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25. Não tendes vergonha?!

Não! Masmorras não!! Tudo menos isso!!! Socorro! Alguém!

- Segurem-na! Nem uma maldita mulher aguentam...- Resmungou o do mapa. Reparei que tinha uma barba rala. Era jovem.

Atiraram-me para dentro de uma cela e soltaram-me os nós.

- Não se atrevam a deixar-me aqui!!- Rosnei furiosa quando trancaram a porta.- Quando eu vos puser as mãos em cima, estão mortos!- Soquei as grades frias ferrugentas de ferro.

Gargalhadas idiotas foram a minha única resposta.

- Vocês não sabem quem é o meu pai!- Brami antes de tentar arremessar a porta da jaula.

- Uma mulher?

- Há anos que não vejo uma por aqui...

- E tão jovem e bonita...

Escorei-me mais nas grades, mas não havia por onde recuar.

Socorro!

- Diz-me bonequinha, o que fizeste para vir parar aqui?

Um homem aproximou-se mais e olhei ao redor em busca de ideias.

- Não se atreva a tocar em mim!

- Seu bando de cachorros sarnentos, ela vale o dobro virgem! Metam-na sozinha, filhos da puta!- Ouvia-se longe.

- Parace que é para ti... Virgem.- Atirou lambendo as beiças.

Mamã!!

- Anda!- Um homem puxava-me os cabelos com força arrastando-me pelo corredor de homens enjaulados fora.

- Arght!- Cravei o meu sapato na perna dele com força e consegui soltar-me.

Corri o mais que pude até embater num outro homem.

- Soltem-me!

- Caluda, vadia.- Socou-me.

Esta doeu a sério.

- Presta atenção ao teu gado, Lourenço!- Ordenou antes de me entregar ao guarda de que consegui escapar.

- Sim, senhor!- Bateu-me e voltou a segurar-me pelo cabelo, atirando-me para dentro de uma cela como se eu fosse um saco de lixo.

- Helena!

Encolhi-me mais ao ouvi-lo. Não iria levantar-me tão cedo. Estava ferida, assustada, cansada e... não descansei bem a noite passada, o que só me faz ficar mais lenta.

- Helena, por favor levanta-te. Eu preciso de saber se estás bem.

- Eu pareço-vos bem?- Sussurrei incrédula.

- Não.- Admitiu olhando ao redor.- Não pertencemos aqui.

- Onde estamos?

- Nas masmorras do Castelo de S. Jorge.

- Ainda estão activadas?!- Rosnei.- Claro que estão, eu estou aqui presa como um papagaio!

- Os Felipes usaram-na durante o seu domínio.

- Eu estou presa. Eu estou aqui presa como um bicho.- Comecei a andar ao redor, tamanho o desespero.- Eu vou morrer aqui como um reles ladrão...

- Helena...

- Eu tenho sangue azul, seus merdosos deixem-me sair!!- Chorei desesperada entre as grades.

- Helena!- Elevou a voz.- Guardai um pouco de dignidade para amanhã, pode ser?

- Olha aqui, seu pedaço de merda.- Aproximei-me das grades que separavam as nossas jaulas.

- Como vos...

- Se aqui estamos a culpa é vossa! Toda vossa! Se eu conseguir sair a primeira coisa que farei é torcer-vos o pescoço como a um pombo.

- E o que é que eu fiz? Vós é que aparecestes!- Resmungou cara a cara comigo.

- Eu devia ter continuado ao lado de Francisca.- Lembrei a mim mesma, um pouco tarde demais, claro.

- Silêncio!- Bateram nas grades.

- Estamos acabados.

⭐👑⭐

- Helena?- Acordei com frio.

A biblioteca estava vazia, pelo que parecia. Ninguém respondeu.

- Helena?- Perguntei pelo corredor vazio.

Estranho. Bem, deve de ter ido fazer algum recado e volta logo.

- Francisca, o João está aí?- O Manuel parou para me perguntar.

- Não, só eu, porquê?

- Nada, nada...- Desvalorizou.- Está atrasado para o Conselho, mais que o costume.

