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Capítulo 53

Poderíamos ter matado aula no campo o resto das aulas, não terá treino de nada. — disse Dytto, como sugestão, mas já era tarde demais.

— Eu achei melhor voltar para casa. — confessei, andando devagar pela calçada e franzindo a testa o máximo que eu conseguia por conta do sol forte. — E obrigada pelo pó compacto.

Você ficou parecendo um fantasma. — ouvi sua breve risada e balancei a cabeça, dando um sorriso de lado.

— Você viu ele em algum lugar antes de fugir da aula no laboratório?

Ele estava conversando com o Liam no corredor. — comentou. — Você acredita que precisei trocar de suéter? Ele derrubou café na minha roupa, Gaby. Café! — choramingou.

— Ele não faz isso por querer, Dytto. — tentei acalma-la. — Você sabe que ele gosta de você.

Ótima forma de demonstrar o amor que ele tem por mim. — disse irônica. — Além do mais ele dormiu com uma das minhas amigas das líderes. Nunca ficarei com ele.

— Por que é um problema tão grande assim? — perguntei, não entendendo. Ela ficou em silêncio por alguns segundos na chamada e eu balancei a cabeça. — Eu acho que você da essa desculpa por medo de aceitar que gosta dele.

Será que podemos voltar a nos concentrar no seu problema? Que, sem ofensas, é maior. — pediu ela, me fazendo suspirar. Por minutos eu havia esquecido o que aconteceu hoje de manhã.

A pior manhã que já tive.

— Ele pediu um tempo. Não posso fazer muita coisa. — dei de ombros. — Além do mais ele ficou chateado por eu ter guardado segredo.

Você não deveria ter escondido isso dele.

— Você não está ajudando — disse com certo desespero e tristeza.

Certo, desculpe. — disse rapidamente. — Espera essa semana passar e você conversa com ele, está bem? Espere ele digerir tudo isso.

— Ele pode estar chateado, mas o que ele me disse me machucou também. — confessei, desviando o olhar para os meus pés. — Não sei se fico mais chateada por ele pensar isso, ou por eu saber que é verdade.

Ele só estava nervoso com tudo isso, A. — falou com a voz doce. — Posso te chamar só de A? Eu acho tão amigas de Los Angeles! — animou-se, arrancando um sorriso dos meus lábios. — Voltando... Você nunca amou alguém, eu também não, mas como estou sendo a sua conselheira eu lhe digo que vocês precisam sentar, conversar, quando os dois estiverem de cabeça fria e ver se vale a pena.

— O que?

Ora, vocês dois. — disse como se não fosse óbvio. — Por favor, Gaby. Aposto meu dinheiro todo que o Josh não iria desistir de você. Você não se esqueceu que ele passou meses mentindo ser burro para ficar com você né?

— Eu espero tanto quando você que tudo isso tenha valido a pena. — falei com sinceridade. — Eu magoei pessoas para estar com ele agora.

Quem por exemplo? — perguntou. Havia me esquecido que ela não acompanhou toda a confusão.

— Pessoalmente eu te explico melhor.

Eu posso dormir na sua casa hoje? — perguntou, com esperança na voz.

— Claro. — sorri de lado.

Quase chegando a esquina aonde ficava a rua da minha casa, vi Bailey saindo da cafeteria com um café na mão e um saquinho marrom com o logo da cafeteria. Fiquei parada vendo cada movimento seu e não demorou muito para ele sentir que havia alguém o encarando.

Diminui os passos quando ele me viu. No celular encostado no meu ouvido eu apenas conseguia ver a voz animada da Dytto, mas não estava prestando atenção em nenhuma palavra.

— Dytto... — chamei-a, fazendo ela ficar quieta. — Quando eu chegar em casa ligo para você. Eu preciso desligar. — falei depressa, esperando ela se despedir para que eu desligasse o celular.

Quando percebi que Bailey não estava mais se movendo e sim apenas me encarando eu resolvi caminhar até ele, com receio de que nossa conversa não poderia ser tão boa como das últimas vezes.

— Oi. — cumprimentei quando estava perto o suficiente para ele me ouvir.

— Oi. — ele forçou um sorriso e colocou algo no bolso da calça, o que pareceu a chave do carro. — O que aconteceu com você?

— C-como?

— Primeiro que você está pálida. — encarou meu rosto atentamente. — E segundo que você não parece muito bem. Sem ser a palidez.

— Eu usei pó compacto para ir embora do colégio. — comentei. Isso parecia uma coisa que uma garota do sétimo amo do ensino médio faria, e por um momento me senti infantil. Mas ao lembrar o porquê de tudo isso, esse pensamento foi embora.

— E por quê? — perguntou, franzindo as sobrancelhas.

— Eu precisava voltar para casa. — contei, juntando as mãos em frente ao corpo.

— Você está bem? — perguntou. Eu queria mesmo conversar cara a cara com alguém sobre o problema, mas não sei se Trevor era a pessoa certa. Por esse motivo eu apenas balancei a cabeça positivamente.

Trevor continuou me encarando, não parecendo acreditar. Quando ele ergueu uma sobrancelha eu tive certeza disso.

— Problemas com o Josh. — disse baixo. — Ele não sabia sobre eu morar em Londres. Mas agora já está sabendo e não foi por mim. — contei, desviando os olhos do seu rosto com medo do seu olhar me intimidar mais.

— Sinto muito. — falou, soando sincero.

— Eu acho melhor eu já ir para casa, não quero fazer você perder o seu tempo. — forcei um sorriso e desviando o seu corpo para continuar a andar.

— Se você quiser conversar, eu posso ser o seu amigo por alguns minutos. — suas palavras me fizeram parar e raciocinar um pouco para ver se era mesmo o que eu havia acabado de ouvir.

Aquilo mexeu comigo.

Virei para trás e o encarei parado, ainda segurando o saquinho e parecendo mesmo querer me ajudar.

Eu queria tanto voltar no tempo e não fazer o que eu fiz com ele. Porque agora eu teria um amigo para todas as horas, e não por apenas alguns minutos.

E pensando em tudo isso foi que meus olhos encheram de lágrimas e elas começaram a escorrer pela minha bochecha.

— Any... — disse parecendo não entender, e na distância que estávamos quase que aquilo se tornou um sussurro.

— Me desculpa — pedi, tentando segurar as lágrimas um pouco mas elas saiam incontrolavelmente. — Eu só... E-eu...

Quando Bailey caminhou até mim e me abraçou, foi que eu chorei mais ainda, sujando sua blusa escura tanto de lágrimas quando de pó compacto. Eu queria ter apenas o problema do Josh para resolver, porque mesmo que se algum dia o Bailey me perdoar de verdade, não sei se eu mesma terei me perdoado por fazer o que fiz com ele.

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