Capítulo 5 - O Teste Solo
As portas abriram e o cearense sentiu a sensação que mais amava: estar certo. De fato estavam no corredor, mas passaram da sala onde haviam se trocado e foram até o fim descendo uma escada curta e saindo em outro com as luzes azuladas. Eles entraram na última porta, que ficava de frente para o corredor inteiro. Estavam em uma sala pequena. Havia uma enorme tela cercada de telas menores. Todas mostrando uma mesma sala de vários ângulos diferentes, onde estavam vários homens mascarados andando de um lado para o outro. Embaixo das telas um teclado, alguns botões vermelhos e pequenas alavancas.
— Seguinte — a agente Siqueira parou de costas para as telas —: vocês vão entrar naquela sala, um de cada vez, e fazer com que um deles te diga a senha para abrir a porta de saída. Não importa como vocês façam desde que vocês saiam. É simples assim. Usem suas habilidades.
— Falando nisso — disse Raí —, eu aprendi muitas coisas naquela sala, como idiomas e lutas, mas o diretor disse que minha habilidade é a inteligência e eu... eu não me sinto mais inteligente que antes.
— Isso é normal —disse a agente —, as vezes demora dias, ou até mesmo meses. No seu caso eu sugiro que leia o máximo que puder em sua folga.
A sala onde os mascarados estavam parecia um pequeno labirinto. Apenas as paredes laterais da sala chegavam ao teto. Os homens estavam desarmados e andando de um lado para o outro, exceto um, armado, que ficava parado de costas para a parede no corredor do meio, era impossível passar sem ele ver.
— Cada um de vocês vai receber dispositivos diferentes que vocês vão usar não só aqui, mas em suas missões também. Felipe você é o primeiro.
— Por que eu?
A agente Siqueira fechou os olhos e respirou profundamente, depois disse:
— Para você temos essas luvas que, assim como suas botas, grudam na parede por poucos segundos; um chicote...
— Gostei!
— Uma bomba de fumaça e um comunicador. — disse ela entregando os dispositivos. A bomba era do tamanho de um pêssego.
— Agora vá, é a primeira porta a esquerda.
Felipe colocou a bomba e o chicote no cinto e cobriu com o sobretudo, colocou o comunicador e as luvas e saiu. Logo apareceu nas telas.
Ao entrar na sala era impossível ser visto pelos homens. O menino olhou para cima e viu duas barras de metal. Pensou por um tempo e então subiu em uma parede menor a sua frente e ficou em pé. Já era possível ver dois homens desarmados. Ele pulou na parede lateral, onde ficava a porta de entrada e grudou usando as luvas. Quando elas se soltaram da parede e ele caiu viu que a agente não estava brincando sobre serem por poucos segundos. Ele repetiu o que havia feito, sendo mais rápido dessa vez. Quando chegou à metade da parede que ia ao teto ele pulou na barra de metal. Ficou de pé. Não ia dar para pular até a outra. Então, ele tirou o chicote do sobretudo.
— Se der certo... — cochichou a agente Siqueira para si mesma na sala.
Felipe agachou e se jogou para frente dando um forte impulso com as pernas. Estava com o corpo todo esticado no ar, começava a cair e não estava perto o suficiente da outra barra. Ele a chicoteou e como não havia uma terceira barra ele ficou pendurado balançando. Não estava muito longe da porta de saída. Olhou para baixo, milagrosamente ninguém o ouvira. Estava exatamente em cima do homem armado, que ficava em um lugar onde a passagem era obrigatória se você fosse pelo chão. Ele percebeu que não estava cansado, nem seus braços que estavam segurando todo seu peso. Quando começou a planejar o que faria, o chicote desprendeu da barra e ele caiu agachado em cima da parede. Qualquer outra pessoa teria machucado a perna. Dessa vez o mascarado o ouviu, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa o agente Mello pulou em cima de seus ombros e ele caiu rápido no chão. O menino colocou um pé na arma e o outro no pescoço do homem. Percebeu que saberia desmaiá-lo se quisesse.
— Me diz a senha. — disse forçando o pé
—Força — disse o homem de máscara. Felipe forçou mais ainda o pé —. A senha é força.