- Viste Helena?

- Não, por acaso não a vi.- Havia um sorriso animado no rosto do meu irmão.

O que é que tinha tanta graça.

- Que foi?

- Nada!- Prosseguiu caminho.- Até logo, Josefa.

- Arght! Não me chames isso seu pilantra!- Rosnei zangada. Odiava esse nome!

⭐👑⭐

- Poupai energia.

- Eu tenho de a usar para fugir enquanto posso!- Brami furiosa enquanto tentava arrombar a janela alta, apenas com grades de ferro inquebráveis.- Maldição!

Não havia como deitá-la abaixo. Já estive a analisar também a porta e a fechadura. A porta era de encaixe, precisaria de algo como uma alavanca para se soltar, não tenho nem um garfo aqui. É pesada demais para eu o fazer.

João andava de um lado para o outro na cela ao lado, com a cruz de pérolas e diamantes entre as mãos, parecia um autêntico leão perdido na jaula, desesperando por uma oportunidade de ser solto e comer a cabeça do primeiro que apanhar.

- Não há maneira. Temos de esperar uma oportunidade.

- Tendes de fazer por ela!- Atirei o óbvio.

- Temos de saber quem é o guarda das chaves e comprá-lo.

- O que esperais então? O rico aqui sois vós!- Sentei-me na tábua dura de madeira com percevejos que faria de cama numa outra altura.

- Ah claro!- Revirou os olhos.

- Eu já disse para se calarem!- O tal guarda sebento voltou a bater nas grades com um pau.

- Calma, já nos silenciámos.- A voz de João era calma e pragmática.- Deve ser duro lidar com tantos foras da lei ao mesmo tempo.

- Qual é a tua ideia, borboletinha de ouro?- Cruzou os braços às gargalhadas.

- Que me dizes?- Tirou a cruz pesada de ouro do pescoço e estendeu-a, porém não tão perto que o gordo a pudesse pegar.- Donde este vem, muitos mais virão. Pela nossa liberdade.- Olhou para mim.

- Eu não quero o teu ouro. Eu quero muito mais que isso.- Virou costas aborrecido.

- Eles lutam por uma causa.- João murmurou.- Homens que têm uma causa não se deixam comprar facilmente.

Ele parecia abalado, quando se encostou à parede.

- Borboletinha de ouro... Tolo.- Riu sem humor.- Sou um rei assim tão mau, que não precise nem de dois anos para me deporem?

- Não.- Murmurei analizando as minhas mãos sujas e feridas de tentar forçar as grades.- Quem fez isto não foi uma simples rebelião, ou um burguês descontente. Eles são organizados, estavam no palácio...

- Usavam sapatos de tacão.

- E sabiam o caminho para aqui, tal como das passagens secretas. Quem quer que seja que está à cabeça disto, está próximo de nós.

- Quando eu sair, sentirei o cheiro da carne queimada de cada um deles. Vê-los-ei morrer no fogo, ouvindo as suas preces como a melhor das musicas.- Prometeu a si mesmo.

- Devem de ter notado a vossa ausência no palácio, virão à nossa procura.

- Só logo à noite, ou amanhã de manhã.- Encostou a cabeça nas grades.- Os meus irmãos sabem que gosto de sair sem ser incomodado.

- Que bom!- Levantei-me enquanto tentava pensar nalguma coisa, mas a dor do cansaço, das pancadas que levei e da falta de descanso da noite passada pesavam uma tonelada.

O cheiro era nauseabundo, fezes, suor, algo podre e bolor. Cheirava a Inferno. 

Aqui não havia esperança, só restava esperar a morte, pois quem aqui entra não tem dia para sair.

- Oh papá...

Devia de estar louco de preocupação, imaginando mil e uma coisas que são futilidades comparando com a encrenca em que estou.

⭐👑⭐

- Bom dia, meu amor.

- Bons dias, meu doce.- Beatriz aconchegou-se mais a mim.- Parece tarde.- Suspirei satisfeito sentindo o cheiro dos seus cabelos.

- Gostei tanto da nossa noite...

