Brigas e Reconciliações
Estava no meio de uma reunião com sete representantes de laboratórios farmacéuticos, quando meu celular vibrou ao meu lado, em cima da mesa de madeira. Por um tempo, enquanto um dos representantes apresentava um novo remédio, eu ignorei o aparelho. Apenas quando ele terminou e antes do outro começar, foi que destravei o celular, vendo que tinha recebido uma mensagem de Brunna.
"Vou ter que ficar na escola depois da aula. Provavelmente amanhã também, então não vamos poder nos encontrar. Desculpe por isso. "
Franzi o cenho com a mensagem, tentando descobrir o motivo daquilo, já que ela não tinha se dado ao trabalho de explicar. Pelas minhas contas, Brunna deveria estar no horário do intervalo quando enviou a mensagem, cerca de dez minutos atrás. Olhei rapidamente o relógio de pulso, vendo que ela provavelmente ainda estava fora da sala de aula e rapidamente respondi.
" Aconteceu alguma coisa? "
Pouco depois, enquanto o homem continuava gesticulando à minha frente, exibindo uma apresentação nos slides, interrompi as anotações que fazia quando Brunna enviou a resposta.
"Aceitei a oferta da monitoria. Começo hoje. Vai ser um test, e se o professor aprovar, amanhã vou ficar de novo para ajudar a turma do primeiro ano."
"A monitoria acontecerá todos os dias?" perguntei novamente, dessa vez tendo que me forçar a prestar atenção na apresentação à minha frente, porque a ideia de não poder mais ver Brunna durante a semana me deixou um tanto desnorteada. Eu praticamentejá estava contando os segundos para vê-la novamente.
"Apenas de terça a quinta."
Senti uma vontade absurda de bater minha mão contra o tampo da mesa. Só poderia vê-la agora às segundas e sextas, isso se não aparecesse nenhum compromisso para mim que me impossibilitasse sair do hospital naquele horário.
"Tudo bem. Te ligo à noite."
Deletei aquelas mensagens do aparelho e voltei a me concentrar nos representantes, achando melhor pensar naquele problema depois.
À noite, como prometido, depois do jantar falei com a Julia que ia ao escritório enviar alguns e-mails mas antes mesmo de chegar lá, vi que teria outro problema para lidar.
— Ah, Lud, meu bem — Julia chamou quando comecei a me afastar. — Dei uma olhada nas fotos que você enviou.
— Fotos? — perguntei franzindo o cenho, envolvendo sua cintura quando ela se aproximou com sua taça de vinho na mão.
— As fotos da casa de campo — ela esclareceu com um sorriso. —Gostei muito daquela de pedras que tem uns arbustos ao redor. Parece ser muito aconchegante.
— Eu já escolhi a casa. Fiquei com a do lago.
No segundo seguinte em que falei aquilo, vi que coisa boa não viria dela. Seu sorriso imediatamente desapareceu e ela se afastou de mim como se tivesse levado um choque, um vinco aparecendo entre seus olhos.
— Você escolheu a casa sem me consultar?!
— Eu te enviei aquelas fotos na segunda e hoje é quarta-feira, Julia. Avisei a você que tinha que dar logo uma resposta para a corretora.
— Independente da sua pressa, Ludmilla, você não poderia ter feito isso — ela retrucou, sua voz aumentando um pouco de volume. — É uma decisão importante que deveria envolver toda a família, inclusive seus filhos.
— Por que você está fazendo tanta questão? Não é como se você gostasse do campo, afinal. — Tentei ao máximo manter minha voz calma. Mas quando ela começou a gritar de verdade, dizendo que eu estava sendo egoísta por privar a família dessa escolha, dizendo que às vezes nem a tratava como se fosse sua esposa, mantendo-a fora de boa parte da minha vida, a minha paciência foi para o espaço, embora ainda tenha conseguido manter a voz baixa. — Nós não temos conta conjunta, até onde lembro, Julia. Nunca cheguei para lhe pedir satisfação do que você faz com o seu dinheiro, então não é da sua conta como gasto ou deixo de gastar um dinheiro que é só meu.
Esperei a bomba explodir depois das minhas palavras e realmente achei que isso ia acontecer. Julia praticamente começou a inflar de raiva na minha frente, suas mãos apertadas em punho, mas tudo que ela fez foi me dar as costas e sair pisando forte pelo assoalho de madeira.
