Perseguição
— Para quem não queria vir à praia, você até está se divertindo — comentei, fazendo Bru rir ainda mais enquanto saíamos do mar depois de um mergulho refrescante.
— No estado em que estou, não tinha muita opção de coisas para fazer hoje — ela falou, pegando uma toalha que tinha deixado na areia, começando a se enxugar.
Nós bem que tentamos repetir a programação de ontem assim que chegamos, mas nós duas estávamos tão sensíveis que o mínimo toque nos fazia gemer de dor. Então a única opção que tínhamos era ficar o dia dentro de casa sem fazer nada ou simplesmente curtir a praia. E depois de tomarmos café da manhã na varanda, trocamos os pijamas por roupa de banho e viemos para a praia, juntinhas de toalhas, guarda sol e protetor solar para Bru.
— Vou pegar água para nós — avisei depois de me secar também, puxando-a para um beijo rápido. — Quer mais alguma coisa?
— Não, obrigada.
Tinha dado apenas alguns passos em direção à casa quando me voltei apenas para ver Bru se acomodando na areia debaixo do guarda sol, depois de ter estendido uma esteira. Mesmo não tendo a mínima condição de transar com ela naquele momento, quando a vi ali ficando rapidamente de quatro antes de deitar de bruços, meu membro reagiu de imediato, feliz com a visão.
— Pequena, pequena, você me transformou numa maníaca sexual — murmurei para mim mesmo, abanando a cabeça, jogando minhas trança braids de lado, para logo tentar afastar aquela ideia, antes de lhe dar as costas e continuar meu caminho até a casa.
Quando estava entrando na cozinha para pegar duas garrafas de água na geladeira, no entanto, um barulho no andar de cima me deixou em alerta. Quando percebi que o barulho eram passos, olhei ao redor em busca de algo para usar como arma, mas não havia nada. Fazendo o mínimo de barulho possível, andei até a sala e peguei um atiçador de lenha, que estava ao lado da lareira, pronto talvez uma mulher com um atiçador e um olhar mortal para usá-lo como arma.
Invasões em casa de praia não eram muito comuns naquela área, mas havia casos registrados. Ainda mais quando uma casa ficava tanto tempo vazia quanto a minha. Se nunca tinha sido roubada, era graças a segurança eletrônica que tinha instalado. Mas o alarme estava desligado desde que cheguei com Bru na manhã anterior.
Voltei a ouvir passos, dessa vez se aproximando das escadas e logo via os pés descendo os degraus. Havia dois homens.
Mas quando finalmente consegui ver seus rostos que agora me encaravam surpresos por me ver ali com um atiçador de ferro pronto para atacá-los, não consegui relaxar mesmo reconhecendo aqueles dois.
Marcos e Renatinho estavam ali.
— O que vocês estão fazendo aqui? — perguntei por fim depois de encostar o atiçador de ferro num canto, tentando não deixar meu tom nervoso ou irritada demais, mas duvidava que tenha sido bem sucedida.
— Eu... Nós... — Renatinho começou, lançando um olhar para o atiçador e então para Marcos, que apenas levou uma mão aos cabelos. — O que aconteceu com o seu rosto? Andou brigando?
— Isso não é da sua conta, Marcos. Aliás, não é da conta de nenhum de vocês. — Respirei fundo para evitar começar a gritar, mas quando vi Renatinho olhando ao redor como se procurasse algo, ou alguém, foi impossível continuar calma. — Eu não admito que vocês tentem controlar a minha vida dessa forma. Com quem eu estou ou onde estou é apenas da minha conta. Vocês são meus filhos e o mínimo que devem fazer é me respeitar, e não me seguir de Manhattan até aqui como se tivessem o direito de xeretar a minha vida.
— Se a senhora não ficasse nos escondendo nada, nós–
— Escondendo? — cortei-o quando Marcos tentou falar mais alto que eu, como se achasse que o que estava fazendo era certo. — Então eu não tenho mais direito a uma vida privada? É isso? Porque eu não lembro de ter cobrado nada disso de nenhum de vocês antes. Nunca perguntei com quem vocês saíam ou namoravam, e desde que os dois fizeram dezesseis anos nem mesmo cobro horário para voltarem para casa. E nunca, em hipótese alguma, segui vocês para qualquer lugar apenas porque precisava saber onde estavam ou com quem.