- Não acredito no que vou dizer, mas ainda bem que Helena ficou a cuidar da infanta.- Sorri beijando os seus lábios macios.

- Parecemos dois malditos jovens, Eduardo.- Riu quando lhe beijei o pescoço.

- E não somos? A idade é simplesmente um número, Beatriz.- Afastei as cobertas, procurando a minha camisa de dormir.- O rei costuma atrasar-se tantas vezes, que com certeza fechará os olhos a um pequeno atraso meu.

- Não tinha uma noite assim há anos.- Suspirou nas cobertas quentes.

- Digo o mesmo.- Admiti.- Até mais logo.- Beijei os seus lábios antes de descer para o desjejum.

...

- Porque é que estão todos dispersos?- Estranhei quando cheguei, dirigindo-me ao confessor do rei.

- Sua majestade não está no palácio.

- Está aonde então?

- Ninguém sabe.- Souto Maior murmurou.

No mesmo instante os infantes entraram na sala do Conselho, pareciam preocupados.

- Quando o rei sai informa um de nós.- D. António começou.

- E como sabemos D. João não despreza as responsabilidades por lazer.- D. Manuel prosseguiu.- Sugiro que abramos uma investigação, grupos de buscas sempre com a maior discrição. Não queremos que cheguem futilidades à Áustria numa altura de negociações tão delicadas.

- O rei desapareceu. Isso não são futilidades. 

- Se o rei chegar antes do anoitecer, serão. João tem um espírito aventureiro.

- Comandarei os meus guardas pelas buscas pelo rei.- Disse sem hesitar.

Portugal sem rei é um país caótico aos corvos.

- Agradeço-vos marquês.- D. António fez um sinal com a cabeça.- Procuraremos pela baixa, procurai ao redor da cidade. Comandante, vejam pelo palácio. Um bilhete, um sinal... qualquer coisa.

- Podem ir.- D. Francisco ordenou depois de tudo acordado.

- Espere Eduardo.- A pequena infanta caminhou até mim embrulhada no agasalho.

- Em que vos posso ser útil, alteza?

- Helena não está em casa?

- Não, passou a noite convosco.

- E a manhã também.- Olhou para o chão.- Não sei dela, ninguém sabe. Mandei procurar na sala de jogos, pelos jardins, todos os cantos e recantos deste palácio e nada.

O rei desapareceu e Helena também. Coincidência não é.

- Hei de a encontrar, alteza, e vosso irmão também.

- Obrigada Eduardo. Não é costume de Helena desaparecer sem dizer nada.

⭐👑⭐

- João?

- Sim, Helena?

- Tenho sede.

Senti-o mexer atrás de mim e foi-me então estendido um cantil.

- Obrigada. Iue! É vinho!- Provei.

- Vinho do Porto, meu bem. Não entendo o desprezo na vossa voz.

Estávamos costas com costas, cansados, tentando achar uma solução. Recuperando forças. Apenas as grades nos separavam.

- João?

- Sim, Helena?

- Dói-me a cabeça.

- Bebei mais, Helena.- Aconselhou.

Devolvi o cantil de prata. Com certeza precisaríamos de mais em breve.

- Helena?

- Sim, João?

- Peço-vos desculpa.

- Podia ser pior, João.- Olhei para a cela. Não sabia quão pior havia, só não queria que se sentisse mal.

- Não por isto, havemos de sair, espero.- Respirou fundo.- Por não vos tratar como mereceis, por vos ter humilhado, por não vos conseguir entender...

O rei estava mesmo a pedir desculpas?

De vez em quando faz bem perder a liberdade pelos vistos. Sem querer a minha mão achou a sua, afastei-a depressa, mas então a vontade e a curiosidade tomaram-me. Era quente e só isso sabia bem numa cela tão fria.

- E por ouvir a conversa feminina com a minha irmã.

- O quê?!- Soltei-me dele como se pegasse fogo.- Estavas a espiar-nos?!

Estava a ir tão bem... Nada disso, isto nem ia! Estamos presos, enjaulados, não há tempo para parvoíces.

