— Eu até falaria com ele, mas não somos tão próximos como antes. — lamentou Noah, enquanto eu o ajudava com o que vestir para aquele jantar que mamãe havia organizado.

Jorge, seu namorado, viria nos conhecer. Ela ficou ansiosa a semana inteira para isso acontecer, e hoje ela está tão eufórica que não consegue ficar parada.

— Convenhamos que você não fala praticamente com mais ninguém. — falei, erguendo as sobrancelhas e jogando uma camiseta social vinho na sua cama. — Pegue o ferro para passa-la depois, pelo amor de Deus.

— Eu falo com o James às vezes. Fiquei sabendo que ele estava namorando. — comentou. — Lisa, não é? — balancei a cabeça.

— E isso me fez lembrar de uma coisa. — falei, me virando na sua direção. — Por que você nunca me disse que ficou com a Taylor? — perguntei, cruzando os braços. — E com a Sina.

— E isso é da sua conta? — questionou, franzindo a testa. Alcancei uma almofada na sua cama e joguei-a na sua direção. — Quem te contou?

— Taylor. — respondi. — Você não para quieto mesmo.

— Para de ser chata. — ele fez uma careta. — Isso tudo foi antes de você entrar no grupo, então não é da sua conta, fofoqueira. — ele jogou a almofada de volta para mim.

— Continua falando assim comigo que deixo você escolher a sua roupa sozinho. — avisei.

— Eu sou ótimo em escolher roupas. — deu de ombros, se gabando.

— Se você escolher uma camiseta qualquer você sabe que a mamãe vai matar você. — lembrei-o, e ele sabia que era verdade, tanto é que revirou os olhos demonstrando tédio.

— O que aconteceu entre você e o Josh? — perguntou para mim. Franzi a testa.

— Ele conversou com você? — perguntei

— Na verdade, eu sem querer ouvi um pouco da sua conversa com aquela sua amiga que veio dormir aqui. — contou, me fazendo abrir a boca, não acreditando na aquilo. — Eu esperei esses dias porque pensei que você me contaria algo, então resolvi não perguntar. Mas percebi que você não ia conversar comigo sobre isso.

— É complicado. — suspirei, virando-me novamente para o seu guarda-roupas.

— Eu ouvi o nome do Bailey no meio de tudo. — disse pausadamente. — Ele entrou na jogada?

— Você anda bem curioso.

— Eu só quero saber sobre a vida amorosa da minha irmãzinha mais nova que está bem mais interessante que a minha. — disse simplesmente. — Você sabe que não importa quem você escolher, ainda tem Londres. Londres é longe, e eu duvido você namorar a distância.

— Como assim escolher, Noah? Me erra! — disse irritada. — Bailey não é uma opção, eu apenas quero resolver as coisas com ele antes do ano acabar. Eu queria ele como meu amigo nesse momento.

— Eu queria tanta coisa também. — suspirou alto. — Como queria que você se decidisse!

— Ahn... Cuida da sua vida! — me virei rapidamente e peguei outra almofada da minha cama, arremessando-a na sua cara. Ele deixou a almofada cair no chão e me encarou com um sorriso divertido.

Noah se levantou e caminhou em direção a janela, pronto para fechar um pouco a cortina pelo sol forte que invadia o quarto.

— Isso está ficando tão interessante... — disse ele, baixo, mas consegui ouvir bem. Fiquei parada observando ele olhar pela janela com as sobrancelhas erguidas. — Eu acho, ou talvez tenha certeza, de que o carro do Bailey está parado bem no portão da nossa casa.

E eu talvez, ou tenha certeza, de que meu rosto ficou pálido ao ouvir aquilo de Noah. Fechei os olhos por alguns segundos e fiz uma careta.

A mensagem que Bailey havia me enviado eu não respondi, mas é porque naquela hora eu simplesmente guardei o celular no bolso e nos dias seguintes eu achei que já estava tarde demais para responder.

— Você quer que eu fale que você não está?

— Não, vou descer lá. — avisei. — Vai tomar um banho porque você está atrasado para o jantar e não se esqueça de passar essa blusa.

Corri para o andar debaixo e me recuperei  - ou não - do nervosismo que estava sentindo antes de abrir a porta. Fui até o portão branco e o abri, vendo o garoto encostado no carro mexendo no seu celular.

Ele levantou o rosto para me encarar e meu nervosismo voltou. Minhas mãos já estavam suando, assim como todo meu corpo estava sentindo um calor inexplicável.

— Eu já ia te mandar mensagem avisando que estava aqui. — contou. — Desculpe vir sem avisar, é que você não respondeu a minha mensagem e queria saber se está tudo bem.

