeiramente os ombros de Henry, que bufava.

- Se a festa vos agrada podeis voltar, eu tenho coisas mais interessantes a fazer.- Respondi sem entender este seu mau humor.

Pensei que pudéssemos divertir-nos todos juntos, enquanto dançávamos e bebíamos um pouco, e ríamos das piadas uns dos outros... Henry estava zangado, parecia.

- Então... vamos ficar aqui até darem por nossa falta ou...?- João pareceu desafiar Henry.

- Pára com isso.- Adverti-o do seu comportamento imaturo e tomei o caminho.

- Desculpa.- Henry acabou por segredar-me, apressando-se para ficar a meu lado.

- Não dançaste comigo.- Amuei.

- Tens razão, desculpa.- Sorriu sem muita convicção.- Prometo dançar contigo pelo resto da noite.

- Hum... não consegues acompanhar o meu ritmo.- Desafiei-o.

- Helena, tu não tens noção do meu pique!- Pegou na minha mão e rodopiou.

⭐👑⭐

- É isto?- Hetty fez uma careta de nojo quando viu o largo onde o povo dançava feliz.

- Parece Bristol.- Edward murmurou repugnado também.

- Chouriça assada. Com licença.- Manuel fez-se aos petiscos, enquanto procurávamos uma mesa.

- Ham...- António reparou tanto quanto eu que estranharam a presença de fidalgos.

- Cerveja para todos, por minha conta!- João sorriu orgulhoso.

Sem duvidas que sabia como quebrar o gelo, pois todos lhe soltaram um "Urra!" animado e voltaram às danças e cantares.

- Aceitais...

- Demoraste a perguntar, Henry!- Peguei na sua mão e puxei-o para o meio das danças animadas.

- Costumas sair muito por aí?- Divertiu-se.

- Nem por isso. Deve ser a minha segunda vez.- Encolhi os ombros, dando a volta na dança.

Logo de seguida, Edward puxou Henrietta para dançar com ele. A coitadinha parecia envergonhada demais, por não estar habituada com a musica e ambiente, contudo apanhou o jeito depressa.

João sentou-se com os irmãos enquanto bebia e apostavas as suas fichas na mais bela do largo.

...

- Os meus pés!- Ri depois de me sentar e beber do mesmo jarro que o rei.

- Eu disse que não aguentavas o meu pique.- Henry tomou o jarro das minhas mãos para ele mesmo beber.- Iue! É amarga!- Engasgou-se e diverti-me.- Em Inglaterra é doce.

Suspirei vendo os meus amigos divertirem-se verdadeiramente, a rir e dançar, sem pensar no dia de amanhã ou nas preocupações quotidianas. Era uma festa de verdade, sem normas sociais ou a educação exagerada que exigiam nas festas do papá ou na corte.

- Ficas linda quando sorris.

- Sempre foste sempre assim lambe-botas, ou o álcool deu-me lucidez?

O danado sorriu e tirou a casaca, pondo-a sobre a mesa rude de madeira.

- Quereis uma prova mais substancial?- Desafiou e pouco depois olhou o céu.

- Porque não?

- Poupem-me cenas, sim? Com Eduardo fora sou eu quem tem de pôr ordem na casa.- João afastou o jarro de Henry e voltou a beber.

A careta que Henry fez com as palavras do rei fez-me rir baixinho.

- João, tenho fome. Podes ir buscar qualquer coisa para mim?- Sorri com as covinhas.

- Helena, eu não passo a ser empregado por estar numa festa do povo. Pedi ao vosso... a Henry. É tarefa dele alimentar-vos.- Despachou-se do pedido.

- Sois chato.- Levantei-me para eu mesma ir servir-me de algo que me agradasse.- Comportem-se.

- Somos adultos, milady.

- Essa palavra é irritante.

- Não tenho com que me preocupar pelo que vejo.- Lancei um olhar de aviso a António.

Não demoraria nem 10 minutos. O que poderia correr mal?

- Sim, pode pôr mais carne.- Sorri para a senhora que servia o pão com porco assado no espeto.- Dois litros de vinho.- Pedi a contar com todos.