- Não é culpa minha se têm uma conversa privada num sitio tão grande.

- Sim, estavas a espiar-nos.- Concluí cruzando os braços, totalmente ofendida.- Não tendes vergonha?

- Um pouco. Por isso pedi desculpa.

Levantei-me zangada. Sentia-me ofendida!

- São sete da noite.- Olhou o relógio.- Sete?!

- Sim, sete. Porquê? Ireis a algum lado?- Diverti-me com a sua idiotice.

- Sim!- Levantou-se e tentou arrombar a porta da cela, em vão claro. A maldita nem chiou.- Ei! Tirem-me daqui seus ratos! Eu sou rei! Sou vosso rei, ungido por Deus!

Quase que vi a jaula rachar com tamanho ódio:

- Eu vou triplicar-vos os impostos! Vou matar os vossos filhos na guerra!- Proclamou. Pontapeando o ferro e esmurrando a fechadura.- Ainda não sei qual delas, mas vivos não retornarão a Portugal.

O que haveria de tão importante às sete para ele ficar assim?! João nem é o tipo de pessoa que chega a tempo e horas aos compromissos!

- Tirem-me daqui!- Bramiu alto o suficiente para se ouvir no Porto.

Espero que realmente alguém tenha ouvido e ido chamar ajuda.

- Tirem-me daqui...- Suspirou frustrado, encostando a cabeça nas barras frias e intransponíveis.

- O que há de tão importante agora? Notarão vossa falta, virão atrás de nós!- A esperança fortaleceu no meu peito.

- Não, Helena. Não virão.- Apoiou-se nas barras que nos separavam agora. Havia um brilho mortal no seu olhar, e pela força que fazia nas barras, estava realmente fora de si.- Quem me espera é Luísa e se eu não aparecer, melhor para ela. Aquela maldita está-se cagando para nós.

Engoli em seco e recuei. Não sabia que reis tinham deste linguajar.

- Eu estive aqui presa todo o dia convosco, mas foi preciso Luísa para vos fazer ter uma atitude inconformada.

- Ei!- Protestou quando lhe consegui dar um estalo, o estalo mais forte que já dei na minha vida a alguém.

- Ela teria recuado assim que vos visse ser tomado no corredor.

- Sim, porque vós colaborastes muito.

- Tanto quanto vós.- Virei costas para que não visse as minhas lágrimas. Queria ter mais privacidade agora. A minha cabeça está pronta a explodir e tenho um ingrato na cela ao lado, um velho palito malcheiroso do outro e na da frente um rufião tuberculoso.- Eu sou Helena Brotas Lencastre e sairei daqui, nem que seja a ultima coisa que faça.

⭐👑⭐

- Andar de um lado para o outro não trará João de volta.- O Francisco resmungou enquanto palitava os dentes.

- Isto é mau, isto é muito muito mau!- Desesperei ignorando o meu irmão.- Eu confesso que não levei a sério, pensei que estivesse embrulhado nas saias de Helena, mas João não se demoraria até tão tarde. O rei não ficaria fora por tanto tempo sem deixar recado.

- Manos!- Francisca entrou acordando-nos.- Achei isto no meio de um corredor.

- Um xaile?- António estranhou.

- É o xaile que Helena usava antes de desaparecer, havia estes livros também.- Deixou três volumes em cima da mesa.

- Economia...- Analizei.- Não parece ser algo que se leve para um encontro a dois.

- Já vos passou pela cabeça que podem nem estar juntos? João está noivo, Manuel!- O Francisco resmungou desapertando a gravata.

- Mostra-nos onde achaste isto, mana.- António pediu-lhe mesmo assim.

- Por aqui!- Corremos atrás dela.

- Aqui?- Francisco olhava ao redor.- Então evaporaram... Francisca, tinhas acabado de acordar, não foi?

- Não fales comigo como se fosse tola, idiota!

- Comportem-se!- O António resmungava.- É pelo João.

Não haviam nem escadas, nem portas nem nada do tipo. Era um corredor. Porque deixariam aqui as coisas?