Voltei para a mesa e me servi de uma taça de vinho também, precisando de um pouco de álcool para me acalmar. Fiquei ali mais um pouco, ouvindo quando Renatinho chegou, mas nem passou pela sala de jantar. Só sabia que era ele porque ouvi sua voz falando ao celular enquanto subia as escadas. Achei por bem não ligar para Brunna quando estava irritada daquele jeito, ou iria acabar descontando nela. Apenas depois de terminar a bebida levantei e continuei meu caminho até o escritório, dessa vez conseguindo chegar lá.
Enviei logo uma mensagem para Brunna perguntando se ela poderia falar e não demorou muito para que eu recebesse sua mensagem com um simples "sim".
— Está tudo bem? — perguntei, assim que ela atendeu.
— Sim. E você?
— Tudo bem — respondi, não querendo a encomodar com meus problemas. — Como foi a monitoria hoje?
— Foi ótima. O professor adorou o meu trabalho e já me deu uma resposta positiva — ela falou, a empolgação soando nítida na sua voz. — Amanhã vou de novo.
— E a turma que você pegou, como é?
— Ah, eles são legais. O ruim é que alguns dos alunos são da minha turma e acho que eles não gostaram muito de saber que a pessoa que vai dar aulas de reforço de Literatura é alguém da turma deles.
— Mas eles não faltaram com respeito com você, não é?
— Hoje não, porque o professor estava na sala, mas amanhã não sei como vai ser. Mas eu tenho um plano para fazer eles gostarem das minhas aulas.
— Que plano?
— Se der certo, eu te conto.
Alguém bateu à minha porta e eu quase encerrei a ligação, mas mudei de ideia.
— Só um momento, Bru — pedi e então autorizei a pessoa a entrar. Era Renatinho.
— Mãe, você e a mamãe brigaram? — ele perguntou, como sempre indo direto ao ponto, depois de entrar e fechar a porta atrás de si.
— Por que a pergunta? — perguntei, abaixando o celular para que ele não visse que eu estava falando com alguém.
— Passei agora na frente do quarto de vocês e ela estava falando ao telefone com alguém, reclamando que a senhora é uma egoísta insensível.
Eu era uma egoísta só por não ter esperado pela sua opinião na compra de uma casa que ela provavelmente nunca iria pisar? Ás vezes Julia era tão mimada que me irritava.
— Ela só está assim porque comprei algo sem consultá-la, Renatinho. Mas é o meu dinheiro, então não vejo motivo para ficar pedindo autorização.
— O que foi que a senhora comprou para deixar a velha daquele jeito?
— Mais respeito com sua mãe, Renato — reclamei, mas ele nem se abalou. — Comprei aquela casa de campo que estava querendo há alguns anos.
— Sério? E a casa de praia? Vendeu?
— Não. Ela continua lá.
— Então nós não vamos para a praia no Memorial Day? — ele perguntou com a expressão de quase pânico, se referindo ao feriado que seria dali a duas semanas.
— Se você quiser, pode ir. Contanto que não destrua tudo dando alguma festa.
Seu rosto logo assumiu uma expressão de puro contentamento e eu não ficaria surpresa se ele começasse a pular ali na minha frente.
— Posso mesmo chamar meus amigos para ficarem lá?
— Primeiro veja com a sua mãe se ela não vai querer a casa. Eu duvido que Julia vá querer ir comigo para o campo, mas pode ser que ela mude de ideia ou queira ficar aqui mesmo.
— Eu vou falar com ela agora mesmo.
E sem falar mais nada, Renatinho me deu as costas e fechou a porta ao sair.
— Brunna? — chamei, colocando o celular no ouvido novamente, me certificando de que a ligação não tinha caído ou se ela desistira de esperar.
— Estou aqui.
Recostei minha cabeça no encosto da poltrona, fechando os olhos por alguns segundos, enquanto um suspiro escapava pela minha boca.
_ Queria estar com você agora — falei num tom baixo, soltando o ar pesadamente mais uma vez.
— Você brigou com sua esposa. — Não era uma pergunta.
— Um pouco. Mas não foi minha culpa.
— Eu sei. Ouvi o que você falou para Renatinho. Mas acho que você deveria conversar com ela. Pedir desculpas ou algo assim.
— Por que eu pediria desculpas se não fiz nada de errado?