- Aqui tem.- Entregou-me e paguei o devido, e até um pouco mais pela simpatia.

Quando me voltei sorridente e ansiosa para provar a carne com molho, estava um enorme aglomerado de pessoas ao redor da nossa mesa. Pareciam gritar doidas enquanto faziam apostas.

- Eu não posso deixar aquelas duas crianças sozinhas!- Rosnei e empurrei as gentes que ali estavam até conseguir chegar a eles.

Henry e João afinal estavam apenas numa partida de braço de ferro amigável. As pessoas faziam as suas apostas enquanto eu comia a minha leve refeição e babava com os músculos de Henry.

Realmente o que aquela casaca escondia ali debaixo...

João parecia estar a passar um mau bocado enquanto Henry sorria e via a agonia do rei para se manter à altura.

- Sabeis... praticar desporto far-vos-ia bem de vez em quando. Folhas de papel não fazem braços destes.- Provocou.

- Arght!!- Grunhiu.

- Anda lá João Bento, tu não me envergonhes!- António gritava-lhe aos ouvidos.- Eu apostei a minha renda toda em ti!!

- Eu apostei no inglês, o nosso irmão está a levar uma coça épica.- Manuel divertia-se enquanto bebia cerveja e admirava o espétaculo.

- Acaba logo com isso, Henry!- Edward deu um murro na mesa entusiasmado.

Divertido, Henry deu um ultimo impulso e as costas da mão de João bateram com força na mesa.

Rosnados zangados com a derrota e regozijos de alegria preencheram o largo.

- Estou a ver que finalmente se entenderam. À moda masculina, mas entenderam.- Dei mais uma dentada no pão.

As pessoas recolhiam o seu pouco dinheiro.

- Eu não me vou esquecer que apostaste nele em vez de mim.- João ofendeu-se com a atitude do irmão mais novo.

- Oras irmão, melhor que eu deveis saber que o coração e a razão devem de ser separados em ocasiões como esta. Presto-me aqui disponível para vos ensinar a ganhar numa próxima vez.- Bebeu com Henry em honra à vitória.

- Eu vou querer a desforra.- João bebeu do jarro que António lhe estendeu.

- Quando me vires bêbado o suficiente?

- Talvez.- Riu e apertaram as mãos.

- Homens são tão estranhos...- Hetty confidenciou-me baixinho.

- Um chá e uma troca de palavras resolveriam o assunto, porém nem valeria a pena se não se exibissem descaradamente para nós, não achais?- Falei-lhe alto o suficiente para que ouvissem.

Pelo canto do olho vi uma morena que se aproximava da nossa mesa.

- Boa noite campeão.

João estava parvo. Acho que era a primeira vez que era levado para segundo lugar.

Sorri para Hetty e discretamente afastei a casaca para que a descarada reparasse na minha pistola. 

O quê? Não achavam que saía sozinha noite totalmente desarmada, pois não?

- Boa noite.- Responderam desconfiados.

A coitadinha ousava desafiar-me?!

- Posso beber convosco?

- Estou acompanhado na verdade.- Henry sorriu-lhe.

- Fica para outro dia.- Despediu-se com um piscar de olho.

- Não, fica não.- Bebi enciumada.

- Ainda não dancei esta noite, qual das senhoras quer ser a sortuda?- João levantou-se e perguntou a um grupo de moças que lançavam sorrisos e olhares a rapazes do outro lado do largo.

Assim que o viram viraram a cara e foram embora ofendidas.

- Ainda bem que o casamento foi arranjado ou estávamos perdidos.- Manuel riu com o irmão António.

Henry bebeu para não rir descaradamente.

- Já recuperastes, milady?- Levantou-se e tirou o jarro das minhas mãos para o pousar na mesa.

- Vós já?- Diverti-me.

- Não estava cansado.- Olhou para João subtilmente.

- Que o mastro dele seja tão grande quanto a ousadia, é o que te desejo, Helena.- Rosnou o rei para mim.