— Nós só estamos querendo fazer parte da sua vida, só isso. Porque desde que a senhora se separou da mamãe–
— Não venha com essa conversa de novo, Marcos. Isso não é você sentindo saudade de mim. Isso é você, ou vocês, se sentindo impotentes porque não estão no controle da situação como sempre estiveram. E me desculpem se eu estou dando um pouco de prioridade a minha felicidade agora, mas é que eu pensei que vocês já estavam crescidos e maduros o suficiente para seguir com as suas vidas com os seus próprios pés. Mas já vi que me enganei.
Nem Marcos e nem Renatinho falaram nada depois disso, apenas me encarando de volta, todo o desafio tendo desaparecido dos seus rostos, enquanto eu respirava fundo para tentar me controlar. Há muito o susto da presença deles já havia sido substituído por raiva. Eu não conseguia acreditar que eles tinham mesmo tido aquela absurda ideia de me seguir até ali.
— Como vocês souberam que eu estava aqui, afinal?
— A sua secretária, contou — Renatinho respondeu num tom baixo.
Eu queria poder culpar a minha secretária por ter falado demais, mas conhecia bem meus dois filhos para saber que eles poderiam ser bem persuasivos quando queriam.
— Desisto de ficar lá fora. Está muito quente!
Nós três nos voltamos ao ouvir aquela voz, meus filhos com total surpresa, enquanto o pavor voltava a me dominar. E quando Bru entrou na sala apenas de biquíni, imediatamente estancando ao ver que eu não estava sozinha, cheguei a sentir meu coração falhar uma batida.
Segundos passaram em que nada foi dito. Bru alternava o olhar, passando por mim e pelos meus filhos, seus seios subindo e descendo ao acompanhar sua respiração acelerada. Eu não estava muito atrás, mas fiz o possível para demonstrar ao menos um pouco de calma quando Renatinho, que foi o primeiro a reagir, desviou o olhar de Bru para me encarar.
— O que significa isso? — ele perguntou com o olhar de acusação, embora nós dois soubéssemos que aquela era uma pergunta retórica. Estava muito óbvio o que aquilo significava.
— Bru? — Marcos murmurou num tom descrente, antes de me encarar também. — Mãe?
Senti-me incapaz de sustentar o olhar dos meus filhos naquele instante, precisando respirar fundo para raciocinar com clareza. Mesmo sabendo que seria impossível mentir e tentar explicar aquela situação com alguma desculpa, ainda não havia encontrando uma forma de dizer a verdade. Quando um movimento atraiu minha atenção, ergui o rosto, vendo Bru recuando um passo enquanto tirava uma bata branca de dentro da bolsa de praia, vestindo-a apressada. Seu olhar encontrou o meu em certo momento e mais uma vez respirei fundo, só então encontrando minha voz novamente.
— Não era bem assim que eu queria que isso acontecesse, mas não é como se eu tivesse opção agora — comecei. Ignorando meu coração que martelava em meu peito, estendi uma mão em direção a Bru, que se aproximou de forma receosa antes de entrelaçar nossos dedos. — Vocês queriam tanto descobrir com quem eu estava, quem era a minha namorada, e agora conseguiram, mesmo que para isso tenham precisado agir como duas crianças que não se conformam com um não. Eu e Bru estamos juntas— falei por fim, sentindo os dedos da pequena ao meu lado apertarem minha mão com mais força. — Era isso que vocês queriam saber? Satisfeitos agora?
Meus filhos me encaravam em completo choque, parecendo precisar de tempo para processar aquilo. Enquanto isso, Bru parecia querer se esconder atrás de mim, mas eu a mantive ao meu lado, apenas acariciando sua mão com o polegar.
— Isso... Isso não é... — Marcos começou, mas pareceu não encontrar palavras.
— Vocês só podem estar de brincadeira — Renatinho falou por fim, seu tom alto e forte demais fazendo seu irmão se sobressaltar ao seu lado, como se despertasse de um transe.
— Que palhaçada é essa, mãe? — Marcos esbravejou, seus olhos castanhos escuro repentinamente injetados de raiva. — Foi por ela que a senhora trocou a mamãe? Por ela?!
— Mais respeito. Os dois — ordenei, conseguindo falar por entre os dentes ao invés de gritar como queria, apenas por ter sentido Bru se retesando ao meu lado.
— Como a senhora quer exigir respeito quando sai por aí se engraçando com uma pirralha?! — Marcos devolveu, continuando a gritar. — O que é isso agora? Crise de meia idade? Pegar garotinhas mais novas é bem deprimente, Dr. Oliveira, mas a senhora se superou.
— Para com isso, Marcos — Bru pediu num tom fraco antes que eu tivesse a oportunidade de falar qualquer coisa.