— Porque funciona assim, Ludmilla — Brunna respondeu como se aquilo fosse a coisa mais óbvia no mundo. — Pedir desculpas, mesmo não tendo culpa, é sempre a melhor forma de resolver uma discussão.
— Hum, e desde quando a senhorita entende tanto assim de relacionamentos?
— Está perguntando isso para a pessoa que tem dezesseis anos de experiência em ver os pais brigando a cada cinco minutos que passam juntos?
— Bem lembrado.
— Agora vá lá falar com ela e seja sincera, ok?
— Mas eu não quero ir agora. Quero continuar falando com você — retruquei e só depois de falar foi que percebi o quanto minha voz tinha soado como a de uma criança birrenta. Por isso, não foi surpresa nenhuma quando Bru riu do outro lado da linha.
— Eu preciso estudar agora. Nos falamos amanhã, está bem?
— Tudo bem — aceitei por fim, não querendo lhe atrapalhar mais. — Amanhã te ligo mais ou menos nesse mesmo horário. Ou prefere que ligue mais tarde?
— Mais tarde, mas não depois da meia noite. Algo entre as dez e meia noite está bom.
— Farei isso. Beijo, Barbie girl. (N/A: Eu acho esse apelido fofinho, sorry)
— Beijo, Ludmilla.
Encerrei a ligação e ainda demorei mais um pouco ali no escritório antes de ir para o quarto á procura de Julia, fazendo o que Brunna tinha aconselhado.
Era estranho minha amante me ajudar a fazer as pazes com minha esposa, mas deu certo. Depois de pedir desculpas, Julia acabou se desculpando também, dizendo que tinha exagerado e até falou que iria comigo para a casa nova no Memorial Day se conseguisse organizar sua agenda no escritório de arquitetura para que ela tivesse três dias livres.
Cerca de uma hora depois, caíamos exaustas no colchão, suadas e satisfeitas pelo sexo de reconciliação que geralmente era o melhor. Talvez eu ainda o achasse o melhor de todos, se não tivesse conhecido Brunna.
O dia seguinte foi parecido com o anterior, exceto pela parte da briga com Julia. Na verdade, fiz o possível para manter a paz na casa, chegando ao ponto de comprar flores para ela ao final do expediente no hospital. Já fazia alguns meses que não comprava rosas para Julia e seu sorriso me contagiou quando ela as recebeu, me beijando com paixão apenas por isso.
— Vão para o quarto, suas indecentes — Marcos reclamou, passando rapidamente por nós em direção às escadas.
Julia riu, aconchegando a cabeça no meu ombro e a mantive ali abraçando seu corpo por mais um tempo.
Mais tarde naquela mesma noite, cumpri o prometido e liguei para Brunna depois das dez da noite, sabendo que não poderia demorar porque Julia ainda estava acordada e provavelmenteme esperaria acordada. Com isso, falei com ela apenas o essencial, descobrindo que seu plano de conquistar os alunos da turma de monitoria estava começando a dar certo; ela falara também que Lari, junto com Renatinho, tinha lhe convidado para ir para a casa de praia no feriado prolongado. Brunna disse ainda não saber se ia aceitar, porque ir para lá significaria três dias sem estudar, o que poderia lhe prejudicar, já que as provas de final de ano estavam próximo.
— Mas você não me disse que já tinha passado de ano desde as últimas provas?
— É, mas isso não significa que eu possa tirar algum "C". Sou bolsista, lembra? Uma nota baixa e já era a minha bolsa.
Claro que eu achava aquilo uma injustiça. Se Brunna já tinha passado de ano por média com apenas "A" no seu boletim, então ela ao menos deveria poder se divertir um pouco e relaxar. Mas mantive essa opinião para mim.
Encerrei a ligação um pouco depois e então fui para o quarto, abrindo um sorriso ao ver Julia dormindo. Era errado pensar daquela forma e eu sabia disso, mas o problema é que iria encontrar Bru amanhã e isso era só o que eu tinha na minha mente. Se tivesse que transar com Julia essa noite no estado em que estava, tão ansiosa para rever Bru, o risco de chamar o nome errado quando gozasse era grande demais.
xxxxxxxx
Olha quem voltou haha, estou pensando se soltou o próximo capítulo hoje mesmo, vai depender dos comentários, vamos de meta se tivermos 30 eu solto hoje mesmo 😚
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