Meu amor| conhecendo os sogros| confusão
Capítulo contém agressão contra mulher, em respeito aos leitores se não gostam, aconselho não ler, lembrando qualquer agressão contra a mulher é NÃO, e denunciem.
—————————————————
— Para onde a senhora vai assim tão arrumada?
Ouvi a voz de Renatinho um pouco atrás de mim e me voltei no meio das escadas, esperando que ele me alcançasse.
— Bom dia, filho. — Continuei descendo as escadas, mas fui detida de me afastar quando sua mão segurou meu braço.
— A senhora está indo encontrar com ela? — ele perguntou e me soltou assim que me voltei.
— Sim, Renatinho. Nós vamos almoçar juntas. Algum problema com isso?
Ontem tinha feito dois meses que estávamos juntas e depois de passar mais de uma semana sem vê-la — porque os cinco minutos no domingo não contava — era óbvio que estava mais que ansiosa para encontrar Bru. Tínhamos conversado na noite anterior e eu lhe contei que tinha falado sobre nós duas para os meninos, dizendo que eles tinham reagido bem. Passada essa etapa, combinamos que estava na hora de conhecer a sua mãe e assim não precisaríamos mais sair escondidas de ninguém. Mas mesmo não precisando mais mentir sobre o lugar para onde estava indo, ainda me pus na defensiva quando Renatinho fizera aquela pergunta como se me acusasse de estar fazendo algo errado.
— Não senhora — ele respondeu num tom mais contido.
— Ótimo. — Comecei a me afastar, mas parei no meio do caminho quando Renatinho falou novamente.
— Chame-a para jantar conosco hoje — ele sugeriu de repente.
— Hoje não, Renatinho — falei apenas antes de continuar andando, dessa vez conseguindo chegar à garagem sem interrupção.
Deixei o carro no estacionamento de sempre, perto do apartamento de Bru, dessa vez no entanto tendo que esperar um pouco para conseguir uma vaga, por ser manhã de sábado. Quando cheguei ao prédio, estava oficialmente atrasada e subi as escadas correndo , ou melhor tentando o máximo equilíbrio no salto agulha, depois que Bru abriu a porta para mim através do interfone. Bati à porta do 304 apenas uma vez antes que ela a abrisse para mim, um sorriso nervoso brincando nos seus lábios.
— Desculpe o atraso.
— Tudo bem. — Se afastando para o lado, Bru abriu mais a porta, permitindo que eu entrasse. — Minha mãe está na cozinha. Vou chamá-la.
— Bru, espera — a detive quando ela tentou se afastar, baixando o tom de voz. — O que você contou para ela?
— Não muito — ela se apressou a responder. — Só que você era um pouco mais velha.
— Um pouco?! — exclamei alarmada, ainda num sussurro.
— Não fica nervosa, ok? Eu já estou nervosa o bastante por nós duas.
Dito isso, Bru se afastou apressada em direção à cozinha, me deixando sozinha na sala com aquela metade de boneca que agora parecia me encarar como se me acusasse de algo.
Respirei fundo para recuperar a calma quase perdida, lembrando que eu não era nenhuma adolescente para ficar com medo de conhecer os pais da namoradinha da escola. Há muito tempo tinha passado dessa fase. Ainda assim, quando ouvi os passos se aproximando, foi impossível impedir meu coração de acelerar.
— Mãe, esse é a Ludmilla Oliveira — Bru começou as apresentações, parando ao lado da mãe. Sua voz tremia um pouco enquanto ela falava. — Ludmilla, essa é minha mãe, Mia Gonçalves.
— Prazer em conhecê-la, Mia — a cumprimentei, estendendo uma mão em sua direção, que ela prontamente aceitou. Cheguei a pensar em tratá-la com um pouco mais de formalidade, como uma namorada normal faria, mas nada ali era assim tão normal. A forma como a mãe de Bru me encarava, mordendo os lábios como se tentasse conter as palavras, certamente não era normal.
— Igualmente, Ludmilla — ela falou por fim depois de um silêncio um pouco longo demais.
