04 - Distrações são só distrações.
[26 de Abril de 1985]
Celine parou o chevette no que parecia um largo e grande parque municipal. Na frente a grande lagoa que Dandara se lembrava de ter ido poucas vezes na sua infância, o que significava, bons anos no futuro. Algumas coisas pareciam diferentes, mas Dandara não conseguia dizer ao certo o que eram já que suas memórias sobre aquele lugar eram vagas e longínquas.
Celine desceu do carro e antes que Dandara fizesse o mesmo ela abriu sua porta. Dandara saiu e quando olhou para as verdes e cuidadas gramas, viu que havia uma toalha de piquenique sobre o chão, com uma cesta bege que parecia cheia e flores amarelas em volta de toda a toalha.
— Você que fez tudo isso? – Dandara perguntou e apenas viu Celine concordar com a cabeça, como se aquilo não fosse nada demais.
Ela abriu o porta-malas do carro enquanto Dandara abria a cesta, havia uma quantidade grande de doces de todos os tipos, desde balas 7 belo¹, a saquinhos de doce de leite, alguns dos doces ela nem mesmo havia visto antes. Dandara podia conhecer Celine há apenas um dia, mas diria que tudo aquilo era muito a cara da garota loira.
Os fios loiros de Celine bagunçavam devido ao vento e a garota ajeitou sua bandana, logo tirando a vitrola do carro e caminhando em direção à tolha de piquenique. Dandara pegava os guarda-chuvas de chocolate que só havia comido em sua infância de dentro da cesta enquanto Celine colocava Lança Perfume da Rita Lee para tocar.
— Ei, esses são os meus chocolates! – Celine brincou pegando alguns das mãos de Dandara.
— Eram os meus favoritos quando pequena! – Dandara reclamou de boca cheia, tentando capturá-los novamente da mão de Celine.
— A-ha! Eram meus favoritos antes mesmo de você nascer. – Celine afirmou rendendo risadas das duas.
Mesmo que ambas já tivessem atingido a maioridade não muito antes, ali, entre tentar pegar o chocolate uma da outra e risadas espontâneas, elas mais pareciam duas adolescentes se divertindo ao som de músicas que dependendo do ponto de vista eram atuais ou antigas.
— Você sempre vem aqui? – Dandara perguntou depois que Celine cedeu e a entregou os chocolates.
— Não tanto assim. – Celine confessou sincera. – Eu amo o ar livre, mas passo a maior parte do tempo dentro do laboratório. – Celine disse pegando um pirulito de cereja e o enfiando na boca. – Você já veio aqui, antes?
— Sim, quando pequena, mas não me lembro muito disso.
— Aqui ainda irá mudar muito, eles irão fazer um gazebo ali. – Celine apontou para uma área pouco gramada do parque. – E irão adicionar coqueiros. E estarão tentando limpar a lagoa pelo aumento de lixo ao longo dos anos.
— Você veio aqui no futuro? – Dandara perguntou interessada.
— É. – Celine respondeu apenas.
— E o que mais viu no tempo em que esteve lá?
— Bom...um pouco de tudo. – Certas coisas até que não gostaria de ter visto, Celine completou em pensamento.
— E você gostou do que viu?
— Certas coisas eu mais que gostei. – Celine respondeu olhando bem nos olhos da garota em sua frente.
Por algum motivo o comentário de Celine havia deixado Dandara desconcertada, mas não incomodada de fato.
Já a loira, apenas buscava uma chance de quebrar a tensão que ainda existia entre elas.
— Escute, – Celine começou fazendo com que Dandara se desvencilhasse de seus pensamentos, enquanto ela tirava o pirulito vermelho de sua boca. – Acho que poderíamos dar uma volta de carro, o que acha?
— Eu posso dirigir? – Dandara perguntou animada.
— E você sabe? – Celine arqueou as sobrancelhas.
— Não muito...