- Perdão?- Como é que a conversa tinha descarrilado de repente?

- E... chega de bebida por hoje.- António afastou o álcool do irmão mais velho.

- Vamos dançar?- Convidou ignorando a provocação alheia.

Respondi com um sorriso e entrelaçou a mão na minha.

- Quereis dançar agora, lady Hyde?- D. António ousou perguntar uma vez mais naquela noite.

- Sim.- Henrietta sorriu e aceitou a mão do seu par.

⭐👑⭐

- Como é que aquela confusão começou?- Indaguei quando me rodou.

- Se contasse irias rir-te.

Henry não queria contar. Talvez fosse melhor viver na ignorância.

- Qual o ponto mais alto de Lisboa?

- Acho que... o Castelo de S. Jorge.

O seu sorriso denunciava a vontade lá ir.

- Não. Para o Castelo não.- Pedi. As recordações da ultima vez dão-me calafrios só de olhar.

- Tudo bem. Segundo ponto mais alto da cidade?

- Bem... não é bem um ponto, mas acho que o Convento de S. Vicente de Fora.

- Não fica longe daqui.- Mordeu o lábio.

- Escapar-nos deles só irá levantar preocupações desnecessárias.

- Podemos dizer onde vamos.- Encolheu os ombros e sorriu.

Apenas de camisa e colete, conseguia sentir o calor da sua pele com mais facilidade.

- Não posso deixar Henrietta sozinha. Edward bêbado não é capaz de cuidar nem de si mesmo.- Repensou.

Seria emocionante fugir com Henry. Os dois sozinhos pela Lisboa adormecida.

- Espera aqui.- Pediu e beijou a minha testa.

- Olha para aquela pouca-vergonha! Estes portugueses são muito abusados mesmo. Aquelas mãos estão muito mais abaixo do que deveriam!- Edward ralhou comigo apontado para o infante e Hetty.

- Preciso que cuides de Henrietta, e que te mantenhas sóbrio para isso.- Segurei nos seus ombros e olhei bem nos seus olhos.- Por favor, Edward.

- Sempre às ordens, irmão.- Pegou na espada, no entanto impedi.

- Com os punhos, e apenas se extremamente necessário.- Assustei-me com a possibilidade de um infante português acabar como um porco no espeto.

- Pode ser.- Sentou-se como um vigia.- Dou-te a minha palavra, vai descansado.

- Avisa os outros de que saímos.- Peguei na casaca e pu-la ao ombro.

- Tudo bem.- Bateu o ombro comigo como costumávamos fazer.

Helena esperava pacientemente por mim de sorriso no rosto.

- Vamos?

- Por aqui.- Segui-a pelas ruas e vielas apertadas.

- Devíamos ter trazido uma lamparina.- Confidenciei sem conseguir ver muito bem o caminho, depois de tropeçar duas vezes.

Estava em alerta máximo e com a mão na espada pronto a agir caso necessário.

- Eu sei o caminho.- Disse simplesmente seguindo a meu lado.

- O convento está aberto a esta hora?

- Não sei, mas nós também só queremos o terraço, verdade?- Beijou-me antes de continuar o caminho.

As ruas estavam quietas e silenciosas, aqui e ali ouvia-se um cão a latir, ou um gato eriçado.

- É ali.- Parou e apontou para o outro lado da praça mal iluminada. Via-se uma esquina adornada do monumento.

- Porque é tão grande aqui? As casas em Alfama são tão pequenas ao lado disto.- Estranhei as manias estrangeiras.

- Os Filipes assim o quiseram para mostrar o seu domínio sobre Portugal. Hoje é o Panteão dos Bragança.

Parei para analisar o que me dizia.

Então um convento construído por espanhóis é o cemitério eterno dos reis lusitanos? Eu tinha de admitir que até mesmo para morrer estes desgraçados tinham estilo.

- Fechado.- Suspirou entristecida.

- Aberto.- Encontrei uma porta lateral encostada.

Vários monges, mulheres e homens rezavam em silêncio.

Era realmente enorme.