Mia se afastou em direção ao sofá laranja, sentando sozinha nele enquanto eu ia com Bru para o maior. Eu não tinha pensado na possiblidade de ela querer conversar realmente, na verdade. Na minha cabeça, iríamos apenas ser apresentadas e então eu poderia sair com Bru para a nossa comemoração atrasada de dois meses juntas.
— Bem, Bru me falou que você está se divorciando — ela comentou, ao que eu apenas assenti. — E sua esposa... ex-esposa, sabe sobre minha filha?
— Sim. Elas não se conhecem, mas Julia sabe sobre Bru.
— E como vocês se conheceram? — Mia perguntou, franzindo o cenho de uma forma bem parecida a como Bru fazia quando estava intrigada.
— Através dos meus filhos. Eles fizeram uma pequena festa na minha casa e Bru foi uma das convidadas.
— Ah, você tem filhos?
— Sim, dois.
— E quantos anos eles tem?
— Renatinho tem dezoito, quase dezenove. E Marcos acabou de completar dezoito.
— Ah. — A sua pequena exclamação foi seguida de um momento de silêncio, antes que ela se mexesse desconfortável no sofá. — Eles não são da turma de Bru, então.
Eu sabia o que aquela afirmação significava. Era apenas uma forma diferente de dizer que eles eram mais velhos que Bru.
— Não, eles não são. Eles se conhecem porque Bru estuda Química com Lari, namorada de Renatinho.
— Eu conheço Lari — ela comentou com um sorriso, o primeiro que dava desde que nos conhecemos. — Um amor de garota. Essa semana mesmo ela veio aqui e passou o dia com Bru assistindo filmes e comendo pipoca. Ali está uma que é pé no chão, mesmo com todo o dinheiro que tem. Não é como algumas pessoas que–
— Mãe, por favor — Bru a interrompeu com um suspiro. — Não é só porque o pai do Jorge lhe tratou mal, que a senhora deve julgar todos por igual.
— Aquele ali acha que tem um rei na barriga.
— Nós precisamos ir, ok — Bru anunciou, já ficando em pé. — Ainda vamos almoçar antes de ir ao cinema.
— Ah, claro. — Quando Bru saiu da sala para pegar sua bolsa no quarto, no entanto, eu logo percebi que Mia ainda não tinha acabado de falar comigo. — Ludmilla, não vou negar que fiquei surpresa quando vi que você era um pouco mais velha do que tinha imaginado. Mas eu confio no julgamento da minha filha, então não vou falar nada a respeito. Só espero que você não a magoe, independentemente da orientação sexual, é um pouco confuso não me entenda como leiga, prezo-me pela felicidade da minha filha e suas escolhas.
— Não vou, Mia — assegurei. — Sei que essa situação é estranha para você, porque também era para mim no começo, mas eu amo Bru e a última coisa que quero é magoá-la.
— Bom ouvir isso. Só fale logo com o Tom, está bem? Se ele descobrir isso por outra pessoa, será pior.
— Vamos? — Bru chamou assim que chegou na sala, falando um pouco mais alto que o normal com o único propósito de interromper a conversa.
— Claro. — Fiquei em pé, sendo imitada por Mia. — Foi um prazer conhecê-la.
— Igualmente, Ludmilla. Apareça, está bem? Podemos fazer um jantar de casais, de repente.
— Até mais tarde, mãe — Bru falou rápido, já me empurrando discretamente para a porta.
Quando saímos do apartamento, Bru começou a me puxar em direção as escadas, andando tão rápido que quase corria, e o salto não ajudava em nada.
— Hey, por que a pressa? — perguntei, impedindo-a de continuar quando estávamos na escadaria entre o segundo e primeiro andar, e parei um degrau abaixo do seu.
— Porque eu quero te afastar logo da minha mãe antes que ela me deixe mais sem graça — ela murmurou quando a puxei de encontro ao meu corpo, abraçando-a com força. Bru logo me abraçava de volta, envolvendo meu corpo com seus braços delicados, enquanto eu escondia meu rosto na curva do seu pescoço, sentindo aquele perfume delicioso embriagando meus sentidos. — O que ela falou quando eu não estava na sala?