Olhei pela janela. Era baixa. Podiam ter saltado com facilidade sem que ninguém os apanhasse.

- Põe as coisas no chão como as achaste.- Comandei a minha irmã.

Porque é que ninguém encontrou isto num corredor aberto? É noite e só agora é que Francisca nos aparece com isto nas mãos?

Não parece que estavam realmente à procura.

- Eu não me lembro bem, mas... acho que estavam mais ou menos assim.

- Os livros estavam abertos?- Estranhei.

- Sim, só não me peças a página. Apenas um estava fechado.

- Como se tivessem caído ao chão.- António olhou para mim lembrando-se do mesmo.

- João praticamente tem um culto aos livros, não os deixaria assim ao Deus dará.

- Então agora viraram investigadores, é?- O Francisco riu acendendo um charuto numa vela do corredor.

- Olhem aqui!- António despertou a nossa atenção.

Estava um botão de ouro junto da estátua.

- É um brasão.

- Parte dele.- Lembrou Francisco.

- Reconheces?- O Miguel perguntou ao António.

- Não me é estranho.

- Vocês não deviam saber os brasões de todas as famílias fidalgas de Portugal?!- A nossa irmã cruzou os braços aborrecida.

- Tu sabes?- Resmunguei.

- Todos não, mas esse sei.- Sorriu pegando-lhe.- É o brasão do conde de Alvor.

O António encarava-me assustado.

- O conde de Alvor é primo de Lara.

- Parece que os Távoras vieram vingar a sua putinha.

- António!- Repreendi tapando os ouvidos de Francisca, que como menina travessa que é, apenas riu e corou.

- Está frio.- Estremeceu.

- Hum?- Estranhei e senti uma corrente de ar.- Ora, ora, ora... parece que sua majestade não evaporou. Vá António, tu és o mais gordo, abre a passagem.

- Não sujarei as minhas mãos nesse pó!

- Francisco?

- Eu sou o mais franzino.- Riu.

- Seus parvos!- Francisca começou a empurrar a estátua. Merecia o prémio por participação.

- Afasta-te.- O António pediu entregando a casaca a Francisco e puxando as mangas da camisa de maneira a não se sujarem.

- Ah! Uma passagem!- Soquei o Francisco de modo fraternal.

- Que giro.- Sorriu.

- Onde irá dar?- A Francisca tentou entrar, porém impedi-a mais depressa.

- Está muito tarde. Tens de te ir deitar. Nós vamos achá-lo, prometo.

- Mas estamos tão perto! Dizes isso porque sou mulher!- Bateu o pé.

- Não, digo-te isto porque ainda estás a recuperar da febre e não quero que piores.

- Mentiroso.- Voltou costas zangada, atendendo ao meu pedido.

- Vocês vão mesmo entrar aí sem saber onde vão ter?

- Pelo João sim.- Peguei num castiçal e entrei sem olhar para trás.

Nunca usei esta passagem, nem fazia ideia que existia.

O João costuma usar a saída dos empregados.

- Saída de emergência.

- Espero que nunca tenhamos de a usar, irmão.- Respondi encarando o António antes de descer os vários lances de escadas.

- Quem fez isto tinha tudo bem planeado.

- Tinha de saber isto melhor que nós.

- Quem sabe melhor das passagens que a família real?

- Os Távora não são de certeza.- Disse o que ambos sabíamos.- Alguém teve de os ajudar.

- Estamos a descer imenso.- Falei já cansado das escadas escorregarias e molhadas da humidade.

Ouviam-se ratos e estávamos sempre a tropeçar em teias de aranha.

- A minha peruca deve estar uma desgraça.- O meu irmão choramingou.

- Não era para te fazer parecer velho?- Provoquei.- Oh não...

- Que foi? Não...

As galerias romanas. Tinham quilómetros e quilómetros de distância e centenas de saídas para toda a Lisboa.

- Para que lado?- Indaguei confuso e preocupado. Demoraria anos a encontrar o meu irmão, podia já estar morto!

- Para trás.- António declarou.- Temos de encontrar um mapa, organizar várias equipas de busca e ser inteligentes.