O carioca chutou a arma pra longe e desmaiou o homem sentindo uma boa dose de culpa e pena. Virou no canto do corredor e viu um mascarado que também o viu. Saiu correndo ao seu encontro, o homem fechou os punhos em posição de briga a sua espera. Mas Felipe, de joelhos, deslizou por entre as pernas do homem com o corpo inclinado para trás. Depois levantou e saiu correndo novamente, virou em um novo canto e foi em direção a porta. Apertou o botão antes que o homem o alcançasse e disse como se estivesse perguntando:
— Força?
Assim que a porta abriu o homem parou de correr.
— Hum. — fez a agente Siqueira.
— Eu tô correndo bem mais rápido agora. — disse Felipe quando voltou.
— Muito bem Mello — disse a agente com sua cara entediada —. Se você treinar com o chicote poderá subir nele antes que se solte. Ela apertou o botão e gritou para os homens na outra sala — TROCAR!!! — eles se movimentaram e o desmaiado foi substituído — É óbvio que a senha não será a mesma. Magno você é o próximo.
O mineiro a encarou assustado.
— Suas botas têm as solas feitas de algo parecido com veludo. Três bombas de fumaça e...isto. Este dispositivo é feito para fazer barulho em um momento pré-programado, servindo de distração, nós o chamamos de barulhinho; e um comunicador.
Magno colocou o barulhinho na manga, duas bombas nos bolsos, uma dentro da blusa e o comunicador sumiu debaixo de seus cabelos. Ele foi para a sala. Já havia percebido antes que as botas não faziam barulho.
— E agora ele vai se esconder lá e esperar todo mundo ir embora. — disse Tatiana fazendo Felipe rir alto.
— Silêncio! — ordenou a agente.
O menino surgiu nas telas e ficou parado ao lado da porta. Permaneceu assim por alguns segundos. Ele tirou o barulhinho da manga, era uma caixinha de som menor que uma de fósforos, programou quinze segundos e jogou do outro lado da sala. "Confiança Magno, não fique nervoso, mostre o que você sabe fazer" Ele colocou as mãos no bolso e saiu andando normalmente sem a menor pressa. No canto parou para espiar rapidamente e virou. Passou atrás do primeiro homem no exato momento em que ele virava em seu percurso e continuou andando. Fez o mesmo com o segundo homem, como se fosse um fantasma. Um fantasma estranho de óculos escuros.
No próximo corredor ficava o homem armado, ele não estava andando. E estava de lado.
— Quinze. — Sussurrou o menino. No exato momento que ele entrou no corredor fez-se um barulho de estilhaços de vidro no lado oposto. O mascarado rapidamente apontou a arma para o lado e quando voltou a sua posição, Magno já estava agachado em sua frente. O mineiro levantou rápido, praticamente pulando, com um soco embaixo do queixo do homem, que apagou na hora.
— O guri é bom. — admitiu a agente Müller.
O menino colocou as mãos no bolso novamente e seguiu rumo à porta. Virou em mais um canto pegando de volta o barulhinho. Passou fácil e silenciosamente por mais um homem e chegou ao último. Seguiu-o no percurso que fazia e ficou atrás esperando. Quando o mascarado se virou, levou um chute no meio das pernas que o fez cair de joelhos. Magno se agachou e com a voz calma disse:
— A senha.
— Inteligência. — disse o homem ainda com as mãos no meio das pernas caído no chão.
— Quem foi melhor? — perguntou Tatiana para Raí.
— Não sei dizer.
— Aquelas barras parecem mais baixas daqui. — reparou Felipe.
Quando Magno voltou a agente Siqueira elogiou-o:
— Você foi bem Maciel. Soube calcular o tempo corretamente, mas podia ter apagado o último antes de sair. Em uma missão ele poderia estar armado ou chamar reforços. — ela deu um tapa forte no botão vermelho e gritou — DE NOVO!!! Tatiana, agora é você.
Ela foi entregando os dispositivos:
— Comunicador, uma bomba de fumaça... e só.
— Só isso?
— Sim, e pelo amor de Deus, não reclame — pediu a agente impaciente —. Vá.