— Só pediu para eu não te magoar — respondi, minha voz saindo abafada. — Senti tanto a sua falta, pequena.
— Eu também. Muita mesmo.
Afastei meu rosto do seu pescoço, mas apenas para buscar seus lábios, sentindo seu corpo estremecer quando a beijei. Eu não estava muito atrás, me sentindo levemente dormente e extremamente arfante apenas por aquele contato. Senti-lá respirar fundo com meu contato, levantando seu corpo, junto ao meu. — Passar mais de uma semana longe dela definitivamente não fizera bem para nenhuma das duas. Nem bem percebi quando ou como fiz isso, mas ao final do beijo, me dei conta de que estava com Bru presa entre o meu corpo e a parede às suas costas, suas mãos agarrando minha nuca com força, enquanto minhas duas mãos se mantinham presas ao seu quadril, puxando-a contra mim.
— Não tem câmeras por aqui, tem? — perguntei com a voz entrecortada pela falta de ar.
— Não — Bru respondeu depois de respirar fundo, ainda sem diminuir o aperto das suas mãos na minha nuca. — Mas minha mãe vai sair daqui a pouco. E acho que não seria muito legal ela nos pegar aqui nessa situação.
Por "situação" Bru se referia ao meu estado um tanto dura demais, evidente mesmo com meu vestido de cetim. Sorrindo, beijei sua boca mais uma vez, só de leve, antes de me afastar, pegando a mão de Bru na minha. Descemos as escadas devagar, sem pressa de chegar lá fora, me dando tempo para me recompor.
— Você vai enjoar de mim desse jeito — Bru murmurou com a voz soando abafada, por estar com o rosto escondido no meu peito enquanto eu a abraçava.
— Isso nunca vai acontecer, meu amor — assegurei, deslizando meus dedos pelas suas costas nuas, sentindo-a estremecer com o toque.
Não importava que eu tivesse visto Bru todos os dias naquelas duas últimas semanas — seja no seu apartamento, onde estávamos agora, ou simplesmente tomando o café da manhã juntas como tínhamos feito no domingo e há dois dias —, parecia nunca ser suficiente. Eu sempre estava com saudade dela, querendo ver ou falar com ela o tempo todo. A cada dia que passava, eu tinha mais e mais certeza de que ela era a pessoa certa para mim. Não lembrava a última vez que estivera tão feliz.
— Nem quando você for morar comigo — completei.
— Isso não vai acontecer tão cedo, amor.
Sim, eu tinha pedido a Bru para ir morar comigo, mas nós duas sabíamos que isso seria impossível até que meus filhos a conhecessem e se acostumassem com a situação. Apesar de Bru estar muito negativa quanto a isso, eu tinha esperança de que as coisas corressem bem. É claro que sabia que os dois ficariam muito surpresos ao descobrir aquilo, mas isso não queria dizer que seria uma surpresa ruim. Ainda assim ela preferia esperar mais um pouco. Não apenas pela mudança, mas para ser apresentada a eles como minha namorada. Na verdade, Bru nem cogitava a hipótese de morar comigo agora.
Sua mãe podia ter reagido bem ao nosso relacionamento, mas isso não significava que ela permitiria que Bru fosse morar comigo assim tão rápido. Mesmo eu querendo ignorar aquele detalhe, nada mudava o fato de que Bru era menor de idade e precisava de autorização para isso.
Quando precisei voltar para o hospital, me despedi de Bru à porta do seu apartamento com um longo beijo, dizendo um "até amanhã" com um sorriso enorme. Era sempre bom poder dizer "até amanhã" mesmo quando era sexta feira. Normalmente eu não a veria no final de semana. Agora o dia da semana não importava mais.
