01: Completamente Fora de Cogitação
— Deixa eu ver se eu entendi. — Baekhyun certamente era a única pessoa naquela história toda que estava se divertindo, o que não era pra tanto, ele se divertia com qualquer coisa mesmo — Estão namorando a uns quatro meses e ainda não fizeram sexo?
Sehun bebeu mais dois goles de sua cerveja importada, a única que seu paladar insuportável apreciava, precisava estar um pouco mais bêbado para aturar aquela conversa constrangedora.
— Não, exatamente. — Jongin sempre preferiu o bom e velho whisky, e ao contrário do namorado, não se incomodava nem um pouco em usar palavras mais diretas e sem pudor — Sexo com a boca ainda é sexo, o problema é não poder usar o outro buraco, o Sehun é uma pessoa difícil de convencer.
Isso só fez o mais novo rir. Mais novo entre aspas, o Oh só era um garoto de novembro, enquanto Jongin havia nascido em fevereiro, isso não tornava o Kim o Matusalém de sua história, e nem dava a ele o direito de achar que conhecia bem mais do mundo.
— Eu sou uma pessoa difícil de convencer? — Estava indignado e não iria esconder isso, já tinha bebido o suficiente para começar a falar mais alto — Eu que sou? Por que você não cede, só para variar? Quando conversamos sobre morar juntos eu concordei em me mudar para o seu apartamento, acho que essa é a parte da nossa relação onde eu cedo, agora é a sua vez.
Baekhyun riu mais alto e bateu no peito de Chanyeol, seu namorado, que ainda não havia tomado partido na discussão, e nem iria. Jongin era seu amigo desde os tempos de faculdade, enquanto Sehun dividia com ele a mesma vizinhança, além de ter sido o responsável por apresentá-los, quase dois anos atrás.
Aqueles dois precisaram de um ano e meio para se darem conta de que estavam apaixonados, e agora estavam prestes a deixar tudo ruir por um detalhe bastante bobo.
— Nós dois somos ativos, e pelo visto, não tem ninguém disposto a querer experimentar novas posições. — Para o Kim, não havia muito mais a negociar, apenas aceitar o comum acordo — Que bom que existem mil jeitos de usar a boca, não é mesmo?
Foi uma risada bastante amarga, que em partes, combinava com ele.
— Ah, qual é?! — Chanyeol havia finalmente se enchido daquela conversa conformada — Não dá pra manter um relacionamento assim, uma hora vão se cansar disso ou, sei lá, sufocarem por acidente. Um boquete é bom, mas meter na bunda de alguém é muito melhor.
— Achei que o Chanyeol não estivesse bebendo. — Sehun estava um pouco surpreso com tantas palavras despudoradas.
Baekhyun puxou o celular das mãos do namorado, ficar pendurado naquele aparelho não fazia parte dos planos quando decidiram sair para beber um pouco com os amigos.
— E ele não está, só está sendo ranzinza.
— Não estou sendo ranzinza. — O Park não tinha mais o celular como refúgio, estava conferindo o placar do jogo o tempo todo, mas não assumiria isso agora. Optou por encher o copo com a cerveja morna e fingir que estava se divertindo muito com aquela conversa sem sentido e a música de dor de cotovelo que tocava baixinho — Só estou falando a verdade, podem estar apaixonados um pelo outro, mas uma hora esse sexo água com açúcar não vai mais saciar nenhum de vocês, ainda mais se inventarem de morar juntos, Baekhyun e eu moramos juntos, isso me dá uma base para saber como as coisas...
— Chanyeol, cala a boca. — O Byun praticamente enfiou o cotovelo esquerdo dentro de suas costelas e teria quebrado se tivesse um pouco mais de força. Todavia, por mais que tivesse se chateado com a língua sem freio alheia, não podia arrancar dele sua razão — Mas ele está certo quanto ao possível esfriamento da relação, precisam dar um jeito nisso.
Jongin olhou para Sehun, que mexeu os ombros para cima e para baixo, pronto para jogar qualquer responsabilidade sobre a cabeça dos outros.
— Que jeito? — A pergunta deveria ter sido retórica — Estamos aqui repetindo a mesma coisa a horas, nenhum de nós está a fim a ceder.
Chanyeol mexeu a língua de uma bochecha para a outra, e talvez não estivesse falando sério quando disse:
— Já pensaram em incluir um Jogador Número 03?
