ELEVEN
Boa leitura!
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"Cada um tem uma forma de escapar de suas turbulências; Mi Hi tinha as palavras."
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Mi Hi treinou em seu piano até o horário do jantar. Novamente saiu com seus dedos arranhados, quase não conseguia os movimentar, cada pedacinho deles doía bastante como se pequenas agulhas fossem enfiadas em sua pele pouco a pouco. Teve que repetir aquela sonata pelo menos umas três vezes até que todas as notas saíssem perfeitamente, eram sete páginas que multiplicadas pela dor pareciam um livro inteiro. Assim que finalmente acabou, a menina suspirou e tratou de colocar nos dedos os curativos que já havia separado para si anteriormente. Estava cansada dessa rotina estressante, mas seguia-a com afinco afim de não decepcionar sua família, mesmo que isso custasse muito do seu esforço mental e físico.
Durante o jantar novamente a família trocou poucas palavras, a maioria dos assuntos abordados eram relacionados a contas a serem quitadas e informações passadas mais cedo no noticiário. Mi Hi não dava atenção às palavras que saiam de seus progenitores, seu pensamento se encontrava em algo mais profundo de si. Lembrava-se da flor que vira no jardim, da música que a acompanhara até em casa e da conversa que teve com Hoseok. Queria poder falar, gritar aos quatro cantos do mundo, ser quem realmente era, voltar a sorrir. Mas, não conseguia guiar as palavras da forma que queria, isso a fazia ficar em silêncio.
Mas até quando ficaria em silêncio?
Pensava também nas aulas de piano. Não sabia exatamente como havia começado, somente sabia que aquilo que era pra ser uma atividade divertida se tornou uma obrigação. Mi Hi uma vez reproduziu o tão famoso "Parabéns pra você" no teclado da casa de um tio, isso aos sete anos e sem partitura ou conhecimento algum. Ela apenas havia escutado a música e conseguiu passar para as teclas. Desde então, a fizeram acreditar em seu potencial. Mi gostava de tocar piano, adorava ouvir os sons que produzia, adorava a sensação de guiar uma música, isso a acalmava tanto... Mas não queria ou imaginava que isso traria tantas consequências desagradáveis. Sua professora lhe disse uma vez que tinha talento, mas que teria que se esforçar mais caso quisesse ser uma profissional, coisa que a pequena Hi não pensava na época, mas seus pais sim, portanto investiram muito naquele sonho que nem mesmo pertencia a ela. Para eles, Mi Hi tornaria-se uma pianista. Para ela, o piano era seu amigo com quem partilhava sorrisos.
Sorrisos... Há quanto tempo não se sentia feliz tocando aquele instrumento.
Precisava fazer algo, logo os testes de música do inverno chegariam e ela não se sentia preparada para tal. Precisava dizer que não se sentia bem fazendo aquilo, eles poderiam entender, não é? Não era de sua vontade prosseguir e se tornar pianista, não era o que idealizava para si. Ainda calada, observou os dois maiores entretidos com os legumes que cortavam e com o assunto da previsão do tempo, eles pareciam de bom humor, bom, pelo menos não estava um clima pesado. O que custaria tentar falar alguma coisa? Talvez, se tentasse, poderia ser ouvida.
Iria fazer isso. Iria mesmo. Porém antes de tomar qualquer atitude respirou fundo e formulou a frase certa, não poderia dizer nada de errado. Queria que tudo saísse perfeitamente com havia idealizado.
— Abeoji... — começou, ainda incerta.
— Sim?
— Eu queria conversar com o senhor. Sobre as aulas de piano. — disse. Sr Son pousou os talheres em seu prato, observando sua filha e esposa fazerem o mesmo, todos atentos ao que a garota tinha a dizer. — Bem, e-eu... Eu... Queria parar um pouco.
— Parar? O que quer dizer?
— E-eu... — Mi Hi se sentia pressionada ao ter que dizer isso, parecia que antes mesmo de falar eles já estavam julgando-a errada. — Eu gosto de tocar piano, mas...
— Quer parar as aulas? — antes que a menina terminasse de falar, Wonjae se antecipa e interrompe sua filha. Sua expressão estava fechada, intimidado ainda mais o que Mi havia planejado dizer. Em sua concepção, a garota estava cometendo um erro grave ao querer deixar as aulas. — Acha isso certo?
— Só estou querendo um tempo. As aulas...
— Tempo? Acha que temos tempo de sobra? — Mi se encolheu na cadeira ao ouvir as perguntas proferidas por seu pai. Tinha sido uma péssima ideia e agora ele parecia nervoso. — Acha que pode deixar as coisas pela metade?