- Não há tempo.

- O João depende disso!- Isistiu.- Temos de selecionar as saídas por onde provavelmente o levaram, não podemos desperdiçar tempo, não temos como ver todas!

- Até lá, pomos os Távora atrás das grades até tudo se resolver.- Decidi também.

- E rezamos.

🌟👑🌟

- Ouvi, marinheiros ouvi,
vem do sul esta brisa do mar.
É fatal, eu sei, é a tal sem igual,
que vira barcos, sussurra ao passar.

Pois então volta costas à proa,
olha o céu, sente a brisa do mar.
Do Brasil eu vim, a Macau eu irei: tenho ouro, canela e vejam, até um rei!

Vejam bem, voltem costas à proa,
olha o céu, sente a brisa do mar.
A menina mulher se fez,
atrás das grades lá foi parar.

Tantos piratas vi, príncipes sei,
logo eu aqui presa com o rei!

- Vossas músicas são horríveis e de muito mau gosto.

- Ajudam a passar o tempo.- Sorri.

- Fica no ouvido, eu gostei menina.- O velho palito bateu palmas entusiasmado.

- Vês!- Apontei para o senhor.- Quem tem mau gosto és tu.

- Lamento se sou mais de ópera italiana e não de música corsária.

- Pirata, meu senhor.- Corrigi.- Que não sou paga para roubar em vosso nome.

- A minha ama costumava cantar para mim.- Murmurou apoiado nas grades da minha cela.

O sorriso amigável foi desaparecendo.

- Mas isso foi há muito tempo atrás.

- Era como?

- Não me lembro bem.- Admitiu.- Também nunca cheguei a decorar a música de embalar alemã da minha mãe. O Francisco ainda a sabe de cor.- Sorriu.- Sem dúvidas foi quem mais puxou ao lado da nossa mãe.

Eu não perguntei.

- Tinha sempre aquela cara dissimulada cada vez que me punha em sarilhos. Calculista e bajulador como uma cascavel e bem mais namoradeiro que eu. O gosto por freiras ainda vai ser a sua ruína.

- Conseguis conviver com alguém assim?- O meu irmão era um santo.

- É normal. Ele não gostava de viver como número dois, quem gostaria?- Sorriu.- Gostava de lhe ensinar tudo o que sabia quando era pequeno.

- João Bento de Deus!!- Saltei da minha tábua de madeira depois de ligar os pontos todos.

- Não me chames isso, Helena. Já usares o meu nome próprio é bom.- Aborreceu-se.

- Foi Francisco. Francisco tramou contra vós!

- Não, ele é meu irmão, Helena!- Apertou as barras com força.

- Ai sim? Vosso tio também era irmão de vosso pai, e aqui estais!- Evidenciei os factos.- Vosso irmão não gosta de ser uma sombra, é mais discreto, tem amigos arruaceiros de grandes famílias, sabia das galerias e das passagens e é o único capaz de furar a segurança do palácio sem levantar suspeitas, porque ele é o responsável por ela!

- Não ele...

- Vós mesmo dissestes que mantinhas o quadro de D. João IV e da familia para vos lembrardes que não se pode confiar em ninguém.

João balbuciava, no entanto estava chocado demais com as minhas palavras. As pistas também faziam sentido na sua cabeça.

- Eu não acredito...

- Vão beijar-se agora?- O velho palito interrompeu.

- Esquece isso, mete-lhe logo as mãos na cona.- Um homem do lado de João pediu.

Foi tão grosseiro e nojento!

- Tenha tento na presença de uma dama.- João falou com o seu habitual sorriso jocoso perto do outro, começando a rir e tudo até o mal educado o acompanhar.

Depois pegou no colarinho da sua camisa suja às pressas e puxou-o contra as grades:

- Foi a primeira e ultima vez que ouvi tais grosserias acerca de Helena, ficou claro?

- Sim, chefe.- Tapou o nariz dorido que escorria sangue.

- O meu próprio irmão...- Voltou para o meu lado da cela.

Ele era estranho.

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