[...]
— Completamente fora de cogitação.
Sehun sabia o que se passava pela mente do namorado enquanto ele dirigia, demoraram dois meses até se darem conta de que não precisavam chegar em carros separados ou fingir que nada havia mudado dentro da empresa. Todo mundo já sabia, sempre souberam, e no fim ninguém ligava para nada, não fazia a menor diferença em seus contracheques.
O mal daquele casal era demorar demais até chegarem na conclusão óbvia, o tempo passava rápido demais e ainda teimavam com coisas pequenas e que só atrapalhavam.
— Claro, completamente fora de cogitação.
Sehun o beijou no elevador, era muita sorte estar vazio, ou talvez fosse apenas por conta de mais um atraso, sempre chegavam tarde quando passavam a noite juntos, deitados um ao lado do outro e fingindo que nenhum dos dois estava com o pau estralando enquanto os dedos deslizavam pelas coxas. Talvez Chanyeol tivesse razão, ou só estavam ficando paranoicos e se deixando serem atingidos com muita facilidade.
O Oh encarou seus olhos quando suas bocas se desgrudaram, até a forma como piscava deixava claro o que estava pensando.
— Completamente fora de cogitação.
Jongin cumprimentou seus funcionários enquanto caminhava até sua sala, o décimo terceiro andar era um dos mais vazios daquela empresa, e também o mais desejado, ter uma sala ali era um verdadeiro sonho de consumo. Portas de madeira maciça com o verniz brilhando e paredes tão grossas que poderia ter seu próprio show particular de Rock Pauleira ali dentro e mesmo assim não iria incomodar seus vizinhos.
Amava a vida que tinha, amava estar no topo e amava Oh Sehun, incluir uma terceira pessoa na relação estava completamente fora de cogitação.
Tentou não pensar nisso o dia inteiro, focou apenas na mesa cheia de papeis e nos outros mil problemas que já acompanhavam sua vida, pelo menos, deles não havia como enjoar e estavam sempre arranjando um novo jeito de foder com a sua vida. Que engraçado! Até os problemas fodiam, apenas Sehun e ele que não.
Seu namorado apareceu quase meio-dia, a fome estava estampada em sua cara, fome de muitas coisas, só para variar.
— Onde vamos almoçar hoje? — O Oh perguntou assim que fechou a porta, chegava a parecer animado, ou apenas fingia muito bem, ainda estava sendo afetado pela pequena ressaca e os pensamentos intrusos que Chanyeol havia enfiado em sua cabeça — Estava pensando em comida tailandesa, conheço um lugar aqui perto que é ótimo.
Jongin precisou de alguns segundos para voltar à realidade.
— Estou um pouco cansado e atolado em trabalho. — Em partes, não chegava a ser uma mentira, sua mesa cheia de papeis estava ali para servir como uma prova — Tudo bem se a gente pedir alguma coisa e comer aqui?
Sehun pareceu decepcionado por meio segundo, mas preferiu deixar isso para lá. Gostava de ter um namorado e andar por aí o exibindo, também gostava de tê-lo apenas para si, aquele olhar dele era muito sexy e o excitava com uma velocidade assustadora.
Esse que era o problema, finalmente se lembrou.
— Eu sei o que está pensando. — O Kim o acusou tão rápido que acabou o deixando sem defesa — E não é uma boa ideia, estamos no trabalho.
— É horário de almoço e eu posso trancar a porta. — Arrumou um argumento, sempre arrumava — Vai ser rápido, eu sou bom no que faço, e precisa admitir que fico melhor a cada dia.
— Claro que fica, estamos praticando muito.
Não era para rir daquilo, não tinha graça, na verdade se tratava do mais puro suco de desespero, além de ser triste se dar conta de que seus amigos estavam mesmo certos, não estava mais dando para lidar com aquilo, iriam acabar ficando doidos ou perdendo um dente ou outro.
Patético!
Sehun se sentou sobre o único espaço disponível na mesa, usou os pés para tirar os sapatos e não se incomodou com suas meias manchando a calça tão bem lavada do Kim.
— E se a gente tentasse alguma coisa com os pés?
— Prefiro me jogar daquela janela e procurar um demônio para foder no Inferno. — Jongin falava sério e seu namorado sabia disso — Eu sei que a outra opção está completamente fora de cogitação, mas se fossemos, por acaso, como quem não quer nada, cogitar...