— Mas...
— Não investi dinheiro à toa nessas aulas de piano. — deu seu veredito final, voltando a por as mãos nos talheres. — Não irá parar com as aulas. Está decidido.
Mais uma vez, o silêncio toma conta do ambiente. Mi Hi não ousa tocar no assunto novamente, nem mesmo consegue forças para levantar o olhar. Son Wonjae prossegue sua refeição ignorando totalmente o pedido de sua filha, igualmente como sua esposa, Seolhyun. Ambos concentrados demais para perceberem que agora, a menina se encontrava segurando firmemente as lágrimas que em momento nenhum poderiam deixar seus olhos. Rapidamente Mi Hi terminou de comer e levantando-se, lavou a louça que sujou e subiu ao seu quarto, sem se dirigir diretamente aos outros dois que também terminavam de se alimentar.
Fechou a porta com cuidado para não incomodar mais, já que pensava que só pelo fato de ter feito seu pai ficar irritado havia estragado a noite de todos. Aos pouquinhos, singelas gotinhas de água eram deixadas a escorrer pela face pálida que lentamente ficava vermelha, expressando sua dor. Os soluços e motores de carro que passavam na rua eram os únicos sons que a faziam companhia, já que até mesmo seus pais pareciam não estar no andar de baixo de tanto silêncio.
Sentou-se na sua cama e abraçou forte seu urso de pelúcia. Havia sido difícil, falar era muito mais complicado do que pensava ser, e olha que imaginava um nível de dificuldade bem grande. Mas era pior, muito pior. Do que adiantava falar se não era ouvida? Seus pais não mudariam de ideia, teria que continuar com as aulas, voltaria a ouvir cobranças desnecessárias e ter novamente a sensação de insuficiência por não conseguir ser tão boa quanto eles queriam. Se sentia perdida. Se nem mesmo sua família podia ajudá-la, quem poderia?
Queria se sentir forte. Mas se sentia angustiada e totalmente incapaz.
Aos poucos mais lembranças visitavam sua mente a deixando tonta, confusa, asfixiada e nervosa, ao ponto de nem conseguir ver seus próprios dedos ou de respirar corretamente. Era horrível, era como estar presa dentro de sua cabeça que fazia questão de que ela não sairia dali tão cedo. Não, ela não podia sentir isso de novo. Mesmo cambaleando, levantou-se em busca da janela, ar poderia a ajudar.
De segundo em segundo, sua visão se normalizava e sua respiração voltava ao ritmo certo, tanto como seu coração. As lágrimas também desapareceram, deixando apenas desolação e rastros salgados pelas bochechas fofas. Agora, apenas algumas memórias recentes a faziam companhia naquela noite com poucas estrelas.
Apoiada na sacada, lembrava-se da sua semana, das aulas que demoravam a passar, das pessoas conversando a toa no pátio, das teclas do piano, das flores no jardim, da professora de música que ameaçou chamar seu pai caso não aprendesse a corrigir sua postura enquanto tocava.
Lembrou-se do menino Hoseok, e de todas as coisas que ele lhe disse mais cedo e também nos outros dias. Ele também estava sendo alguém a quem Mi Hi poderia confiar em um futuro não tão distante. O garoto parecia ser sincero, ele havia conseguido fazê-la sorrir com tanta facilidade no dia do parque que Mi nem pacereu se recordar que estava chorando momentos antes. Hoseok seria um bom amigo, talvez ele a apoiasse em sua decisão. Talvez ele quisesse a ajudar, queria que fosse verdade, queria que ele estivesse perto ela, talvez assim não se sentiria tão sozinha. Tentou não pensar no quanto era estranho querer a companhia de alguém que nem mesmo conhecia direito, mas não poderia negar que o garoto lhe dava uma sensação de paz.
Mas, ali naquele quarto, não havia ninguém. Somente ela e suas confusões, somente uma garota e seus monstros imaginários. Hoseok uma vez lhe disse que somos maiores que nossos monstros, que podemos vencê-los se tentarmos. Mi Hi queria vencer, mas como?
Se não podia falar, então porque não escrever?
Cada um tem uma forma de escapar de suas turbulências; Mi Hi tinha as palavras. Podia não ser uma escritora nata, mas cada letra era desenhada pela ponta do lápis com toda voz que sua alma possuía. Elas poderiam falar por si.