— Desculpe por não ter respondido. Eu lembrei um pouco tarde, então achei melhor não responder.... — falei incerta, dando passos na sua direção. Ele ajeitou a sua postura e desencostou do carro.

— Está tudo bem? — perguntou. — As coisas com o Josh já estão melhores?

— A situação é pior do que eu pensava. — comentei com um tom de voz baixo. — Sabe, ele não quer bem falar comigo. Eu tentei conversar com ele pelo menos umas quatro vezes essa semana.

Na quinta-feira eu resolvi pedir ajuda para Taylor, mas fiquei sabendo que ela voltaria para a sua casa naquela noite. Segundo o que ela me disse, sua mãe pensou que ela estava na cidade fazendo faculdade, já que toda vez que ela ligava, Taylor dizia que estava cansada de estudar.

Não sei de que maneira a sua mãe ficou sabendo, eu apenas sei que ela pediu para Taylor voltar imediatamente para a cidade para elas conversarem.

— Sinto muito por isso. — lamentou.

— Por que você está se importando? — perguntei calmamente. Eu não pensei que só porque chorei no seu peito ele iria voltar a falar comigo normalmente, mas parece que foi isso que aconteceu. — Quero dizer...

— Não, eu entendi. — me interrompeu depressa. — Eu sei que no começo fiquei como Josh está com você. Não queria vê-la e nem conversar com você. Mas após pensar nisso vários vezes eu acabei me lembrando de que você se decepciona às vezes, e nem sempre vai ter o que quer.

Sua voz dizia tudo isso tão sutilmente, que se não estivesse saindo da sua boca em exato eu acho que seriam palavras que me atingiriam em cheio.

— Antes de qualquer coisa, eu gostava de conversar com você. — confessou. — De estar com você também. Acho que é a minha vez de te pedir desculpas.

— Bailey você não...

— Não venha me dizer que eu não deveria pedir desculpas, por favor.

— Eu aceito as suas desculpas. — falei após alguns segundos.

Sem nem ao menos perguntar se ele se incomodaria, fui até ele e passei os braços em volta dele, sentindo em seguida ele retribuir o abraço.

Segundos depois quando me afastei, sem intenção seu rosto ficou mais próximo do meu do que deveria. Não era como se fôssemos nos beijar, mas sim próximos demais para apenas amigos.

E eu tive certeza disso quando eu gelei ao virar a cabeça e ver o carro do Josh encostando atrás do carro de Bailey, e isso me fez lembrar de um dia em que aconteceu exatamente a mesma coisa, mas daquela vez eu não estava com o Josh.

Dei dos passos para trás enquanto observei Josh sair do carro, assim como Bailey também observava tudo. Quando o garoto deu passos na minha direção com uma blusa nas mãos, que reconhecendo vi que era a minha favorita. Eu deveria ter esquecido na sua casa algum dia.

— Atrapalho? — perguntou, deixando transparecer que não achou legal o que presenciou segundos atrás, mesmo que não seja nada.

— N-não. — respondi, nervosa por ter os dois ali na minha frente.

— De qualquer forma, só vim devolver a sua blusa. — ele a estendeu para mim e demorei alguns segundos para pega-la. — Pensei que poderíamos até conversar, mas estou vendo que já está ocupada.

— Não... Eu só...

— Eu já estou indo embora, Gabrielly. — Josh falou com frieza, me interrompendo. — Mas na verdade eu nem tinha nada para dizer.

— Não estava acontecendo nada, cara. — Bailey interveio com calma.

— Fica na sua, May. — Josh falou com um tom de voz sério.

— Você a ignorou a semana inteira, então não vem dar uma de bravinho pra cima de mim só por querer saber se ela está bem. — Bailey retrucou, franzindo a testa.

— Falou o cara que ignorou ela só porque levou um fora. — Josh deu uma risada sem ânimo, o que me fez olhar para ele confusa. Ele não deveria estar desse jeito. Que Josh é esse?

— Você pode ter certeza que se ela tivesse ficado comigo, não teria que estar passando por isso agora. — Bailey apontou. — Aprenda que todos tem os seus sonhos e não é porque seu caminho é para Londres, que o dela não tem que ser. É infantil você ficar sem falar com ela por ela querer seguir o sonho dela.

— E quem te perguntou alguma coisa? — questionou Josh.

— Joshua, para! — finalmente falei, fazendo os dois desviarem o olhar para mim.

Josh deu um riso sem ânimo e mexeu a cabeça negativamente.

— Boa tarde pra vocês! — falou falsamente antes de dar as costas para nós.