Tatiana entrou na sala, surgindo nas telas. "O problema vai ser o homem armado" Ela foi andando depressa com seu jeito um pouco masculino. Entrou no primeiro corredor, o mascarado estava de costas. Se tentasse fazer como Magno seus seios encostariam-se às costas do rapaz e também suas botas fariam barulho. Ela separou as pernas e cruzou os braços esperando. O homem se virou e quando a viu correu a seu encontro. Ela colocou os braços para trás e recebeu um soco que a fez virar o rosto. Sentiu um incômodo na bochecha, como se tivesse acabado de levar um beliscão. Encheu-se de raiva. Então aqueles agentes iriam bater neles de verdade? O homem pareceu confuso quando ela olhou para frente de novo. Mas ficou assim por pouco tempo, pois logo foi nocauteado com um soco digno de um boxeador.
"Eu vou fazer em menos tempo que todo mundo", pensou a loira e saiu correndo para o próximo corredor. Nesse o homem estava de frente pra ela. Não perdeu tempo e deu um soco em cheio na máscara que se partiu. Os pedaços caíram no chão junto com o homem. Ela já tirou a bomba, que estava grudada em seu colete, e virou no corredor jogando no pé do homem com arma e voltou. Não era uma granada de fumaça comum que liberava a fumaça aos poucos, ela explodiu deixando o corredor todo num nevoeiro negro. Não era possível ver absolutamente nada, nem mesmo na sala em que estavam os outros. Raí se sentiu feliz por estar vendo aquilo na vida real. A agente Siqueira digitou algo e as câmeras mudaram mostrando uma agente Müller laranja e vermelha no exato momento em que ela dava um chute na costela do homem. Ela tomou sua arma. Raí reconhecia a metralhadora de seus jogos.
— Agora tu vai me dizer a senha, não vai?
— Vontade.
Lembrando do que a agente Siqueira disse a loira deu uma coronhada no homem e seguiu. Ainda podia ser a mais rápida. As câmeras voltaram ao normal enquanto ela partia para outro corredor. Quando o mascarado viu aquela menina armada ele recuou para o canto. Sem parar de correr ela o desmaiou com a parte de trás da arma e fez o mesmo com o último homem, apertou o botão, disse a senha e saiu deixando a arma no chão.
— Muito bem — disse a agente Siqueira —. Raí você é o próx...
— Tu não vai dizer mais nada? — interrompeu Tatiana.
A agente hesitou por um momento.
— Você soube usar a arma do inimigo. Só precisa ser mais silenciosa. Ah, e isso serve para os quatro: um agente não mata nunca. Só se sua vida estiver em extremo risco. Entenderam? Ótimo! Raí, sua vez:
— Comunicador, bomba de fumaça...
— Um tablet? — interrompeu Raí.
— Não. Isso é um Agencyphone 12. Vem direto da filial d'A Agência no Japão, você se acostumará logo com ele. E por último este taser. É só isso, pode ir.
Raí surgiu na tela com o Agencyphone em mãos. Ele sentou no chão usando o aparelho. Ficou ali por um minuto. Seus colegas já estavam começando a reclamar quando as luzes da sala se apagaram.
— Hum. — fez novamente a agente Siqueira. Digitou no teclado e as câmeras mudaram para visão noturna, mostrando um Raí verde de olhos negros. Andava perfeitamente no escuro com o dispositivo na frente do rosto como se estivesse filmando. Os homens olhavam para os lados sem enxergar nada. "Se eu fizer como o Magno ela irá, provavelmente, chamar minha atenção". Havia um rapaz em sua frente, ele pegou o taser e praticamente fincou na costela do mascarado apertando o botão. Cinco mil volts foram liberados e ele caiu imediatamente.
Foi para o próximo corredor, não estava com a menor pressa. Chegou perto do outro homem e deu um chute forte em sua barriga. O rapaz caiu de joelhos e levou uma joelhada no rosto. O cearense foi para o terceiro —Humhum — fez com a garganta. O homem deu um golpe no ar, Raí se aproximou e eletrocutou-o no pescoço.
No próximo corredor, quando estava frente a frente com o mascarado, as luzes voltaram a se acender.