Helena tocou-me no braço e segui-a por um corredor mais escuro e mal iluminado.

- D. João IV, D. Afonso VI, D. Pedro II.- Apontou para os túmulos.

- D. João V.- Murmurei lembrando quem seria o próximo.

- Não digas isso em voz alta, é horrível.- Estremeceu.

- Eu não desejo a morte a ninguém, Helena. Mesmo que te tenha beijado e queimado as minhas correspondências.

- Sois rancoroso, hã?- Um sorriso jocoso surgiu no seu rosto. Voltou a olhar para os túmulos.- Pai e irmãos de uma rainha inglesa.

- D. Catarina de Bragança, esposa de Charles.

- Hum... fizestes os trabalhos de casa, lord Hyde.- Disse numa voz molenga que ardeu dentro de mim.- Bem, não há nada que possamos fazer por eles.- Voltou costas e subiu um lance de escadas no fundo do corredor.

A minha tia, Ana de Inglaterra é filha de James, irmão de Charles.

Gostava de fazer Helena rainha um dia. É uma possibilidade com a qual gosto de sonhar, embora saiba que tenho mais de meia dúzia de herdeiros à frente.

Helena com certeza ficaria radiante no dia da coroação e faria o melhor pelo meu povo.

- Não vens?- Voltou atrás.

- Sim.- Caminhei para junto dela e toquei a sua mão quente e suave, para logo depois entrelaçar os meus dedos e beijar os seus.

- És sempre tão gentil comigo...- Sussurrou e não entendi se foi algo que lhe escapou dos pensamentos cá para fora ou algo que queria dizer-me realmente.

- Porque não haveria, milady? És a maior preciosidade que posso ter... vir a ter.- Corrigi, pois ainda não tinha pedido o cortejo a Eduardo.

- Sinto-me bruta às vezes a teu lado e outras vezes tão...- Suspirou corada.- Por aqui.- Retomou o caminho rumo ao terraço.

- Deve ser aqui.- Olhei para a porta com uma chave pendurada ao lado.

Não haviam mais escadas a subir.

- Quão grande é o nosso pecado?

- Hum?- Estranhei.

- Pecamos por palavras, atos... palavras que não deveriam ser ditas ainda e atos que...

- Helena, eu não faria diferente.- Admiti.- Tu farias?

- Não. Isso é que me preocupa: Eu não estou arrependida.

- Milady...- Peguei na chave e abri a porta, trazendo a chave comigo. Era o terraço finalmente.- Somos humanos. Peguei na sua mão e trouxe-a comigo até ao estremo do mesmo.- Perdoai, mas não é pecado amar. Aquele roubou.- Apontei para uma casa.- Aquele traiu.- Apontei outra mais além.- Aquele mentiu.- Apontei para um palacete mais longe.- Aquela comete luxúria, aqui mesmo há gula, até o rei comete o pecado da ganância então não: Junto deles nós não pecamos. O nosso amor é puro, sem enganos ou mentiras, sem manipulações.

Helena olhava-me com atenção e ouvia atenta, abraçada ao meu braço.

- Talvez tenha mais contacto que o estabelecido pelas malditas normas sociais, contudo são os homens que as fazem, não Deus. Apenas porque terceiros não aceitam o que sentimos um pelo outro, não significa que estejamos a pecar.

- Acho... que tens razão.

- Poucas vezes me engano, milady.- Lançou-me um sorriso que denunciava que estava apenas a brincar agora.

- Já vos vi falhar imenso.- Tentei lembrar-me de uma vez e até surgiram várias.

- Até o melhor dos Homens erra.

- Hum... parece que tenho de dar razão a João.- Lembrei-me do que disse sobre a ousadia de Henry.

- É... acho que pela primeira vez desde que o conheci, acertou.- Exibiu um sorriso orgulhoso e beijou as minhas bochechas coradas pelo embaraço.

Eu não queria saber tanto, Henry Hyde!

Sentou-se no chão e olhou o céu, sentei-me a seu lado, porém deitei-me para trás. Haviam tantas estrelas no céu, tantos pontinhos brilhantes que reluziam como cristais ao sol.