Quando saí do elevador, já dentro do hospital, Vic, minha secretária, veio logo ao meu encontro trazendo uma pasta que tinha lhe solicitado antes de sair para encontrar Bru, sobre uma paciente que estava ameaçando processar o hospital por erro médico. Não lembrava do seu caso, então precisava dar uma olhada no que tinha acontecido para fazê-la achar que deveria abrir um caso contra nós.
— Ah, e um senhor o espera na sua sala — ela informou quando eu estava prestes a entrar na minha sala.
— Quem é? — perguntei num tom baixo, recuando para falar com ela. Não lembrava de ter marcado reunião com ninguém para essa tarde.
— Um policial — Vic respondeu apenas.
Soltei o ar pesadamente, lembrando da ameaça que a paciente tinha feito ao dizer que ia processar o hospital. "Vou mandar a polícia aí prender todos vocês, seus incompetentes!" ela gritara ao telefone, antes de desligar na minha cara. Era só o que me faltava. Depois de uma tarde tão boa com Bru, precisaria me estressar com esses assuntos burocráticos que muitas vezes não davam em nada.
Mas quando entrei no meu escritório, logo vi que aquele não era o caso. Porque eu conhecia aquele homem que estava parado ao lado da minha mesa, me encarando com o olhar hostil. Tinha visto-o em várias fotos na casa de Bru.
Me aproximei para apertar a sua mão, mas antes que tivesse oportunidade de me apresentar apropriadamente, o pai de Bru veio ao meu encontro, não me dando oportunidade de reagir quando seu punho veio de encontro ao meu rosto.
— Sua filha da mãe! — ele gritou, jogando meu corpo contra a porta às minhas costas antes mesmo que o desequilíbrio do salto, que eu insistir em permanecia durante o dia quebrou provocando pelo impacto do soco me fizesse cair no chão, me segurando com força pelo meu jaleco, seus olhos parecendo querer soltar das órbitas de ódio.
— Sr., essa não é a melhor forma de–
Mas fui impedida de continuar quando seu punho me atingiu de novo, dessa vez nas costelas, me fazendo perder o fôlego por alguns segundos.
— Sua pedófila nojenta! — Tom rosnou por entre os dentes, voltando a jogar meu corpo contra a porta. — Me dá um bom motivo para não acabar com a sua raça agora mesmo.
— Dra. Oliveira? Está tudo bem aí? — Vic perguntou do lado de fora, batendo na porta de leve.
— Fique longe da minha filha, está ouvindo?! — ele alertou no mesmo tom baixo e rude, seu rosto agora tão perto do meu, me fez sentir certa repulsa, que o via embaçado. — Se eu ficar sabendo que você chegou a cem metros da minha Brunna de novo, eu juro que–
— Eu amo a sua filha, Sr.–
— Cala a boca, sua aberração! — ele gritou novamente, tentando dar outro soco no meu rosto, mas dessa vez eu desviei, fazendo-o acertar a madeira da porta.
— Dra. Oliveira?! — Vic gritou dessa vez e não esperou por autorização, abrindo a porta no exato instante em que Tom vinha para cima de mim, tentando me bater de novo. — Segurança! Chamem a segurança!
— Vic, não! — a impedi, olhando na sua direção apenas por tempo suficiente para vê-la com o olhar alarmado, antes de sair correndo em busca de ajuda. — Chefe Tom, por favor, vamos conversar como pessoas civilizadas. Não há necessidade de–
— Eu não tenho nada para conversar com alguém como você! — Tom gritou. — Só vim dar esse recado. Fique longe da minha filha se quiser continuar viva!
— Eu não vou me afastar de Bru a não ser que ela queira assim — falei com firmeza, vendo sua expressão de ódio piorar em alguns níveis. — Quer você queira ou não, eu amo a sua filha e não vou deixá-la por causa de ameaças sem fundamento.