— Eita! — exclamou o menino colocando rapidamente seu Agencyphone dentro do pulôver. Desviou do primeiro golpe e atacou com o cotovelo. O homem era bom lutador, dava golpes que ele não conseguia desviar e tinha que defender. Até que por final, com a mão aberta, Raí deu um golpe seco ma garganta do adversário e depois um no estômago. Ele caiu com as mãos na garganta. "Tu vai ficar aí por um bom tempo", pensou o menino.
No próximo corredor só podia estar o homem armado. O agente Alves pegou a bomba, virou rápido no corredor e jogou com força. O dispositivo acertou a têmpora do mascarado, caiu no chão e explodiu. Antes de a escuridão tomar conta do corredor foi possível ver o homem cair desmaiado.
— E agora, de quem ele vai pegar a senha? — perguntou Felipe.
— Que gênio. — comentou a agente Müller rindo.
Magno reparou na intimidade que os dois já possuíam. Parecia que já se conheciam há anos. Será que ele faria parte daquilo? Esperava que sim, não seria legal se eles não se falassem agora que iam passar bastante tempo juntos.
Raí continuou seu caminho. Ao invés de voltar, saiu da nuvem de fumaça, foi até a porta, apertou o botão e disse:
— Habilidade.
A porta se abriu e ele saiu.
— Como...? — perguntou Tatiana boquiaberta.
A agente Siqueira olhou para a porta e ela se abriu.
— Como você fez aquilo? — perguntou ela.
— Estava escrito embaixo do símbolo d'A Agência no primeiro teste. Força, inteligência, vontade e habilidade.
— E tu parou pra ler no meio daquele caos. — admirou Felipe.
— Eu gosto de ler.
— Você foi ótimo Alves. Soube usar o Agencyphone, mas da próxima vez jogue a bomba de fumaça no chão — disse a agente Siqueira fazendo Tatiana soltar uma risada —. Bem...os quatro foram ótimos. Agora...vocês vão conhecer A Agência — ela fez sinal para eles saírem —. Deixem seus dispositivos aqui, você pode levar isso. — disse ela para Raí sobre o Agencyphone.
Depois de terem subido as escadas ela informou:
— Não sou eu quem vai guiar vocês, eu pedi a outro agente, mas...ele parece estar atrasado.
Um homem negro alto saiu do elevador. Usava as botas e calças pretas padrão com duas pistolas presas as coxas; uma regata cinza meio prateada com uma série de granadas presas a uma faixa que ia do ombro a cintura e mais uma pistola no peito. Na cabeça um grande fone de ouvido e parecia ter varias coisas grudadas às costas. "Aquelas granadas não são de fumaça", observou Raí. O agente era musculoso e vinha andando cantando baixinho em um objeto retangular preto. Veio aproximando e aumentou a voz afinada, colocou o "microfone" na frente do rosto da agente Siqueira a incentivando, mas ela apenas ficou o encarando. Ele colocou o fone no pescoço, tirou uma das pistolas da coxa e encaixou o objeto retangular.
— E aí gente?
— Você está atrasado. Pessoal, esse é o agente Rezende — a agente Siqueira se dirigiu ao agente —. Você me deve uma, então — ela voltou para os adolescentes — ele vai levar vocês. Agora eu tenho que sair em missão. — ela foi para o elevador sem se despedir de ninguém.
— Até mais, Vice. — disse o agente Rezende.
— Já disse pra não me chamar assim. — ela colocou uma mão na cintura e ergueu o rosto enquanto a porta se fechava. "A mulher tem estilo", pensou Felipe.
O agente se voltou para os quatro. Seus olhos eram verdes e ele tinha um cavanhaque perfeitamente simétrico. Tatiana e Felipe o olhavam de cima a baixo.
— Qual a sua habilidade? — perguntou o menino carioca.
— Eu leio pensamentos — respondeu o homem com um sorriso. Os dois rapidamente levaram a mão à boca com olhos arregalados. O agente riu —. Essa sempre funciona. Na verdade eu tenho uma mira boa, sabe? Nunca erro.
— É, dá pra ver. — comentou Raí.
— Agora vamos conhecer essa espelunca — disse Rezende —, começando pelo primeiro andar.
Não esqueça de deixar uma estrelinha se gostou! ^^
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