— Então é claro que pode. – A viajante disse surpreendendo Dandara que abriu um sorriso largo e radiante. Celine jogou as chaves no alto para que a outra pegasse, e assim ela fez.
Com algo parecido com felicidade saltando de seu peito, Celine recolheu a toalha de piquenique, a vitrola e a cesta, os guardando no porta-malas e caminhando em direção ao assento do passageiro.
— Só não quebre meu carro. – Celine sentou-se. – Ele é o meu xodó. – Ela exagerou segurando o pequeno sorriso.
Dandara soltou uma risada e ligou o motor do carro.
***
— Mais devagar, Dandara, mais devagar! – Celine exasperava enquanto a garota ao seu lado se divertia.
O vento havia entrado pelas janelas abertas do carro vermelho e bagunçavam os cabelos das duas moças à medida que Dandara acelerava mais.
— Olhe isso, é tudo tão lindo. – Dandara dizia ao passar próximo a orla da praia. Era como estar em um filme retrô, só que era tudo real, ela realmente estava vivendo aquele show de brilho e discos de vinil.
— Tenha cuidado, Dandara, de verdade. – Celine pediu, mas se aliviou quando a garota começou a diminuir a velocidade.
— Deveríamos fazer uma brincadeira, aqui existe fusca azul?
— E você acha que essa brincadeira é da sua época? – Celine provocou rindo. –Fusca azul! – Ela exclamou aproveitando da distração da garota motorista e a desferindo um leve tapa no ombro.
— Aí!
— Dandara, preste atenção na pista! – A loira a alertou após sua distração, e logo sorrindo quando ela voltou a olhar a estrada enquanto dirigia mais cautelosamente.
Celine a guiou pela cidade que estava mais diferente do que Dandara poderia imaginar, até enfim pararem na calçada da casa de praia. Dandara desligou o carro e Celine puxou o freio de mão quando a outra já estava a se esquecer. As duas trocaram um singelo sorriso enquanto ainda permaneciam em seus respectivos assentos.
— Sabe, foi divertido.
— É, acho que sim. – Celine respondeu. – Tirando a parte que um pombo simplesmente cagou no para-brisa.
Dandara soltou uma risada alta quando se lembrou do ocorrido.
— Isso foi engraçado. E o passeio todo foi ótimo. – Ela deu uma pausa. – Mas...
Dandara havia estado tão imersa naquele divertimento, que durante todo o dia ela apenas se distraiu e esqueceu das coisas negativas. Se esqueceu dos problemas e da seriedade da situação.
— Mas? – Celine indagou.
— Mas eu tenho que voltar para casa.
Celine desviou o olhar e abriu a porta do passageiro, logo saindo de seu chevette.
— Eu não vou conversar com você sobre isso.
Dandara sentiu-se de repente revoltada, como se a alegria de minutos antes simplesmente se esvaísse de seus dedos. Saiu do carro e bateu a porta fortemente, logo apressando os passos para seguir Celine.
— Esse é o seu problema! – Ela vociferou. – Você não conversa, não fala.
— Eu já te disse tudo que eu tinha pra dizer. – Celine retrucou. – Te expliquei tudo.
— Você pode até ser uma cientista inteligentíssima, mas não pense que me engana, Celine. Olhe, diga para mim que você está me dizendo tudo, que não está deixando nenhuma informação passar! – Dandara mandou e apenas viu Celine desviar o olhar. – Viu? – Dandara sentiu seus olhos molharem mas segurou suas lágrimas, enquanto desacreditada e frustrada chutou uma latinha de refrigerante jogada na calçada.
Celine apenas entrou em casa, sem nenhuma expressão marcante no rosto ao mesmo tempo que Dandara se sentava na calçada, encarando nada em especial e sentindo a alegria sair totalmente de suas feições, e o mais triste para ela, era saber que estava de certa forma acostumada com aquela sensação.
✨🎡✨
Caso alguém não conheça, essas são as balas 7 belo
Obrigada por ler!
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