— Jongin, eu te amo.
O Kim havia sido pego de surpresa, Sehun nunca havia dito em voz alta, e por mais que aquele definitivamente não fosse o melhor local ou a melhor hora, estava feliz em ouvir.
— Eu também te amo, Sehun. — O moreno arrastou a cadeira para ficar mais perto, com ambos se esticando conseguiam fazer aquele beijo acontecer, e era bom poder dividir um pouco de amor em meio a toda aquela bagunça.
Estavam certos, uma terceira pessoa estava fora de cogitação, poderiam fazer aquilo acontecer, estava tudo bem.
— Por mais que eu fosse adorar ver como isso funciona... — A porta estava aberta, Baekhyun havia se enfiado para dentro e já estava mais do que pronto para dar sua sincera opinião sobre tudo — Chanyeol não iria gostar, ele é completamente contra voyerismo, aliás, isso é outra coisa que eu poderia sugerir, já que não podem fazer um com o outro, poderiam tentar ver outras pessoas, e até poderia ser...
— Baekhyun, o que veio fazer aqui? Você trabalha dois andares à baixo. — Jongin foi o primeiro a reclamar.
O Byun cruzou os braços, meio ofendido.
— Eu só vim perguntar se vocês pensaram na sugestão do Chanyeol, nada demais.
— Completamente fora de cogitação. — Sehun se sentia um disco arranhado sempre repetindo a mesma coisa — Estamos bem.
Baekhyun arqueou as sobrancelhas, estava em completa descrença, havia conversa sobre isso com Chanyeol na noite passada e ambos chegaram à conclusão de que não seria o fim do mundo, seus amigos estavam exagerando mais uma vez e prontos para se enfiarem em mais um casulo de negação.
Um ano e meio para assumir que queriam um ao outro, e talvez mais do que isso para se darem conta de que eram dois teimosos nadando contra a maré da inevitável relação bagunçada.
— Tem certeza? — O Byun estreitou os olhos — Porque eu tinha pensado em um candidato à vaga.
[...]
— Completamente fora de cogitação.
Quando o elevador parou no quarto andar, muita coisa ficou subentendido, o suficiente para fazer Sehun querer apertar o botão do andar 13 de novo, e teria feito isso se Baekhyun não tivesse os empurrado para fora.
Aquele lugar tinha arquivos saindo de todos os buracos e cheirava a creme contra acne.
— Eu ainda nem falei quem é. — O mais baixo se defendeu — Não tire conclusões precipitadas.
— Não estou tirando conclusões precipitadas. — Sehun cochichava, e ele odiava ter que cochichar, o que já deixava claro desde o começo de que aquilo daria muito errado — Mas não passei cinco anos na melhor faculdade de Direito do país para acabar comendo o cara do almoxarifado.
Baekhyun pisou em seu pé de propósito.
— Não seja preconceituoso, burguês safado. — Estava com o dedinho levantado, era sua pose inicial de discussão — Existe mais de uma pessoa no almoxarifado, sabia?
— Que surpresa. — Sehun estava sendo irônico — Tá, então mostra logo quem é esse seu tal candidato tão incrível.
Já bastava.
O Byun os arrastou até uma janela lateral de vidro, que não era muito grande, mas suficiente para ver o lado de dentro daquela sala abarrotada de papeis. Por um segundo, pareceram dois adolescentes espiando através da cerca do vizinho e aquilo era patético.
— Onde ele está?
— Ali, atrás daquele arquivo, com moletom do Scooby-Doo.
— O esquisitinho?
— Ele não é esquisitinho. — Baekhyun estava disposto a defender seu candidato com unhas e dentes, mesmo não sabendo muitas coisas a respeito dele, o que sabia já era o suficiente — Acreditem em mim, pelo que dizem por aí, tem muita coisa debaixo daquele moletom.
Jongin o olhou pronto para assinar uma carta de demissão, talvez até duas.
— Pelo que dizem por aí? — Estava incrédulo — Então toda a sua opinião é baseada em fofoca de corredor?
— Bom, basicamente...
Baekhyun não conseguiu os impedir quando Sehun e Jongin voltaram para o elevador. Entretanto, ainda não estava pronto para desistir de provar seu ponto, isso estava completamente fora de cogitação.
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