Parte III - Ar
Por uns dez minutos Belinda observou o local ao seu redor, cortinas que pareciam ser de alguma tapeçaria cobriam pesadamente as janelas impedindo que o sol entrasse, muitas camas de espalhavam por ali, meticulosamente arrumadas, prontas para receber doentes mas Belinda era a única pessoa presente. Ela olhou as paredes de madeira escura, nelas haviam pinturas e vários símbolos escritos com o que parecia ser tinta, aquele lugar não era um hospital comum, aquele lugar nem de longe comum.
Belinda apertou os olhos com força, quis voltar no tempo e não sair correndo, depois pensou que talvez aquilo fosse o inferno e que talvez ela realmente estivesse morta, pensou que poderia está em uma espécie de coma e que deveria acordar.
— É um sonho, só pode ser a merda de um sonho.
Dois homens entraram no quarto, um deles segurava uma espécie de lança, seus olhos eram tão verdes quanto o de Eros e seu corpo era coberto por tatuagens com símbolos estranhos, o outro era alto e magro, seus olhos também eram verdes só que mais escuros, quase pretos. Ele tinha em punho uma besta que usou para mirar em Belinda, garota sentiu seu sangue esfriar, eles iam mata-la ali mesmo, ela tentou se levantar para correr ou pedir ajuda mas estava amarrada pelos pulsos e pés.
— Não se mexa sua impura, ou vamos te matar.— O homem com a lança falou, sua voz era grossa e imponente.
— Temos que mata-la, logo outras virão atrás dela.
Belinda tentou dizer que ninguém viria a sua procura mas Eros entrou no quarto bem na hora, ele não olhou pra Belinda, em vez disso se dirigiu até o homem mais alto e tocou no seu ombro, para logo em seguida sussurrar algo em seu ouvido.
— Entendo, não concordo mas entendo.— o homem disse e Eros saiu.
Belinda sentiu toda a sua esperança se esvair, Eros nem se importou com ela, nem se quer a olhou, Belinda estava sozinha com dois homens desconhecidos que queriam mata-la, era o seu fim, definitivamente aquele era seu fim.
— Por favor...— ela implorou.— Não me mate, eu te peço, não me mate!
— Bem que eu queria, acredite em mim, tudo o que eu mais queria era estourar os seus miolos e dar para os porcos comerem, mas não fazemos as coisas assim por aqui.
Então o homem tatuado se aproximou e Belinda se encolheu com medo do que viria, ele cortou as cordas e Belinda tentou correr mas foi golpeada na cabeça, apagando logo em seguida.
Estava frio e escuro, Belinda tentou se mexer e sentiu que estava caindo, olhou para baixo e viu que estava muito longe do chão, ela tentou gritar mas sua voz não saiu, então um pio soou alto e algo a agarrou, evitando que o corpo dela atingisse o solo, ela olhou para seus ombros e garras a seguravam, azas batiam causando solavancos, logo aquele animal pousou com Belinda, ela olhou para o grande pássaro negro e o reconheceu, dessa vez ele estava solto e em seus olhos ela sentiu felicidade, um tiro foi ouvido e o passado foi ao chão se debatendo, Belinda tentou correr para ajudar mas seus pés não se moveram, então outro tiro, algo estava se aproximando.
— Acorda sua vadia!
Belinda sentiu água sendo jogada em seu rosto, sacudiu a cabeça tentando fazer o líquido escorrer mais rápido, seu coração estava acelerado, seus braços foram amarrados para trás e ela se encontrava de joelhos sobre uma espécie de altar.
— Hoje, a natureza trouxe até nós uma descendente de Medusa que se disfarça de filha de Eva!
Gritos e xingamentos foram ouvidos, Belinda levantou o rosto e avistou uma multidão de homens e mulheres.
— Como sabem que ela é uma descendente de Medusa?— Belinda reconheceu a voz de Eros, ele estava atrás dela e parecia impaciente.
— Bom, meu filho Eros está certo, ela merece um julgamento justo, vamos tirar a prova, tirem o seu sangue.
Duas mulheres se aproximaram e uma delas segurava uma lâmina que usaram para cortar Belinda, a garota gritou e se debateu mas de nada adiantou, o sangue escorreu e foi recolhido dentro de um recipiente. As mulheres seguiram até uma espécie de caldeirão e Belinda viu seu sangue ser depositado ali, na mesma hora uma fumaça densa e roxa subiu, ela iluminou o rosto de todos com sua coloração e tomou a forma de uma serpente com olhos amarelos.
A multidão começou a gritar e Belinda rezou pra tudo aquilo não ser real, ainda não acreditava, tinha que ser imaginação, delírio, não podia ser real tudo o que vinha acontecendo nas últimas horas.
— Acho que não é preciso mais nada, não é mesmo? Enforquem e depois queimem seu corpo.
Homens se aproximaram de Belinda e ela gritou, o mais próximo atingiu seu rosto com um tapa e eles levantaram a garota que se debatia.
— Espere meu pai, essa garota, ela não me fez nada.— Eros falou entrando no campo de visão de Belinda, ele parecia preocupado, seu rosto estava quase sem cor, e seus olhos mais verdes do que nunca.— Ela poderia ter me matado se quisesse, eu estava sozinho e desarmado, poderia ter dado cabo de mim ali mesmo, mas ela não me fez nada.
— Onde você quer chegar?— o pai de Eros se aproximou, seus olhos tinham uma coloração de verde escuro e ele usava uma longa capa presa por uma pedra que brilhavam fortemente, em sua mão segurava uma longa espada da cor de ouro.
— Pai, talvez devêssemos poupar a vida dessa garota, ela não cometeu nenhum crime.
Gritos e insultos foi-se ouvido, a multidão parecia prestes a subir ali e matar Eros e Belinda.
Traidor, covarde, enforquem ele, ele estar enfeitiçado, queimem-no
— Não me diga que você quer poupar a vida dessa assassina? A família dela matou nosso povo, nos dilacerou, eles precisam pagar.
O homem andou até Belinda arrastando ela pelos cabelos, a garota gritou e chorou, implorando para deixá-la em paz.
— Eu juro que não fiz nada, me soltem, alguém me ajuda!
— Eu mesmo te matarei, aqui na frente do fraco do meu filho, é isso o que acontece com demônios como você.
Ele encostou a lâmina da espada no pescoço de Belinda que gritou, a lâmina parecia ferro em brasa, ela sentiu que sua pele estava queimando, tentou se debater mas de nada adiantou.
— Eu vou cortar bem devagar, quero que sinta toda a dor antes de morrer.— ele disse ainda com a lâmina encostada no seu pescoço, a fumaça que subia tinha um cheiro ocre.
Ela pôde ouvir a multidão gritando e aplaudindo aquela cena, seus olhos se encheram de lágrimas, não tinha mais voz para gritar e implorar para que aquilo parasse, então quando ela já havia perdido suas esperanças um forte vento soprou fazendo o homem voar dois metros longe de Belinda, todos se calaram e pareceram abismados com o que aconteceu.
Belinda caiu no chão, fraca, sem forças para levantar, sua pele parecia que tinha derretido, ela podia sentir o sangue descendo, estava fraca, machucada, com dor e exausta de tudo o que vinha acontecendo.
— Mas que porra...
Belinda ouviu o homem falar enquanto se levantava, outro vento veio, dessa vez levantando folhas que tinham caídas por ali, todos abriram uma roda, tentando fugir do que quer que fosse aquilo, elas se juntaram como em um redemoinho e tomaram a forma de um corpo feminino, Eros se ajoelhou e pareceu não acreditar no que estava acontecendo.
— Mãe Natureza!
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