— Sem fundamento? Sem fundamento?! Quantos anos você tem, sua porca depravada? Acha que pode ficar com qualquer pessoa só por causa da sua posição? Por causa disso? — ele exclamou, abrindo os braços para abranger o escritório à nossa volta. — Bru é uma garota de família. Não é nenhuma dessas vadias que você está acostumada a pegar por aí. E eu acho bom você ficar longe dela se quiser continuar livre, está ouvindo? Porque não importa o quanto minha filha tenha dito que ama você, eu dou um jeito de fazer qualquer juiz acreditar que você a enganou e que ela não tinha a mínima condição de tomar esse tipo de decisão. Eu te coloco atrás das grades nem que seja a última coisa que faça.
— Então você vai ter que fazer isso, Tom — falei firme, desistindo de tratá-lo com o respeito que ele não estava merecendo. — Porque é a única forma de me afastar dela.
— Ora sua–
Mas antes que ele tentasse me agredir novamente, dois seguranças entraram correndo e o seguraram pelos braços, começando a arrastá-lo para fora da sala.
— Me soltem!
— O senhor pode ser policial, mas não está com uniforme ou distintivo — um dos seguranças falou, forçando o aperto quando Tom tentou se esquivar. — Então eu posso apenas julgar que essa é uma visita social e não de trabalho. Então o senhor não tem autoridade nenhuma aqui dentro.
— Chame a polícia, senhorita — o outro segurança pediu, falando com minha secretária que estava parada à porta.
Antes que ela fizesse aquilo, no entanto, a impedi.
— Vic, não — falei apressada, andando naquela direção, mas parei em frente a Tom, que os seguranças ainda mantinham preso pelos braços. — Sr. Tom... eu estou disposto a conversar calmamente sobre esse assunto, se você estiver disposto a se acalmar e não tentar me bater novamente. Caso contrário, se você optar por agir com covardia e não como um homem adulto, vou autorizar que chamem a polícia e o tirem daqui, mesmo sabendo que Bru provavelmente vai me odiar por isso. Mas no momento você é apenas um civil e não um policial. E esse é o meu ambiente de trabalho. Um hospital, caso não lembre disso. Não vou permitir que você crie confusão, me agredindo gratuitamente e assustando aos meus funcionários.
Tom parou de tentar se livrar dos seguranças e pareceu pensar nas minhas palavras por um instante.
— Podem soltá-lo — falei para os dois homens, que me encararam como se eu fosse louca.
— Dra. Oliveira, eu não acho uma boa ideia.
— Está tudo bem. Soltem-no.
Ainda receosos, os seguranças fizeram o que pedi, mas continuaram ao lado de Tom enquanto esse apenas levava ao mãos aos bolsos da calça. Soltei o ar, tentando relaxar um pouco e ergui uma mão, amarrando o meu cabelo bagunçado, levo a mão tocando meu rosto onde Tom tinha socado. Senti a umidade do sangue e aquele ponto começando a inchar.
— Vic, você poderia trazer uma bolsa de gelo para mim, por favor?
— Quer que eu peça para uma enfermeira vir aqui? — ela perguntou solícita.
— Não, obrigado. Só o gelo.
Sem falar mais nada, ela se afastou correndo, não sem antes lançar um olhar aflito para Tom que continuava em silêncio apenas me encarando.
— Vocês dois podem ir — falei aos seguranças que apenas assentiram e se afastaram, saindo da sala depois de dizer que ficariam ali por perto caso eu precisasse deles novamente.
Fui até a porta e a fechei, só então me voltando para Tom.
— Podemos conversar agora?
— Não tenho nada para falar com você. Meu recado já foi dado — ele concluiu num tom duro, começando a vir na minha direção para sair da sala, mas eu não saí do lugar, bloqueando sua passagem.
— Me escute apenas por um minuto, Tom — pedi. — É o mínimo que você me deve depois dessa cena toda.
— Eu não te devo nada!
— Por que você não age como um adulto e para de tentar me culpar por tudo? — esbravejei de volta, quando ele tentou gritar comigo de novo. — Sim, eu sou mais velha que Bru, mas isso não quer dizer que eu não a ame e a respeite. E nada do que você faça vai mudar isso.