Lembrava-se da última vez em que escrevera para si mesma, não sabia outra forma de colocar toda a sua angústia pra fora além das palavras escritas. Lembrava-se de quando dera falta do papel em seu material, mas não se preocupou, alguém deveria ter jogado fora, era insignificante. Lembrou mais ainda de quando fora buscar seu livro de literatura no meio da aula e achou a cartinha do tão misterioso JH no seu armário, nela dizendo que ele encontrou sua folha estúpida e decidiu ajudá-la pois queria vê-la sorrir novamente.
Foi um ato tão estranho e simples, mas que a fez ter um pouco mais de esperança no mundo. Alguém poderia sentir também a sua dor, pois sim, ela sentia que o garoto desconhecido entendia a dor que ela sentia, algo lá no fundo a fazia acreditar nisso. Bem, não estava totalmente sozinha, afinal.
Alguém poderia entendê-la. Mi Hi não sabia, mas tinha dois amigos muito espaciais, e que em breve se revelariam em uma única forma sorridente.
Sentando-se em sua mesinha de estudos, pegou folha e caneta, colocando ali tudo o que queria sentir, tudo que a causava medo, tudo que não queria mais guardar. Assim que terminou se sentiu um pouco mais aliviada, porém assim que releu, rasgou-a em pedacinhos. Não poderia correr o risco de alguém ler aquele papel, deveria ter feito isso com o primeiro, dessa forma o tal JH não teria acesso a ela. Mas, no fundo agradecia que ele tivesse o feito, graças a isso agora possuía alguém a quem contar.
Como se fosse pelo destino, viu uma pasta fina no meio de seus livros, era onde estavam as outras cartas trocadas com JH, guardava-as com muito cuidado. Releu todas carinhosamente e pensou se não poderia dar continuidade a essa história, ele poderia ajudá-la, ele se mostrava verdadeiro. Mas e se outra pessoa lesse aquela carta? Era um risco enorme, muitas pessoas frequentavam a arquibancada, deixar lá sua correspondência seria muito perigoso, alguém poderia ler. Porém, se não fizesse, de nada adiantaria. Já havia chegado longe demais, e de qualquer forma, não saberiam que é ela, ninguém reparava em si naquela instituição, era invisível. Não queria mais ser escrava de seu orgulho, não queria mais ficar sozinha, ser sozinha. Mi Hi era humana, humanos possuem amigos, humanos sorriem, humanos choram, humanos sentem. Ela queria sentir novamente.
Pegou novamente a caneta, e assim, determinada, começou.
Olá garoto com pseudônimo de JH. Pensei que não seria capaz de lhe escrever novamente, mas cá estou, engolindo meu próprio orgulho para dizer algumas coisas.
Nunca imaginei que algum dia faria isso. Não me imaginava novamente confiando meus pensamentos em alguém, principalmente em alguém que não conheço e não sei se realmente diz ser o que é. Mas, até o momento, você tem sido minha única opção, meu único "amigo".
Me sinto infeliz. Não consigo falar, não consigo me mexer, consigo me ouvir, não consigo ser o sorriso que sou. Eu sei o que deveria fazer para mudar, mas não tenho mais forças. Em uma de suas cartas diz que eu deveria voltar a sorrir, porém eu não sei como fazer isso, pelo menos não sozinha. Considere essa carta como um pedido de socorro, sinto que estou a um passo de desmoronar por completo. Por favor, me ajude.
Minha mente diz que isso é arriscado demais, que estou cometendo uma loucura. Mas meu coração me diz que não irei me arrepender, que você pode sim ser alguém bom. Estou depositando minha confiança e esperança em você, JH. Espero não me decepcionar mais ainda, eu realmente não queria isso. Espero que seja real como tem mostrado ser.
Da garota do 612.
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Olá cubinhos de açúcar! Tudo bem? Já sorriram hoje?
Eu realmente demorei a trazer esse capítulo, me desculpem por isso. Infelizmente pra mim ele foi muito difícil de escrever, mas foi necessário que eu o fizesse. Bem, espero ter compensado pela demora.
Pela primeira vez, Mi Hi dará o primeiro passo, estou gostando de desenvolver essa personalidade antes esquecida dela. Essa garotinha é mais forte do que pensam!
Ah, e mais uma coisinha: saibam que vocês não estão sozinhos. Nunca estamos, mesmo nos dias mais nublados, há quem possa ser o nosso sol, seja um amigo, seja um pet, seja sua família, ou até você mesmo. Nunca estamos sozinhos♡
Desejo o melhor a cada um de vocês que me acompanham e me dão tanto apoio, vocês são meus sóis!
Até logo!
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