Mas dessa vez quem respondeu foi Renatinho, que só então aparentou ganhar mais confiança para falar.
— Eu acho melhor você ficar na sua, Gonçalves. Fica calada antes que eu comece a achar que tudo isso não é culpa sua. Porque se isso não passou de um plano da menina pobre para fisgar a mulher rica, as coisas vão feder um pouco para o seu lado. — Aquela acusação me pegou tão de surpresa que por um instante não consegui reagir. — Quem era o alvo principal? Eu? Marcos? Você se aproximou de nós na escola como não quer nada, sondando... E então encontrou a oportunidade perfeita de pegar não um dos herdeiros, mas a patroa, dona de todo o dinheiro.
— Desde quando isso vem acontecendo? — Marcos perguntou, apoiando as palavras do irmão. — Desde quando essa pouca vergonha está acontecendo?
— Já chega! — gritei, tão alto que Bru quase pulou ao meu lado, mas apenas apertou minha mão com ainda mais força. — Quem vocês dois pensam que são para falarem assim? Eu não criei nenhum de vocês para agirem como dois moleques mimados que acham que podem tudo. Porque vocês não podem! Não ousem erguer a voz comigo novamente, ouviram bem?! Eu não sou nenhuma dos seus amigos. Eu sou sua mãe e exijo ser tratado como tal. — Quando tinham qualquer intenção de continuar falando, respirei fundo, lançando um rápido olhar para Bru. Ver as lágrimas que escorriam pelo seu rosto me fez sentir a pior das mulheres por meus próprios filhos terem provocado aquilo. — Se vocês querem me julgar, fiquem à vontade. Apenas saibam fazê-lo, porque eu ainda sou sua mãe. Mas eu não admito que tratem Bru dessa forma. Nesse instante ela não é a colega de escola de vocês. Não é a garota do primeiro ano que vocês conheceram há pouco tempo. Nesse momento Bru é a minha namorada e a mulher que amo. E é com ela que eu quero passar os próximos anos da minha vida. O resto da minha vida se tiver essa sorte.
Se Renatinho já parecia surpreso com tudo aquilo, me ouvir dizer que amava Bru quase fez seu queixo cair em descrença. Marcos por sua vez continuava apenas nos encarando com fúria.
— Eu quero vocês dois peçam desculpas a Bru agora — ordenei.
— A senhora não pode estar falando sério — Renatinho murmurou ainda com a mesma expressão.
— Não estou? — Respirei fundo mais uma vez antes de continuar. — Vamos ver se vocês levam a sério assim. De agora em diante, nada de carro, nada de dinheiro, nada de saídas à noite. Se quiserem comprar alguma coisa ou sair durante o dia, vocês vão de ônibus ou metrô. Com o dinheiro de vocês.
— Que dinheiro se a senhora acabou de dizer que vai cortar nossos cartões? — Marcos retrucou como se tivesse acabado de achar uma falha no meu castigo.
— Arrume um emprego, Marcos. Passe a agir como um adulto que você acha que é. Enquanto os dois não me provarem que não são mais duas crianças, continuarão sendo tratados como tais.
Os dois trocaram olhares sem falar nada e eu quase via a respiração pesada saindo em bufadas irritadas. Ainda em silêncio, eles começaram a rumar em direção à porta.
— Aonde vocês pensam que vão? — perguntei, aumentando o tom de voz novamente.
— Para casa — Marcos respondeu olhando rapidamente por sobre o ombro com uma sobrancelha arqueada. — Começar o nosso castigo.
— Não, não — os interrompi mais uma vez quando eles continuaram andando, dessa vez falando com uma voz excessivamente calma. — O castigo começa agora. O carro fica. Vocês vão voltar para casa comigo.
Ignorando a expressão chocada dos dois, simplesmente puxei Bru pela mão e a levei para o andar de cima, andando um pouco mais rápido do que suas pernas trêmulas conseguiam acompanhar. Quando chegamos ao quarto, passei direto por ele e entrei no banheiro, fechando a porta atrás de mim. Antes mesmo que conseguisse puxá-la para os meus braços, Bru já soluçava de tanto chorar.
— Calma, pequena — sussurrei, apertando-a com força contra o meu peito, passando a acariciar seus cabelos úmidos pela água do mar.
— Eu n-não... E-eu juro que não é verdade, L-Ludmilla— Bru gaguejou, erguendo o rosto para me encarar com os seus olhos vermelhos e molhados pelas lágrimas que ainda escorriam. — Eu não planejei nada disso.