— Eu tenho várias opções para tentar. Levar Bru comigo para NY é o que eu mais penso agora — ele retrucou de imediato, me pegando de surpresa.
Bru indo embora de Nova York? Isso não poderia acontecer.
— E você acha que fará alguém feliz com essa atitude a não ser a si? — devolvi, tentando demonstrar uma confiança que estava longe de sentir naquele momento. — Acha que Bru vai gostar de ser arrastada para uma outra cidade ? Ou você esqueceu os sonhos da sua própria filha? Esqueceu o quanto ela se esforçou para conseguir a bolsa na escola em que ela está agora? Esqueceu que o sonho da sua filha é entrar em Yale?
Uma batida à porta me interrompeu e eu lhe dei as costas para pegar a bolsa de gelo que Vic trazia, agradecendo-a antes de fechar a porta de novo. Respirei fundo e me afastei daquele ponto, torcendo para que Tom não resolvesse ir embora, porque agora eu estava lhe dando opção para fazer isso.
— Você tirá-la daqui não fará apenas a mim infeliz, mas a sua filha também. Porque você querendo ou não, Tom, Bru me ama. Nós queremos ficar juntas com ou sem os julgamentos e preconceitos, e estamos lutando para fazer tudo dar certo.
— Eu não vou permitir! — ele falou por entre os dentes, me acompanhando até um dos sofás onde eu sentei, mas permaneceu em pé à minha frente. — Bru é apenas uma criança e não sabe o que quer. Não pode escolher essas coisas sozinha.
— Há quanto tempo você não a vê? — perguntei encarando-o com firmeza, levando a bolsa de gelo ao rosto. — Porque a Bru que eu conheço pode até ter dezesseis anos, mas não pode ser considerada uma criança. Não com a cabeça que ela tem. Você sabe que basicamente é ela quem cuida da mãe, não sabe?
— Não dá para comparar Bru com a mãe. Mia sempre foi muito avoada para tudo.
— E eu tenho certeza que esse foi o motivo principal que fez com que Bru amadurecesse tão rápido. — Quando Tom não retrucou, tomei aquilo como minha única oportunidade de falar o que precisava sem ser interrompida. — Eu não tenho nenhuma filha, mas tenho dois filhos da idade de Bru, Tom. Entendo o que você está sentindo e provavelmente agiria da mesma forma se estivesse no seu lugar. Claro que não ia gostar de saber que minha filha está com uma mulher que é vinte anos mais velho e sem dúvida pensaria da mesma forma. Entendo também o seu preconceito em relação à nossas orientação sexual. Que é a aceitação da sexualidade da filha, e achar que posso ser alguém tentando se aproveitar. Mas isso não é verdade. Por mais que seja difícil você acreditar, eu amo a Bru. A amo como nunca imaginei que poderia amar alguém. Mas eu a respeito antes de mais nada. Nunca a forcei a ficar comigo e em momento algum faltei com respeito com ela. Se você quer me acusar de alguma coisa, me acuse apenas de não respeitar a sua ordem, porque eu não vou me afastar da sua filha. A não ser que ela me peça isso, eu vou continuar ao lado dela. Não porque eu queira contrariar a sua vontade ou brigar novamente com você, mas simplesmente porque não consigo imaginar minha vida sem ela.
— Ela só tem dezesseis anos — ele lembrou num tom fraco, soando quase descrente. — Como você pode fazer isso?
— O fato, Tom, é que você a enxerga como a sua filha que saiu da sua casa aos quatro anos. Bru não é mais criança e eu nunca a vi como uma. Para mim ela é apenas a pessoa que mudou completamente a minha vida e me fez enxergar que havia muito mais ao meu redor do que apenas filhos e trabalho. Que eu não precisava me contentar com um casamento que nunca daria certo e me fez perceber que ninguém deve viver com outra pessoa apenas por comodidade.
— E ainda tem essa — ele resmungou frustrado. — Você é casada.
— Era — corrigi.
— Bru falou que você acabou de dar entrada no divórcio, então ainda está casada — Tom deduziu.