Acho que nunca observamos as estrelas verdadeiramente, nunca as adoramos o suficiente.

- É lindo.- Suspirei.

- Sim.- Acabou por se deitar a meu lado também.

- Lá o céu também é assim à noite?

- Na maioria das vezes não. Há nuvens demais, mas aquela estrela ali brilha tanto quanto em minha casa.- Apontou para o ponto mais brilhante do céu.

- É tão estranho não poder tocar algo tão belo.- Um colar de estrelas seria maravilhoso, se imaginarmos. Um quadro talvez.

Visto bem, parece cruel capturar a sua liberdade para as guardar, prontas a ganhar pó.

- Felizmente não é assim com tudo.- Apertou um pouco mais a minha mão e vi-o sorrir.

- Sim.- Dei-lhe razão mais uma vez.

Ficamos por ali algum tempo, umas vezes em silêncio, a aproveitar a companhia um do outro ou por vezes a rir e conversar enquanto nos conhecíamos melhor.

Henry tinha uma vida interessante.

⭐👑⭐

- Onde é que eles andam?! São quase 6 horas da manhã!

- Eduardo vai esfolar-me se me vir.- O António disse o que todos sabíamos.

As danças já eram poucas e bêbados pendiam cá e lá. A magia da noite estava a transformar-se na habitual podridão da manhã.

- Ele não disse onde ia, Edward?

- Não.- O inglês falou de mau humor.

- Esqueceram-se de nós?- Preocupou-se.

- Henry não se esqueceria de vós, Hetty.- O meu irmão sorriu para a ruiva.

- Ela só é Hetty para os amigos, como vossa alteza não é amiga da irmã do embaixador, bem lhe pode chamar Henrietta.

- Edward!- A rapariga enrubesceu de embaraço.

- Helena não nos deixaria aqui.- Lembrei como era preocupada.

- Terá acontecido alguma coisa?- Manuel indagou.

- Deus, claro que não!- Ralhei.

- Ainda aqui estão.- Ouvimos ao longe e vimos Helena correr em direção a nós, de sorriso no rosto, tal como Henry.

- Ainda bem que estão felizes, lembrai-vos desse sorriso para o exibirdes ao marquês. Vamos.- Ordenei tomando caminho.

- Mal posso dos pés.- Henrietta murmurou para si mesma.

- A quem o dizes.- Helena concordou.- Devo estar cheia de bolhas.

- Então... e onde foram vocês?- Edward perguntou como se não estivesse interessado em saber.

- Isso é de tua conta?- Henry riu.

- Pode ser da minha.- Declarei.

Helena ainda manteria as suas virtudes? Ninguém sai por aí sozinha à noite com um homem por longas horas apenas para conversar...

- Ao Convento de S. Vicente, majestade.- Disse o inglês sem hesitar muito e com aquele sorriso jocoso que eu jamais conseguirei suportar.

- O que é que foram lá fazer?- Indignei-me.

Era muita maldade irem namoriscar em cima do meu futuro túmulo.

- Lisboa lá de cima é muito bonita.- Helena sorriu.

- E tinha mesmo de ser no Panteão da minha família?!- Ofendi-me.

A mulher que amo, com o seu amante, a esfregarem-se no meu leito de morte... era sacanagem a mais!!!

- Deixa de ser coscuvilheiro, João.- Repreendeu-me.

Olha agora! Deixa-nos sozinhos por horas e ainda tem a lata de me chamar cusco.

- Não fiquem para trás.- Rosnei.

...

- Consegues subir aqui?- Chegamos à traseira do palacete.

- Se me ajudarem sim.

- Vem.- Henry cruzou as mãos e Helena apoiou um pé para conseguir saltar o muro alto.

- Já cá estou.- Arfou com dificuldade para se manter lá em cima e então saltou para o lado de lá.

- Estou bem!- Falou mais alto ara que ouvíssemos daqui.

- Ok, vemo-nos depois.- Henry despediu-se.

- Ham... acho que não, parceiro.

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