— Por Deus, Bru, você acha mesmo que eu penso dessa forma? — questionei surpresa. — Acha que algo do que eles disseram lá embaixo deve ser levado em consideração?
— Eu só não... Não quero que você pense que–
— Minha pequena — interrompi-a, segurando seu rosto entre minhas mãos —, se você está interessada no meu dinheiro, então eu estou tendo uma crise de meia idade. Você acha que esse é o meu caso? — Bru rapidamente meneou a cabeça em negativa, um projeto de sorriso quase despontando em seus lábios. — Tenta esquecer tudo que eles falaram, ok? Por favor. Não apenas porque eram tudo delírios, mas porque já estou me sentindo mal o suficiente por meus filhos terem falado aquelas coisas para você e te feito chorar.
— Não foi culpa sua.
— Eu sei que não, meu amor. Mas eles são meus filhos e não tinham o direito de falar com você daquela forma. — Depositei um terno beijo em sua testa antes de voltar a encará-la. — Pelo visto as coisas com eles vão ser um pouco mais difíceis do que eu imaginei. Talvez até mais difícil do que com o seu pai.
— Você acha?! — ela resmungou com sarcasmo.
— Desculpe por isso — murmurei. — Mas se você for paciente e ficar ao meu lado, eu prometo que dou um jeito nisso.
— Não quero que você brigue com Marcos ou Renatinho por minha causa.
— Eles buscaram essa briga, Bru.
— Mas você deixar os dois de castigo pelo resto das férias só vai fazer com que eles me odeiem mais ainda.
— Se eles forem espertos, isso não vai acontecer. Mas aqueles dois precisam de uma lição. Não posso deixar que eles se comportem daquela forma e não fazer nada.
Pela forma como Bru mordia os lábios, eu tinha certeza de que ela queria falar alguma coisa, mas preferiu ficar em silêncio. Abracei-a por mais um tempo, esperando que seu corpo parasse de tremer pelo choro e então entrei com ela debaixo do chuveiro, tomando um banho sem pressa.
— Não sei se foi uma boa ideia fazer com que eles voltem conosco no carro — Bru comentou enquanto nos enxugávamos.
— Quanto a isso... Nós vamos ignorá-los por todo caminho, ok? Vamos fazer de conta que eles nem mesmo estão no carro.
— Ai meu Deus! Eles vão me odiar — Bru reclamou, escondendo o rosto entre as mãos.
— Relaxa, pequena. Eu sei o que estou fazendo.
Deixei Bru terminando de se vestir e desci as escadas, encontrando Marcos e Renatinho sentados no sofá da sala, os dois de braços cruzados e cara emburrada. Pedi a chave do carro deles e a guardei na minha bolsa antes de recolher o restante das minhas coisas e de Bru, voltando para o andar de cima em seguida. A última pessoa que faltava saber sobre nós duas era Júlia e eu achei por bem ligar logo para ela e explicar a situação. Não queria fazer isso na frente de Bru, mas era melhor que ela soubesse daquilo por mim do que pelos filhos irritados que poderiam acabar falando demais.
Quando contei que os garotos tinham acabado de conhecer Bru e que eles não tinham reagido bem, ela prontamente apoiou meu castigo, dizendo que eles não podiam se comportar daquela forma. No entanto, assim que falei quem era a pessoa especificamente, um minuto de silêncio se seguiu. No fim ela apenas disse que não sabia o que falar e me desejou boa sorte com nossos filhos. Percebi pelo seu tom que aquela notícia não tinha caído bem para ela, mas agradeci internamente por não ter recebido nenhuma crítica da sua parte.
Ao descermos, passamos direto pelos dois que continuavam sentados em silêncio, mas logo levantaram quando perceberam que estávamos de saída, nos seguindo para fora da casa. Da mesma forma guardamos tudo no carro, com Bru evitando olhar para eles e eles praticamente a fuzilando com o olhar em resposta.
— Não quero ouvir uma palavra de qualquer um dos dois, fui clara? — alertei, segurando o braço de Renatinho quando ele ia entrando no banco de trás. Nenhum dos dois respondeu, mas isso era um bom sinal.
Bru só entrou no carro depois que eu tinha entrado e colocou o cinto de segurança enquanto eu começava a manobrar para fora da entrada da casa. Logo estávamos pegando a estrada que nos levaria de volta para Manhattan.
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Só eu estou chateada com esses dois, Lud maravilhosa exaltando a Bru, e a reação da Júlia 👀 até amanhã pessoas 😘
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