— Sim, no papel eu ainda estou casada, mas minha ex-esposa não mora mais comigo.
Com um suspiro, Tom andou até o outro sofá e sentou pesadamente, afundando o rosto nas mãos.
Eu sabia que aquela situação não seria fácil. Quando Bru me ligara, dizendo que tinha contado tudo para o pai, ela nem precisara ter dito que ele tinha reagido mal, só pela forma como ela chorava ao telefone. É claro que eu não imaginei que ele viria de Washington até aqui apenas para me confrontar, mas sabia que uma hora a bomba iria explodir para o meu lado.
— Eu não posso permitir isso — ele murmurou como se falasse aquilo para si.
— Não está nas suas mãos, Tom.
— Bru só tem dezesseis anos.
— Na certidão, sim. Mas na mente dela... Acho que nós dois sabemos que Bru pode ser mais madura que nós dois na maior parte do tempo.
Mais uma vez Tom suspirou novamente e se recostou no sofá, parecendo cansado de repente. Ficamos em silêncio por um longo tempo, eu ainda pressionando o gelo contra meu rosto, sentindo uma dor de cabeça começar a incomodar.
— Eu não quero ficar brigando, Tom. Bru se importa muito com você e eu não quero que meu relacionamento com o pai da mulher que eu amo seja assim daqui para frente. Mas não me peça para desistir dela, porque eu não sou capaz de fazer isso.
Ele me encarou com o cenho franzido, parecendo muito querer falar algo, mas apenas respirou fundo, ficando em pé em seguida e eu rapidamente o imitei.
— Não vou pedir isso a você, porque já vi que é inútil. Mas posso pedir a minha filha. Tenho certeza que ela vai me ouvir.
— Tom, não faça isso! — pedi apressada e fiquei na sua frente mais uma vez quando ele tentou sair.
— Saia da minha frente! — ele ordenou por entre os dentes. — Eu ainda não desisti da ideia de lhe denunciar às autoridades.
— Tom–
— Saia da minha frente agora, Oliveira! Ou eu quebro a sua cara de novo, não me faça agredi-lá!
— Você quer mesmo falar com Bru?! Ótimo, fale! — gritei, saindo da sua frente, mas apenas para pegar minhas chaves que tinham caído no chão quando a briga começou. — Eu faço questão de levar você até lá.
— Eu não preciso que você me leve a lugar nenhum.
— Mesmo? E você sabe onde Bru mora, Tom? — perguntei com ironia, porque sabia bem que Tom nunca tinha vindo a Nova York antes. — Ou você veio tão certo que eu não iria aceitar esse seu pedido absurdo que trouxe o endereço dela na carteira?
Aquele era o único ponto que tinha ficado marcado a respeito do que Bru me falara de Tom. Ele nunca tinha segundo plano para nada do que fazia na vida. Absolutamente nada. Na verdade, ele raramente traçava um primeiro plano para qualquer coisa, preferindo deixar as coisas caminharem naturalmente. Tanto que quando Mia viera para Nova York depois de pedir o divórcio, trazendo Bru junto, ele levara anos para se reestruturar.
— Como você sabe onde ela mora? — ele perguntou por fim quando já estávamos seguindo em direção aos elevadores, caminhando ao meu lado com as mãos nos bolsos da calça.
— Já estive lá algumas vezes — respondi apenas, achando melhor não entrar em detalhes. Mas Tom era homem feito e tenho certeza de que ele não tinha caído na história que Bru contara de que estávamos apenas nos conhecendo.
— Filha da mãe.
— Pode continuar me xingando o quanto quiser. Um dia o vocabulário acaba.
XxxxxxxxxxxxxxxxxxxX
Opaaaaaa, olha quem já chegou causando confusão! Lembrando sempre, agressão contra mulher é crime, denunciem, nossa intenção não é em nenhum momento passar como normal durante a leitura. Minhas garotas, quero saber de vocês pôs leitura, e as encontro nos comentários. Bjos e aguardem o próximo 😘
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro